Hermione Granger - Reencontrando os Pais escrita por ro1000son


Capítulo 10
Capítulo 10: Baía Pyrmont


Notas iniciais do capítulo

* Os personagens principais pertencem a J.K.Rowling.
** Qualquer semelhança com pessoas e eventos na Austrália é mera coincidência. (eu espero - hehehe)
*** Spoilers do livro "Harry Potter e o Cálice de Fogo".



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Um pequeno solavanco indicou que a caminhonete acabava de aparatar no beco que os gêmeos queriam em Sydney, porém com um contratempo: algo atrapalhou o atrito dos pneus com o chão. Eric fez o volante girar para a esquerda a fim de evitar bater com uma caçamba de lixo que viram.

— Wow... Se segurem! - gritou ele, e todos se seguraram como puderam. O deslize foi rápido e logo ele conseguiu frear, não antes de esbarrar na caçamba. Sem entender muito, Hermione, Harry e Rony viram os dois gêmeos rindo da forma como chegaram naquele lugar. Antes que pudessem perguntar, Eric respondeu de bom humor - Água na pista, amigos... Um cano neste beco deve ter se rachado e deixado essas poças. Já não há mais encanadores como antigamente.

O beco onde eles apareceram não parecia ser tão abandonado quanto aquele em Canberra de onde eles desaparataram. A posição da caminhonete indicava que a rua estava atrás deles, enquanto que na frente não sabiam dizer se era a fachada ou os fundos de um prédio de dois andares. Viam mais adiante dois carros estacionados. À direita viam-se muros baixos com jardins que cercavam residências além deles e acima do muro da esquerda não se via nada, pois se tratava de um estacionamento, como Eric informou depois. Os gêmeos olharam para todos os lados para verificar quem estava por perto, segundo Eric. Com muito cuidado, ele tirou a caminhonete do beco, de ré para a rua, e estacionou de forma a aproveitar as sombras de duas árvores próximas. A rua, na verdade, era outro beco sem saída mais largo e mais comprido, pois havia residências em volta, outros carros estacionados em um pequeno espaço com jardim, que devia ser uma praça, e podia-se ver algumas pessoas andando de um lado a outro. Ali, apesar do sol intenso, não estava tão quente quanto em Canberra, provavelmente por causa do mar próximo, e havia menos nuvens no céu.

— Pronto. Aqui está melhor - disse Eric, assim que desligou a caminhonete.

Um silêncio se instaurou dentro da cabine, mas parecia que depois da aparatação, a tensão de instantes atrás não existia mais, pelo menos entre os gêmeos; eles se olhavam como se estivessem conversando algo muito particular e fazendo caretas ou mexendo com as sobrancelhas. Hermione viu que Téo pegou a varinha dele e usou um feitiço para consertar os óculos que usava anteriormente, guardando-o depois; deviam ter se quebrado naquela confusão. Também havia estilhaços da vidraça daquele prédio na parte da frente dentro da cabine, porque os vidros estavam abaixados naquele momento. À esquerda de Hermione, Harry se mexeu incomodado com algo, mas ela não deu atenção porque esperava que Eric terminasse a “conversa” com o irmão dele para que lhe respondesse algumas perguntas. Rony, à direita dela, por duas vezes ensaiou dizer algo, mas não queria passar na frente da namorada. De repente, Eric disse algo para o irmão sobressaltando todos.

— Está bem, está bem! Manda um patrono para ela depois... Ou melhor, agora! - ao dizer, se virou para os três passageiros confusos e emendou: - Ele queria ter se despedido da noivinha dele antes de virmos para cá.

— Noiva? – disse Hermione.

— Não exatamente noiva. Ainda não; ele quer pedi-la em casamento no final do ano. Consegue imaginar isso, Hermione? - disse ele, claramente querendo fazer alguma piada com isso.

Hermione olhou para Téo e viu como ele estava encabulado; parecia que a timidez era a marca registrada dele. O rapaz se encolheu, escondendo as mãos entre as pernas e quase abaixou a cabeça, mas se limitou a olhar para o lado de fora da caminhonete, evitando os olhares de quem estava perto dele.

— Mas o patrono dele... Pode... - Rony começou a perguntar, mas se interrompeu.

— Claro que pode. Porque não poderia fazer o patrono dele falar? Afinal de contas, meu irmão pensa.

— Não, eu não quis...

— Tudo bem, tudo bem - disse Eric, levantando uma das mãos como em um gesto de paz - Não ofendeu. É só um engano comum que um mudo não consiga fazer coisas que os outros podem fazer. Não nos incomodamos com isso, sério - e Téo olhou sorridente para ele, acenando com a cabeça para mostrar que concordava.

Hermione olhou sério para o namorado, e o mesmo devolveu a ela um olhar rápido e depois baixou o rosto, pensativo. Ela já havia notado que, desde que começaram a namorar, ele tentava ser mais racional; tentava não dar mancadas, perto dela pelo menos; tentava não parecer ignorante com as coisas e as pessoas estando perto de alguém considerada inteligente como ela. Fez outra anotação mental: teria que conversar sobre isso com ele mais tarde; de que ele não precisaria tentar parecer outra pessoa por ela; ele só precisava ser o Rony Weasley, por quem ela se apaixonou. Olhou de novo para frente e encontrou o olhar de Eric pelo espelho no centro da cabine; ela voltou o pensamento para o que aconteceu antes de desaparatar. Para ela, estava claro que algo acontecia e queria respostas. Alguém sabia que ela, Harry e Rony estavam na Austrália, mas não tinha como saber se tinha ligações com essa tal viagem dos pais dela. Mesmo considerando absurdo, pois não havia como saber quem estaria por trás do que quer que esteja acontecendo, não havia outra explicação: alguém os perseguia. O olhar que ela via de Eric era um olhar culpado, que mudou rapidamente para o lado do irmão e depois voltou para ela, pelo retrovisor.

