Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 10
Capítulo 9 - A Festa


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, o nono capítulo um dia depois. Eu recomendo que vocês ouçam "The Second Waltz", quando dois personagens a estiverem valsando. Na minha opinião da um clima melhor >> http://www.youtube.com/watch?v=IoS1_CRS5fA
ou ouçam pelo capitulo todo, fica a criterio de vocês.



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A decoração do local estava nada menos do que majestosa, nas exatas palavras de Lucy. As duas primas rodaram a casa mais de uma vez, deslumbradas com o trabalho de Mary Jane. A casa estava toda nos tons de amarelo, laranja e vermelho, sem ser muito artificial nem muito estonteante. Estava na medida certa. Em primeiro lugar, Mary se certificara de que cada quadro na parede retratasse um tema outonal. Variava entre apenas a paisagem de florestas ou árvores para algo mais humano, como esportes da estação, lugarejos ou famílias. As luzes, todas, inclusive a que o técnico estava consertando, eram das mesmas tonalidades. Mary Jane apostara em usar toalhas de mesa vermelho sangue, e deixar para que o cristal que formava a pista de dança refletisse a luz de velas dos imensos candelabros acima. Claro que também havia luz de lâmpadas, para não deixar o ambiente demasiado escuro.

Do lado de fora, Mary Jane havia deixado a natureza fazer o seu próprio trabalho, deixando o caminho de pedrinhas que ia do portão até a mansão coberto de folhas secas, e, como sempre, as luzes amareladas indicando o caminho.

Não tardou tanto, os convidados começaram a chegar, família por família. Não só os jovens, assim como havia citado Lucy, estavam a caminho, mas também seus pais, seus outros parentes, ou quem quer que fosse mais próximo. Claramente, depois que a casa se enchera, era notável que os convidados não se limitavam ao grupo de amigos de Mary Jane, mas também os de seu irmão mais velho e suas duas irmãs mais novas, sem contar com os contatos de sua mãe.

Lá para uma hora de festa corrida, todos se agitavam, dançando, comendo e bebendo, ou batendo papo com novos ou velhos conhecidos.

- Garotas, achamos vocês! – exclamou William, com um copo de suco em mãos. Prometera a seu irmão que não chegaria perto de bebidas, e até então houvera cumprido a promessa. Atrás dele vinha Henry, sério, mas belo em seu terno negro.

- Olá! – cumprimentou Susanna, aproximando-se dos dois para um abraço. Lucy imitou-a no gesto.

As duas primas haviam ficado perto uma da outra durante toda a festa, alternando entre os cumprimentos de pessoas conhecidas. Os dois La Fontaine haviam chegado há pouco tempo, devido ao atraso que William causara. Ele mesmo culpara Henry, mas não se importava muito com a hora.

- Henry estava procurando por vocês. – William comentou casualmente. Henry prendou o maxilar, num gesto de nervosismo.

- Eu também estava procurando por vocês. – falou Lucy. – O atraso estava me fazendo ponderar se realmente viriam...

- Sabia que vocês não viviam sem a nossa presença! – William riu de sua própria piada, acompanhado das primas e Henry.

Logo, os quatro entraram numa agradável conversa, gastando vários minutos entretidos com a presença uns dos outros. Em certo momento, Henry ofereceu-se para buscar bebidas para as primas e para si mesmo, deixando os outros três para trás.

A anfitriã aproximou-se dos três, querendo dar uma descansada de ter que cumprimentar a todos que chegavam incessantemente, sem contar em ter de ficar presa em conversas que ela não gostaria de ter.

- Ah, por fim achei vocês duas! – ela exclamou. – William, olá, como vai a festa?

- Ótima, Mary, devo até segredar a você - mas não conte isso a sua mãe, ok? - que estou preferindo essa a do ano passado!

O rosto de Mary se abriu num sorriso, e ela agradeceu efusivamente ao elogio de William. Voltando-se para as primas, disse:

- Queridas, eu ainda não vi vocês dançando... O que é que fez vocês ficarem afastadas da música?

