O dia passou tranquilo, Sara e eu demos uma volta por Las Vegas e depois voltamos para casa. Sara teve a ideia de cozinharmos juntas e bebendo vinho ao mesmo tempo. Eu estava achando ótimo até a parte em que derrubei uma lata de extrato de tomate inteira na minha blusa. Ao invés de me ajudar, Sara começou a rir. Fiquei séria por um instante mas logo depois comecei a rir também. A risada da minha namorada era contagiante. Enquanto Sara ria e estava completamente distraída, eu peguei a taça de vinho e derramei o conteúdo na sua cabeça. Sara ficou com o rosto e parte da blusa branca molhados de vinho. Eu não sei porque, mas achei aquilo extremamente engraçado e ri como uma louca.

– Catherine Willows. Não acredito! Essa era uma das minhas blusas preferidas.

– Era – repeti e continuei rindo. Sara estava séria.

– Tuuuudo bem. É guerra?

A minha morena foi até a geladeira, procurou alguma coisa e uns segundos depois voltou com uma jarra cheia de leite. Não. Ela não ia fazer isso.

– Sarinha, minha linda. Você sabe que eu te amo muito, né? Não faça nada do que vá se arrepender depois...

Com um sorriso malicioso e um olhar maligno, Sara se aproximou e me encurralou contra a parede, deixando-me sem opções de fuga. Sem dó nem piedade, Sara virou a jarra de leite na minha cabeça e eu fiquei simplesmente linda.

Mas a guerra ainda não tinha acabado.

Enquanto Sara colocava a jarra na pia, eu abri um dos armários, peguei um saco de farinha e acertei a cabeça da minha namorada. O pacote não era muito resistente e ela ficou coberta de farinha. Haha.

– Nossa... Você realmente me ama.

– Amo muito mesmo – garanti e dei um beijo para provar. O beijo tinha gosto de vinho, farinha e leite e mesmo assim, foi bom.

– Beijo exótico – comentou Sara.

– Mas o que é isso?? – Gritou Lindsay ao entrar na cozinha. A cena realmente não era das melhores. Sara e eu estávamos cobertas de comida e eu preferia não comentar sobre a situação da cozinha.

– Estamos cozinhando – expliquei. Lindsay bufou.

– Estou vendo – ela apontou para as paredes. – Vão assar carne humana para o jantar? Ai, vocês duas. Anda, todo mundo pro banho. Eu vou tentar dar um jeito aqui e pedir uma pizza.

– Sinto como se fosse uma criança...

– Mas é – Lindsay girou os olhos para mim. Nós duas subimos e enquanto eu tomei banho no nosso quarto, Sara foi no de Lindsay. Tadinha da Sara, pensei comigo mesma, vai ser difícil tirar toda aquela farinha do cabelo... Por outro lado, eu tinha que me preocupar com o meu próprio cabelo, ensopado de leite.

Eram momentos como aqueles, em que Sara e eu trocávamos risadas, sorrisos e olhares, que ficávamos juntas e eu sentia o quanto Sara estava feliz, que nos uníamos cada vez mais. Eu não conseguia imaginar uma vida sem ela. Era a mesma coisa que viver sem um coração. Impossível.

Depois de um longo tempo no banho, meu cabelo parecia ter voltado ao normal. Coloquei uma roupa limpa e fui atrás de Sara. Ela ainda estava no banho. Talvez eu deveria ter pensado antes de furar o pacote na cabça da minha morena. Mas quem mandou ela jogar leite primeiro?

É. Nós parecíamos duas crianças mesmo.

* – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – *

– Oi, amor – eu disse quando Sara entrou no quarto. – Conseguiu?

– Consegui – ela respondeu. Pensei que ficaria brava comigo, mas Sara estava sorrindo.– Quase perdi meu cabelo mas tudo bem.

– Relaxa. Eu compraria uma peruca bem legal para você.

– Nossa – Sara riu. – Vamos ajudar Lindsay a dar um jeito naquela bagunça. Daqui a pouco temos que ir ao laboratório...

– Hoje não.

– Como assim?

– Hoje não vamos trabalhar. Hoje é Dia dos Namorados e eu quero te dar meu presente. Vou levar você em um lugar que você vai amar.

Sara inclinou a cabeça para o lado, curiosa.

