Abri meus olhos. Duas semanas se passaram. Me senti feliz, não sei exatamente o por quê. Teria a ver com Kyle? Não tinha certeza dos meus sentimentos por ele ainda, mas quando percebi que ele estava dormindo abraçado comigo, me senti segura, e ao mesmo tempo confusa. O que fez ele juntar as nossas camas completamente, tornando-as uma cama de casal, e me abraçar enquanto eu dormia?  Não faz sentido. Tentei me livrar de seus braços para descer e tomar café da manhã, mas ele acordou com o movimento.

- Bom dia. – disse ele, sorrindo.

- Bom dia. – respondi, com a mesma expressão. – O que fez você juntar nossas camas e me abraçar?

- Você estava tendo um pesadelo, eu acordei com seu choro, então eu juntei nossas camas e te abracei para você se sentir melhor, você também me abraçou mas acho que não se lembra porque estava dormindo. Então você parou de chorar. – explicou ele.

Então eu lembrei. Meu pesadelo.

Eu estava em uma casa, no meio de uma floresta. A casa estava com móveis antigos, sujos e alguns quebrados. Fui olhar a casa, até que escutei um barulho de passos. Me virei e dei de cara com um homem. Ele era grande, usava uma roupa preta e tinha uma cara fechada. O homem veio atrás de mim e tentou me pegar, mas eu saí da casa e corri floresta adentro. Ele estava correndo atrás de mim ainda, parecendo não se cansar. Vi uma faca em sua mão, ele estava tentando me matar. Não fazia sentido, eu nunca tinha visto esse homem na minha vida, por que ele queria me ferir? Comecei a correr mais rápido e percebi que ele também estava mais rápido, ele me alcançou e colocou a faca no meu pescoço. Comecei a chorar, implorando para que ele não fizesse isso, mas ele sorriu disse que iria me matar do mesmo jeito que havia matado minha mãe. Então eu vi alguém correndo em nossa direção, essa pessoa pegou a faca da mão do homem e perfurou suas costas, fazendo-o cair do meu lado. Agora eu consegui ver quem era. Kyle. Como ele sabia que eu precisava de ajuda ou que estaria ali? Só sei que ele me abraçou forte e cessou minhas lágrimas, acho que foi nessa hora que ele me abraçou de verdade. 

Descemos para tomar café e encontramos um bilhete que dizia:

“Chloe e Kyle, fomos comprar materiais para a reforma da casa. Voltamos para o jantar, se tiverem algum problema liguem para nós.”

Não me importava de ficar sozinha com o Kyle, pois tínhamos o dia inteiro para nós, era como um melhor amigo morando com você. Mas tudo o que conseguia pensar era no meu pesadelo. Normalmente meus sonhos fazem sentido, mas esse não faz. Também eles tem a estranha mania de passar alguma mensagem, algo que vá acontecer ou aconteceu. Mas o que aconteceria? Eu seria perseguida até a morte por um homem que eu nem conheço e do nada Kyle chegaria para me salvar? Acho que não. Ele viu que eu estava pensativa, me perguntando o porquê, e eu disse que era sobre meu pesadelo.

- Se você quiser me contar, talvez eu possa te ajudar. – disse ele, de um modo doce.

- Tá. – e eu contei o sonho, até a parte que o homem de preto havia colocado sua faca em minha garganta, falando que iria me matar do mesmo jeito que matou minha mãe.

- o que aconteceu depois? Ele te matou?

- Não... – eu disse, pensativa. O que eu iria falar? ‘ah não, você chegou e salvou a minha vida, depois me abraçou e tive vontade de ficar daquele jeito pelo resto da minha vida.’

- então como conseguiu escapar?

- Então uma pessoa chegou e me salvou, pegando a faca e cravando-a no próprio homem.

-e quem era essa pessoa?

- Você. – disse, com medo da resposta.

- Quer dizer então que eu sou seu herói? – disse ele, com um sorriso irônico.

- cala a boca! – disse, dando uma risadinha.

- ei, você não precisa ter vergonha de me contar essas coisas, sou seu irmão né? – disse ele. Acho que ele viu que hesitei em falar como escapei no meu sonho, eu não sou muito boa em esconder quando estou nervosa, mas eu nego até a morte.

- eu não estava com vergonha! – eu disse, olhando para baixo, com mais vergonha  ainda.

- não mesmo, e você também não tava nervosa quando desceu da escada e me viu no dia em que eu vim morar aqui né? – disse ele, me olhando nos olhos, aquelas duas pequenas esmeraldas brilhantes que me encantavam.

- você também tava nervoso que eu percebi – menti. Ele não estava nervoso, pelo menos não parecia estar.

- tá, eu tava nervoso também, mas eu imaginei que uma menina normal iria aparecer, não você.

- Uma menina normal? E o que eu sou? – disse, confusa se aquilo era um elogio ou uma ofensa.

- não esperava que você fosse tão... encantadora. – ele olhou para baixo e corou.

Pensei um pouco antes de falar, nos deixando em um silêncio desconfortável. Mas vi que uma hora teríamos de falar algo.

- encantadora? Você é britânico agora? – eu disse em uma tentativa de quebrar o gelo, mas resolvi me ‘declarar’ também – mas sério, obrigada. Eu não estava nervosa, mas aí eu te vi e não sei o que aconteceu.

- foi como se o mundo tivesse parado por um minuto.

-exatamente.

Então o silêncio chegou de novo. Não precisávamos falar nada, apenas estávamos nos olhando nos olhos. Aqueles olhos. Que tipo de conversa foi aquela? Mas ele quebrou o silêncio:

- Klo, posso te perguntar uma coisa meio indiscreta? – ele disse envergonhado.

-pode Kyle, fala.

- você já... beijou alguém?

Gelei. Não sabia o que responder, mas achei melhor falar a verdade.

-não ri de mim mas.. não. E você?

- também não. não sei, só estava esperando a garota certa.

- estava? – perguntei. Estava? Tipo, no passado?

- sim, estava. – ele chegou mais perto de mim, me olhou nos olhos e deu um sorriso um pouco envergonhado.

E aí aconteceu.