— Não vai ajudar Harry com os ferimentos? - perguntou Eric e a garota notou que ele segurava uma pequena caixa contendo itens de primeiros socorros que o irmão pegou do porta-luvas e entregou a ele em algum momento que ela não notou. Atônita, ela olhou para Harry que parecia remexer no braço esquerdo; havia manchas de sangue nos rasgos na manga esquerda da camiseta dele e a garota logo se prontificou a ajudá-lo no mesmo momento; ele se feriu na confusão em Canberra.

— Harry! Me desculpe, não tinha percebido...

— Sem problemas, Mione.

— Deixa eu te ajudar - disse, pegando das mãos de Eric a caixa que, quando abriu, viu que continha tanto itens e medicamentos utilizados por trouxas quanto pequenos frascos com artigos utilizados por bruxos. O moreno se virou desajeitado para que Hermione visse a situação. Não havia vidro preso nas feridas; os estilhaços somente rasgaram a camisa e o feriram com dois cortes, e era fácil tratar. Ela apenas usou o algodão com o anti-séptico para limpar e fechou tudo com esparadrapos.

— Puxa, devia ter aprendido a fazer pequenas coisas como essas... – disse Harry, vendo a destreza de Hermione ao cuidar do ferimento dele. Ela olhou para o amigo, esboçando rir da piadinha dele. Assim que ela colocou o último esparadrapo, ela ouviu Eric dizer, provavelmente em resposta aos pensamentos dela.

— Bem, Hermione, antes que você pergunte qualquer coisa, precisamos dizer que não temos autorização para dizer algo – ela o olhou, ultrajada, enquanto devolvia a ele a caixa. “Como assim, não tinham autorização?”, pensou ela. – Não temos – respondeu ele a essa pergunta muda que vira no pensamento dela. – Quando nos incubiram de ajudar vocês, simplesmente nos deram ordens de não dizer nada que pudesse atrapalhar o trabalho do ministério. Mas não pensem que ignoro as suas necessidades de informações. Já estávamos planejando, meu irmão e eu, contar tudo a vocês.

— Contar o quê? – perguntou Rony ao gêmeo que agiu como se não tivesse sido interrompido. O irmão dele apenas o acompanhava com o olhar.

— Desde que... o ministério australiano recebeu... o pedido de ajudar vocês, designaram alguns bruxos para... procurar seus pais – Hermione percebeu que ele procurava a maneira certa de dizer ou ter certeza do que estava dizendo. – Mas eu queria pedir pra gente ir confirmar essa tal viagem, lá na baía, antes de contar o que sabemos e não podemos.

Hermione, Rony e Harry se entreolharam e ela pensou a respeito. As duas coisas eram importantes; saber mais sobre essa viagem e saber o que o pessoal do ministério australiano sabia. Por fim ela concordou com Eric porque parecia adequado, e Harry e Rony a acompanharam. O gêmeo deu um sorriso fraco, pensativo, e assentiu. E então lembrou a todos de outra coisa.

— Então podemos pedir nosso almoço? Téo vai nos fazer o favor de buscar. Que tal torta de carne e galinha frita? - todos concordaram; Hermione por saber algo da cultura australiana e não querer dar nenhum outro trabalho para os anfitriões; Rony e Harry porque viram ela concordou com os gêmeos. - E pra beber... Ok, suco... Não sei se vai ter suco de abóbora - disse ele em tom de brincadeira olhando para Harry, que fez uma cara de concordância. Devia imaginar que eles iriam comprar o que comer em algum estabelecimento trouxa. - Mas, veja lá o que tiver, mano - informou ao irmão, que saiu da caminhonete.

— Porque ele não vai desaparatando? - perguntou Rony, indeciso.

— Ele se sente enjoado quando desaparata. - respondeu Eric, tranquilamente, no mesmo instante em que, do lado de fora, o irmão dele fazia gestos com as mãos à frente da barriga para confirmar o que era dito.

— Mas ele fez isso hoje com a gente – continuou Rony, vendo Téo se distanciar.

— Duas vezes, se reparou – ironizou Eric. – E talvez vamos precisar fazer isso mais vezes hoje...

Enquanto observavam Téo se distanciando, Eric falou sobre o que fariam em algumas horas. Explicou um pouco sobre o lugar onde estavam, uma região de portos, e outras coisas que Hermione não achou necessário dar atenção. Também falou que seguiriam primeiro para uma marina administrada por bruxos que ficava justamente na Baía Pyrmont, onde precisavam ir, porque lá havia um contato deles. Logo, Téo voltou com almoço e todos comeram enquanto faziam piadinhas e brincadeiras. Hermione até participou de algumas delas, mas nada de muito animador. Mas, de repente, teve vontade de voltar a um assunto.

— O que você e Téo estavam discutindo mais cedo? Se é que é o certo a perguntar.

Eric parou de mastigar e olhou para o irmão, que devolveu o mesmo olhar preocupado. Estava claro que os dois queriam evitar perguntas como estas. Quando começou a falar, depois de engolir, Hermione teve novamente a impressão de que ele escolhia as palavras cuidadosamente.

— É... estávamos discutindo como iríamos informar nosso pai sobre o acontecido... sabe, em Canberra. – vendo que Hermione esperava por mais informações, continuou. – Téo mandou um patrono para ele agora a pouco, no mesmo momento que mandou outro para a noivinha dele. Nós dois suspeitamos que, seja quem for que estiver fazendo algo, de alguma forma sabe que estamos juntos de vocês, então, está somente sendo cauteloso. Mas o que fez em Canberra foi muito perigoso. Feriu muita gente, com certeza.

— Concordo – disse Hermione.

— Acha que há algum meio de sabermos quem foi? – perguntou Harry.

— Sim, mas seria bom antes...

— Ver o que conseguimos na baía – completou a garota.

— Exato – respondeu Eric, olhando nos olhos dela. Hermione resolveu tirar essa ideia da cabeça por enquanto; não ajudaria muito se ficassem discutindo a mesma coisa sem antes buscar as informações de que precisavam. Ajeitou-se melhor no banco da caminhonete, o que fez com que a bolsinha de contas que estava sobre a perna dela caísse. Ela se abaixou desajeitadamente para pegá-la e teve uma surpresa desagradável.

