Digimon: Golden Memories escrita por foreveralone san


Capítulo 13
Traição


Notas iniciais do capítulo

Retornei com o novo cap, desculpem pela demora para postar esse e sinto em dizer que o próximo talvez demore ainda mais, meu pc está com problemas e não sei quando poderei consertar. sem mais delongas, vamos ao cap de hj ^^



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...

O sol teimou em me despertar. Eu sempre detestei ter que acordar cedo, principalmente quando eu conseguia me acomodar tão bem na cama como agora. Havia algo tão reconfortante que eu não sei explicar. Só sei que eu não queria de forma alguma sair da cama, por mais que me parecesse estranho aquela sensação. Deixei para lá a desconfiança e paranoias para poder afundar meu rosto nos travesseiros mais uma vez, havia um perfume neles que me era tão familiar...

Eu acordei ao sentir um estranho peso em minhas costas e um sussurrar ao meu redor, fui aos poucos abrindo os olhos, quando olhei para o lado que era para estar vazio na cama, eu encontro o Tai sentado lá sorrindo olhando para mim, eu me apavorei na mesma hora erguendo o rosto, descobrindo que a Kath estava sentada nas minhas costas rindo.

–Bom dia mãe! –Ela falou rindo, eu respondi respirando aliviada.

–Bom dia querida. –Eu voltei meu olhar para a janela e vi que o sol ainda estava nascendo. –Que horas são?

–Seis e quarenta e cinco. –Tai respondeu me olhando já sabendo qual seria minha reação, eu afundei meu rosto nos travesseiros bufando irritada.

–Por que me acordaram tão cedo? –Os dois riram juntos

–Viu? Eu falei que sua mãe era preguiçosa! –Eu escutei Kath gargalhar ainda sentada em cima de mim. O riso dela era tão gostoso de se ouvir, não consegui evitar de rir também. Eu virei meu rosto e abri os olhos para poder olhar para ela. O rosto dela reluzia com o amanhecer do sol, ela tinha muito mais traços do Tai do que meus, e o sorriso dela era tão largo e cativante como o do pai. Pela primeira vez eu senti que estava no lugar certo, junto de uma família que era minha e que eu queria fazer parte, só de poder ver o sorriso dela assim todas as manhãs eu sei que valeria a pena qualquer coisa...

Talvez não fosse tão bom me sentir assim, afinal, essa “qualquer coisa” poderia custar caro...

–Oque foi, mãe? –Kath me olhava provavelmente estranhado a minha feição depois de notar que aquele não era o meu lugar. Eu não sabia oque responder então desviei o olhar e acabei notando que ela estava de uniforme escolar.

–Você já vai para a escola?

–É, eu vou levar ela daqui a pouco e vou pro restaurante, mas ela disse que queria se despedir de você antes de ir. –Eu olhei para Kath que tinha voltado a sorrir. Eu consegui me virar na cama e pude olhar para ela diretamente.

–Se despedir de mim por quê? Eu vou estar aqui quando você voltar! –Ela me abraçou com força derrubando a nós duas na cama.

–Promete? –Eu a olhei nos olhos e não consegui evitar de sorrir

–É claro que sim querida! –Respondi beijando-lhe na testa. Ela sorriu se levantando e saindo da cama

–Vamos papai! – ela correu em direção à porta. Tai permaneceu sentado olhando para mim com um sorriso no rosto, uma sensação estranha me tomou o peito ao olhar para ele novamente, era como olhar para o passado, lembrar todos os dias que acordei ao lado dele, das lembranças que criamos...

Por que tudo teve de ser como foi? Por que tudo não pôde ser mais simples? Mas não há nada a ser feito agora...

–Vem! – Kath puxou o braço do Tai tentando fazê-lo levantar, ele então finalmente desviou o olhar dele do meu.

–Tá bom, já vou. –Ele riu acompanhado a Kath que se despediu de mim antes de sair, antes que ele saísse porem, ele se virou para mim de novo. –Sora, oque você vai fazer hoje enquanto estivermos fora?

