Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 2
Capítulo 1 - Razões do Passado.


Notas iniciais do capítulo

E uma semana depois, aqui estou eu com mais um capítulo! (mesmo tendo provaS amanha, hehe, a tentação de escrever foi mt grande). E nem é um cap mt grande, se comparado com os q eu normalmente faço.



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Entremeadas entre alguns arbustos que teimavam crescer no lugar errado e entre as grades cinzentas de uma das casas da zona residencial da cidade, estavam senão as mais belas e lindas flores, cujo perfume se espalhava até mesmo pelo canto mais remoto daquele jardim. No entanto, as moradoras daquela casa não possuíam um jardineiro a seu serviço. Não precisavam de tal homem para tomar conta daquelas flores; não quando já havia alguém muito capaz de realizá-lo com toda a disposição necessária para fazer com que as flores não pendessem com suas faces voltadas para o chão.

Susanna Hayes podia ser uma exímia jardineira, e um tanto apaixonada pelo serviço, mas na realidade tratava-o mais como uma distração para seus problemas do que um serviço que fosse realizar para sua vida. Com dezoito anos de idade, já passara por certas dificuldades que gostaria de esquecer. Era aí que entrava o seu jardim de rosas.

Na casa em que vivia, porém, havia certa pessoa que, segundo Susanna, poderia fazer as flores murcharem se parasse em pé ao lado das mesmas por tempo suficiente. Ela não nutria apreço por Susanna, e podia-se dizer que o sentimento era recíproco. Mas não eram só as rosas ali que faziam daquela casa um lugar agradável para se morar. Outra que vivia ali, e última, era Lucy Hayes. Não era irmã - apesar de sua aparência indicar uma grande semelhança com Susanna – mas sim amada prima dela. As duas pareciam como irmãs, e agiam como tais. Sempre foram próximas uma da outra, desde crianças até o presente momento.

Lucy era da mesma idade que Susanna, mas apenas alguns meses mais nova. Seus cabelos eram cor de fogo, assim como sua prima, porém eram lisos e caiam apenas até seus ombros. Lucy sempre fora altiva e alegre, com um sorriso cativante que carregava consigo para onde quer que fosse. Sua reputação na pequena cidade era de uma menina bondosa, digna da posição social da qual usufruía. Sempre fora tranquila, e sempre estivera ao lado de Susanna para esta passar pelas dificuldades que a permeavam. Parecia partilhar dos sentimentos da prima, de tanto que era seu apreço por ela. Uma personalidade tão bondosa certamente não combinava com sua progenitora.

Isobel Hayes, do contrário de Lucy, era certamente quem faria as rosas murcharem. Senão com sua amargura ou seu azedume, o faria com suas próprias mãos. Fora uma luta de semanas até que Susanna conseguisse convencer sua tia a plantar tais flores em seu jardim. A casa e o terreno, por lei, pertenciam a Isobel, e ela poderia fazer o que bem entendesse com eles. Por isso, Susanna temera ao plantar as flores, e atipicamente pedira permissão da tia para fazê-lo. Se havia algo com o qual Susanna se importava, eram as flores, e ela sabia que sua tia não partilhava nem um centésimo disso. Isobel, ao contrário de Susanna e de Lucy, não era ruiva; seus cabelos eram verdadeiramente grisalhos, mas tingidos periodicamente para não perder a tonalidade castanha. Susanna não sabia o motivo pelo qual a tia fazia aquilo: quase todos os dias ela era vista fazendo um meticuloso coque, puxando o cabelo tão forte que daria dor de cabeças em Susanna. Se fosse para deixá-lo preso, que ficasse com sua cor original. Para completar sua aparência, era antiquada: se limitava à vestidos de renda, em cores escuras, ou saias, e frequentemente se via um óculos pendurado em seu pescoço, usado apenas para leitura. A despeito de todas as más qualidades, era uma pessoa culta, no entanto usava esse conhecimento apenas para benefícios próprios. Uma de suas atividades favoritas era se intrometer na vida alheia, e comentá-las com amigas tão desagradáveis quanto.  Isobel, ao contrário da filha, possuía uma má reputação ao redor da cidade, mas também tinha um grande respeito, nascido do temor de tê-la como inimiga. Não era e nunca fora uma personalidade fácil de agradar.

