O Presente escrita por Hatake Sayuri


Capítulo 1
Capítulo 1




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Doze de Junho.

Já eram quase oito horas da manhã quando Milo de Escorpião desceu para a arena de treinos, sozinho e com um semblante que demonstrava que aquele que tivesse a infelicidade de ser seu parceiro de treino hoje deveria tomar muito cuidado.

O motivo?

Todos já imaginavam qual seria, pois apenas uma pessoa era responsável pelo humor de Escorpião. Não importava se era uma felicidade incontida ou uma vontade ferrenha de estrangular o primeiro que o olhasse torto.

Para qualquer uma das situações emocionais de Milo, o responsável era sempre o mesmo: Camus de Aquário.

Milo seguiu em direção ao local onde Afrodite, Mu e Shaka observando os treinos que ocorriam naquele momento. Sentou-se ao lado do pisciano e suspirou fundo, gesto que não passou desapercebido pelo mesmo.

- Fala Milo, o que aconteceu?

- Nada.

- Milo, a gente te conhece então porque não desabafa logo o que está te incomodando.

- Mas é justamente isso. O que está me incomodando é o fato de não acontecer nada.

- E o que você queria que acontecesse?

- Você sabe que dia é hoje?

- Claro que eu sei, é dia dos namorados, o Andrea¹ até prometeu que vai me levar para jantar em Atenas. – dizia um sorridente Afrodite.

- Exatamente! Hoje é dia dos namorados e eu não vou fazer nada. Na verdade há dias que eu mal consigo conversar com o Camus, ontem nós brigamos, ou melhor eu briguei, porque ele não se dignou a prestar um mínimo de atenção em mim. Aquele filho da...

Não conseguiu terminar a frase, seus olhos se fixaram na imagem do cavaleiro de Aquário descendo as escadas da arena, o que acabou chamando a atenção dos outros três cavaleiros, que seguiram o olhar do escorpiano.

Um detalhe naquela cena fora a responsável pelo silêncio de Milo, Camus trazia nas mãos um pequeno embrulho, um presente. Aquilo surpreendeu-o pois imaginou que ele sequer se lembraria que era doze de junho.

O ruivo aproximou-se calmamente como se não tivesse ouvido as palavras pouco gentis que Milo estava prestes a falar. O que ele com certeza ouviu, mas como sempre, Camus era educado demais para responder àquele temperamento explosivo do namorado.

- Bon Jour, mon chér!² – e deu-lhe um pequeno beijo e entregou-lhe o embrulho. – Feliz dia dos namorados!

- Bon jour o caramba! Você está pensando o que? Que depois de me ignorar por quase uma semana, basta chegar aqui me dar um presente, dizer quatro palavras em francês, que eu vou me derreter todo por você?

- Oui.

- Camus você não pode simplesmente me comprar com um presentinho.

Diante da intransigência e óbvia raiva de Milo, o ruivo sabia que o melhor era deixa-lo quieto até que ele se acalmasse. Ao que tudo indica o mero fato de não tê-lo dado a atenção exclusiva a qual ele tanto primava resultou em um temperamento mais explosivo do que o comum.

Suspirou entendendo que aquela conversa havia chegado ao fim de uma forma muito mais rápida do que previra e virou-se para sair, deu dois passos e resolveu arriscar sua última jogada:

- Não vai olhar o que é o presente? Aposto que você vai gostar.

- SOME!

Ante latente raiva, não teve escolha além de voltar para o seu templo, mas ainda certo de que logo seria seguido pelo namorado.

Milo sentou-se novamente ao lado dos amigos, mas agora o semblante aborrecido dera lugar à uma cólera crescente, tinha os olhos injetados e segurava o embrulho com tanta firmeza que já começava a rasgá-lo. Mu decidiu que era hora de interferir:

- Milo você está bem?

- O que você acha Mu? – respondeu sarcástico – Eu pareço bem para você?