–Não sei... –falei voltando a deitar a cabeça nos travesseiros, fitando ao teto com menos interesse do que eu queria para olhar nos olhos dele, eu deveria evitar alimentar esses sentimentos que ainda tenho por ele, com o tempo, eles morrerão... – Eu vou ligar para a Mimi e ver se ela tem um tempo para mim. – eu disse finalmente, mantendo meu olhar longe do dele, eu o escutei soltar uma leve risada antes de se despedir e ir embora.

Era uma sensação estranha aquela, eu nem notei na noite anterior mas, tudo naquele quarto teimava em me lembrar do Tai. Por nem um momento sequer eu consegui escapar das lembranças, o rosto dele vinha a minha mente e não saia de forma alguma. O estranho conforto que sinto nos travesseiros é por causa do perfume dele parece estar impregnado neles, apesar de não me fazer mal, dependendo do ponto de vista, ainda assim, como eu poderia lutar contra oque sinto pelo Tai se tudo na casa me lembra dele?

Acabei voltando a dormir com o rosto afundado no travesseiro, quando acordei ainda não era meio-dia, liguei para a Mimi como havia falado que ia e marcamos de nos encontrar para almoçarmos juntas quando o expediente dela acabasse. Nenhuma de nós duas estava realmente com fome, então simplesmente fomos à sorveteria que costumávamos frequentar alguns anos atrás, e nossa, como as lembranças vieram quando me sentei novamente nas cadeiras em frente à sorveteria. A Mimi compartilhou desse mesmo sentimento, afinal, fazia anos desde que nos reunimos aqui pela ultima vez.

A conversa foi banal como sempre, por mais que nós duas tivéssemos crescido e vivido muitas coisas, como no meu caso, ainda tínhamos aquela criança/adolescente dentro de nós. Mas uma coisa voltou há minha mente. Na noite anterior, o Tai e a Mimi haviam conversado sobre algo, eu não consegui fazer o Tai falar, mas talvez eu conseguisse fazer a Mimi falar, afinal, ela nunca foi boa em mentir.

–Posso fazer uma pergunta a você? –Perguntei Enquanto ela dava uma colherada no sorvete dela

–Claro! –Ela respondeu sorrindo, eu temia que oque eles escondiam fosse algo a ver com a saúde da Kath, mas também havia o risco de ser outra coisa. Lembrei-me do que aconteceu dentro do carro do Tai enquanto íamos para a casa dele. O pensamento que veio a seguir me deixou desconfortável e não era preciso me perguntar por que.

–Está tudo bem com a Kath? Digo, no sentido da saúde dela.

–É claro que está, Sora! Aquela menina deve ser mais saudável que nós duas juntas! – a resposta exagerada, quando se trata da Mimi, significa que ela falava a verdade, então só restava a outra pergunta que acabara entalando em minha garganta.

Mimi voltou a tomar seu sorvete enquanto eu criava coragem para perguntar. –Mimi... –Ela gemeu com a boca cheia em resposta. –Eu escutei você e o Tai conversando sobre algo ontem, vocês estão escondendo algo de mim? –Os olhos dela se arregalaram na mesma hora em que ela cuspiu o sorvete por toda a mesa, por sorte eu não fui atingida.

–Eu n-não pensei que você tivesse escutado... –Ela sorriu trêmula, um dos primeiros sinais de nervosismo, ela estava prestes a mentir e eu sabia. –Você não tem que se preocupar com isso Sora, é uma coisa entre mim e o Tai. –Tudo nela, da expressão no rosto até a voz indicavam que ela estava mentindo. Ela sempre fora honesta e franca ao ponto de irritar, mas em contra parte ela não sabia mentir de jeito algum.

– Então vocês estão tendo um... –Antes que eu completasse a frase meu telefone tocou, eu o atendi e me surpreendi ao ouvir a voz do Tai do outro lado da linha.

