Youth acordou com certa dificuldade, enxergando não muito mais que um vulto de cabelos loiros que lhe falava algo.

Tyto: Ei cara. Tudo bem? Você deu um piti ontem.

Youth: Uh... É, eu me lembro disso...

E lembrar de tal fato despertava fúria na mente do jovem. Tal fúria ficou transparente no rosto de Youth, o que despertou ainda mais preocupação em seu colega.

Tyto: Er... Você está bem mesmo? Eu posso fazer algo pra você, se precisar...

Youth: Definitivamente, eu não acredito que você possa fazer algo por mim.

Tyto: Tá bem... Eu bem que queria saber um pouquinho a respeito do seu dilema, mas agora não vai dar. A Virada está chegando e Reddar quer que eu o ajude a providenciar os preparativos. E falando nele, ele mandou você ficar aqui até ordem contrária. Ele não quer presenciar ataques de fúria hoje, então...

Youth: Você fala como se eu estivesse louco...

Tyto: As impressões não são muito boas, se você quer saber.

Youth: Hmph...

Tyto: Ah, mas isso também não é de todo ruim. Até Reddar deixar você sair, você pode aproveitar o tempo pra esfriar a cabeça e pôr as ideias em ordem.

Youth: Aff... Que seja...

Tyto: Bem, eu vou sair. Se cuida, tá?

Omsk, Rússia, 31 de dezembro de 2100. 9 horas e 54 minutos da manhã. O jovem Youth Nightblade foi pressionado a se confinar no seu apartamento até ter certeza de que sua raiva estivesse sob controle. Contrariado, ele dizia consigo mesmo, de forma irônica, que voltou aos "tempos de cubículo".

Na noite anterior, Reddar o havia convocado para conhecer alguém importante, útil em combater os americanos. Para surpresa de Reddar, Darius, Tyto e principalmente o novo aliado, Kaze, Youth se enfureceu, sacando sua espada e avançando contra este último. Imediatamente Darius usou sua força gravitacional para imobilizar o jovem. Porém, mesmo depois disso, Youth não sossegava. Estava visivelmente tomado pela raiva e não parava de dirigir a Kaze um olhar assassino. Penalizado com a situação, Tyto se mobilizou e deu um golpe na nuca de Youth, fazendo o jovem cair inconsciente no chão. O que era para ser uma ocasião descontraída se tornou um momento de tensão onde todos se perguntavam o motivo de tal ato.

Kaze: Ei, não olhe pra mim. Eu nem sei quem é ele; não tenho a menor ideia do porquê dessa... "Recepção calorosa".

Reddar: Levando em conta que você faz inimigos novos a cada lugar que passa, chega a ser irônico.

Os problemas que Kaze causou no passado deixaram uma marca dolorosa na mente de Youth. A hesitação e a incompetência desencadearam conseqüências traumatizantes para o jovem. Ele ainda se lembra muito bem do que lhe foi dito logo após o ocorrido.

“O que aconteceu hoje prova que eu deveria ter desistido de você. Não passa de um lixo, o pior erro que um Presidente poderia cometer. Não sei de onde eu tirei a ideia de que você seria útil para a nação.”

Os habitantes da Rússia não perceberam, mas uma aeronave pousava em um lugar plano e tranquilo. O pássaro metálico era dotado de alta tecnologia, o que possibilitava sua furtividade. Sua comporta se abriu e de dentro saiu duas pessoas: Uma menina de cabelos de cor rubra e um soldado que a acompanhava.

?????: Aqui está bom.

Soldado: Eu irei te acompanhar até mais perto da cidade.

?????: Não é necessário. Eu posso ir sozinha. É melhor assim; será mais discreto.

Soldado: Certo. Aqui tem um comunicador. Mantenha contato e trate de cumprir seu objetivo. Tome cuidado...

?????: Certo. Até breve.

Ela se pôs a caminhar, lentamente se afastando da aeronave. Já havia sido orientada a respeito de seu destino e sentia certa ansiedade de chegar lá.

Prefeitura. Havia movimentação intensa no presente dia, pois Reddar havia convocado grande quantidade de pessoas para elaborar uma festividade de fim de ano. Darius protestou, mas Reddar não estava planejando a festa por si. Dependendo do ruivo, a festa não aconteceria, mas ele teve que ceder a certa pressão popular. Logo, Reddar passou a enxergar o evento como uma maneira de estimular o ânimo das pessoas.

Darius e Kaze cuidavam da mesma decoração. O primeiro estava ali por pressão, cumprindo apenas ordens do Reddar. O segundo parecia animado (de fato, adorava festas) e buscava o momento apropriado para obter uma informação.