— Ah, droga! – exclamou ela, e quando perguntaram o que houve, explicou, ao mesmo tempo que já estava abrindo a bolsa: - O jarro que usei pra colocar as flores que Eric e Téo me deram se quebrou. Deve ter sido naquela confusão.

Rapidamente, a garota pegou a varinha e usou uma série de feitiços dentro da bolsa para consertar e colocar mais água no jarro, reorganizar as flores e secar a parte de dentro da bolsa. Quando terminou, olhou em volta, satisfeita, e Harry e Rony, um de cada lado dela, sorriam parecendo brincar com que ela havia feito – e ela sorriu também, exultante, lembrando dos tempos que se divertiam com feitiços.




Depois de alimentados e terem descansado por alguns minutos, andavam apressados nas calçadas bem cuidadas de Sydney, passando pelas pessoas e movimentos do horário. Era calmo demais para o movimento que Hermione se acostumou a ver em Londres, contudo havia um aspecto que não negava ser de cidade grande, de prédios altos e muitos carros nas ruas. Ao longe dava para ver os topos dos prédios bem cuidados e suntuosos que podiam servir de cenários para bons cartões-postais. Ao atravessarem mais uma avenida, que ficava atrás do prédio de um hotel bastante elegante, já se podiam ver os portos a que Eric mencionou. Vários barcos, navios e embarcações diferentes que iam e vinham pelas águas e era impressionante a extensão daquela região portuária, sendo que Eric disse que aquela era somente uma pequena parte. Rony e Harry ficavam o tempo todo fazendo observações e brincadeiras acerca do lugar onde estavam e faziam exclamações de admiração sobre os barcos que viam, vez ou outra, perguntando algo para Eric. Assim que atravessaram a avenida que ficava de frente para o elegante hotel e dava acesso aos portos, Eric informou que faltava pouco para chegarem à marina pertencente a um bruxo bastante conhecido na região.

— Mas não é ele quem vamos encontrar – disse Eric antes que alguém perguntasse.

— Mas então?... – quis saber Hermione.

— Vamos procurar por um amigo nosso de outros acontecimentos, que trabalha nesta marina – respondeu ele, escondendo um sorriso irônico. Hermione reparou que Téo também tinha o mesmo sorriso no rosto. Fosse quem fosse, parecia que essa pessoa divertia os dois. Quando passavam por um prédio, Harry chamou a atenção para algo que o impressionou.

— Mas vejam, aquele barco está afundando – apontou ele para uma lancha que parecia descer por entre as águas que borbulhavam ao redor dele. Aos poucos a água tomava conta de todo o barco.

— Minha nossa! – exclamou Eric. – Está afundando mesmo! Salvem todos! Mulheres e crianças primeiro! – brincou ele enquanto todos o olhavam sem entender. Somente Téo parecia esconder uma risadinha. – É assim mesmo. Isso é coisa que somente nós, bruxos, iríamos reparar: Essa marina é enfeitiçada para escondê-la dos trouxas e todos os barcos de bruxos que atracam nela possuem um encanto que repele a água. Assim, eles podem afundar e emergir sem problemas.

— Ah, sei. Lembro de um navio assim – disse Harry. Rony confirmou, também se lembrando do navio de Durmstrang, quando apareceram para o então Torneio Tribruxo, no que parecia ser em outra era.

Hermione olhou ao redor e percebeu que não notou quando entrou na área onde o feitiço começa a atuar enquanto caminhavam. Parou para olhar um grupo de trouxas que se aproximavam pelo caminho inverso ao deles, pouco distante, saindo da marina, e viu que os trouxas sumiram, aparecendo na outra ponta, imediatamente, por onde ela, Harry e Rony entraram com os gêmeos.

— Feitiço de ocultamento e transporte. Os trouxas não percebem quando estão atravessando esse trecho da baía.

— Interessante – disse ela. Harry e Rony também faziam exclamações a respeito do lugar. Era bem diferente mesmo do que conheciam. Ela também reparou que os bruxos que trabalhavam nas redondezas se vestiam como trouxas comuns. Não haviam capas, botas diferentes, nem qualquer outra vestimenta típica de bruxos; imaginou que era pelo fato de se misturarem muito com trouxas. Ao olhar para os gêmeos, viu que desta vez Téo fazia acenos com a cabeça indicando que o pensamento dela estava certo.

Andaram mais um pouco até Eric informar que já encontraram quem procuravam.

— Ele está logo ali. Chease Frolick, nosso amigo especial.

— Que nome estranho – observou Rony.

— Verdade – disse Eric. – Tínhamos um apelido para ele: Chip Chease; uma brincadeira com um salgadinho bruxo que vendiam antigamente, ‘Chip Chois’. Era um salgadinho feito de batatas que se soltava da mão e voava direto para a boca quando você o pegava. Era ótimo. Brincávamos com ele assim porque ele só procurava confusão. Hoje em dia ele está mais... inteligente, por assim dizer.

— Vocês não o chamam mais assim? – perguntou Harry.

— Não. Meu pai, quando ficou sabendo disso, nos proibiu de colocar apelidos nele ou em qualquer outra pessoa. Disse “sempre chame as pessoas pelo nome que elas tem”. Hoje acho que entendo o que ele quis dizer.

Hermione não quis pensar a respeito, mas imaginou que trazia algumas lembranças para os gêmeos, pois pareciam pensativos depois disso. De repente pareceram acordar e tomaram a dianteira. Ela logo pensou que eles planejavam fazer alguma brincadeira.

E pensou certo, porque o rapaz, que não parecia ser mais velho que os gêmeos, estava virado para o mar, cuidando de enrolar uma corda grossa que devia servir para segurar algum barco, através de algum feitiço com a varinha dele e ainda não havia reparado em quem se aproximava. Quando Eric chegou mais perto, resolveu se apresentar.