–Graças a deus você ainda tem o mesmo numero! –Ele falou suspirando aliviado.

–Oque houve? Está tudo bem?

–Está sim, quer dizer, surgiu um imprevisto aqui no restaurante e só vou poder sair mais tarde, tem como você buscar a Kath pra mim? Ela já deve estar prestes a sair do colégio e não consigo falar com a Mimi. –Eu estranhei um pouco ele tentar procurar a Mimi primeiro, mas com certeza eram minhas suspeitas falando mais alto que a razão.

–Pode deixar que eu irei buscar ela Tai, eu ligo assim que chegarmos em casa. –Tai agradeceu e desligou, eu voltei a olhar para Mimi que ainda estava um pouco nervosa.

–Oque o Tai queria?

–Ele não vai poder buscar a Kath no colégio e pediu para eu ir no lugar dele.

–Que estranho, por que ele não me ligou? –Ela buscou o celular na bolsa e percebeu que o tinha deixado no trabalho. Ela voltou a olhar para mim sorrindo de forma que já tinha esquecido oque estávamos falando antes. –Quer uma carona? –Eu pensei por um momento, mas cedi, afinal, não faria sentido recusar.

No caminho até a escola a Mimi e eu não dissemos nada uma à outra. Eu pensei em continuar a minha pergunta mais não o fiz, nunca em minha vida eu tinha imaginado a Mimi e o Tai como um casal, era tão... Estranho para mim. Mais havia algo ali, e eu teria que descobrir.

Nós chegamos ao colégio da Kath no momento em que os alunos começavam a sair. Eu reconheci a Kath de imediato enquanto a Mimi buscava um lugar para parar, eu acenei para ela assim que ela olhou em nossa direção. Ela veio correndo enquanto descíamos do carro e a primeira coisa que ela fez foi pular em minha direção para me abraçar.

–Você está aqui! –Ela falou perto do meu ouvido e eu sorri abraçando-a com força

–Eu prometi que estaria, não prometi? –Ela ficou agarrada em mim por mais um tempo antes de me soltar e me olhar sorrindo, aquele com certeza era o sorriso do pai dela.

–Hei, baixinha, não vai me abraçar também? –Mimi que falou abrindo os braços para que a Kath fosse até ela, eu senti algo estranho quando vi as duas juntas. Eu nunca senti nada contra a Mimi nesses anos em que fomos amigas, mas tinha algo diferente agora.

Nós não demoramos a voltar para a casa do Tai. Mimi havia dito que esperaria pelo Tai antes de ir, eu tentei não dar muita atenção a isso e acompanhei a Kath até o quarto dela. Ela foi logo guardando o material escolar dela deixando apenas um livro e um caderno com o estojo ao lado em cima da cama.

–Tem lição de casa? –eu perguntei enquanto ela escolhia uma roupa para pôr.

–Tenho, mais não é grande coisa.

–Quer que eu te ajude a fazer?

–Não precisa, é fácil pra mim. –Ela sorriu vindo em minha direção com a roupa que ela escolhera pendurada no braço. –Eu faço depois do banho. –Ela foi em direção à porta mas eu a chamei antes que saísse.

–Kath, posso te fazer uma pergunta? –Ela assentiu olhando para mim. –Oque você acha da Mimi, você gosta dela?

–Claro! Ela cuida de mim desde que eu era bem pequena, ela sempre foi de grande ajuda pro meu pai e pra mim.

–E vocês duas se dão bem?

–Não entendi oque você quis dizer... –Ela me fitou confusa, eu não sei por que eu estava perguntando isso, era quase impossível A Mimi e o Tai estarem juntos, era ilógico isso. Tudo bem que os dois não se odiavam, mas... eu não sei, algo dentro de mim simplesmente não conseguia aceitar essa possibilidade, as peças não se encaixavam!

