Se você pensou que essa história era um conto de fadas, se enganou. Não estou aqui para dizer palavras bonitas, muito menos dizer que o amor é a coisa mais linda que existe. Bem, isso é verdade, o amor é maravilhoso e quando se tem, deve preservá-lo. O problema é quando esse amor não é correspondido, o que foi o meu caso. Surgindo assim a segunda coisa mais bonita de se ver, a vingança. Palavrinha esquisita essa, não? Eu sempre achei. Bom, eu irei narrar a partir de agora tudo o que aconteceu comigo: como eu me apaixonei, como foi bom enquanto durou, a decepção, a volta e finalmente, a minha vingança. Não sei se você vai conseguir me acompanhar até o final, você pode querer fazer algo mais interessante ou estar ocupado demais para mim, mas eu vou falar assim mesmo.

As coisas já começaram um pouco erradas na minha vida. Eu, herdeira de nobres, me apaixonei pelo meu meio-irmão. Acho que eu devo ter pensado que, lá no fundo, no meu inconciente, não era algo tão errado assim. Ele é filho do primeiro casamento de meu pai, sendo que sua mãe faleceu no parto. Quando meu pai resolveu se casar novamente, o mandou para o exterior para estudar, pois a sua nova esposa, minha mãe, não gostava muito dele. Sempre dizia que o seu semblante era algo falso e que uma máscara de cinismo estava sempre cobrindo o seu verdadeiro eu. Claro que eu achei tudo aquilo a maior besteira do mundo e como dizia meu pai, era apenas ciúmes. Descobri da pior maneira que ela estava certa.

Ele sempre me pareceu tão calmo, sereno, feliz ao meu lado. Dizia que não me via somente como irmã, que me amava. As carícias, os elogios, as juras, tudo para mim era tão real. Você que está lendo agora, alguma vez em sua vida já foi rejeitada(o)? Tente imaginar a dor que eu senti quando ele me feriu profundamente no momento em que me desprezou, me traiu e riu de mim, me chamando de tola, vulgar e que eu não passava de mais uma para a sua linda e maravilhosa estante de troféus de mulheres conquistadas.  

Sim, eu era apenas uma jovem tola quando isso aconteceu, quando o revi depois de anos sem a sua companhia. Quando ele voltou de seus estudos, noivo com a filha de um barão amigo de infância de nosso pai, me senti tão feliz! Senti o calor da vida invadir o meu ser com todo vigor, se espalhando cada vez mais e com muita intensidade. Como eu queria voltar ao tempo em que eu não sabia de nada, como queria ter resistido, como eu queria poder vê-lo como o meu querido irmão.

Meu erro foi vê-lo como ele era – ou pelo menos uma parte dele – um homem lindo, alegre, carinhoso. Não quis ver a sua segunda e verdadeira face. Aquela que tanto me magoou.

Queria muito, queria mesmo, dizer que a minha vida amorosa foi esplêndida, sem igual, como um conto de fadas. Pena que contos de fadas só servem para embalar o sono de crianças – seres puros e inocentes, sem qualquer maldade. Queria dizer que casei-me com uma pessoa que me ama e que cuida de mim.

O que você vai ver a seguir, no decorrer dos fatos narrados por mim, diz respeito a como eu fui tirada de minha inocência e jogada em um penhasco de desespero, onde somente uma coisa me deixava viver e respirar com dor: vingança. Simples, doce, pura.