— Meu amigo, Chease! – exclamou Eric e o sobressalto que o desconhecido teve ao se virar para o gêmeo foi engraçado, Hermione tinha que admitir, tanto que segurou uma risadinha. Ele pareceu se encolher quando viu Eric.

— Mas... Vocês de novo?

— Surpresos de nos ver? – disse o gêmeo, com um sorriso sarcástico. O outro tentou correr para a água, mas teve o caminho barrado por Téo, parado com os braços cruzados e sorrindo ironicamente, cuja aparatação foi tão sutil que Hermione nem notou. Eric revirou os olhos dando a entender que aquela era uma situação que se repetia sempre que se encontravam. Depois, ela trocou olhares com Rony e Harry e viu que também seguravam risadinhas, porque o comportamento do outro os faziam lembrar-se de um conhecido, Mundungo Flechter.

— Chease, acho que você poderia ser mais cordial. Temos visitas conosco.

Hermione prestou mais atenção ao rapaz que estava claramente se negando a falar, ou de pensar se fosse o mais apropriado. Nem queria imaginar os impropérios que ele deveria estar pensando naquele momento.

Primeiro viu que se enganou, ele devia ser mais velho que os gêmeos, dois ou três anos. Pele clara, cabelos pretos que ele deve gostar de deixar bagunçados e caindo pelos ombros, um rosto magro que outrora devia encantar as moças, mas desleixado demais para isso atualmente. Tinha quase a mesma altura dos gêmeos e, assim como os outros que trabalhavam na marina, se vestia com uma calça jeans e camisa xadrez, típico de trouxas.

Naquele momento parecia querer usar as palavras como alguma arma mortal contra os gêmeos, mesmo sem encontrar nenhuma tão poderosa, pois ele olhava para Eric com tanta raiva que quase era possível sair fogo pelos olhos dele; ele erguia o indicador da mão direita para o gêmeo e fazia uma careta tão engraçada que Hermione teve que olhar para outro lado para evitar rir.

— Você não tem como me ameaçar... – finalmente disse ele, rispidamente para Eric.

— O quê? Mas do que você está falando... Ah, minha nossa... – foi a deixa para todos entenderem que os gêmeos haviam acabado de saber o que o rapaz tinha feito de errado. Arrependido do que acabava de pensar, o rapaz olhava de Eric para Téo, que mantinham a mesma cara de surpresa.

— É... Você vem aqui sem avisar e espera que eu fique calmo? E quem são eles, seus ajudantes... Espere um pouco, ele é... – observou o estranho, apontando para Harry.

— Nem uma palavra – disse Eric.

— Mas...

— Nem uma palavra, já disse. Ou teremos que pensar a respeito dessa sua última brincadeira. Estamos só de passagem, entendeu? – terminou o gêmeo e o rapaz fez que sim com a cabeça. Eric resolveu tranquilizá-lo. – Escute Chease, não estamos aqui pelo que você fez em Taiwan; nem sabíamos disso. Viemos para ver se você nos ajudaria com algumas informações – depois se virou para Hermione. – Mas agora sabemos que não vai ser de muita ajuda, pois ele esteve fora nas duas últimas semanas e só voltou ontem à noite.

— Ah, quer dizer que agora precisam de mim, hein? – disse Chease, agora fazendo um ar de desdém.

— Sem essa, Chease. Não vamos negociar nada – anunciou o gêmeo. – Só precisamos de simples informações. O máximo que podemos fazer é ignorar essa sua “viagenzinha”.

O outro pensou a respeito por alguns segundos; achou que para ele parecia adequado.

— Está bem. O que quer saber?

Hermione não esperou para Eric pedir novamente aquela foto dos pais dela; procurou-a na bolsinha e entregou a Eric assim que ele olhou para ela.

— Procuramos essas pessoas – informou ele, mostrando a foto para Chease. – Podemos perguntar para alguns trabalhadores daqui se os viram?

— E o que você acha que eles vieram fazer por aqui? – perguntou o rapaz.

— Eles vieram embarcar em um cruzeiro...

— Ah, não por aqui, com certeza – interrompeu Chease, antes que Eric terminasse a frase. O gêmeo demonstrou no rosto que acabava de saber por quê. Depois, Eric se virou para Hermione e disse o que soube.

— Não há cruzeiros que partiram dessa baía há pelo menos uma semana.

— Então... – disse Hermione.

— Se houvesse algum cruzeiro, seria do outro lado – apontou Chease para uma parte da marina, oposta ao lugar onde estavam, pouco distante deles. Depois, vendo que Hermione entendeu errado, corrigiu o que estava dizendo. – Quer dizer, não desse lado da marina. Daquele lado. Lá é maior e tem espaço para grandes navios – apontou para um lugar mais adiante, além do lugar onde tinha apontado antes, distante cerca de quinhentos metros, onde se podia ver uma imensa plataforma, que era o atracadouro, e um navio atracado. – Aquele não. É um navio cargueiro, mas os cruzeiros também partem daquele lado, quando as outras baías estão com muito movimento. Mas não partem cruzeiros de lá há pelo menos uma semana. Somente outras embarcações. Sei disso porque temos que acompanhar o movimento dos portos, para não dar nada errado com os trouxas.

— Acha que há algum mal em perguntarmos daquele lado? – perguntou Eric.

— De forma alguma – respondeu Chease, dando de ombros.

Eric se virou para Hermione, Harry e Rony e discutiram as opções. Não havia muito que discutir. Se os navios só partem do outro lado, é de lá que eles vão conseguir informações. Iriam aparatando porque se fossem a pé seria uma volta enorme e demorariam mais. Hermione e os outros concordaram com Eric sobre o que fariam, e o gêmeo se virou para Chease, que aguardava, perguntando sobre o melhor lugar para aparatar. O rapaz contou que naquele lugar não havia uma marina de bruxos, protegida por feitiços; lá era somente de trouxas. Teriam que aparatar em um beco pouco afastado.




Hermione aparatou logo atrás de Téo, que já olhava para os lados além do lugar onde apareceram, encostado numa parede. Depois dela vieram Rony, Harry e Eric.