–Não é nada não, deixa pra lá! –Eu falei deixando a conversa por ali mesmo, Kath me olhou confusa por um tempo e acabou por não me perguntar nada e saiu.

Eu saí logo em seguida e fui para o andar de baixo onde encontrei a Mimi na cozinha falando com alguém no telefone. Ela pareceu ficar assustada ao me ver e desligou o telefone logo em seguida.

–Estava falando com quem? –eu perguntei olhando séria para ela que estremeceu como se estivesse escondendo algo, e eu sabia que estava.

–Era com o Tai, eu só quis avisar a ele que tínhamos buscado a Kath e que já estávamos em casa. –Ela sorriu trêmula

–Eu ia fazer isso. –Respondi com mais grosseria do que queria ter feito, mais saiu sem que eu pudesse evitar.

–Eu sei, mas você subiu com a Kath e achei que tinha esquecido por isso eu mesma liguei. –Eu continuei a fita-la seriamente, detestava quando alguém mentia pra mim e nem fazia direito.

–Ele falou se já está vindo ou não?

–Ele já está chegando, daqui a pouco ele deve estar aí. –Nós duas ficamos em um silêncio mórbido enquanto ela parecia buscar uma forma de sair dali.

–Onde está a Kath?

–Está tomando banho. –Eu respondi simplesmente. A Mimi deve ter notado o tom seco na minha voz e por isso resolveu não falar mais nada. Eu estava me sentindo muito desconfortável ali, eu queria tirar logo a verdade dela e terminar com isso, mas havia uma parte de mim que me impedia, não sei se era só medo de descobrir que eu estava certa ou se era só por que eu não gostava que mentissem para mim. –Eu vou dar uma volta pela praia. Vai ficar aqui até o Tai chegar?

–Vou, vou sim.

Eu me afastei sem dizer mais nada e fui caminhar pela areia. Estava um dia calmo e o sol não tardaria a se pôr no horizonte, senti uma alegria em meu peito ao imaginar que veria o pôr do sol dali novamente, tantas lembranças viriam junto com ele.

Enquanto eu ia caminhando pela areia eu ia me lembrando de como as coisas eram, era como se eu revivesse tudo oque eu já tinha passado, lembrei-me do dia do baile quando o Tai me encontrou sentada chorando pelo meu dia ter sido arruinado, me lembro das incontáveis risadas que demos sentados na beira da praia, lembro-me dos beijos dele, cada um deles...

Tudo de que me lembrava era dele, como se minha vida antes girasse apenas em torno dele, mas tantas outras coisas haviam acontecido também. As amizades que eu fiz, os tempos que eu compartilhei junto de todos, meu passado não tinha sido apenas ele, havia muito mais. Mesmo assim, era só ele que estava na minha mente...

Por fim, acabei retornando pra casa sem saber se havia se passado muito tempo. Mas quando cheguei perto da casa eu vi o Tai parado na varanda encostado contra uma das pilastras com os braços cruzados olhando na minha direção, seu olhar parecia vazio, ou talvez triste. Eu me aproximei tentando manter uma feição distraída.

–Está tudo bem? –Ele me perguntou mantendo a expressão triste. Eu subi os dois primeiros degraus da varanda e ergui meu rosto para ele.

–Estou sim, só quis dar uma volta pela praia e reviver algumas memórias. –Eu sorri forçadamente e tenho certeza que ele notou isso. Ele continuou a me olhar por alguns segundos antes de suspirar pesadamente.

–A Mimi me contou que você escutou a nossa conversa ontem...

–Eu não quero que me escondam nada Tai, eu vim aqui pela Kath e vocês não tem que se preocupar com mais nada. –Eu olhei para ele sentindo um peso naquelas palavras. A feição dele havia mudado pouco desde antes, mas havia um ar diferente, como se o “meninão” que ele sempre fora agora estivesse dividindo espaço com uma parte mais madura.

–Foi só por ela que você voltou?

