Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 27
Capítulo 26 - Mistérios e Mentiras


Notas iniciais do capítulo

vcs vão me odiar T_T sei que vão, assim que terminarem esse capítulo... Mas saibam que a personagem que vocês irão odiar teve suas razões para fazer o que fez. Só digo isso, aproveitem.



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Marcel Abrams atendeu à Susanna com o bom humor de costume. Apertou-lhe a mão energicamente e ofereceu-lhe o lugar a sua frente, que Susanna aceitou de prontidão.

Ao se sentar, a moça notou que o escritório mais uma vez se encontrava na mesma desordem de sua última visita, e passou a achar que nunca o encontraria em perfeita harmonia. Desta vez, Marcel levou menos tempo para achar os documentos necessários, porém, sua voz ainda continha aquele teor nervoso, que ele tentava esconder por trás do sorriso simpático.

– Então, Srta. Hayes... Ou deveria dizer Sra. Giusini? Bem, aqui ainda consta seu antigo nome, e creio que não irá mudá-lo até que se case de fato... – Marcel comentava enquanto olhava os papeis que acabara de retirar de uma gaveta, dando uma risadinha.

– Sr. Abrams, creio que já esteja ciente de meu propósito ao visitá-lo, não é mesmo? – Susanna retribuiu o sorriso fracamente.

– Seu noivo está esperando lá embaixo? Eu vi o conversível chegando pela janela... – ele respondeu, numa falha tentativa de continuar jogando conversa fora.

– Sim. – Susanna respondeu com simplicidade. Erguia uma sobrancelha para o advogado, sem saber onde queria chegar. Não era mera casualidade os seus comentários; visivelmente estava forçando a conversação desnecessária. Vendo que ele não responderia sua pergunta anterior, ela completou – Estou aqui para tratar de minha herança...

– Perfeitamente. – Marcel Abrams sentou-se defronte Susanna, ainda mexendo nos papéis.

A moça mostrava uma expressão calma, paciente, em contraste com o que Marcel deixava transpassar. Enquanto o advogado parecia ficar cada vez mais nervoso e se complicando com os papéis, Susanna calmamente cruzava as mãos por cima do colo, em educada espera. Por fim, o advogado achou o que parecia estar procurando, e se ajeitou de modo mais confortável na poltrona. Susanna ainda podia ver que, por mais que ele tentasse se mostrar tranquilo, estava se sentindo o oposto daquilo.

– Sr. Abrams, o senhor está se sentindo bem? – Susanna arriscou perguntar. Sabia que aquilo poderia só fazê-lo piorar em questão do nervosismo, mas resolveu tentar a sorte.

– O quê? Eu? Sim, é claro. – ele respondeu por trás de um sorriso falso. – Estou ótimo, Srta. Hayes.

Susanna pensou em como ele conseguira se tornar um advogado com toda aquela sinceridade e incapacidade de segurar seus sentimentos para si. Era admirável que um homem daquela franqueza escolhesse aquela profissão para exercer, mas, como toda qualidade se ostentada em demasia, poderia acarretar certos problemas.

A moça decidiu ficar quieta e deixar que o advogado cuidasse de si. Era mais provável que fosse algo que não dissesse respeito a ela do que algo de sua pertinência.

– Então, creio que tudo será transferido para minha conta no banco, e que depois disso eu vá poder cuidar de tudo de acordo com meu próprio discernimento... correto? – Susanna perguntou.

– Exato. Mas eu creio, também, Srta. Hayes, que certas posses materiais foram deixadas para serem transferidas para você...

– É mesmo? – Susanna pensou em acrescentar “não me recordo do senhor dizendo tal”, mas pensou melhor e achou que seria exigente demais. Não disse mais nada, e esperou pela resposta.

– Algumas joias... E itens de valor pessoal.

Susanna assentiu e disse:

– Achava que tudo estava com minha tia, a Sra. Hayes. Se bem me recordo, o senhor deve também ser o advogado dela...

– Isobel Hayes? – a voz de Marcel vacilou quando Susanna assentiu em concordância.

Sobre o olhar inquisidor e desconfiado de Susanna, Marcel abaixou a cabeça e apoiou os dedos nas têmporas. Depois, num gesto brusco, se levantou e disse, infelizmente para a sua ouvinte sem a menor clareza, de tanto que as palavras se atropelavam:

– Eu não tive escolha, mas eu tenho agora... Não posso fazer mais nada a não ser lhe contar, quero que isso tenha um fim.

– Sr. Abrams, o que há de errado? – Susanna perguntou, levantando-se também, alarmada.

