Crossroads - The Dark Hunters Chronicles escrita por Boneco de Neve, Guiga


Capítulo 13
Paz e Harmonia




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Rússia, 26 de dezembro de 2100. 9 horas da manhã. Um veículo parava próximo a uma pequena cidade cercada de ruínas. Uma porta se abriu e de dentro do veículo saiu Reddar.

Soldado: Tem certeza que o senhor irá ficar bem?

Reddar: Claro. É só uma visita breve. E depois, é uma área pacífica.

Soldado: Mas é melhor tomar cuidado.

Reddar: Tudo bem. Venha me buscar às onze.

Os dois se despediram, o veículo voltou pelo mesmo caminho que veio e Reddar iniciou sua caminhada em direção à cidade.

No dia anterior, assim que chegaram, Youth e Tyto se dirigiram ao hospital. Lá, Youth deixou Tyto aos cuidados dos médicos e avisou Reddar sobre o recém chegado. Como não havia muita disponibilidade, os exames a que Tyto foi submetido foram feitos de forma mais rápida que os exames de Youth. De fato, o loiro foi liberado algumas horas depois, pela madrugada, já recuperado e bem alimentado. Não havia lugar disponível para Tyto se alojar. Então, às três da manhã, Reddar bateu à porta do apartamento de Youth, pedindo para que Tyto fosse acolhido por pelo menos aquela noite. Embora fosse um pouco repentino, Youth resolveu aceitar, até porque o apartamento onde ele estava era de certa forma propriedade de Reddar.

Youth: (É bom que ele não tente nada engraçado...)

Enfim, foram dormir deixados por Reddar, Youth no quarto e Tyto num colchão na sala.

No dia seguinte, Youth e Tyto faziam limpeza no apartamento. O loiro, porém, não queria ajudar. Preferia começar o dia dando uma volta pela cidade, mas após um olhar ameaçador de seu colega, resolveu colaborar.

Tyto tirava poeira de uma mesa. Youth dobrava lençóis. Estava tudo silencioso, e o incomodado Tyto resolveu quebrar o silêncio:

Tyto: Então Youth, o que o traz a essas bandas?

Youth: Eu venho em busca de refúgio. Parar de ser um escravo nas mãos do exército americano.

Tyto: Ah, entendi.

Youth: Sabe, é duro viver de consciência pesada por fazer certas coisas em vez de outras. Não tive infância e adolescência normais. Sempre em treinamentos, experimentos, testes, em vez de fazer o que crianças normais fazem.

Tyto: Nossa. E como seu pai encarava tudo isso?

Youth demorou um pouco para responder.

Youth: Para falar a verdade, ele sempre incentivou este tipo de rotina. Eu acho que ele não ligava muito para o que eu sentia ou quais eram as minhas vontades. Ele apenas queria que eu fosse o melhor entre os melhores e estar sempre pronto para cumprir as ordens dele.

Longe dali, Reddar caminhava em direção a uma casa. Quando chegou, bateu na porta e alguns segundos depois, um homem de meia idade, um pouco mais baixo que Reddar, de cabelos raspados atendeu.

Reddar: Bom dia, senhor Vaduz.

Vaduz: Hmph... Bom dia. Veio reclamar da minha filha, não é?

A antipatia de Vaduz era evidente. Mas Reddar não se importou.

Reddar: Não. Na verdade eu vim prestar contas. E ver como Venice está.

Vaduz: Como assim, “contas”?

Reddar: Pedir desculpas por qualquer tipo de injúria sofrido por Venice e oferecer alguma assistência.

Vaduz: Venice é uma inútil. E só faz coisa estúpida.

Reddar: Não fale assim da sua filha. É fato que a atitude dela não foi inteligente, mas foi com a melhor das intenções.

Por um breve momento, Vaduz se sentiu comovido.

Vaduz: Entre. Está mais quente aqui dentro.

Tyto: Você se sentia... Usado?

Youth: Sim. Essa sensação se intensificou quando eles começaram a me ordenar a ajudar a cometer atentados contra diplomatas, embaixadores, pessoas que iam contra os interesses dos americanos. Acabei sendo descoberto e revelado; tanto que aquele templário me reconheceu... Por isso recebi proteção especial do governo. Mas mesmo protegido eu me sentia vulnerável. Os treinamentos, os castigos... Quase me deixaram louco.