–Foi. –Eu respondi sem dar tempo para pensar, eu não queria que ele pensasse que eu havia voltado por ele, por que não foi, eu retornei apenas pela minha filha, nada mais...

Ele respirou pesadamente se virando em direção à porta. –Vem comigo, vamos conversar lá dentro. –Eu o segui até a sala onde a Mimi aguardava encostada contra o balcão da cozinha com uma expressão inquieta no rosto, assim que ela nos viu ela veio em direção ao Tai.

–E então...? –Ela olhou para o Tai como se esperasse que ele já tivesse resolvido tudo, ele se aproximou e segurou no braço dela, se virando para mim, a mão dele desceu até se juntar a dela e ambos olharam para mim.

–Sora... –Eu pude sentir na voz dele que aquilo parecia algo pesado para ele dizer. Os dois me olhavam como se estivessem para anunciar a morte de alguém. Eu já sabia oque iam dizer, a parte chata da minha mente já estava gritando isso pra mim, ainda assim, eu podia sentir o suor frio escorrer pelo meu rosto e um nó se formar na minha garganta. –Nós estamos noivos. Vamos nos casar em alguns meses...

A noticia já era a que eu esperava... Ou quase... Eu já esperava ouvir que os dois estavam tendo um caso, mas... Casar? Foi como se o chão se abrisse embaixo de mim, tudo parecia ter perdido a razão, e eu não sei se minha mente estava mandando eu dizer ou fazer algo, só sei que permaneci encarando os dois com uma expressão neutra. Eles começaram a estranhar meu silêncio e isso meio que me fez acordar para a realidade.

–Nossa! Quer dizer... –Eu me embaralhei com as palavras e desviei o olhar dos deles. –Que noticia boa para... vocês dois! –Eu ergui meu rosto sorrindo para os dois com toda a força que eu podia. –Estou muito feliz, pelos dois! –Falei tentando parecer alegre, mesmo minha cabeça estando confusa e eu não sei oque estou sentindo nesse momento.

–Sora... –A Mimi me olhou com pena, ou era isso que eu conseguia ver nos olhos dela. Eu não sei mais algo dentro de mim doía ao olhar para os dois e imagina-los juntos, eu não queria aceitar aquilo, foi então que eu senti algo morno escorrendo pelo meu rosto, uma lágrima que tinha escapado à minha percepção.

–Me desculpem... Eu só preciso pegar um pouco de ar! –Falei secando a lágrima em meu rosto e saindo porta à fora. Eu desci as escadas da varanda até chegar à praia, e quando senti que não conseguiria conter as lágrimas eu comecei a correr. Eu não queria que eles me vissem assim, então eu corri, corri até minhas forças acabarem e me fazerem cair de joelhos na areia.

Por quê? Por que eu tinha que ainda amá-lo tanto? Mesmo depois desses nove anos, mesmo de tudo que eu fiz para seguir em frente, tudo oque eu fiz para deixar de amá-lo, nada funcionou. E agora, ainda havia isso, o noivado dele com minha melhor amiga, eu devia ficar feliz pelos dois, por ele, por mim, essa seria minha chance de seguir em frente, mas ao invés disso tudo oque sinto é raiva, raiva de tudo das escolhas, das palavras, e deles...

Eu fiquei sentada na areia por não sei quanto tempo, apenas olhando em direção ao horizonte mas sem dar importância a nada, não havia nada mais em minha mente e tudo oque eu ouvia eram as ondas quebrando na areia e as gaivotas mais ao longe. Escutei alguém se aproximar e virei meu rosto para ver quem era. Mimi vinha em minha direção com o rosto cabisbaixo, eu voltei meu olhar para o mar enquanto ela terminava de se aproximar.

–Está tudo bem Sora? –Eu não virei meu rosto em direção a ela, não sei se consigo olhar para ela ainda.

–Sim, está tudo bem.

