-Eu não consigo acreditar... Estou mesmo fazendo isso? -Eu me perguntava mentalmente enquanto o avião pousava, eu estava muito nervosa

Tinha acabado de voltar para minha cidade natal, o lugar que abandonei há tanto tempo, assim como quem eu deixei aqui...

Eu estava tremendo com meu celular em mãos, as pessoas passavam à minha volta normalmente, mais eu sentia o suor frio escorrer pelo meu rosto e uma estranha sensação no estomago, como se eu não devesse estar ali...

Bom, eu podia pelo menos ligar antes...

Finalmente encontrei o nome dela na agenda, respirei fundo antes de fazer a ligação, esperei até que atendessem, a voz dela veio alta no meu ouvido

-Sora?! É mesmo você?

-É, sou eu, mas como soube?

-Eu tenho seu numero gravado, mais por que está me ligando? Aconteceu algo?

-Não, eu só... pensei que talvez você quisesse me encontrar naquela sorveteria, está afim? -Eu esperei pela reação dela, ela ficou em silencio por alguns segundos, antes de estourar meus tímpanos...

-NÃO ACREDITO, VOCÊ ESTÁ AQUI?

-Estou, e agora surda de um ouvido!

-Não se mexa, Nem respire! Eu estou indo te buscar agora!

-Espera eu-- -Ela desligou antes que eu pudesse dizer algo

Não demorou para que ela chegasse, assim que saiu do carro, ela correu em minha direção me esmagando com um abraço, pude jurar que ouvira minha coluna estalar

-Ai, você não sabe como eu estou feliz que veio Sora! -Ela falou alegre me apertando ainda mais

-E-eu também estou Mimi, mas eu preciso respirar! -Ela me largou se desculpando, Eu recuperei o folego e me ajeitei

-Mas então... -Ela começou. -Oque fez você mudar de ideia e voltar as raízes?

-Eu pensei no que você falou... e percebi que tinha razão! -Ela sorriu

-Que bom! Mais e o Matt e o Bryan?

-O Bryan está na casa dos avós, e o Matt concordou sobre eu vir.

-Sério? Finalmente aquele idiota criou juízo!

-Mimi! -Mesmo depois desses anos, eu ainda não sei o motivo dessa raiva dela com ele, parece algo pessoal...

-Desculpa. -ela se virou para mim e sorriu. -Você veio aqui ver eles, não foi? -Eu concordei com a cabeça, ainda estava um pouco nervosa, mas Mimi estava toda alegre e confiante. -Então vamos! -Ela se virou indo em direção ao carro dela

-E-espera! -Eu a chamei. -Assim, do nada?

-É, porque?

-Não deveríamos ligar ou algo assim?

-Sora, faz um favor? Cala a boca e entra no carro! -Ela me olhou brava, eu caminhei até o carro assustada. -Caramba, quer complicar tudo!

Nós seguimos no carro dela, Eu tentei fazê-la falar aonde íamos, mas ela repetia que era surpresa, Nós fomos até o píer, onde fomos até um restaurante, um que eu conhecia muito bem, Era onde Tai trabalhava, respirei fundo sentando junto à Mimi em uma das mesas, me preparando, sabia que a qualquer minuto ele iria aparecer, não sei se estou pronta para encara-lo depois de tanto tempo...

Um garçom chegou para nos atender, era um rapaz jovem de cabelos castanhos claros, ele se aproximou pelo lado da Mimi e retirou o bloquinho do bolso do uniforme

-Posso servi-las em algo? -Ele falou parecendo um pouco nervoso, devia ser seu primeiro dia ou ser novo no emprego

-Claro que sim, querido. -Mimi sorriu olhando para ele. -Poderia, por favor, chamar o dono? -O Rapaz engoliu em seco

-A-algum problema?

-Não, não, apenas diga que é a Mimi, ele vai entender! -O rapaz saiu um pouco assustado, eu olhei curiosa para Mimi. -Parece mais calma, Sora...

-Eu sei oque está planejando Mimi, só estou me preparando! -Respondi me recostando na cadeira, Mimi soltou uma leve risada

-Não se preocupe, estou aqui pra ajudar! -Ela sorriu

-É isso que me preocupa...

Esperamos alguns minutos, sem sinal do dono, ou do Tai, já estava estranhando tudo aquilo, Mimi ficava em silêncio mexendo na bolsa, em não falava nada pois não sabia oque fazer, era uma situação estranha, eu me sentia estranha, como se algo estivesse errado, como se não devesse estar ali... talvez tenha sido mesmo uma má ideia... eu despertei de meus pensamentos ao ouvir uma voz vinda de trás de mim

-Oque foi dessa vez Mimi, estava prestes a sair quando-- -Ele caminhava em nossa direção, de forma despreocupada e olhando para a gola da camisa social branca que ele usava, ele a vinha ajeitando por isso não olhava para nós, mais assim que seus olhos castanhos se ergueram, ficaram tão espantados quanto os meus. -Sora?! -Ele me olhou assustado, eu só consegui soltar um “oi” sussurrado com um sorriso fraco no rosto, ele ainda era o mesmo, pouco havia mudado em suas feições, o cabelo bagunçado, o rosto forte, o corpo também, tudo estava como eu lembrava

-Surpresa! -Mimi falou rindo, Tai ainda me olhava espantado, como se não acreditasse que era mesmo eu quem estava ali. -Pelo amor de deus, vocês dois! -Mimi exclamou. - Vão ficar só se olhando? Andem logo, façam alguma coisa! -Eu me levantei, meio incerta do que fazer, Tai caminhou em minha direção, vacilante, Ele estendeu os braços e entendi, passando os meus pelo pescoço dele...

