Entrei pela porta, ouvindo vários gritos e risadas, mas acho que não faria parte daquilo. Eu não estava bem, eu estava é destruída. Não faço a mínima ideia do por que. Eu só não podia sorrir, alguma coisa me machucou, alguma coisa destruiu meu dia.

            Estávamos em uma entrevista, e eu ainda não tinha entendido porque fui convidada para vir para cá.

            Os meninos estavam andando pela sala de cueca, como se fosse super legal isso. Nem notaram a minha presença, só continuaram fazendo aquela bagunça do cotidiano. Eles eram felizes do jeito que deles, eles eram felizes sem mim. E se eu destruísse tudo? Como eu sempre faço? E se eu fosse a causadora de todos os problemas? Para aqueles cinco garotos realizando um sonho, seria eu a pedra no meio do caminho?

            A culpa começou a invadir meu coração de uma forma ridícula. Não tem razão para sentir culpa, mas que seja eu estava sentindo. E tudo o que eu queria saber era o por que.

            Eu e Harry... Nós... Quase fizemos uma coisa que eu não tenho certeza que seria o certo. Eu queria. Sim, com toda a certeza. Ele queria, porque eu pude ver isso em seus olhos... Mas, nós éramos amigos, isso não fazia sentido! Amigos não deveriam se desejar! Isso não é comum!

            A razão para nada ser comum é que eu sou eu, e nada, repito, nada, na minha vida é comum.

            E tem o problema do Liam. Aqueles olhos. Aqueles olhos foram os culpados de tudo. Eu não sei o que é esse tudo, mas eu sei que foi culpa daqueles olhos. Aquele castanho... Eu... Eu...

            - Todo mundo pulando na Clar! – Louis gritou e senti cinco corpos em cima de mim. Aqueles gordos filhos da mãe.

            - Ah! Sai de cima de mim, seus obesos! – Gritei, mas não permiti-me sorrir. Eu não posso sorrir, tem muita coisa na minha cabeça no momento. Muita coisa presa no meu coração.

            - Ela está nervosa, saiam de cima dela antes que aconteça um “acidente” – Ouvi a voz de Liam, mas ele não estava em cima de mim? Não pelo que parece... Por que ele não pulou em cima de mim? Ele estava rindo há segundos atrás, foi só notar a minha presença e já está com essa voz de sargento mandão?

            Os meninos saíram de cima de mim, e fingiram que nada de errado tinha acontecido. Mas eu sei que aconteceu. O Liam. Ele está diferente.

            Olhei para Harry e um negocio cortou meu peito em milhões de partes, bem pequenas. Seu olhar estava perdido, e eu sei que ele estava pensando na gente. Estava pensando naquele dia. O quê foi que eu fiz?

            - Harry... – Sussurrei mais para mim mesma, para podem sentir ele. Mas o próprio ouviu, e olhou para mim, buscando uma razão para eu lhe chamar. Fiz uma coisa que eu queria fazer a muito tempo, uma coisa que eu precisava mais do que qualquer outra no mundo, não me importando se era egoísta ou não... Eu precisava de um abraço dele. Agora.

            O puxei e enterrei minha cabeça em seu pescoço, o apertando com toda a força possível contra mim. Seu cheiro entrou pelo meu nariz, fez a minha dor sessar por um segundo. Mas só por um segundo.

            - Ó pequena... – Segurei as lagrimas. Ouvir ele falando isso depois de uma semana se trocarmos uma palavra se quer era tão reconfortante que eu queria parar aquele momento e ficar ali pra sempre. Eu sabia que o meu amor por ele era grande, mas depois dessa semana, o aperto que eu senti a necessidade dele, eu percebi o qual grande é realmente. É imenso... Muito maior do que qualquer coisa.

            - Harry, por favor, não me abandonada, nunca. – Ele acariciava meus cabelos, e eu estava me sentindo a pior pessoa do mundo. E como se eu tivesse o usado, ou algo assim, e estivesse me fazendo de vitima, o fazendo cuidar de mim, quando na verdade, talvez devesse ser ao contrario. Mas eu não tenho culpa, eu precisava que ele cuidasse de mim. Agora e sempre.

            - Nunca – Ele sussurrou de volta, e beijou minha testa. – Desculpa, desculpa Clar. Por favor, me desculpa.

            - Eu que tenho de me desculpar, eu só faço merda, Harry, desculpa, não muda comigo, por tudo nesse mundo. A gente resolve tudo, ultrapassa todas as parreiras, faz o que for preciso, mas continua comigo. – Não estava mais aguentando segurar as lagrimas, e algumas escorregaram de meus olhos. Só nós estamos ouvindo o que o outro dizia, mas era obvio que os meninos estavam tentando entender à cena. Logicamente que nenhum deles vai entender bulhufas nenhuma.