–Eu sei que eu sou a que mente pior entre nós duas, mas até eu sei que você está mentindo sobre isso. –Ela sorriu fracamente. –Posso me sentar?

–Fique à vontade. –Eu respondi sem me virar. Ela sentou-se ao meu lado suspirando. Ficamos em silêncio por um tempo até ela resolver falar.

–Me desculpe.

–Pelo quê?

–Por não ter contado à você antes, é que eu não sabia como... –Eu suspirei continuando a evitar olhá-la.

–Eu nunca imaginei que vocês dois acabariam virando um casal. –Mimi deu uma leve risada.

–É, nós não parecemos mesmo o casal perfeito, não é? –eu não respondi, voltamos a ficar em silêncio, mas algo me ocorreu, algo que eu havia deixado escapar.

–Oque houve com o Joe, vocês não estavam juntos? –Eu finalmente a fitei e vi seu semblante se entristecer ainda mais.

–Essa é uma longa história. –Ela deu um meio sorriso erguendo o rosto em direção ao pôr do sol, pude ver as lágrimas começarem a se formar nos olhos tristes dela. – Na verdade não é longa, e sim dolorosa. –Eu temi oque estava para ser dito, eles sempre tinham sido um casal unido, eu nem posso imaginar oque terá acontecido.

–Oque aconteceu? –Ela suspirou novamente voltando a abaixar o rosto

–Foi alguns meses depois que vocês foi embora, eu estava ajudando o Tai a cuidar da Kath e o Joe me ajudava sempre que podia. O tempo foi passando e ele perguntou se eu pensava em ter filhos. –Ela sorriu dolorosamente. –Você sabe oque eu achava de ter filhos antes, nunca tinha me visto como mãe, mas depois de cuidar da Kath, eu comecei a pensar diferente. O Joe tinha até me pedido em casamento e tudo... –Ela parou fechando os olhos deixando que a lágrima presa no canto do seu olho finalmente escorresse.

–Oque houve? –Ela suspirou formando outro sorriso doloroso, reunindo forças para continuar. Eu não queria fazê-la reviver seja lá oque for que tenha acontecido, mas tinha escapado de mim.

–Eu não posso ter filhos, Sora. –Ela disse finalmente e eu senti um aperto no peito. –Foi um choque pra mim, mas o Joe foi pior...

–Ele te deixou por causa disso? –Ela acenou com a cabeça. –Mas vocês podiam ter adotado uma criança ou... sei lá!

–Não, o Joe queria um filho que “fosse dele”. Ele até tentou se desculpar e me consolar, mas isso não me impediu de xingá-lo de tudo que fosse possível. Mas isso também não impediu ele de ir embora... –Eu não queria fazê-la passar por isso, se ao menos eu tivesse estado aqui com ela... –Depois disso tudo oque eu queria era ir embora daqui, tentar esquecer tudo e recomeçar. Mas eu fiquei, tinha que ajudar o Tai e... fui aos poucos me apegando à Kath.

–Mimi... –Ela sorriu fracamente sem a dor de antes.

–Quando ela ainda era pequena, a primeira palavra que ela disse foi “Mamãe”, e ela estava olhando pra mim. –Ela sorriu olhando para cima. –É claro que o Tai me disse que, assim que ela tivesse idade para entender, ele contaria a ela tudo sobre você e oque aconteceu, mas isso não mudou oque eu senti na hora em que eu a ouvi falar aquilo. –Ela abaixou o rosto e envolveu-se com os braços, eu me senti culpada pelo que tinha pensado, eu tinha me esquecido que a vida continuou para eles também, e não havia sido fácil para ela também. –Houve um tempo em que eu... desejei que você nunca mais voltasse, que eu pudesse ficar aqui e cuidar da Kath como se ela fosse minha filha! –Ela começou a chorar diante de mim e eu não soube reagir. –Me desculpa... Me desculpa! Eu não quis que -- Eu a abracei com força, querendo de alguma forma aliviar a dor dela, ela tinha sido minha amiga nos momentos em que eu mais precisei, ela ficara ao meu lado quando eu achei que ninguém ficaria. Mas quando ela mais precisou, eu não estive lá por ela...

