Uma Música para Você escrita por slytherina


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Uma historinha Yaoi básica.



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Ato um: A briga

 

_Carlos, já lhe disse para não fazer isso.

_Tenho certeza que já me disse para não fazer um monte de coisas. São tantas coisas que eu não consigo guardar na memória.

_É, mas você se lembra o que te convém, não é?

_É claro que eu tenho que lembrar o que me convém. Afinal não tem ninguém tomando conta de mim.

_Já ia me esquecendo. Sempre o filhinho da mamãe. Quer colo quer neném?

_Não, eu não preciso de colo e sim de um advogado.

_Você é um grandessíssimo ingrato, isso é o que você é.

_Ora não me venha com essa. Desde quando eu fui ingrato?

_Você não foi, você é um ingrato.

_Você tentou me prejudicar.

_Eu não tentei prejudicar ninguém. Estava fazendo o que era certo e justo.

_Certo e justo pra você, para mim era prejuízo.

_Prejuízo por quê? Você não faz nada. É um preguiçoso.

_Eu um preguiçoso?

_É sim. Eu que faço tudo aqui nessa joça.

_Eu que aparo a joça que você faz.

_Você faz o que?

_Aparo a joça...

_Você não faz nada.

_Faço sim.

_Não faz.

_Diga na minha cara que eu não concerto as merdas que você faz.

_Você não concerta nada. Eu não faço merda.

_Ah não, não faz.

_Faço não, seu maricas.

_... E o que você é hein?

_Diga o que eu sou, vamos diga.

_Um cachorro...

          Carlos não pôde continuar, pois Renato acertou-lhe um direto no queixo. Ele caiu estatelado no chão. Não conseguiu evitar as lágrimas que lhe banhavam o rosto, nem controlar a voz que subiu alguns tons.

_Você é um brutamontes. Snif,... Você sabe que eu não consigo me defender e fica me acertando na cara. Snif,... Você é um covarde. Snif,...

          Renato continuou de pé, dando voltas em torno do mesmo lugar, tentando se controlar para não bater mais em Carlos, mas a vontade era tanta... Respirou fundo. Por fim achou melhor sair daquela sala. Carlos levantou-se e foi para o quarto fazer as malas. Não ficaria nem mais um minuto naquela casa. A única forma de diálogo que Renato conhecia era bater nele. Isso e outra coisa, que naquela altura do relacionamento deles era inexistente, praticamente.

 

Ato dois: Califórnia

 

          Carlos viajou para Califórnia. Hospedou-se na casa de um amigo e ficou o máximo de tempo possível na praia. À noite deixava-se levar pelos amigos, para as baladas e eventos daquela cidade. Ainda bem, porque se não ele iria mergulhar na depressão, e a última coisa que ele queria era internar-se numa clínica para ficar dopado o tempo todo. Sem falar que isso iria atrair sua família até onde ele estava. Neste momento ele queria a família bem distante de si. No íntimo reconhecia que parte da responsabilidade de sua briga com Renato cabia a sua família.

          Ele adquiriu um bonito bronzeado e gastava grande parte do seu tempo fazendo cooper na praia. Arranjou algumas paqueras inconseqüentes, apenas para se distrair, porque a última coisa que ele queria agora era iniciar um novo relacionamento. Não depois do que ele sofreu na mão de Renato. Os seres humanos com o tempo de convivência tendem a achar que a pessoa ao lado deles são mercadorias, que podem colocar num lugar e determinar uma função, como se não tivessem sentimentos, anseios e opiniões diferentes. Daí quando você abre a boca para dizer "eu quero fazer outra coisa" você é taxado de ingrato.

          Renato ainda estava magoado com Carlos. Considerava-se traído, não somente pelo processo na justiça, por bens materiais, mas também por que flagrara Carlos com aquela mulher. Ele não comentava o assunto porque isso era humilhante, mas estava sentindo falta de seu companheiro. Ele o odiava e o desejava. Ele o desprezada e o amava. Ele o rejeitava e ao mesmo tempo sentia uma necessidade física do outro. Sentia vergonha de si mesmo por não conseguir por uma pedra sobre aquele assunto e seguir com a própria vida. Achava que seria tão fácil se controlássemos nosso próprio coração e assim poderíamos ligar e desligar um interruptor de paixão e amor e desejo. Nesse momento seu interruptor estava travado e ele não conseguia tirar Carlos da mente.

