Desculpe-me pelas vezes que te expulsei de casa, pelas vezes que morri de ciúmes por bobeira, por te afastar quando deveria te ter por perto.

Desculpe por não ter sido aquilo tudo que você precisava, de ter te deixado cair quando tinha que te pegar em meus braços, te não ter te beijado quando era preciso.

Sei que agora, por mais que eu diga que te ame, não tem mais volta. Nosso relacionamento chegou a um estado em que não se dava mais para suportar. Brigas, desentendimentos, choros. Tudo isso na frente da nossa linda Blake.

Lembro-me do dia em que você disse que queria construir uma família comigo. De como a sensação de felicidade completa me inundou como nunca antes. E sem hesitar, pedi para que você fosse a mãe da nossa filha.

Deus, eu poderia morrer de felicidade depois das três horas que fiquei contigo na sala de cirurgia. Às três horas mais longas de toda a minha vida. Mas depois, quando vi o rosto angelical do nosso bebê, já no seu colo, todas as horas da minha vida pareciam não ter feito sentido algum, até aquele momento. Aquele rostinho que era um misto de você e eu, fez aparecer em meu rosto, o maior sorriso que já dei em toda minha vida. Agradeci mentalmente que você tenha exigido um doador que tivesse traços parecidos com os meus.

Tinha os meus cabelos, os seus olhos, a minha boca e o seu nariz. Eu estava completa. Aquela criança era um pedacinho de cada uma que ganhou vida.

Lembro-me de tê-la feito juras de amor. E por favor, nunca duvide delas. Por mais que eu saiba que agora sua vida não siga mais ao lado da minha, ainda te amo com todo meu ser, com toda minha alma. Te amo com a minha vida.

Também me lembro de te prometer que jamais derramaria uma lágrima por mim, e essa foi a única promessa que te fiz, que não pude cumprir. Muitas vezes fui rude, idiota, egoísta. E não me orgulho nem um pouco por isso.

O dia do nosso casamento foi o mais feliz da minha vida. Você, de branco do meu lado no altar, e nossa filha, já com dois anos completos, trazendo nossas alianças. O pessoal do Glee Club, amigos que fomos colecionando com o tempo, todos estavam ali para celebrar nossa alegria.

Depois de dois anos de casamento, aquele paraíso acabou. Eu mudei, você mudou, digamos que para melhor. Mas nosso relacionamento só ia de mal a pior. Meu ciúme, que você achava exagerado, sempre estava presente. Seu temperamento reservado, sempre fugindo dos nossos problemas. As conversas foram ficando cada vez mais raras, e o buraco entre nós duas na cama sempre maior.

Nossa primeira grande briga foi por uma causa boba, como todas as outras. Eu queria um sofá preto, e você insistia em comprar um branco. Isso evoluiu para como os seus olhares para as outras mulheres estavam se tornando, e então perdemos o controle. Quando nos demos conta, estávamos gritando uma com a outra, e nossa filha assistindo pela porta semiaberta.

Essa foi a primeira vez que ela me perguntou se íamos nos separar, e aquilo me cortou o coração. Eu tentava explicá-la que os casais apaixonados também brigam, enquanto dentro de mim, a mesma vozinha que dava cabo do meu ciúme gritava que isso nunca iria acabar.

E ela estava certa. Nunca mais parou. A cada dia mais, com as vozes mais alteradas, com os gritos mais histéricos.

Eu tinha medo de te perder. Que você olhasse ao seu redor e percebesse que eu não era a única estrela que brilhava no céu. Que alguém mais talentoso ou mais bonito que eu tomasse meu lugar.

Afinal, você sempre foi Quinn Fabray, a mulher mais linda que já conheci. E foi um choque saber que você me amava. No fundo, eu sempre soube que você era boa demais para mim, e que era só uma questão de tempo para que você percebesse isso também.

Eu tentei ser a esposa perfeita. Tentei com todas as minhas forças, mas minha insegurança era maior que minha persistência.

E agora, nossa filha está com cinco anos completos, e prestes a ter mães divorciadas. Ela, que sempre foi o que mais nos unia, sairá mais prejudicada nessa história.

Ela sempre será um pedaço de nós duas. Um pedaço seu que sempre vai me pertencer. Eu posso suportar você com outra, ou até mesmo outro, mas não posso perder o que sempre vai ser meu por direito. Minha filha sempre será essa ponte que nos unirá.

Por mais que você diga que me odeie, que não me ama mais, que tudo que vivemos foi uma farsa, eu sempre vou olhar para aquele rostinho angelical e me lembrar de como eu te amei, e como me senti amada de volta.

Você é tão hipnotizante. Eu sorria enquanto dormia só de saber que acordaria ao seu lado. Era tudo tão simples no começo, era amor e mais nada.