— É assim, acho melhor deixar que eu pergunte, porque meu irmão e eu vamos ficar de olho somente em quem trabalha por aqui.

— De acordo – responderam Hermione. Harry e Rony também concordaram.

Caminharam em direção aos portos. Não estavam longe, e foi fácil para os gêmeos encontrar os trabalhadores. Com o poder deles, poderiam facilmente diferenciar quem trabalhava naquele lugar de outros que somente estavam de passagem. Mas Hermione também soube identificar quem trabalhava no lugar e quem não. A maioria dos trabalhadores usava roupas normais; calças jeans, camisas. Alguns estavam uniformizados, com roupas grossas, outros com jalecos ou grandes aventais. O primeiro grupo de quatro trabalhadores que abordaram não foi de muita ajuda. Os gêmeos logo viram que eles não sabiam de quem se tratava. Continuaram em frente, em direção àquele navio cargueiro que Hermione viu anteriormente e abordaram mais um grupo de seis trabalhadores que estavam em frente a um prédio que servia de depósito. Estes foram mais prestativos, dando mais informações sobre o lugar, porém não sabiam de quem se tratava quando Eric disse que os dois da foto eram o casal Wilkins. Despediram-se daqueles trabalhadores e voltaram a caminhar para se encontrar com outros.

— Porque você não disse a eles que meus pais vieram procurar um navio cruzeiro? – perguntou Hermione.

— Não vejo necessidade. Eles sabem que não partiu nenhum navio desses nos últimos dias – respondeu Eric.

Hermione reparou que ninguém ficava olhando para eles enquanto passavam. Os trouxas trabalhadores daquele lugar certamente estavam acostumados a estranhos que iam e vinham, usando embarcações ou apenas andando por aqueles lados. Pararam para conversar com mais três trabalhadores, que também não tinham nada a acrescentar. Apenas disseram que muitos casais passavam por aquele lugar porque não era uma marina restrita. Logo, disseram que os Wilkins, como estavam sendo tratados, poderiam ter passado pelo lugar sem serem notados. Quando Eric se despedia dos trabalhadores, gritos de duas mulheres trouxas chamavam a atenção de todos. Hermione se virou e viu que dezenas de ratos corriam a pouca distância deles, correndo para todos os lados, assustando uma família de trouxas. Os gêmeos correram para a esquina de onde os ratos saíram, sendo seguidos por Hermione, Harry e Rony, e também pelos três trouxas que estavam conversando com Eric. Quando alcançaram os gêmeos, os encontraram olhando para todos os lados, com rostos raivosos. Quando Eric olhou para Hermione, fez um sinal discreto indicando para não fazer perguntas; fez o mesmo para Harry e Rony.

— Mas o que aconteceu? – perguntou um dos trabalhadores. A família de trouxas já havia corrido para longe.

— Nada. Alguém soltou estes ratos fazendo uma brincadeira – respondeu Eric, olhando para um barril caído, onde provavelmente os ratos estavam, e Hermione soube que era só uma mentira para os trouxas.

Deixaram os trabalhadores procurando por mais ratos e voltaram para o que estavam fazendo. Hermione viu Eric e Téo trocando olhares e parecia que estavam se entendendo sobre o que acabara de acontecer. Ninguém precisou perguntar nada para Eric, pois no momento certo ele diria o que houve. Encontraram mais um grupo de quatro trabalhadores, mas, antes que se aproximassem, a atenção deles foi desviada para um trouxa que chamava por eles. Pararam para esperar por ele que se aproximava correndo.

— Ei... Eu pensei que já tinham ido embora... – disse o trouxa quando chegou perto, tentando recuperar o fôlego.

— O que quer conosco, senhor? – indagou Hermione.

— Cook. Tod Cook, ao seu dispor – se apresentou ele. – Eu vi vocês conversando com meus colegas lá atrás; eu estava no depósito... e acabei ouvindo a conversa.

— E o senhor tem alguma informação importante? – perguntou Harry. O homem ainda respirava profundamente.

— Sim, tenho. Uma mulher em uma limusine. Veio até mim e disse que uma garota, que devia estar acompanhada de dois rapazes, estaria perguntando por duas pessoas, de sobrenome Wilkins. Não deu maiores detalhes; só disse isso.

Hermione olhou para os gêmeos e esperou. Sabia que eles observavam atentamente o homem para pegar qualquer detalhe importante na mente dele. Não disseram nada e ela logo imaginou que era seguro ouvir o estranho. Voltou a olhar para o trouxa, que continuou a falar.

— E eu estava perto da porta, fazendo minhas anotações, quando ouvi esse nome, Wilkins. Me levantei, fui olhar e só vi vocês três – apontou para os gêmeos e para Rony, indicando quem ele teria visto na hora. – Pensei ser só uma coincidência, mas quando vocês já estavam saindo que fui ver que tinha mais gente; você, e você também – disse olhando para Hermione e Harry. – Só me interessei porque havia uma garota. Não sabia se era você, mas não podia ser só uma coincidência. Estou certo?

— Sim. Está certo, senhor Cook. Eu estou procurando por este casal.

— Bom. Isso é bom. Como disse antes, não sabia se era você a quem a mulher tinha se referido, mas...

— Poderia ser mais direto, senhor Cook? – perguntou Eric com seriedade. O homem olhou para ele, meio desnorteado; ainda lutava para normalizar a respiração.

— Bom. Agora sei que são vocês mesmo – disse ele, olhando para Hermione. – Ela só pediu para avisar que esses dois não viriam para este lugar.

— Que mais ela disse? – perguntou ela.

— Nada. Ela me pagou pra dar esse recado e entregar isto para você – o homem tentava desamassar um pedaço de papel com as mãos, desistindo depois e entregando para Hermione. – No início imaginei que fosse só uma maluquice, que ninguém apareceria perguntando por estes tais Wilkins, tudo porque ela me entregou esse pedaço de papel em branco para dar a você.