– Sua tia, Isobel Hayes, violou, ou melhor, eu violei o acordo de sigilo de advocacia e expus os termos do que você iria herdar para ela, assim que seu pai morreu, de modo que ela sabia tudo o que Reymond havia deixado comigo. Não apenas sabia, mas... – ele parou repentinamente.

Susanna, atônita, só encontrou voz para dizer:

Como?

Marcel, depois de respirar fundo, falou, embora não cessasse sua movimentação em zigue-zague pela sala:

– Isobel Hayes sabia de tudo o que você herdaria de seu pai. Ela... Ela não só sabia, como... bem, ela fez certas exigências.

Isobel me roubou?

– Não! Srta. Hayes, por favor, não culpe sua tia erroneamente... Eu não disse isso. – Marcel se desesperava, temendo que a situação saísse completamente de seu controle.

– O senhor acabou de afirmar que ela-

– Não afirmei nada. – Marcel tornou a dizer, complicando-se ainda mais. – Deixe-me explicar.

Susanna, além de desacreditada, estava cegada com raiva e ressentimento, mas deu-lhe a chance que estava pedindo. Queria saber em detalhes do ocorrido, e não se daria por satisfeita até que o Sr. Abrams houvesse se acalmado e dito a ela todos os detalhes da difícil situação que acabara de expor.

– Explique-se então. A última coisa que esperava ouvir é que minha herança ou quaisquer bens de meu pai foram adulterados de qualquer maneira. – ela disse, mais para si mesma do que o advogado.

– A Sra. Hayes, ela... Visitou-me, digamos, pouco tempo após o falecimento de seu pai, Susanna. Ela exigiu ver o contrato, disse que havia certas coisas em que ela teria o direito de mexer... Palavras dela. Então, bem, ela me demandou que a desse custódia de certos itens de valor sentimental de Reymond, e que a isentasse de qualquer comprometimento com seu futuro quando atingisse 21 anos. Eu fui... obrigado a aceitar tais exigências.

Susanna respirou fundo mais de uma vez, e sentou-se de volta na cadeira bruscamente. Passou a mão pelo cabelo, e por fim levantou os olhos para o advogado. Refletindo sobre o que acabara de ouvir, concluiu e disse:

– Sr. Abrams, se o senhor estiver insinuando que a minha tia foi longe o bastante para cometer um crime e submetê-lo a suborno...

– Srta. Hayes! Não, eu... N-nunca aceitei nada dela, nem nunca faria isso!

Susanna não duvidava do advogado, mas, depois do que ele a havia revelado, era difícil sair dali tendo Marcel em alta estima. Fez o que seu bom senso mandava.

– Me desculpe as dúvidas, mas o senhor não é idiota, teve um motivo para fazer isso, e algo me diz que não é algo agradável.

– D-de fato. Os motivos eu preferiria manter em sigilo, Srta. Hayes, gostaria que não me pressionasse mais nesse fato... – de tanto que a voz do advogado minguara ao dizer aquelas palavras, Susanna conseguira achar um resquício de piedade em si, e se calou. A próxima coisa que disse não dizia respeito a Marcel, mas a sua tia:

– O que ela pegou? Quais eram seus interesses nisso?

Marcel Abrams ainda não se sentara, mas ao menos parara de se mexer desnecessariamente pela sua sala. Respondeu, com a voz ainda trêmula:

– Ela... ela tomou posse dos diários do Sr. Hayes. – ele revelou com uma ponta de dúvida na voz. Não sabia o que aquilo poderia significar para Susanna. – Estavam todos no documento original da herança, e foi o ponto em que ela mais deu enfoque na hora em que... Senhorita. – ele se interrompeu repentinamente, tornando a dar suas voltas repetitivas pela sala – tenha em mente, por favor, que estou lhe dizendo isso em nome da dignidade que ainda me resta. Eu... escolhi dizer tudo, revelar tudo, na esperança de que minha franqueza a fizesse levar pelo menos em conta que isso eu tenho de bom em minha personalidade. Não nutro nada mais do que desgosto por sua tia, temo dizer. Ela conseguiu o que raras pessoas conseguem: minha antipatia.

– E espera que eu o compreenda e perdoe? – Susanna estava cada vez mais duvidosa de Marcel. Já se mostrara nervoso, inseguro, fraco e com alguma brecha para chantagem. Mas agora lhe oferecia agora era uma mostra de certa inteligência e mente aguçada que ela não notara antes.

– S-sim. – ele balbuciou. – Quero dizer, sim. – deu ênfase a sua afirmativa.

Ela teve de dar créditos ao advogado por seu esforço em parecer decisivo.