            - Sim, eu prometo. – Ele se afastou de mim, e me olhou surpreso, chocado. Logo depois a preocupação tomou conta de seu rosto. – Você está chorando?

            - Não – Limpei meu rosto e fingi que nenhuma lagrima passou por eles antes – Não estou.

            - Ai, pequena... – Me abraçou novamente – É tudo culpa minha né? Eu faço as coisas sem pensar e depois me afasto de você sem perceber...

            - Mas eu não fiz nada contra minha vontade Harry... E... A gente nem chegou a fazer alguma coisa... – Disse me lembrando daquele dia como se fosse agora, como se fosse hoje.

            “ – Eu não posso fazer isso Clar – Seus lábios se afastaram dos meus, e só então eu abri meus olhos, me dei conta do que estava acontecendo.

            - Harry... Eu...

            - Desculpa – Ele saiu do quarto correndo, me deixando lá sozinha”

            O choro se tornou mais forte, e não sei direito por que de tudo isso. Ele estava ali, me abraçando, me confortando, mas eu ainda chorava, a dor ainda estava ali. O que estava doendo? É isso que eu não sei dizer.

            Fazia algum tempo que eu percebi o comportamento de Harry mudar. Ele me abraçava cada vez com mais frequência, seu ciúmes ficou cada vez mais estranho e exagerado, e as vezes quando ele dizia “eu te amo” seus olhos brilhavam com uma coloração especial. Eu finalmente estava entendendo, tudo fazia sentindo agora. Embora eu tentasse negar, tirar essa ideia da cabeça, não era possível, porque estava mais que obvio. Provavelmente todos enxergavam isso. Menos eu.

            Ele estava apaixonado por mim. Ou pensava estar.

            É por isso que estou sentindo essa dor. Por que bem lá no fundo, eu não consigo tirar da cabeça que o usei.  Eu nunca usaria o Harry, nem em meus pesadelos. Ele é a pessoa mais importante para mim, e eu já perdi a conta de quantas vezes ele me ajudou. É uma amizade muito grande, muito forte... E o que me deixa em pé, é o que me faz sorrir todos os dias de manhã.

            E... Eu não sei por que o beijei... Eu não sei por que o desejei... Aquilo significou muito para mim, eu só não sei direito de que forma... Mas para ele. Deve ter sido muito mais. E agora essa sensação de culpa, de raiva, de me sentir um lixo, está rasgando.

            - Acho que vocês precisam conversar... – A voz de Liam foi mais um sussurro distante e logo depois ouviu o barulho da porta se batendo. Estávamos só eu e Harry na sala.

            - Para, para, isso me machuca – Harry afagava minha cabeça, e seu queixo estava encostado em minha cabeça. Eu não merecia ele, eu não merecia a sua amizade.

            - Eu... Não... Harry.

            - Me diz Clar... Ver-te assim me machuca. E se for por minha causa... Olha, me desculpa.

            - Harry, promete que vai me dizer a verdade? – Me afastei de seu abraço e olhei no fundo dos olhos dele, aqueles lindos olhos. Ele concordou e segurou forte a minha mão. – Porque você ficou uma semana sem falar comigo?

            - Clar... – Sua voz suplicava, mas ele logo entendeu que eu não ia sair daqui sem uma resposta sincera – Eu estou confuso... Você é a menina mais especial que eu já conheci, tudo o que você faz é perfeito, os seus defeitos são perfeitos, o seu sorriso me deixa feliz, e ver um sorriso no seu rosto faz com que meu coração saltitar... E eu quero te proteger, quero muito mesmo... E eu te amo, você sabe como eu te amo... Mas isso tudo é muito novo para mim, sabe? Nunca fui só amigo de nenhuma garota, e nunca amei tanto uma também. Eu não vou te dizer que estou apaixonado, por que eu acho que não estou... Mas, tem esse sentimento, estranho, eu... não... sei.

            Encarei ele, e mais uma lagrima caiu dos meus olhos. As vezes quando eu olhava seu rosto eu tinha vontade de me aproximar, e beija-lo. As vezes não. As vezes seus olhar fixo em mim me causava arrepios, porém as vezes eu só queria deitar em seu colo e pedir conselhos. As palavras de Harry me fizeram enxergar o quando eu mesma estava confusa, e encarar aqueles olhos perfeitos só estava aumentando essa duvida.

            - Eu também. – Sua sobrancelha se ergueu, e seu rosto transmitia uma pergunta não falada. – Aquele beijo... Significou alguma coisa Harry.

            - Vem aqui vem – Ele me puxou para um abraço de urso, e seu perfume me embriagou – A gente vai descobrir isso juntos, e eu prometo que não vou mais me afastar de você, não importa o que aconteça.

            - Pra sempre? – A voz infantil saiu sem eu ao menos perceber.

            - Mas que manhosa – Sua risada fez um sorriso se abrir em meu rosto. Como esse som faz falta...