O barulho não incomodava aqueles que estavam apenas se divertindo dentro do pequeno bar. Na verdade, o que mais os incomodava era a presença de um estranho no mesmo local.

Ninguém nunca havia visto aquele moço, disso todos tinham certeza... Mas o modo como ele agia - como se estivesse familiarizado com aquele bar - quase deixava todos em duvidas.

Era jovem. Tinha por volta dos seus dezenove anos. Os olhos azuis brilhavam sombriamente ao observar com atenção cada canto daquele lugar. Os cabelos castanhos estavam bagunçados e quase chegavam aos olhos.

Usava uma jaqueta preta por cima de uma camiseta branca e calça jeans, também pretas. Tinha um pequeno crucifixo de prata pendurado no pescoço... Talvez o único acessório que usava diariamente.

Seus olhos azuis fixaram na porta, como se esperasse que nela surgisse alguém à quem ele esperava... Mas ninguém apareceu por ali durante todo o tempo que estivera sentado ao fundo do bar.

- Talvez um visitante... Um turista - Era isso que todos pensavam ali, enquanto o observavam discretamente. Logo saberiam que não se tratava apenas de um turista.

O rapaz permaneceu a noite inteira, observando o movimento caladamente. Nem ao menos pediu uma bebida para que lhe ajudasse com o passar das horas... Simplesmente sentou-se ali e esperou até que fosse a hora do bar fechar.

- Não pode mais ficar aqui filho! - Disse o dono do bar - Já estamos fechando... É domingo, não podemos ficar com o bar aberto até tarde.

- Tudo bem! - O rapaz respondeu com um sotaque diferente e um tom de voz rouco - Eu entendo...

As palavras “filho” quase o fizeram rir... Ninguém ali sabia quem ele era, e se soubessem, não o chamaria desta forma.

Ele levantou-se, por um momento observando o visor de seu celular. Algum segundo depois colocou o aparelho no bolso e caminhou para a porta, tirando do bolso uma chave.

O barulho da moto ecoou por toda a redondeza e logo era impossível ver qualquer vestígio da presença do rapaz, a não ser pelas marcas dos pneus da moto no chão.