Kaze: Ei, mano...

Darius: Mano?

Kaze: Sim... Mano, irmão, hermano, manolo...

Darius: ...

Kaze: Que foi? Não gostou?

Darius: Chama-me apenas de Darius, por obséquio.

Kaze: Ah... Legal, você fala como o Dumont.

Darius: Dumont? É amigo teu?

Kaze: Sim, sim! Aposto que ele ia gostar de te conhecer. Quando eu tiver a chance, eu...

Darius: O que querias falar comigo mesmo?

Kaze: Oh, sim... Eu ia perguntar o que você sabe sobre Youth.

Darius: O que exatamente queres saber sobre ele?

Kaze: Tipo, de onde ele vem e o que fez ele me atacar ontem à noite. Se possível, né...

Darius: Se queres mesmo saber, ele é americano. Só não sei te responder a respeito da ira que ele sente por ti.

Reddar: Talvez você tenha lutado com ele e não se lembra, Kaze.

Os dois voltaram sua atenção para Reddar, que se aproximava.

Kaze: Como assim? Tá falando de quando eu ajudei a atacar os ianques?

Darius: Espera... Estás dizendo que estiveste aqui antes e ajudaste numa investida contra os Estados Unidos?

Reddar: Sim, Darius. E pelo visto, Youth foi usado para deter Kaze...

Darius: Bom, já deu para notar como terminou o embate.

Kaze: Ah... Quer dizer então que ele quer uma revanche?

Darius: Só uma revanche, tu dizes? Quanta ingenuidade...

Reddar: O que ele quer mesmo é vingança. Não pelos Estados Unidos, mas, de certa forma, por ele mesmo.

Onze horas e trinta e cinco minutos da manhã. Tyto repousava na porta da Prefeitura, com amigos. Estavam num momento de descontração antes da próxima tarefa e o grupo conversava de modo desinibido, ocasionalmente interagindo e fazendo piada com os acontecimentos ao redor. Logo, uma coisa chamou a atenção: De todas as meninas bonitas que moravam ali, nenhuma era tão bela e radiante quanto a que passava por perto. Num típico impulso masculino, Tyto e o resto dos jovens disparavam comentários sugestivos e conseguiram fazê-la olhar para eles.

A menina sentia-se perdida. O lugar era grande e a presença de guardas a intimidava. Então, ela viu os meninos e resolveu ir de encontro a eles.

Tyto: Oi, gatinha criminosa. Como está hoje?

?????: C-criminosa? Por quê?

Tyto: Você cometeu o crime de ser maravilhosa e roubar o meu coração. Como pena, vai passar o resto do dia em prisão domiciliar... Na minha casa.

O olhar sedutor de Tyto foi ofuscado pelas gargalhadas esganiçadas dos outros jovens. A menina ficou ruborizada.

?????: Er... Sabe o que é? Hoje não estou a fim de "me divertir” desse jeito. Só queria pedir uma informação.

Tyto: Uma pena, mas sem problema. Diga o que você quer. Sou todo ouvidos.

Ela conduziu o loiro para um lugar discreto, pois não queria chamar muito à atenção. O loiro achou a atitude estranha, mas não se importou muito. Da bolsa que possuía ela tirou o que parecia ser um retrato e o exibiu a Tyto.

?????: Por acaso você conhece esse garoto?

O loiro observou a fotografia por uns segundos e se espantou: Imediatamente reconheceu a figura de cabelos negros ocultando metade do rosto, o olho direito de cor escarlate num rosto mal-encarado. Era Youth. O ímpeto masculino de Tyto então se transformou numa grande desconfiança e isso fez com que o loiro passasse a olhar a garota de forma séria, o que a fez se sentir intimidada.

Tyto: Onde conseguiu esta foto? Ou melhor, quem é você?

?????: Bem, eu... Eu sou amiga dele, por assim dizer.

Tyto: Amiga... Espere...

Tyto então ficou quieto, passando a colocar seus pensamentos em ordem.

Tyto: (Youth falou alguma coisa a respeito. Eu poderia levá-la até ele, mas... Pra ela o conhecer e possuir uma foto dele... Não tem erro; ela é americana. Ela pode estar usando Youth como pretexto para espionar a Rússia... Mas ela não parece lá tão perigosa. Mesmo assim tenho que garantir que ela não apronte nada.)

?????: Ei. Vai me dizer onde ele está?

Tyto: Ah... Desculpe. Você pode me acompanhar. Mas antes, vou ter que revistar você e sua bolsa.