Foi estranho sentir-me nos braços dele novamente, todo meu corpo reagiu, senti como se todo o peso que eu nem sabia que carregava em meus ombros sumisse, meu corpo parecia ansiar por aquilo, e seu perfume em minha cabeça, era tão nostálgico...

-Sabia que iria voltar! -Ele sussurrou em meu ouvido, até sua voz era a mesma, fez meu corpo arrepiar, mais senti um sorriso se formar em meu rosto

Mimi pigarreou quando começamos a demorar de mais, Eu me separei dele sentindo meu rosto um pouco quente, Ambos sorriamos, Tai coçou atrás da cabeça um pouco vermelho também

-Então... oque te traz de volta? -Ele perguntou sentando-se junto à nós

-Ah, Bom... é que... -Eu comecei a falar, mais logo desviei o olhar sem saber oque dizer

-Sério? Você ainda pergunta?-Mimi falou olhando séria para ele, Tai riu

-Tem razão, descuido meu! -Ele sorriu, até isso me fez sentir bem, era como se minha antiga vida estivesse de volta...

-Então... oque faremos? -Eu perguntei, Tai me olhou com um grande sorriso no rosto

-Vamos lá busca-la! -Ele se levantou e Mimi também, eu me assustei com a facilidade com que ele falou

-E-espera! Como assim, Agora?

-É, eu já estava indo busca-la no colégio mesmo!

-Mais, espera, eu vou assim, surgindo do nada? Ela não vai estranhar?

-Sora, para de complicar tudo! -Mimi reclamou pegando a bolsa dela

-Não! Vocês estão esquecendo? Eu fui embora, por praticamente metade da infância dela! como posso simplesmente aparecer assim, sem mais nem menos? -Os dois se entreolharam, percebendo que eu tinha certa razão, Tai se aproximou de mim e se abaixou, me olhando nos olhos

-Sora, vai ficar tudo bem! Ela sabe tudo sobre você, eu não escondi nada! -Eu me assustei

-Tudo? -ele respondeu que sim, era para aquilo me fazer sentir melhor? Saber que minha filha sabia que eu a abandonei quando ela era recém-nascida?

-Vai dar tudo certo, ela vai adorar te conhecer! -Tai falou sorrindo, eu desviei o olhar abaixando o rosto

-Será? -Tai colocou o dedo no meu queixo, me fazendo voltar a olhar para ele

-Confie em mim! -Ele sorriu, eu suspirei acompanhando-os

No caminho, Tai me contou que ele havia se tornado dono do restaurante pois o antigo dono não tinha herdeiros, e depois de tantos anos trabalhando ali, ele foi o escolhido para dar seguimento ao restaurante

Não demorou muito mais para chegarmos, quando eu saí, me surpreendi ao ver que estávamos perto de meu antigo colégio, aquele que frequentei quando era criança, eram tantas memorias voltando...

O sinal da saída do colégio me despertou, logo vi vários pais de alunos se aglomerando perto dos portões, eram tantas pessoas que eu mal podia ver as crianças.

-Como vamos acha-la no meio dessa gente? -Eu perguntei tentando vê-la, Tai levou dois dedos à boca e assobiou alto, Vi uma garotinha se espremer por entre as pessoas para passar, ela conseguiu e procurou por quem havia assobiado, Ela olhou em nossa direção e sorriu correndo até nós, Ela tinha o cabelo longo e castanho escuro, sua pele morena-clara e seus olhos eram da mesma cor que os meus e vestia o uniforme da escola, uma camisa branca social e uma saia azul escura, ela começou a diminuir a velocidade com qual vinha em nossa direção assim que olhou para mim, seu sorriso sumiu e ela me olhou confusa

-Papai... quem é ela? -Ela olhou para o Tai que sorriu

-Kath, essa é a Sora... -Os olhinhos dela voltaram-se para mim, surpresos. -Ela é sua mãe! -Ela não reagiu, apenas olhava para mim surpresa, eu senti um aperto no peito, ela estava ali, tão próxima, crescida e tão bonita, ela me olhava como se não acreditasse em quem eu era, pensar que talvez ela me odiasse me fez tremer...

-Mã... Mamãe? -Ela sussurrou, aquilo me fez sentir tão estranha, ela não parecia irritada, mais vi seus olhos se encherem de lágrimas, não consegui evitar e os meus também lagrimejaram, reagi de súbito ao vê-la correr em minha direção, eu me agachei de braços abertos, recebendo-a

Tê-la ali, abraçada à mim foi uma sensação tão aconchegante, tão boa,  eu sorri mesmo com as lágrimas escorrendo por meu rosto, eu apertei o abraço, sentindo-a chorar em meu ombro

-Eu estou finalmente aqui, me desculpe por tudo... -Eu falei com ela ainda abraçada comigo, ela me abraçou mais forte

-Mamãe...

Eu finalmente a reencontrei, depois de tanto tempo...

Talvez agora eu possa consertar os erros que cometi...