16 anos atrás.
         Gelo e Fogo eram duas tribos. As duas viviam em um reino distânte dando calor ao Sol e frio a Lua. Cada qual vivia em perfeita harmonia, mantendo a paz que é possível manter entre dois extremos.   

A Tribo do Fogo é quente. Vive em um extremo norte, perto ao Sol, longe do frio. Vivem do calor, do quente. São cruéis, tão cruéis como um fogo queimando lentamente um corpo em agonia, mas são calorosos com quem gostam e entre si. São as pessoas mais bonitas que já se existiram. Muitos com os cabelos vermelhos flamejantes, ou com os cabelos escuros como carvão, deixando todos derretidos com um simples olhar, com malícia.  

A Tribo do Gelo é fria. Fria e dura. O coração é como pedra e eles não sentem nada. Não sente amor, não sentem dor. São tão duros como uma pedra de gelo, nada para eles é realmente importante ou realmente sentimental. Eles são cruéis, mas não porque realmente querem. São cruéis porque não sabem o que é dor. Lindos eles são, com a pele tão branca quanto a Lua e cada traço fino e delicado, quebrável, como uma pedra de gelo. Tão duros e fortes por dentro, mas frágeis e quebráveis por fora.

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        Poderia dizer que tudo mudou quando o rei do Gelo se cansou. A inveja de certa forma o dominava, dominava pela tribo do Fogo ter tanto sentimento a flor da pele, tanta malícia e tanta vivência que o Gelo nunca chegaria a ter. Ele tinha essa ganância, de ter o que não podia, todos riam dele, riam porque sabiam que era impossível de ter. O Gelo nunca se comparia ao Fogo no sentido de sentimentos. Nunca. Nunca porque eles já tinham aprendido a viver sem sentir, já tinha aprendido a não-viver. O rei era sábio e tinha esperanças, esperanças que um novo ser do Gelo soubesse o que é vida. Soubesse o que apenas o Fogo sabe.   

Então o rei, com toda sua sabedoria, engravidou a rainha e dessa união uma pequena princesa nasceu. Ela era branca como a neve, com os cabelos loiros, quase brancos e os olhos mais azuis que o céu. Ela não tinha qualquer expressão. Era dura como o gelo. Mas mesmo assim o rei não perdeu as esperanças. Dois dias depois da princesa ter nascido, se fez a noite mais fria dos tempos, a Lua e o vento congelavam tudo. O rei, na calada da noite, pegou a princesa e a escondeu debaixo da sua capa e correu para outra tribo. Ele era sábio o suficiente para saber que na tribo do Fogo ela não poderia ficar. Lá ela não resistiria, o calor era muito, ela morreria logo. Então ele foi mais longe, como ele era o rei do Gelo, foi rápido. Uma noite, exatamente seis horas, para ele ir com a princesa para a Terra e largá-la lá, na casa em que ele achou apropriada e voltar sem ela, para os reinos frios e congelados do gelo.
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      Quando a tribo despertou e não viu sua amada princesa no berço de ouro, todos já sabiam a quem culpar: o rei. Ele não se fez e entregou a todos o que fez, mas era um caso perdido. Ir a Terra para buscar a menina era arriscado. Então eles, sem nenhum sentimento, sem nenhuma preocupação, deixaram a pequena princesa a mercê dos humanos, sem um pingo de culpa, ou um pingo de saudade. Uma hora ou outra, já teriam a esquecido.