- Essa pergunta realmente foi idiota, Mu – interferiu Afrodite – Milo, você não vai nem olhar o que é o presente?

Aquelas palavras o acordaram para o fato de que ele ganhara um presente de dia dos namorados. Estava tão aborrecido por ter sido preterido na última semana que apenas conseguiu descontar parte da raiva acumulada em cima de Camus, sem sequer pensar que já era um sinal de atenção o fato de ele ter lembrado a data e ainda ter comprado um presente. Tais pensamentos amainaram sua raiva e finalmente a curiosidade falou mais alto.

- Eu vou abrir, mas o que eu disse é verdade, não é um presentinho que vai me comprar. Mas eu tenho que considerar que ele demonstrou pelo menos um pouco de atenção ao comprar algo para mim.

- Para de enrolar e abre logo isso, que eu estou morrendo de curiosidade!

Milo então terminou de rasgar o delicado embrulho revelando o presente: um livro.

Mas não qualquer livro, um livro antigo, grosso, de capa de couro vermelha com inscrições em letra dourada bordada em francês.

Sim Milo sabia qual livro era aquele, apenas leu a portada para se certificar que era La Divine Comédie de Dante Alighieri.

Milo olhava fixamente para o livro tentando entender o porquê de tê-lo recebido.

Os outros três cavaleiros que acompanharam tudo estavam estarrecidos. A última coisa que imaginavam era que Camus tivesse a ideia infundada de dar um livro de presente ao escorpião. Todos sabiam que o defensor do oitavo templo não estava entre o seleto grupo de cavaleiros que apreciavam uma boa leitura. Ou melhor, já era de conhecimento comum as homéricas discussões entre Camus e Milo devido às horas gastas por Aquário em sua biblioteca, que fora carinhosamente apelidada por escorpião de “monte de tralha acumulando poeira”.

- Ai minha deusa, é hoje que o Camus morre! – disse Afrodite.

Todos esperavam o momento que Milo levantaria com a unha em ponto de aplicar uma Agulha Escarlate no namorado pela audácia de dar um livro como presente do dia dos namorados.

Mas para o espanto dos três, Milo abriu um sorriso sincero que logo evoluiu para uma risada aberta enquanto apertava o livro contra o peito. Levantou-se com uma felicidade  que destoava completamente do Milo de alguns minutos atrás e iria seguir o caminho de volta aos templos quando foi interrompido por Mu ainda com uma expressão preocupada:

- Milo, aonde você vai?

- Desculpa amigos, mas agora eu vou curtir o meu presente.

Saiu correndo ainda abraçando o livro contra o peito e deixou três cavaleiros atônitos e incrédulos pela cena que presenciaram.

- Alguém me explica o que aconteceu? Desde quando o Milo gosta tanto de livros?

- Eu não sei Afrodite, eu não sei. – Respondeu Mu. – Shaka tem alguma ideia do que acabamos de presenciar?

-Ainda não tenho iluminação o suficiente para explicar isso.


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Notas finais do capítulo

1.Andrea é o nome que eu dei ao Máscara da Morte, afinal ninguém é batizado com um nome desses. E para quem não sabe, Andrea é um nome masculino na Itália.
2.Bon jour, mon chèr = Bom dia, meu querido
3.Cest bien = Está bem
Ohayo minna!
Uma fic para o dia dos namorados, essa ideia surgiu e resolvi coloca-la no papel. Era para ser uma one-shot, mas após lê-la decidi dividi-la em dois capítulos seguindo a ordem cronológica dos fatos narrados.
Ah, um detalhe antes que alguém reclame: eu sei que só no Brasil comemoramos o dia dos namorados em 12/06 para o resto do mundo é em fevereiro, portanto como os cavaleiros estão na Grecia, ele comemorariam em fevereiro, mas utilizo-me aqui de uma licença poética e irei fazê-los comemorá-lo em junho.