— Papel em branco? – perguntou Harry. O papel não estava em branco; estava claro que havia um feitiço que fazia o trouxa ver apenas um papel sem nada escrito, pois Hermione via que se tratava de um recorte de revista, anunciando um cruzeiro com preços promocionais. No verso dele, havia uma parte de alguma reportagem. Respondendo a pergunta, o homem somente assentiu com a cabeça; ainda devia tentar entender. Depois continuou dizendo.

— Eu não entendi, é sério. Não entendi mesmo. Mas talvez queira dizer algo para vocês. Eu tinha jogado na minha lixeira, pensando que era só uma brincadeira de mal gosto. Ainda bem que não joguei o lixo fora; assim que percebi que eram vocês, revirei minha lixeira em busca deste papel. E corri pra cá. Pensei que devia ser importante.

— E é senhor Cook. Obrigada – disse Hermione, deixando para olhar o papel depois. – Mas sabe quem deixou isso com o senhor?

— Não. Não tenho ideia. Ela não saiu da limusine. Eu estava na minha folga, mas na frente do depósito quando ela apareceu. Abaixou um pouco o vidro, me chamou e deu as instruções me entregando o papel. Não vi o rosto dela.

— Não se lembra de algum detalhe? – perguntou Rony.

— Não muita coisa. Só da luva preta. Usava uma na mão que me entregou este papel. É do tipo de luva que uma mulher usaria, com certeza. Mas nada que valha a pena lembrar.

Hermione olhou novamente para Eric, que devolveu o olhar e sinalizou negativamente com a cabeça.

— Acho que isso conclui nossos trabalhos por aqui – disse Eric amigavelmente, batendo as palmas como para finalizar a conversa. – Obrigado, senhor Cook. Obrigado mesmo. O senhor ajudou bastante, mas precisamos ir.

Hermione, Harry e Rony olharam para Eric sem entender muito; havia uma expressão resignada no rosto do gêmeo, mas ninguém quis perguntar nada a ele. Despediram-se do trouxa também e seguiram, em silêncio, os gêmeos em direção ao lugar onde haviam aparecido antes.

Só quando chegaram ao local, livre dos olhares de trouxas, que começaram a discutir o assunto. A cabeça de Hermione já estava com dezenas de perguntas, mas queria saber primeiro o que havia no papel. Harry acabou fazendo a pergunta mais importante no momento.

— Eric, reconheceu quem seria a mulher que aquele trouxa falou?

— Não – disse ele pensativo. – O trouxa foi confundido para não reconhecer nada, exceto a limusine.

— Sério? – perguntou Rony. Eric disse que sim com a cabeça e depois completou.

— Na mente dele só deixaram o mais essencial; nem a placa do carro ele lembraria se perguntássemos. Em momento algum ele mentiu; disse-nos tudo que se lembrava. Ele estava certo em dizer que era uma voz feminina, porém não achou necessário dizer que era rouca.

— Como assim necessário? Acha que a bruxa no carro teria disfarçado a voz? – quis saber Harry.

— Exatamente. E fizeram tudo querendo evitar que meu irmão e eu identificássemos algo. É como eu disse antes: eles sabem que estamos ajudando vocês.

— Então, porque ela teria dito para o trouxa que somente nós três procuramos pelos Wilkins?

— Boa pergunta, Harry. Suponho que eles esperassem que não estivéssemos juntos de vocês em todos os lugares.

— Viu algum detalhe estranho ou fora do normal? – perguntou Hermione para Eric.

— Estranho? Para um trouxa o que seria mais estranho do que uma limusine aparecer com uma mulher escondida, fazendo um pedido estranho e o cara se lembrar somente o essencial?

— É... Tem razão, é estranho mesmo.

— Como eu disse antes, o trouxa foi confundido. Então, detalhes que poderiam ser importantes foram omitidos da mente dele através do feitiço. É realmente muito estranho para os trouxas. Muitos deles ficaram cismados com isso por semanas tentando achar uma explicação. Sorte que o cara é do tipo desligado, que não liga pra isso. Lembram que ele disse que achou que fosse uma brincadeira?

— É. Ele até jogou o papel fora – concordou Rony e de repente as atenções voltaram para o papel nas mãos de Hermione. Ela levantou o papel e ficou olhando para ele, prestando atenção aos desenhos do anúncio de viagem, decidindo qual feitiço usaria. Foi Harry quem deu a ideia.

— Tenta um simples primeiro.

Hermione não precisou pensar muito nisso. Sacou a varinha do bolso da calça e murmurou apontando para o papel.

— Revelio!

Por um momento ela não viu acontecer nada no papel, mas o olhar que os garotos que estavam à frente dela fizeram a obrigou a virar para o lado oposto ao das figuras para que olhasse. As palavras daquele trecho, que eram de uma reportagem, estavam se reorganizando; algumas letras se afastaram ou se aglomeravam em um canto do papel e outras se juntavam para formar uma frase nova no meio. Quando terminaram, Hermione as leu em voz alta:

“Quebre os ossos da cabeça tentando achar as pedras”.

— Que estranho. Que significa? – perguntou Rony primeiro.

— É uma charada – respondeu Harry. Hermione olhou para Eric esperando que ele tivesse algo para pensar, porque ela não tinha ideia nenhuma quanto ao que leu. Ele coçou a cabeça e começou a dizer, em tom de brincadeira.

— É mesmo uma charada, mas não é muito original, uma vez que parece se tratar de um... – parou de repente, olhando sério para o irmão, que estava quieto o tempo todo. Téo se mostrava sério e, por um momento, parecia passar para Eric uma ideia sinistra, porque assim que o irmão entendeu, olhou de volta para Hermione com um olhar bastante preocupado. Ele deve ter percebido a preocupação ao redor e disse algo que Hermione não entendeu. Algo que, para ela, pareceu “Gibanwaogabarra”.

Ninguém entendeu nada – ele viu isso.

— Téo me lembrou desse lugar. É a única explicação possível... Bom, é um lugar proibido. Poucos bruxos mencionam. Os aborígenes que conhecem deram esse nome que significa “pedra da cabeça quebrada”.