– Continue a narrativa, Sr. Abrams, por favor. Eu posso escolher sair daqui como se não houvesse dito ou ouvido nada, e é o que pretendo fazer, se o senhor desfizer tudo o que havia feito, e deixar que eu lide com minha tia. Sua desonestidade é problema seu a partir do momento em que eu deixar esta sala. – ela foi resoluta e fria em sua afirmação. Esse dois traços não lhe eram característicos, mas o que Marcel revelara deixara-a pensando de modo analítico, e fora obrigada a agir assim.

– Como quiser, senhorita, mas creio que não há nada mais o que acrescentar. Ela me requisitou os diários, olhou todas as fotos de seu pai no antigo estúdio, e certas cartas pessoais ficaram guardadas sob minha custódia. Ela manteve o dinheiro intacto.

– Ao menos isso teve a dignidade de fazer. – Susanna murmurou, levantando-se. – É só isso o que tem a me dizer?

– Só isso... sim. – Marcel respondeu, longe de achar o que havia acabado de dizer adequado para “só”.

Um silêncio constrangedor pairou entre os dois.

– Não acho que queira meus serviços.

– Sr. Abrams, transfira o dinheiro para a minha conta, mantenha essa e todas as conversas com Isobel no sigilo. Não quero saber o que foi que ela usou contra você, e, se suspeitar corretamente, posso dissuadi-la de fazer o que quer que ela tenha o ameaçado que faria. Deixe-me, pois cuidarei de toda a bagunça que o senhor fez.

– Mas é claro, sim, senhorita... – ele estendeu a mão, constrangido ao extremo e desejando desaparecer ao invés de enfrentá-la.

Ela retribuiu o aperto cordialmente, e se retirou do escritório.



Já é sabido que as pessoas, em sua maioria, não resistem a trocarem palavras maldosas de outrem entre si, ora censurando o jeito de agir de alguém, ora comentando o mau gosto das roupas, ou até mesmo invadindo a privacidade para falar dos casos mais escusos. Essas “notícias” rodam por todo um círculo de pessoas, extenso ou curto, sem deixar ninguém de fora, quer a pessoa esteja ou não interessada no assunto. Porém, se há algo de defeituoso nesse funcionamento é o quão rápido as “notícias” se esgotam. A curtíssima duração favorece o nome de quem está no falatório, e, tendo os fofoqueiros esgotado as possibilidades de repetição, trocam satisfeitos de assunto, dando ao ciclo uma duração incalculável.

O mesmo acontece com a volubilidade da informação: favorece a quem quiser. Algumas palavras corretas plantadas na mente do bom ouvinte e ótimo falante são só o que necessita para se abafar um caso, ou criar um novo.

Isobel Hayes sempre esteve ciente de tal processo. Tinha uma mente perspicaz e um raciocínio rápido, que sempre a auxiliara durante toda sua vida. Não nascera com má índole, nem quase nunca desejava mal aos outros, ao menos não a um desconhecido. Não sentia prazer nas fofocas, mas atribuía a elas certo valor. Era uma personalidade curiosa, mas, como todas, tinha sua razão de ser. Esta razão era a qual ela desejava e pretendia que permanecesse escondida, e faria de tudo para que ficasse...

Cuidadosamente, ela terminou de colocar o último caderno numa caixa de papelão, transferindo-os do que fora seu ultimo recipiente para guardá-los e colocando-os no que esperava ser um lugar mais discreto. A caixa era relativamente grande, o suficiente para guardar um largo número de antigos caderninhos.

Nunca lera o que eles guardavam. Isobel poderia ter uma série de defeitos, mas não admitia ser chamada de desrespeitosa. Por isso, nunca sequer nem abrira um diário, mas sabia o que eles guardavam.

Suspeitava, isso sim. Suas suspeitas a respeito do conteúdo dos cadernos de Reymond Hayes eram quase tão sólidas quanto se o próprio houvesse afirmado aquilo. As capas dos anos de 1928 e 1930 ardiam na memória de Isobel de modo implacavelmente doloroso.

Isobel começou ergueu a caixa de sua cama, com o intuito de guardá-la bem escondida em seu closet, mas o chamado de Carla a fez parar no ato. A voz insistente subia do andar debaixo e chamava por “Sra. Hayes” de um modo um tanto urgente. A voz estava meio difusa pela distância de um andar, mas Isobel conseguiu discernir algo como “telefone”.

Deixando o quarto imediatamente, Isobel desceu as escadas com o passo apertado, atendendo ao chamado de sua empregada. Sem notar, deixara a caixa com todos os diários em cima de sua cama, levemente aberta, mostrando o interior.

Qualquer um curioso que passasse pelo quarto dela facilmente avistaria o que Isobel tanto se empenhara em esconder.



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Notas finais do capítulo

Gostaram...? Creio que os reviews não vão ser mt simpáticos dps dessa revelação.