–Não Mimi, você não precisa se desculpar, eu é que tenho que te agradecer, você foi uma mãe ara ela, uma mãe que eu nunca pude ser... –Ela continuou a chorar em meu ombro, eu sabia que as coisas já não eram mais como antes, tudo havia mudado, e talvez... seja hora de mudar a mim mesma também...

A noite caiu e tudo ocorreu com um clima estranho entre nós, com exceção da Kath que não estava ciente de nada. Por fim, A Mimi decidiu ir embora e eu pedi que Tai a acompanhasse e me deixasse levar a Kath pra cama já que ela já estava dormindo no meu colo.

–Quer que eu leia uma história para você dormir? –Perguntei terminado de cobri-la com o lençol, ela me olhava de forma curiosa.

–Não precisa. Alguma coisa está te incomodando mãe? –Eu me surpreendi pela pergunta repentina, ela colocou a mão dela sobre a minha que ainda estava em cima da cama e sorriu. Havia algo que eu ainda não havia esclarecido e que ainda me incomodava.

–Kath, por que você... me recebeu com tanto carinho, seu pai não contou tudo sobre mim?

–Contou sim...

–Então? –Ela desviou o olhar para onde nossas mãos estavam juntas e começou a acariciar a minha mão com o dedo.

–Ninguém nunca notou mais... o meu pai nunca sorria de verdade, com o coração, só eu notava que parecia faltar algo para ele. –Eu abaixei o olhar sabendo oque devia ser. –Mas... havia um único momento em que ele sorria de verdade, e era quando ele falava de você! – Ela me olhou sorrindo e eu me espantei. –É claro que ainda tinha uma tristeza no olhar dele, mas ainda assim essas eram as horas em que ele realmente mostrava o sorriso do coração. Eu não entendo direito a razão de você ter partido, mas se meu pai ainda conseguia sorrir só de se lembrar de você, então era por que você era mesmo especial! –Eu apertei de leve a mão dela desviando o meu olhar, Eu sei que o Tai me amava, e que eu o amo ainda, mas...

–Me desculpe... –Eu falei com um sussurro e Kath me olhou confusa

–Pelo quê?

–Por não estar aqui quando você era pequena. –Eu a fitei triste, mas ela sorriu como o pai dela fazia, transmitindo a mesma força para mim.

–Você está aqui agora, e é isso que importa! –Eu retribuí o sorriso dela e ficamos em silêncio por algum tempo até ela desviar olhar de volta para nossas mãos unidas. –O papai e a Mimi vão se casar... –Eu suspirei pesadamente me lembrando do que aconteceu mais cedo

–Eu sei...

–Mas não precisa ser assim...

–Oque? –Eu a olhei com espanto

–Você pode impedir isso, o papai ainda ama você, tenho certeza que ele escolheria você ao invés dela.

–Kath, eu não...

–Você ainda o ama, não ama? –Eu suspirei pesadamente sob o olhar dela

–Sim, eu amo, mas não é tão simples assim...

–Por quê? –Eu a fitei com pesar, queria que tudo tivesse sido diferente.

–Tem outras pessoas envolvidas as quais não posso decepcionar.

–Mas... Mãe!

–Sinto muito, Kath, mais é assim que tem que ser. –Ela me olhou com tristeza e então desviou o olhar, eu me senti péssima, mas era verdade, eu não podia simplesmente tomar uma decisão que causaria tanta dor como a ultima.

–É melhor você ir embora então... –Eu me assustei ao ouvi-la falar aquilo, ela estava com o olhar perdido na direção das nossas mãos. –O papai não vai conseguir ser feliz com você vindo aqui. Vá embora e não volte, só assim ele vai conseguir seguir em frente, e talvez você também.