Era principalmente em torno disso que giravam os problemas de Susanna, atualmente. Numa tarde quente de verão, a moça se ajoelhava na terra adubada do jardim, sem o mínimo escrúpulo. Não se importava com sua limpeza; não quando o assunto era jardinagem. Isobel, como de costume, fora contra isso, apesar de ter uma empregada para fazer o serviço de limpar roupas para ela.

O sol quente ardia sem piedade em cima dos ombros nus de Susanna. Seus longos cabelos cor de fogo caiam em cachos pelas costas, presos junto à nuca num rabo-de-cavalo. Isso não impedia de um ou outro fio teimoso tornar a cair em cima de seu rosto, bloqueando sua visão. Susanna tinha que constantemente ajeitar o cabelo, mas o fazia sem perceber. Sua atenção estava fixa no trabalho.

Seus profundos olhos azuis estudavam o chão o roseiral a sua frente com atenção. Já havia adubado a terra, regado; só lhe restava o trabalho de podar os arbustos. Ainda assim se mantinha ajoelhada, a observar as flores antes de qualquer movimento com a tesoura de poda. Ali, os canteiros cobriam a região anterior à mureta de pedras claras, cujo topo era espetado com grades de ferro, que se erguiam altas para o céu. Durante todo o terreno da frente da casa, eram eles que se viam ao passar a pé ou de carruagem. O que Susanna não sabia, porém, era que ela também poderia ser vista.

- Com licença, jovem moça. – disse uma voz, escondida.

Susanna se sobressaltou. Quase cortara a parte errada do canteiro pela interrupção de quem quer que fosse o dono daquela voz. Se mexendo para procurá-lo (a voz era inconfundivelmente masculina), Susanna respondeu:

- Pois não... Senhor?

- Aqui estou. – disse o dono da voz, aparecendo no portãozinho de ferro que delimitava o fim dos terrenos da casa.

Era uma presença digna de ser notada, e uma combinação perfeita para a voz: fora grave, polida, e com um toque sensível de quem não quer perturbar, mas mesmo assim o faz. O jovem que ali estava calhava perfeitamente com aquela descrição: era alto, esguio, de queixo quadrado e nariz um tanto pontudo. Uma franja acastanhada lhe caia quase por cima dos olhos, aquém da moda da época, mas dando um contraste com seus olhos penetrantes verde-água. Ele parou ali apenas um segundo, deixando-se ser estudado e estudando Susanna. Ela vestia uma camiseta engomada, com laços no topo, que pendiam rebeldemente desamarrados; sua calça não estava lá em seus melhores estados: trazia a sujeira da terra recém-adubada, assim como seus sapatos. Porém seu rosto estava afogueado pelo sol, corando suas bochechas. Seu rosto fino e lábios também vermelhos fechavam a cena, tornando-a mais aceitável.

A moça, acanhada por se apresentar daquele jeito na frente de um cavalheiro, mas não deixando perpassar o sentimento, disse-lhe, querendo terminar com logo com o diálogo:

- Pois não, o que o senhor gostaria?

- Desculpe-me interrompê-la, mas eu vim apenas em busca de direções. Nunca andei por aqui, e não vi nenhum outro morador pelas redondezas...

- Não é um bairro muito conhecido por sua simpatia. – ela respondeu, ajeitando desconfortavelmente a tesoura de poda em suas mãos. – Aonde quer chegar?

O jovem deu-lhe o endereço, e ela lhe informou exatamente as direções do local. Ele agradeceu, mas não se mexeu para longe dali. Ao contrário, deteve-se um momento, para com a mão na grade do portão, a olhar Susanna. Ela não soube como lhe responder, mas não foi necessário:

- Estas rosas... São suas?

- Não posso dizer que são minhas. As semeei, plantei, e cuidei, mas certamente não pertencem a mim.

- Então você trabalha nesta casa? – perguntou o jovem, mesmo que não acreditasse naquilo.

- Oh, não, não. – ela respondeu, sorrindo. – Você me entendeu errado. Estas rosas são da natureza. Nunca foram minhas; nunca serão.