— E o que tem esse lugar? – perguntou Harry, e Eric parecia hesitante em responder. Com uma olhada para o irmão, decidiu-se por fazer.

— Meu irmão acha que essa frase tem tudo a ver com um poema que cantavam antigamente para assustar as crianças. Se refere a um vilarejo bruxo abandonado no meio do deserto. E eu concordo com ele. Tem os mesmos elementos que indicam que há algo naquele lugar.

— Espera aí, isso tudo está muito estranho – reclamou Rony. Hermione e Harry também tentavam entender, mas esperaram por mais informações - Que porcaria de poema é esse? E que lugar é esse que você fala?

— Há muitos anos, ainda na época das primeiras migrações, uma família de bruxos, descendentes de Romenos, se instalou no meio do deserto Simpson. Eram os Lieviesgos, uma família grande de bruxos, e fundaram uma vila: “Treia Gherla” era o nome de davam. O nome que falei era como ficou conhecido pelos aborígenes porque nesse vilarejo essa família fazia sacrifícios de alguns deles. Eles acreditavam que oferecendo a vida de uma “nova raça”, como diziam alguns aborígenes, eles conquistariam essa terra. O poema é mais ou menos assim:

 

“Isso digo a você

Não desobedeça seus pais

Andar sozinho é um erro

A noite é estranha

Se por algum infortúnio

Nas pedras você for parar

Só os ossos vão te olhar

E vão rachar quando você gritar”

 

— Tem outros versos, mas meu pai nunca foi de querer assustar meu irmão e eu – disse ele, tentando fazer uma piadinha. – Por isso só lembro essa parte. O estranho é que é a parte exata indicada por essa frase. Deixe-me tentar uma coisa, pra ver se é isso mesmo... – ele disse, já pegando a própria varinha e apontando para o papel na mão de Hermione.

— Revelium Totalus! – murmurou ele e depois fez sinal para Hermione virar o papel novamente. Desta vez, o que movimentou foi a figura do anúncio, de uma forma mais estranha ainda. A figura, que era uma parte de um navio cruzeiro atracado em um porto, de repente deu a impressão de se afastar, ou ir para alto mar, se é que era o certo a pensar, e as letras que restavam estavam desaparecendo. A mudança que ocorreu na figura é que ficou estranha; ao mesmo tempo em que a água da imagem secava rápido, o navio se transformava em uma casa velha e horrenda. Finalmente, o mar da figura se secou completamente e ficou com aparência de um deserto, com essa casa estranha no meio. Hermione se lembrou do sonho que tivera na noite anterior; de alguma forma, o que aparecia na figura fazia lembrar a casa do sonho, embora estivesse diferente.

— Taí – disse Eric, olhando para o irmão e interrompendo o pensamento da garota. – É isso mesmo.

— Mas só porque apareceu em um desenho você acha que se trata mesmo desse lugar que você falou? – perguntou Rony.

— Sim, é isso mesmo. Téo pensou certo. Essa é uma técnica, já antiga, usada por nós, bruxos da Austrália, quando queremos passar uma mensagem sem usar um texto. Só não faço ideia do porque eles pensariam que vocês deveriam saber disso...

— Hermione teria pesquisado sobre isso – emendou Harry, com a cabeça baixa. Na verdade ela tinha lido algo a respeito sobre figuras animadas magicamente como mensagens, mas antes disso não se lembrava.

— Pode ser – ponderou Eric.

— Mas então, essa “charada” foi fácil demais – disse Rony. Foi Harry quem respondeu.

— É pra ser fácil. Eles querem que a gente vá pra lá.

— Exatamente – concordou Eric.

— Então, tá! O que estamos esperando? – perguntou Rony, e o tom de voz dele incomodou Hermione. – Vamos desaparatar pra esse lugar e…

— Não podemos – respondeu Eric.

— Como assim não podemos? Está claro que alguma coisa aconteceu aos pais dela e talvez eles estejam lá, nesse lugar, precisando de ajuda. Precisamos ir rápido.

— Concordo com você – disse o gêmeo calmamente. – Mas não podemos ir desaparatando diretamente pra lá. Há regras sobre aparatação em um lugar deserto. Não podemos atrapalhar a vida dos animais.

— Mas... – tentou argumentar Rony.

— Ele está certo, Ron – começou a dizer Hermione. - Os australianos são preocupados com o meio ambiente e os bruxos determinam que não se deve aparatar nas reservas e desertos, onde pode haver vida animal, a não ser com necessidades urgentes, se preparar as proteções necessárias.

— Isso mesmo. Se tivéssemos alguém por lá preparando um local para aparatar seria diferente – indicou Eric.

— Ok, então – aceitou Rony.

— Onde fica esse deserto? Vamos na sua caminhonete? Será que vai demorar muito pra chegar lá? – perguntou Harry e Eric fez uma cara descontraída, devia pensar em alguma piada, mas deu as respostas certas.

— Fica nas divisas dos territórios do Norte, de Queensland e da Austrália do Sul. É um deserto muito grande. Vamos na caminhonete; aparatamos em uma cidade próxima, estou pensando em Marla, e depois seguimos rodando por mais ou menos quatrocentos quilômetros deserto adentro. Depois disso, vamos a pé até chegar em “TG”.

— “TG”?

— Sim, “TG”, Harry. O nome do vilarejo é Treia Gherla e quem sabe da história chama aquele lugar assim. Vamos demorar um pouco. Chegaremos lá somente amanhã, então vamos acampar à noite.

— Que ótimo – ironizou Rony. – Não sabemos o que está acontecendo e só devemos descobrir amanhã.

— É... Bem, quanto a isso – começou dizendo Eric, sem jeito. – Não podemos, mas acho que é melhor dizer alguma coisa, se lembram?

Hermione estava pensativa, mas parou para olhar para ele. Na caminhonete, mais cedo, ele disse que precisavam vir até a baía para conseguir informações antes de dizer algo, mas agora, mesmo sem ser autorizado, ele ia dizer o que sabia estar acontecendo.