– Onde?

   - Vou te dar uma pista... – pisquei para Sara e andei até o nosso guarda roupa. Revirei algumas roupas até encontrar a blusa que eu tinha comprado para ela. Era uma blusa preta, com Marie e Gessle na frente e atrás escrito "Roxette". Detalhe, a blusa era autografada. Tirando outro detalhe de ser a última à venda, dezenas de fãs enlouquecidas atrás de mim e um quase-atropelamento, fora fácil conseguir aquela blusa.

Virei para a minha morena e mostrei o objeto. O queixo de Sara caiu quando ela percebeu o que aquilo significava.

– Não...

– Sim...

– Não.

– Aham.

– Não...

– Quer que eu acerte outro pacote de farinha em você, Sara?

– Não – ela respondeu rapidamente e em seguida abriu um sorriso enorme. – Eu não acredito, Cath... Eu simplesmente não acredito...

– Acredite – eu disse e mostrei os dois ingressos. Tapei os ouvidos antes que Sara gritasse de empolgação.

Lindsay subiu correndo e quase escorregou ao entrar no quarto.

– O que foi que aconteceu??

– Calma, Lindsay. A Sara gritou de alegria.

– O que aconteceu? – Repetiu ela, agora mais calma.

– Eu vou no show do Roxette! Ai meu Deus, eu vou no show do Roxette! Você faz ideia do que isso quer dizer?

– Que você vai no show do Roxette? – Arriscou minha filha.

– É!

Lindsay apenas girou os olhos.

– Mãe, preciso da ajuda de vocês. A cozinha tá uma bagunça.

– Já estamos indo.

Lindsay voltou para a cozinha e eu olhei para Sara, que estava admirando seu presente com o olhar brilhante e entusiasmado, como o deu uma criança que acabou de ganhar seu presente. Eu faria tudo para que ela nunca perdesse aquele olhar.

Aproximei-me de Sara e coloquei uma mão em seu ombro. Ela olhou para mim e antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Sara me abraçou e meu beijou. O beijo não foi muito longo, mas me deixou sem ar e vendo estrelas, e eu teria caído se os braços fortes de Sara não tivessem me segurado.

– Uau... De nada.

– Obrigada, Cath. Obrigada mesmo...

– Calma – beijei minha morena de novo. – Não me agradeça ainda.

– O que eu fiz para merecer você na minha vida? – Ela suspirou.

– Você nasceu.

Nós duas compartilhamos uma risada e outro beijo apaixonado. Se a cada vez que eu fizesse algo assim e ganhasse um beijo como aquele... Eu começaria a contratar bandas para tocar em Vegas.

– Eu adoro Roxette...

– Percebi – apontei para a porta do armário, onde havia um pôster enorme da banda. – Eu só quero te fazer feliz.

– E está. Você me faz a mulher mais feliz do mundo.

– Alguém quer me ajudar aqui? Por favor? – Lindsay gritou.

Sara guardou a blusa e nós descemos. Enquando andávamos, eu podia jurar que o modo como ela andava era bem mais animado do que o normal. Fiquei feliz por ela estar assim. Eu só imagina a sua expressão quando... Bom, quando tudo acontecesse.

Sara gostava de surpresas.

Eu esperava que ela gostasse da minha.

* – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – * – *

Conforme o tempo passava, Sara ia ficando cada vez mais ansiosa e impaciente. Pelo menos a cozinha estava limpa de novo.

– Podemos ir agora? – Perguntou Sara pela oitava vez.

– Não, minha linda. Espera mais um pouquinho...

– Hunf.

Eu ri para a expressão teimosa de Sara e a abracei mais forte.

– Minha teimosa linda. Te amo.

– Também te amo. Meu anjo, eu quero ir! Podemos ir agora? No mesmo instante, Lindsay apareceu na sala.

– Terminei de me arrumar. Já podemos ir!

– Ótimo! – Exclamou Sara, ficando em pé. – Vamos?

Antes que eu e Lindsay pudéssemos responder, Sara já estava do lado de fora da casa e provavelmente quase abrindo a porta do carro.

– Ela parece meio inquieta – comentei.

– Meio? – Perguntou Lindsay, rindo.

Tranquei a porta e fui até o carro, onde uma certa morena buzinava insistentemente.