O jovem parou por alguns segundos, admirando as rosas ao seu redor.

- Eu compreendo. – retribuindo o sorriso, ele continuou: - Rosas. São tão pequenas e efêmeras, mas carregam a beleza digna de deuses. Como uma coisa tão frágil pode carregar um fardo tão grande?

- É aí que está o deleitoso mistério dessas flores.

Susanna e o jovem encontraram os olhares, admirados um com o outro. Eles se compreendiam a respeito de um assunto incomum entre pessoas daquela idade.

- Bem, eu acho que devo ir.

- Oh, não quero atrasá-lo.

- De qualquer modo. – ele respondeu, sempre mantendo a compostura educada. – Já estou atrasado.

O jovem fez uma mesura um tanto teatral para Susanna, inclinando-se para ela. A jovem, um pouco rindo e um pouco levando a sério retribuiu a mesura, fingindo ter uma saia para segurar.

Com um último sorriso, o jovem desapareceu do vão no portão por alguns segundos, para apenas reaparecer outra vez, ao chamado de Susanna:

- Espere. Nem ao menos sei seu nome, e você já conhece onde moro.

- Justo. Meu nome é Christopher.

- Prazer em conhecê-lo Christopher, me chamo Susanna. – ela respondeu, deixando sua mão ser tomada delicadamente e beijada.

- O prazer é todo meu, Susanna das Rosas. – ele disse, soltando a mão da moça. – Acredito que, se assim for destinado, nossos caminhos se cruzarão novamente.

Com uma última mesura, Christopher desapareceu, deixando nada mais do que as grades de ferro em frente e Susanna.

Tão logo o jovem Christopher desapareceu na rua, Susanna manteve a impressão de que já o havia visto antes. Parada no meio do passeio, que levava do portão até as portas de entrada, Susanna foi surpreendida pelo chamado de sua tia, que descia as escadas da frente num passo apertado:

- O que faz aí parada, menina? – ela perguntou, ríspida.

- Estava cuidando das rosas. – ela respondeu no mesmo tom.

- Mas não é parada aí que fará isso! – a tia retrucou. Claramente queria passar pelo caminho, e Susanna estava obstruindo sua passagem.

- Já vou sair, assim como a senhora pediu educadamente.

Isobel passou sem falar uma palavra, abriu o portãozinho e se foi pelo mesmo caminho que o jovem havia feito. Nem sequer se dignou a dizer para onde seguia. Sabia Susanna apenas que ela voltaria antes da hora do almoço, pontualmente.

Suspirando, a um passo de onde estava antes, Susanna viu Lucy se juntar a ela, lançando o mesmo olhar de pesar que a outra para o portão.

- Deixa-a, Suze. – disse Lucy, se virando para a prima. – Venha. Você está imunda de ficar cuidando do jardim debaixo desse sol.

Susanna deixou-se levar, tendo sua mão tomada por Lucy, que a carregava para dentro de casa.

As duas moças adentraram a casa e seguiram para o quarto acima, onde Susanna tomou um longo banho e se trocou para o almoço. Colocou um vestido azul-marinho, combinando com seus olhos, e penteou o cabelo com esmero. Em meio tempo, conversava com Lucy, que estava sentada ao piano do quarto de Susanna, porém sem tocá-lo.

- O que eu não compreendo – disse Susanna, enquanto remexia o armário a procura de bons sapatos para combinar com sua roupa. – É o motivo pelo qual Isobel age desse modo tão... tão...

- Amargurado? – disse Lucy, completando a frase para a prima.

- Exatamente. – ela disse, tirando o par que queria encontrar do armário e calçando-o. – Qual são os motivos dela? Eu nunca entendi porque recebo esse tratamento...

- Bem, você sabe que o histórico dela com seu pai não é lá dos melhores... – Lucy falou, testando algumas teclas no piano.

- Sim, eu sei. Não entendo como tivemos tanto contato na infância, dada a relação entre eles.

- Oras, você sabe que foi sempre papai que me levava para visitá-los... – Lucy respondeu, cessando os sons no piano. Falar do pai, mesmo depois daquele tempo, ainda tinha uma ponta de dor misturada a todos os outros sentimentos conflitantes.