          Alguns amigos em comum ligaram da Califórnia para fazer fofoca, dizendo que Carlos estava se esbaldando, saindo com garotas e divertindo-se todas as noites na balada. Aquilo era como punhal no peito de Renato. Ele por vezes até achava bom que Carlos estivesse feliz e divertindo-se a valer. Sentir-se-ia péssimo se soubesse que Carlos fosse internado novamente com esgotamento nervoso. O que sempre o atraíra em Carlos fora justamente seu sorriso fácil e seus olhos brilhantes, cheios de vida. Nas vezes em que Carlos ficava deprimido e chorava a toa, por qualquer motivo, ele ficava intragável. É certo que nessas horas até era bom tratá-lo com mais carinho e contato físico, mas isso aos poucos foi minando sua paciência. Renato desejou estar na Califórnia e ver de perto aquele Carlos da sua juventude, belo e sorridente.

 

Ato três: A música

 

          Renato sentou-se no seu escritório e começou a escrever uma carta. Não queria pedir perdão e reatar com Carlos, não era isso. Talvez até fosse, mas ele queria apenas que Carlos soubesse que ele sentia muito e que sentia falta dele, sua alma gêmea. Fez três tentativas, nenhuma lhe agradou. Resolveu então compor uma canção. Começou assim: "Minha vida, nada foi fácil até agora". Escreveu mais algumas frases. Ficou satisfeito, faltava a melodia. Pegou nos seus pertences uma fita demo com alguns acordes que ele estava experimentando. Era um estudo sobre o estilo melódico de Brian Wilson, dos "Beach boys". Após algumas horas a música estava pronta. Gravou um CD e enviou para Carlos. Agora era só esperar a resposta.

          Carlos recebeu a encomenda de Renato. Ouviu a música e entendeu que era um pedido de desculpas. Se estivessem frente a frente, ele estaria agora se aninhando nos braços de Renato. Ele sabia como isso iria terminar. Eram anos nisso, briga-reata, separa-retorna. Não, ele não queria mais isso, mas perdoava Renato. Resolveu telefonar.

_Cara, recebi sua encomenda, o CD. Achei a música divina. E você a fez sozinho, meus parabéns.

_Eu sempre faço as coisas sozinho.

_Certo, certo. Você sempre faz as coisas sozinho. De nós dois você sempre foi o mais talentoso. Meus parabéns novamente, a música é linda. Eu tenho orgulho de você. _Obrigado. Eu queria...

_Sim?

_Você sabe, eu queria pedir desculpas.

_Desculpas aceitas. Eu te amo cara.

_Eu também te amo. Você sabe disso.

_Eu sei. Eu sei também que a gente não consegue evitar se ferir. Talvez seja melhor para nós, ficarmos separados.

_Eu não agüento ficar separado de você cara, eu vou pirar.

_Não vai não, de nós dois você sempre foi o mais forte. Você vai ficar bem e vai compor maravilhosamente.

_Eu preciso de você.

_...

_Carlos. Carlos você ainda está aí?

_Tou aqui. Vamos dar um tempo, ok Renato? Vamos esfriar a cabeça, ok? Não me força a voltar, por favor. Eu não quero mais sofrer.

_Ok! Mas eu tou sofrendo pra caramba. Chega a doer.

          Carlos começou a soluçar no telefone e a falar de forma ininteligível.

_Tudo bem Carlos, tudo bem. Eu vou te deixar em paz. Outra hora eu te ligo, ok? Talvez eu faça mais músicas para você. Te amo, baby. Tchau!

 

Fim

 

Brian Wilson Said

 

My life, nothing was easy till now

Hope like the morning will paint the dawn

More than ordinary (deep down)

Make it more than merry (deep down)

Take me to the jamboree (deep down)

And shine a light on me

Draw back the curtains and smile

Everything's wow!

Girls are ten penny Janet, Joy and Jenny, Judy, Joan and Jackie G

Hear me now I warn you

Girls from California break your heart and set you free 

My life

Shame to rely, but I swear it's the best I can do

Like a flame, like an i with a dot I am not you

Call me guilty I swear I'm a man who can fly (deep down)

I keep coming back, I'll get back to you

My life, nothing was easy till now

 


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Notas finais do capítulo

Não foi empolgante, mas eu tentei. Tenho o maior carinho pelos rapazes descritos na fic. Sou apaixonada por eles desde os 80.