?????: Eu entendo...

!!!!!: Qualé, Tyto! Que demora é essa? A coisa está tão boa assim?

Tyto: Cala a boca, ô idiota!

A prefeitura estava pronta, com decoração caprichada e impecável. Numa sacada do último andar do prédio, Darius, Kaze e Reddar conversavam e o assunto não deixava de ser Youth.

Kaze: Ainda não acredito que não me lembro de ter baixado o cacete no Youth.

Reddar: Eu ficaria surpreso se você lembrasse de cada garota que você “pegou” durante toda a sua vida...

Darius: Eu não. Ao que me parece, tu te lembras apenas do que é conveniente pra ti.

Kaze: Ah, qualé gente! Vocês querem que eu lembre de todas as... Er, peraí... Um, dois, três, quatro...

Reddar/Darius: ...

Kaze: Cinco vezes oito dá quarenta, fica zero, sobe quatro... O quadrado da hipotenusa é a soma dos quadrados dos catetos, blá blá blá Whiskas Sachê...

Reddar/Darius: ...

Kaze: Enfim... Querem mesmo que eu lembre de todas as 3215 garotas? Pessoal, eu não sou onisciente!

Reddar/Darius: (Filho da...)

Kaze: Mudando de assunto, me respondam uma coisa. Se estamos lutando contra os amricanos, por quê temos um aqui como aliado?

Darius: Youth nos garantiu uma fonte de informação a respeito de nossos inimigos.

Reddar: Ele é confiável. Sem contar também que ele é prestativo.

Kaze: Prestativo como? Servindo copos d'água pra todo mundo?

Reddar: ...

Kaze: Er... Tá bom, parei.

Reddar: Acho bom... Bem, vamos parar de conversa fiada e voltar ao trabalho. Ainda falta o pátio da prefeitura.

O fato de as ruas estarem bastante movimentadas, com cada pessoa ocupada com um afazer, era de certa forma conveniente para a menina que acompanhava Tyto. Tudo o que ela prezava era a discrição e a vontade de ver Youth.

Tyto: Então você é a única amiga dele.

?????: Sim.

Tyto: Heh... Acho que ele me falou a seu respeito uma vez. Ele nunca teve amigos, mas você foi lá e o apoiou... Estou certo?

?????: Sim, está certo.

Tyto: Só queria entender porque você fez isso.

?????: Fiz o quê?

Tyto: Se aproximar dele. Não tô condenando, mas é um pouco estranho... Ele geralmente tem problemas para se relacionar com os outros e... Bem, normalmente, alguém como Youth meio que causa algum receio... Sei lá, algo assim.

?????: Como você sabe? Há quanto tempo você o conhece?

Tyto: Já vai fazer uns seis dias. Mas já deu para conhecê-lo bem, já que dividimos um apartamento... Ah, não é o que você está pensando.

?????: Ahahaha! Mas eu não pensei em nada!

Tyto: Hehehe... Tá bom. E você? Como o conheceu?

?????: Bem... Eu sempre fui observadora. E eu o observava, logo pode-se dizer que eu o conheci antes de ele me conhecer. Sou uma testemunha calada da vida dele e sabia que ele não recebia afeto do pai. Eu sei que carinho não é o estilo de Milals, mas acho que um gesto ou outro não seria custoso.

Tyto: Ao que parece, o pai de Youth era ambicioso a ponto de transformar o próprio filho em ferramenta para ajudá-lo a vencer a guerra.

?????: Youth andou te falando bastante... Eu me pergunto o que o fez mudar de atitude...

A menina abaixou a cabeça e ia começar a refletir. Mas o loiro chamou à atenção dela.

Tyto: Olha lá o prédio. Já chegamos.

Youth estava entediado. Não tinha a paciência de ficar parado. Mas também não tinha o ânimo para sair e fazer alguma coisa e contrariar Reddar. Porém, teve o ânimo para atender às batidas na porta.

Youth: O que você quer?

Tyto: Oi, Youth! Tenho uma surpresa pra você.

Youth: O que é?

Tyto: Alguém quer te ver. Acho que é uma pessoa muito especial.

Youth interpretou isso como uma provocação.

Youth: Se for o Reddar, fique sabendo que não estou a fim de escutar sermão...

O loiro não respondeu. Apenas se afastou um pouco para o lado, deixando a outra pessoa aparecer. Ao ver a outra pessoa, Youth ficou chocado, interrompendo o que dizia para apenas balbuciar uma palavra.

Youth: Mi... Mili?