Lembro quando você me disse ‘se isso é amor, não me machuque’. E me doía saber que talvez não fosse mais amor, ao te ver sempre tão machucada e fragilizada depois de nossas brigas.

É isso que eu estou fazendo, te deixando ir. Não quero te machucar, e nem nunca quis. E se te ver em outros braços é o preço que tenho que pagar por não ter cultivado um amor tão profundo como o nosso, é o que farei. Eu desisto de tentar te fazer feliz e te deixarei livre, porque isso é amor verdadeiro.

- Rachel... – a latina abriu a porta e se deparou comigo deitada

Quem me visse agora, sentiria pena. Estava deitada no seu lado da cama, chorando como nunca antes, tentando inalar a maior quantidade de seu perfume que eu conseguia. Eu sabia que ele logo sairia dali, mas nunca queria perdê-lo em minha memória.

- Eu tenho que falar com você.

- Agora não Santana, por favor – falei entre os soluços

- É importante – sentou-se á minha frente

Com dificuldade e sem vontade alguma, eu me recostei á cabeceira da cama e fiquei olhando os olhos castanhos escuros da minha melhor amiga. Seus olhos gritavam de longe que ela era uma pessoa apaixonada pela noiva. E eu passei a me perguntar: se eu fizesse tudo diferente, nosso amor poderia se comparar ao inabalável de Brittany e Santana? Eu nunca teria a resposta.

- É sobre a Quinn... – voltei a chorar

- Por favor, agora não – fechei os olhos

- Eu sou a advogada de vocês duas, e tenho um dever para cumprir.

- Não venha me dizer que ela quer a guarda da Blake. Isso eu não abro mão! – me levantei andando de um lado a outro no quarto

- Rachel, me escute...

- Eu não vou perder a única coisa que eu amo que me sobrou, Santana! – me sentei novamente, colocando as mãos no rosto

- Não é nada disso – colocou as mãos em minhas costas

- Se ela quer suas coisas, diga que amanhã eu saio por um dia inteiro para que ela possa fazer isso longe de mim – afastei sua mão de mim

Encarei o nosso closet. Nossas roupas e sapatos misturados ali dentro, onde muitas vezes foi nossa única opção para nos amarmos. Blake tinha um timing perfeito para essas coisas. Sorri amarga ao perceber que não conseguiria ficar naquela casa sem ela. Era demais para mim.

A porta do quarto se abriu devagar, e meu sorriso se abriu junto, pensando ser Blake que ouviu as conversas em voz alta, eu ainda tinha que me manter firme. Por ela.

- Rachel...

E a porta aberta revelou uma loira linda que eu ainda podia de chamar de minha esposa, nem que fosse por apenas mais alguns dias.

- O quê você faz aqui? – me levantei

- Eu quero conversar com você – Santana saiu de fininho

- Não temos mais nada para conversar – me afastei dela

- Você sabe que temos – deu um passo em minha direção

- Eu não vou abrir mão da minha filha! Você não pode levar mais isso de mim... – terminei em um fio de voz

- O quê eu mais levei de você? – perguntou doce

- Meu coração.

Lágrimas duras rolaram por meus olhos enquanto eu abaixava a cabeça para não precisar ver mais uma vez seu olhar de puro ódio para mim. As coisas tinham que ser no mínimo suportáveis entre nós duas, ainda tínhamos uma filha, afinal.

- Eu deixei uma coisa com você.

- Pode pegar, eu não me importo. Não sou apegada á bens materiais e você sabe disso – me sentei novamente

Quinn parou á minha frente e eu bufei, parecia que ela queria mais uma briga. E me desculpe, mas eu não estava nem um pouco a fim de ter mais uma briga depois do fim do meu casamento.

- Olha Quinn, eu não quero brigar, ok? Pode levar qualquer coisa dessa casa, até mesmo se quiser pode ficar com ela. Pretendo vendê-la tão logo nosso divórcio saia legalmente, então se desejar...

- Meu coração.

- Desculpe, o quê? – olhei para cima

- Meu coração. Eu deixei com você – se abaixou á minha frente

- O quê você está falando? – ela sorriu

- Que eu te amo, Rachel. E que em nenhum momento sequer passou pela minha cabeça me separar de você. Mas quando eu estava saindo para que você pudesse esfriar a cabeça como sempre, ouvi você gritar que queria o divórcio. Tive que chamar Santana para ver se ela dava um jeito. – deu um sorriso torto – Mas pelo jeito não adiantou de nada. Enquanto eu esperava na sala ouvi você gritando sobre eu querer tirar a guarda da Blake de você, e então eu soube que era hora de parar com essa discussão idiota – segurou meu queixo

- Não vamos nos separar? – meus olhos estavam quase transbordando de lágrimas

- Não – sussurrou

- O quê eu faço agora? – puxou minhas mãos, levantando nós duas

- O quê você faz de melhor – segurou-me pela cintura – Me conquiste – me beijou