Tyto: Por isso você é desse jeito...

Youth: Como?

Tyto: Digo... E o que o impediu de ficar louco?

Youth: Recebi apoio de uma pessoa. Pode-se dizer que é a primeira amiga que tive.

Tyto: É uma história e tanto. E é por isso que você veio para cá?

Youth: Na verdade não. Vim porque tem algo que eu gostaria de descobrir.

Tyto: E o que seria?

Youth: Bem, você por acaso sabe de um fenômeno que aconteceu no deserto do Arizona, nos Estados Unidos?

Tyto: Eu ouvi falar, mas vagamente... O que tem isso?

Youth: Um clarão estranho ofuscou os militares e as criaturas que lá lutavam e quase ninguém sobreviveu. Os que sobreviveram foram depor sobre o ocorrido, mas não souberam dizer do que se tratava. Tudo o que eles sabiam e teimavam em retrucar é que o céu desbotou e todo aquele estrago foi causado por algo vindo do céu. Eu diria que o céu perdeu a cor graças a algum tipo de radiação, causada por alguma fonte. Eu quero descobrir qual é a fonte e quem sabe, usá-la a meu favor.

Tyto: Er... Não acha isso perigoso? Quer dizer, eu ouvi dizer que essa “fonte” matou centenas... Aliás, milhares.

Youth: A questão é: Quem vai se importar?

Tyto: A sua amiga talvez.

Youth emudeceu. Tyto esperava que o jovem pronunciasse algo, mas como não houve resposta, ele resolveu aquietar-se e retomar as suas tarefas.

Youth: Está liberado, Tyto. Já fez o suficiente; obrigado por ajudar.

Tyto: Tem certeza, cara?

Youth: Esta conversa foi desgastante. Vá se divertir nas ruas. Eu cuido do resto e te encontro depois.

Reddar e Vaduz estavam sentados à mesa de jantar, saboreando chocolate quente.

Vaduz: Conforme ela crescia, ficava cada vez mais difícil criá-la. Ter que lidar com os aborrecimentos das outras pessoas por causa dela sempre me deixava chateado. Tentei esquecer de várias maneiras, quase me viciei em álcool...

Reddar: Mas ela não mediu esforços para tentar ajudar ao senhor.

Vaduz: Até parece... Às vezes eu sentia tanta raiva que chegava a agredi-la física e verbalmente. Eu me sentia um monstro depois de cada agressão. Eu só queria que a mãe dela ainda estivesse aqui para me ajudar...

Nisso, Reddar sentiu a presença de mais alguém no recinto. Era Venice, recém acordada e com seus cabelos castanhos à altura do ombro desarrumados.

Venice: Reddar, você aqui?

Reddar: Bom dia, Venice.

Venice retribuiu o cumprimento e depois se virou para o pai com vergonha:

Venice: Hm... Bom dia, pai.

Vaduz: Bom dia.

Reddar então se manifestou.

Reddar: Senhor Vaduz, posso fazer uma pergunta?

Vaduz: Pode.

Reddar: Quando foi a última vez que você virou para sua filha e disse “Eu te amo”?

Pego de surpresa, Vaduz não soube responder. Estava estampado na cara dele que fazia mesmo muito tempo que não fazia tal coisa.

Reddar: Sabe... Às vezes, os problemas são tão insuportáveis que o que realmente importa é deixado em último plano. Os momentos felizes são substituídos pelos momentos tristes, assim como as palavras doces de alegria são substituídas pelas palavras amargas de angústia. Mas basta uma iniciativa para que a angústia e a tristeza desapareçam e sobrem apenas a alegria e a felicidade... E quanto mais cedo vir essa iniciativa, melhor; porque não sabemos como será o dia de amanhã...

Fez-se um silêncio. Então, Vaduz, constrangido pela própria consciência, virou-se para a filha.

Vaduz: Venha cá, Venice.

A menina, engolindo seco, se aproximou do pai, e este a conduziu ao seu colo. Ele a abraçou, a beijou na testa e disse.