— A verdade é que seus pais foram sequestrados, Hermione. Não me entendam mal – disse antes que alguém sequer pensasse algo. – Só fizemos o que nos foi pedido. Nem deveria estar dizendo isso a vocês.

— Mas porque você... – Rony começou a dizer, mas Eric não deixou que ele terminasse.

— Como eu disse, não temos autorização. Mas vejo que é necessário dizer por que agora a coisa mudou; isso é grave e preocupante. Tudo que os aurores descobriram foi o que já sabíamos. A esperança era acompanhar vocês pra sabermos mais, como suspeitávamos. A única pista concreta que tinham era o táxi que foi abandonado a meio quilômetro daqui, que seus pais usaram quando saíram do aeroporto aqui em Sydney, Hermione. Os aurores suspeitavam que estivessem por aqui, ou que tivessem sido levados em algum barco para um lugar desconhecido.

— Mas não há nada dizendo que meus pais estão neste lugar e nem informando o que pretendem – replicou a garota.

— Mas faz todo sentido, “...achar as pedras” – disse, lembrando parte do aviso no papel. – É uma referência à pedra que usavam nos sacrifícios. Era uma pedra enorme, maior que uma cama de casal, toda incrustada de pedras preciosas; ouros, diamantes, rubis, topázios... Ela desapareceu. Antigamente apareciam alguns bruxos aventureiros procurando por ela. Fazendo uma analogia, eles querem indicar para você o que você mais quer – seus pais. Meu irmão e eu achamos que seus pais podem estar neste lugar.

— Então é uma armadilha – anunciou Rony, espelhando o pensamento dos outros.

— Provável que seja – concordou Harry. Depois ele perguntou, virando-se para Hermione. – O que você quer fazer, Mione?

Hermione não pensou muito. Já estava decidida a reencontrar os pais quer seja em quaisquer condições estiverem. Sabia que com a ajuda dos amigos poderia enfrentar quem estivesse por trás desse sequestro, mas não tinha certeza sobre avisar ao Ministério, da Austrália ou da Inglaterra. Eric, vendo esse pensamento dela, resolveu ajudar.

— Estaremos juntos de vocês nessa, Hermione, meu irmão e eu. E podemos pedir para meu pai colocar o Ministério de prontidão. Temos que mandar outro patrono para ele informando sobre isso, de qualquer forma.

— Certo, eu agradeço – respondeu Hermione. – Só que não posso deixar vocês correrem perigo por minha causa e...

— Ah, nem vem, Mione – interrompeu Harry com uma risada. – Já fiz esse discurso muitas vezes e vocês não me deixavam, lembra? Acha que vamos abandonar você nessa hora?

A garota olhou para o amigo e viu a verdade nas palavras dele. Sorriu para Harry e para os outros ao redor dela e sentiu não ter palavras para expressar a gratidão.

— Está bem, vamos nessa – disse ela, querendo terminar o assunto. Depois se virou para Eric. - Vai pedir para seu pai colocar o Ministério de prontidão?

— Com toda certeza – respondeu ele. No mesmo momento, Téo já se afastou para conjurar o patrono que seria enviado ao pai deles com a mensagem. – Mas primeiro, vamos garantir uma ajudinha.

— Por curiosidade... – começou perguntando Rony. Eric foi mais rápido em responder.

— Ninguém sabe o que aconteceu. No vilarejo todo vivia apenas pessoas dessa família enorme. Um dia, uns trouxas aventureiros passaram por lá e encontraram o vilarejo com todos mortos, provavelmente mortos alguns meses antes. Antes que a notícia se espalhasse, os bruxos da época trataram do assunto; enfeitiçaram o local, escondendo dos trouxas e limparam a mente dos que souberam. Não havia nada que indicasse se tinham sido envenenados ou mortos em alguma briga. Para os trouxas, é só boato.

Eric encerrou o assunto e, depois que Téo terminou de enviar o patrono para o pai deles, todos desaparataram.




Aparataram novamente para a marina onde o bruxo amigo deles trabalhava. Ninguém se virou para olhar para eles quando apareceram de repente e isso deixou Hermione grata; deviam estar acostumados a bruxos indo e voltando dessa forma. Seguiram direto procurando pelo tal Chease e quando o encontraram arrastando um carrinho com equipamentos de limpeza, ele deixou o mesmo ar de contentamento como da outra vez que os gêmeos o abordaram.

— Ah, não! Que foi agora?

— Precisamos que venha conosco. Você pode nos ajudar muito.

— E se... – quis perguntar ele para Eric.

— Se recusar, podemos repensar essa sua brincadeira em Taiwan. É importante, Chease. Muito importante.

Chease pensou um pouco. Claramente não gostou da ideia; parece que os gêmeos não são as pessoas que ele gostaria que servisse de companhia em uma viagem. Olhou interrogativamente para Harry, Rony e Hermione e antes que colocasse em palavras, o gêmeo respondeu.

— Eles vão sim. É por eles que estamos aqui.

— Ah, bem. Nesse caso... Mas vou ter que falar com meu patrão, o senhor Bourgout. Como eu cheguei há pouco tempo...

— Sem problema. Vou lá com você. Ele me conhece e acho que posso convencê-lo.

Eric seguiu Chease para dentro do prédio que era o escritório daquela marina, deixando o aviso para Hermione, Harry e Rony seguirem para a caminhonete com o irmão – ele ia depois com Chease. Mesmo com a dúvida que pairava sobre o que estaria esperando, a garota se sentia confiante porque eles estavam dispostos a ajudá-la. Pela primeira vez, não pensava no medo antes de enfrentar o perigo. Desejou continuar assim até que encontrasse os pais.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, finalmente terminei esse capítulo. Poderia ter demorado mais se não desistisse de tentar fazer Rony brigar com Eric. Descobri que não sou bom para escrever discussões entre amigos - uma coisa que tenho que trabalhar depois. Mas continuo firme com a estória. Espero que gostem desse capítulo. Obrigado a todos que acompanham e deixam review. Obrigado mesmo, a todos.
Abraços.



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