Eu estava normalmente sentada na minha cama, com os meus olhos passando rapidamente pela revista nova. Era incrível como tantas pessoas valorizavam a música brasileira. Eu sempre quis cantar uma música brasileira, mas eu nunca conseguia aprender o idioma. Quem sabe um dia, no futuro. Eu estava ali, sentada na cama, com uma revista idiota nas mãos, e tudo porque a mulher dos meus sonhos havia pedido um tempo.

Eu sei o que minha Britt-Britt quis dizer com 'vamos dar um tempo'. Aquilo pra ela significava apenas um tempo pra ela, pra ela se concentrar em passar na escola, e um tempinho longe de mim. Só que eu sou Santana Lopez. Quando uma pessoa diz 'vamos dar um tempo' pra mim, significava que acabou. Eu amava Brittany, incondicionalmente, de todas as maneiras possíveis, e talvez até impossíveis. Mas no fim esse 'fim' que demos no nosso relacionamento foi bom pra mim também. Eu já estava começando a me sentir meio indiferente à nossa relação, e eu podia notar que ela ainda estava. Mas eu a amava tanto, que nem notei isso, nem sequer passou pela minha cabeça dar um tempo. Mas por quê quando Brittany disse 'vamos dar um tempo', ela estava chorando? Era apenas algum tempo longe, dependendo dela. Só que eu estava solteira. Mas eu não me imaginava com alguém além de Brittany.

Bem, na verdade talvez alguém mais...

Escutei batidas de leve na porta do meu quarto, e ergui os olhos da revista. Respirei fundo, me levantei da cama, e abri a porta. O rosto que apareceu fez meu coração falhar uma batida. Só uma.

- Berry. - falei, cruzando meus braços.

Rachel Berry deu-me um sorriso de lado, e disse:

- Olá, Santana.

Eu olhei dentro dos olhos dela, e não precisei me esforçar muito pra ver. Ela esteve chorando.

- Desculpe eu ter vindo aqui sem avisar, é que... - ela entrou dentro de meu quarto sem a minha permissão, e isso era um das coisas que eu mais odiava nela. Mas o fato dela ter chorado me preocupou. - Eu realmente precisava de um amigo.

Me virei pra ela, e a encontrei sentada na minha cama. Ela usava um casaco vermelho, meia calça e botas pretas. As pernas dela estavam cruzadas, e ela tinha as mãos entrelaçadas. Olhei-a com cuidado, e percebi o que ela queria. Ela não queria me encher o saco, nem nada... Ela realmente precisava de um amigo.

- Por que está aqui, Berry? - perguntei, cruzando meus braços, com a minha expressão indagadora. - Você tem a Fabray como amiga.

Rachel respirou fundo, como se tomasse coragem pra dizer alguma coisa. Ela me olhou nos olhos, sorriu, e disse:

- Acho que alguma coisa me trouxe aqui.

Meu coração se apertou, e eu tive que engolir aquela desprezível vontade de ir até ela e a abraçar.

Eu havia me aproximado de Rachel Berry naquele ano. Estava se tornando inevitável que fóssemos... Amigas. Argh, é tão estranho me referir à ela desse jeito.

- O que houve dessa vez? - perguntei, puxando uma cadeira, e me sentando de frente pra ela.

- Santana... - Rachel passou a mão pelos cabelos, e depois tornou a olhar pra mim. Havia algo nos olhos dela. Algo parecido com agonia, e medo, mas também... Segurança. - Você já se apaixonou por outra pessoa, enquanto você namorava com a Brittany?

Franzi meus olhos, e deixei meu queixo cair um pouco.

- Que tipo de pergunta é essa, Berry? - perguntei, piscando os olhos inúmeras vezes.

- Sim, ou não? - perguntou ela, me ignorando. - Seja sincera. - Desgraçada.

- Talvez - falei, olhando pra qualquer lugar, menos pra ela.

- E o que você fez? - perguntou ela, cruzando os braços.

- Eu... - eu engoli em seco. - Eu não fiz nada, ué. Eu amo Brittany. Posso talvez ter sentimentos por outra pessoa, mas o fato de ainda amá-la me impede de me envolver com qualquer outra pessoa. - e estreitei meus olhos. - Por quê a pergunta, Berry?

Rachel respirou fundo, esticou os lábios, e disse:

- Eu amo Finn. Sempre vou amar. Mas não me sinto mais apaixonada por ele.

- Amor não se desgasta, Berry. - eu disse, balançando minha cabeça. - Ou é pra sempre, ou simplesmente não é amor.

- O que eu posso fazer então? - ela perguntou, com a voz um pouco rouca. - Não é minha culpa se eu não sinto mais o mesmo. Não é minha culpa, se... Se...

Meus braços começaram a tremer, assim como minhas pernas. Uma possibilidade passou pela minha cabeça. Não. Impossível.

- Se o quê, Berry?

Ela mais uma vez me olhou nos olhos, se aproximou mais um pouco, e disse:

- Se eu me apaixonei por outra pessoa.

Talvez não tão impossível.

Ela poderia ter procurado Quinn, Kurt, Mercedes, ou qualquer outro amigo que ela tivesse. Talvez até Brittany. Mas não! Ela tinha vindo até mim. Eu precisava saber porquê. Eu tinha que me arriscar.

- Por quê está aqui, Berry?

- Estar com você me faz sentir segura, Santana.

Aquilo foi o suficiente. Eu não via mais nada, apenas o rosto encantador de Rachel Berry se aproximando do meu. Antes éramos meio que amigas. Naquele momento, eu não sabia mais o que éramos. Tudo que eu sabia era que eu não iria afastá-la.

E foi quando aqueles doces lábios tocaram os meus, que a minha resposta 'talvez' se transformou em sim.

Sim, eu me apaixonei por outra pessoa.