Vaduz: Eu te amo, filha.

Venice: Também te amo, pai.

Os dois ficaram em silêncio, abraçados em meio as lágrimas, por um tempo. Reddar contemplava a cena, contente por ver as coisas começar a tomar um rumo bom. Mas, como a cena já demorava para terminar, ele pigarreou.

Vaduz: Ah... Desculpe, senhor Reddar.

Reddar: Não precisa se desculpar... Enfim, está quase na hora de eu ir, e queria tratar logo de mais um assunto. Outras cidades próximas estão se preparando para combater os Estados Unidos. Por acaso o senhor está tomando algum tipo de providência para aderir?

Vaduz: Não.

Venice: Por que não, papai?

Vaduz: Nossa cidade não tem pessoal qualificado o suficiente para isso. Praticamente todo mundo aqui é desprovido de habilidades de combate.

Venice: Eu achei que seria uma oportunidade perfeita para aprimorar meus poderes...

Reddar: Eu também pensei em não fazer nada, mas eu conheci dois tipos interessantes que parecem ser ótimos em combate.

Vaduz: Espera, um deles é aquele menino cabeludo que havia lutado com Venice outro dia, não é?

Venice: O Youth. Como ele está?

A voz de Venice demonstrou preocupação, pois ela se lembrava do que aconteceu com o garoto. Temendo pelo pior, ela começou a se sentir culpada.

Reddar: O Youth está bem. Ele é dotado de uma habilidade incrível que o salvou. Acreditam que ele pode se regenerar rapidamente ao contato com a água?

Venice se sentiu aliviada. A idéia de poder ter matado alguém a atormentaria por toda a vida.

Reddar: Talvez os guerreiros que tenho sejam o suficiente para contribuir com uma possível vitória. Se eu apenas tivesse mais alguns...

Vaduz estava pensativo. Compreendia a vontade de Venice saber mais sobre si mesma. E havia percebido a animação de Reddar. Então, tomou uma decisão.

Vaduz: Youth é manipulador de gelo, não é? Uma habilidade bem peculiar...

Reddar o olhou atentamente.

Vaduz: O poder de Venice parece ser de certa forma semelhante ao poder do garoto.

Reddar: De certa forma, com algumas diferenças básicas...

Vaduz: Ouvi dizer que na China ensinam jovens manipuladores de elementos a compreenderem e usarem seus poderes com maestria. Mas não quero mandar Venice para lá, acho que eu não suportaria a distância, e não ficaria um segundo sem me preocupar com Venice, sem me perguntar o que aconteceria com ela por lá... Então Reddar, tem como você pedir, por favor, que Youth se torne instrutor de Venice?

Reddar e Venice arregalaram os olhos, espantados.

Venice: ...Papai?

Reddar: O senhor tem certeza?

Vaduz: Claro. Eu poderei visitar minha filha pelo menos uma vez por semana... E Youth parece ser um bom garoto; será uma boa companhia para ela... No bom sentido, claro; ele pode ter muito a ensinar.

Reddar: Hm... Eu vou falar com ele; se aceitar, eu arrumo um lugar para sua filha ficar.

O pai e a filha ficaram satisfeitos. Venice saltou do colo de Vaduz e abraçou Reddar como forma de agradecimento.

Reddar: Ei, vai amassar minha roupa...

Youth caminhava pela cidade fria, trajando por cima da roupa a sua capa preta que perdera pouco antes de Darius o salvar. Antes rasgada, a capa foi remendada com cuidado pelo seu dono.

Tyto: Finalmente terminou, é?

Youth: É.

Tyto: Legal. Ei, que tal darmos umas voltas por aí? Deve ter algo legal para fazer por aqui.

Youth: É, deve ter sim... Vamos lá.

Tyto: Beleza... Mas tenta não ficar com a cabeça nas nuvens, tá?

Youth: Vou tentar...

Os dois jovens então caminharam mais a fundo na cidade, olhando para tudo e se divertindo do jeito que podiam, aproveitando e valorizando os pequenos momentos de paz e harmonia em meio a toda a desgraça que ocorrera até aqui. Apesar de não parecer, isso era necessário; afinal, "não sabemos como será o dia de amanhã".


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