–Mas você--

–Eu vivi até hoje sem você aqui... –Ela separou a mão dela da minha -... e posso voltar a viver assim. –Ela se virou de costas se despedindo de mim

Eu não conseguia acreditar, não queria acreditar no que tinha escutado, apesar de eu achar que era verdade, que só assim eu, o Tai e a Mimi seriamos capazes de seguir em frente, doía demais escutar aquilo dela, era como se meu coração tivesse sido esmagado.

Eu me levantei sem fazer nenhum som e sai do quarto apagando a luz. Do lado de fora eu deixei meu corpo escorregar encostado na porta até o chão. Eu abracei minhas próprias pernas e não consegui impedir as lágrimas que vieram doloridas. Eu não sei por quanto tempo fiquei ali, apenas sei que ergui a cabeça somente ao escutar a voz do Tai.

–Sora, oque houve? –Ele me olhava preocupado ajoelhado ao meu lado. –Está tudo bem? –Eu sequei as lágrimas no canto do meu olho direito e comecei a me levantar sendo acompanhada por ele.

–Não, não está nada bem! –Eu falei e tentei me afastar mas o Tai me segurou e entrou na minha frente.

–Do que está falando? Me explica! –Ele me segurou pelos dois braços parado na minha frente, meu rosto ficava de frente para o peito dele mais eu mantinha meu rosto abaixado, evitando ter de olha-lo nos olhos. –Olha para mim! –Ele falou erguendo o meu rosto segurando pela ponto do meu queixo, eu me v forçada a ter de fitar os olhos dele novamente, olhos esses que eu não via tão de perto há muito tempo. Tudo oque passamos juntos voltou a mim e oque eu falei a seguir eu não se fui realmente eu quem falou.

–Você ainda se lembra de nós dois? –Ele me olhou espantado e eu notei a idiotice que era perguntar aquilo, tudo estava errado, eu não devia sequer estar ali! –desculpa. –Eu passei por ele com o rosto abaixado, queria não ter feito nada do que fiz, mas antes que eu fosse embora, a mão dele me segurou com força pelo pulso, mas eu não me virei para ele.

–Todas as noites... –Ele falou virando-se para mim, mas eu me mantive de costas para ele. –Todas as noites eu não conseguia dormir, só quando eu deitava na mesma cama em que estivemos, onde eu ainda podia sentir que você estava comigo. –Ele continuou a me olhar sem que eu me virasse. –E você? Esqueceu-se de nós dois?

–EU vinha tentando fazer isso nos últimos anos, mas desde que eu voltei para cá... –Eu virei-me para ele novamente, voltando a olhar em seus olhos pelos quais eu ainda era apaixonada. –Eu percebi que não vou conseguir esquecer...

Nossos corpos começaram a se aproximar por vontade própria, Tai segurou meu rosto me olhando como nas noites em que ficamos juntos, e eu tenho certeza que também o olhava assim, tudo em mim pedia por ele, clamava pelo toque dele, e minha mente simplesmente havia se entregado também. Minhas mãos seguiram por baixo da camisa dele, percorrendo o abdômen dele. O desejo que sentíamos era mutuo e não tinha como pararmos, mesmo que houvesse uma parte em mim que resolvera lutar inutilmente contra aquilo...

–Tai... não podemos fazer isso...

–Mas precisamos, ou não conseguiremos seguir adiante depois... –Eu continuei a olhar nos olhos castanhos dele, talvez ele estivesse certo, mas não importava, iria acontecer de qualquer jeito, eu sei.

–Só por uma noite... –Eu falei a caminho dos lábios dele. –Por uma noite apenas, vamos voltar ao que erámos...

Eu acabei por me entregar ao desejo àquela noite, mas mal sabia eu que as consequências de tal fraqueza seriam tão altos...


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Notas finais do capítulo

oque acharam...
Shippers de JoexMimi não me odeiem, é apenas como a história deve seguir
até um futuro próximo ^^



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