- Mas Isobel nunca gostou que nós nos relacionássemos. Ou melhor, que você tivesse algum contato conosco. – Susanna terminou de calçar os sapatos, e se pôs a observar os movimentos de Lucy ao piano, cruzando as pernas numa cadeira ao seu lado.

Suspirando, Lucy respondeu:

- Não sei aonde minha mãe quer chegar com todo esse rancor para seu lado, mas ainda creio que há ao menos uma centelha de amor escondido dentro dela.

- Ah, Lucy, como eu disse: você tende a enxergar o melhor nas pessoas, mesmo aonde não há o melhor. Você sempre foi boa demais. – Susanna respondeu. – Não quero me opor completamente a sua mãe, afinal, ela continua sendo essa figura, mesmo que não represente seu papel do modo como deveria, mas não acho que, ao menos para comigo, haja alguma forma de carinho nela.

Lucy lhe lançou uma olhar de pesar misto com teimosia, respondendo:

- Há sim, Suze, acredite. – Lucy tomou as mãos da prima, dizendo com doçura. – Não tente lhe pagar na mesma moeda. Seja diferente. Trate-a do mesmo modo que me trata. Quem sabe essa relação não melhora ao menos um pouco?

- É difícil para mim, Lucy... Desde que eu vim morar nesta casa, ela age como se eu não fosse bem-vinda, como se eu não estivesse passando pelo o que eu passo. Sem querer desmerecer o que vocês também passaram... Ela deveria saber como é. Vocês perderam titio, eu perdi meu pai. Foram em tempos diferentes, mas mesmo assim, são dores próximas, que supostamente aproximam os outros...

- Minha mãe não é do tipo que vive suas dores publicamente. Sei que ela reprime tudo para si mesmo, guarda tudo dentro dela. Foi o modo como ela agiu quando meu querido pai morreu, você deve se lembrar...

- Nós tínhamos dez anos, Lucy. Isso foi há tempos atrás. O que entendi apenas foi que Ralph não mais estava entre a gente, por algum motivo. Lamentei não poder ver você com mais frequência, mas não estava ciente de sua dor, quanto mais da dor de Isobel. Para mim ela continuava como a tia distante e fria...

Lucy não soltara a mão de Susanna durante esse tempo, e outra retribuía o aperto do mesmo modo.

- Acredite, não foi fácil. Assim como não está sendo para você. – Lucy largara um pouco a doçura e otimismo da voz: isto acontecia sempre que o assunto passava a ser ambos os pais. – Eu me sentia sozinha. Minha mãe não ajudou nem um pouco, mas eu entendi que ela também estava sofrendo; era visível, até mesmo para um criança como eu. E acho que desde então ela guardou certo rancor de seu pai. Ele saiu vivo da guerra; meu pai, não.

- Mas não é como se ele houvesse escolhido!

- Não estou querendo culpar Reymond, Suze, você sabe que não. – Lucy respondeu. – Mas talvez seja isso. Ou talvez haja mais do que isso. – ela falou, sombriamente.

- Eu vou perguntar a ela, isso sim. Foi exigir uma resposta. Já estou aqui há cinco meses, e desde então venho me perguntando isso. Não pode ser algo que aconteceu há oito anos, e por um motivo que nem justificaria tudo isso.

- Minha mãe guarda mágoas, esteja avisada. – Lucy por fim soltou a mão de Susanna, e se voltou para o piano.

- Eu sei disso. Ao contrário de você. – Susanna falou, já mudando seu tom de voz para um mais alegre. – Nunca vi uma pessoa com uma capacidade de perdoar tão extensa quanto a sua.

Sorrindo e agradecendo, Lucy iniciou uma doce melodia no piano, para aliviar a tensão do ambiente. Enquanto os primeiros acordes de Turkish March, de Mozart, soavam pela casa, Susanna se punha a assistir os hábeis dedos de Lucy deslizarem pelas teclas brancas e negras do piano. 


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Notas finais do capítulo

...1/2 cauda e branco, né macarrão? kkkkkkkkk quem dera um desses aqui em casa... e espaço e habilidade tbm xD
btw, eu recomendo ouvir essa música de Mozart pra quem gosta de música clássica (se é q ainda n ouviu). Até semana que vem!