– Saia do carro, por favor.

– Como assim?

– Você não achou que eu ia deixar você dirigir, achou?

– Por que não? – Ela fez biquinho.

– Você vai acelerar demais e acabar sofrendo um acidente. Ela tentou usar "aquele" olhar comigo. Mas por mais que aquele olhar fosse bonitinho, fofo e irresistível... Eu resisti. Afinal de contas, eu amava Sara e minha filha mais do que a mim mesma e tudo o que eu queria era viver com essa família linda por um bom tempo da minha vida.

Quando percebeu que daquela vez, "o olhar" não iria adiantar, Sara sentou-se no banco do passageiro e cruzou os braços. Eu só pude rir.

O lado bom da história toda foi que todas nós chegamos em segurança até a casa da amiga de Lindsay, onde ela iria passar a noite, e provavelmente iríamos continuar em segurança até o local de estacionamento do show. Seria uma noite calma se Sara não estivesse dizendo para eu acelerar a cada cinco minutos.

– Coloca uma música, por favor. Eu vou acabar batendo se você não ficar quieta, minha linda. Estamos quase lá.

– Vamos bater em uma tartaruga – comentou ela baixinho.

– O que disse?

– Nada, não – respondeu Sara e mexeu no som até encontrar uma música que gostasse. Ela colocou It Must Have Been Love e começou a cantar junto com Marie. Eu não sabia qual voz era mais perfeita.

It must have been love but it's over now...

(Deve ter sido amor mas agora acabou...)

Lay a whisper on my pillow

(Deixe um suspiro no meu travesseiro)

Leave the winter on the ground

(Deixe o inverno para trás)

I wake up lonely, there's air of silence

(Acordei sozinha, tudo estava quieto)

In the bedroom and all around

(Em meu quarto, e em toda a parte)

Touch me now, I close my eyes

(Toque-me agora, eu fecho meus olhos)

And dream away

(E fico sonhando)

Quando chegou no refrão, nós duas cantamos juntas. Minha voz estragou um pouco da música, mas tudo bem. O importante era que eu estava cantando ao lado da mulher que tinha a voz mais perfeita do mundo.

It must have been love but it's over now

(Deve ter sido amor, mas agora acabou)

It must have been good but I lost it somehow

(Deve ter sido bom, mas de alguma forma eu o perdi)

It must have been love but it's over now

(Deve ter sido amor, mas agora acabou)

From the moment we touched til the time had run out

(Desde o momento que nos tocamos até nos separarmos)

– Ai, essa música é tão linda – comentou Sara.

– É mesmo. Nosso amor nunca vai acabar, né?

– Claro que não. Sempre vou estar com você.

– E eu com você – olhei nos olhos de Sara por um breve segundo e depois voltei a prestar atenção no trânsito. Se eu não estivesse dirigindo, teria roubado um beijo da minha morena.

– Estamos chegando?

– Quase lá – sorri para ela e Sara sorriu para mim.

Estacionei o carro em um lugar reservado especialmente para nós (é, eu tinha pensado em tudo) e antes que eu parasse o carro, Sara já tinha aberto a porta e descido.

– Meu Deus, que pressa é essa? – Perguntei a mim mesma, rindo.

Alcancei Sara quando ela estava perto de uma das imensas filas.

– Sara, você sabe onde são os nossos lugares?

– Seeei... Não.

– Então espera um pouco que eu também não sei – admiti e olhei nos ingressos. – Nossa. É a área VIP – eu disse, muito surpresa.

– Ai meu Deus, sério? Catherine, você é simplesmente perfeita – disse ela e me beijou. Eu estava mais surpresa que ela. Mas o beijo estava bom demais para dizer que os lugares foram sorte do destino. Obrigada destino!

– Precisamos ir... – eu disse, ofegante.

– Vamos – Sara pegou minha mão e me puxou.

– Calma, minha princesa. Roxette não vai sair de lá voando.

– Quem garante??

Girei os olhos e acompanhei Sara. Por fora, eu parecia toda entusiasmada e apenas ansiosa com o show. Mas na verdade eu estava ansiosa com o que ia acontecer durante o show. Pedi a Deus que tudo desse certo e que as palavras não me faltassem na hora em que eu mais precisaria delas.