- Não é nada em especial, Mary. – Susanna respondeu. – No meu caso, não tinha par... – a voz de Susanna foi morrendo, ao perceber que dizia isso logo em frente a William, o que poderia causar certo constrangimento. O jovem percebeu o que ela dissera, e viu uma oportunidade para convidá-la para uma dança, sem se sentir pressionado. Já havia dançado diversas vezes com a moça, e a via como uma irmã mais nova.

- Não seja por isso. – ele comentou. – Gostaria de dançar, Suze?

William estendeu o braço para a moça, que o aceitou sem pestanejar. No entanto, enquanto William fixava seu olhar no salão de dança, passando por Mary Jane, Suze não se esqueceu de olhar para traz e lançar a amiga um olhar irritado.

Susanna não estava se sentindo no humor para dançar, e dera a desculpa a Mary Jane que não havia par para ela. Agora que William a convidara, não havia como dizer não, porém tinha vontade de ficar perambulando por entre os convidados mais um pouco... Susanna tentava esconder a verdade de si mesma, mas o que estava tentando fazer era procurar por Christopher. Tinha quase certeza que o jovem estaria ali àquela noite, mas ainda assim duvidava de suas suspeitas.

Ela suspirou e tentou aproveitar o momento da dança com William. Afinal, era seu amigo, e merecia a boa vontade de Susanna na dança. Tão logo a música começou, e ela começou a rodopiar pelo salão com William, Suze tornou a olhar por todo o salão a procura de Christopher.

Lucy ficara com Mary Jane, assistindo Susanna e o La Fontaine mais velho.

- O que foi aquele olhar? – Mary perguntou, assim que Susanna se afastou o bastante para que não pudesse ouvi-la.

- Oh, Suze possivelmente não está com a mínima vontade de dançar, e deu aquela desculpa sem perceber que William estava parado bem aí... – de tanto que convivera com a prima, já estava acostumada com ela, e sabia das vontades dela como as suas próprias.

- Porque foi que ela não me falou? – Mary Jane perguntou. – Não ficaria ofendida, se foi isso o que ela pensou!

- Mary, vou ser franca: ambas estávamos – e ainda estamos – preocupadas se você acharia a festa um fracasso ou não. Estamos fazendo de tudo para levantar seu humor.

Naquela hora, chegou Henry, carregando três copos de suco. Depois que Lucy lhe explicou onde Susanna e William estavam, ele estendeu o copo que seria de Susanna a Mary Jane, que aceitou. Depois de uns goles do suco, Henry pareceu pensar profundamente por alguns segundos. Após isto, pediu licença a Lucy, e chamou Mary Jane a um canto, sussurrando-lhe palavras rápidas e inaudíveis a Lucy. Num segundo, Mary se despediu por hora da amiga, e seguiu às pressas para o salão de dança. Lucy olhou confusa para Henry, que voltou ao seu lado.

- O que foi? – o jovem perguntou inocentemente.

- Nada, não. – Lucy falou, com um leve tom de ironia. Não costumava ser sarcástica, mas a circunstância pedia. Henry estava sendo misteriosamente irritante.

Em resposta, ele sorriu.

Susanna conseguia se divertir enquanto acompanhava os passos de William numa música agitada. A sincronia dos dois era perfeita, e todos os admiravam. No entanto, os pensamentos de Susanna não estavam na dança. Acabara de avistar, vagando não muito longe dali, o alvo de sua incessante procura.

Os cabelos castanhos escuros eram inconfundíveis, tendo em vista que o corte era diferente da maior parte dos outros homens. Christopher, lá para o meio da dança de Susanna, encostou-se numa pilastra nos arredores do salão de dança, no caminho para a varanda, de onde podia ver Susanna perfeitamente. Quando a moça valsou na direção dele e virou para vê-lo, Christopher levantou o copo que segurava em cumprimento, sorrindo.

Susanna ficou feliz de vê-lo ali, o que confirmava suas suspeitas. Mary Jane o conhecia, e deveria ser também bem conhecido em Valliria, para estar numa festa como aquela. A moça dançou mais tranquila com William, que parecia alheio a qualquer reação que Susanna demonstrasse.

No fim da dança, Suze educadamente pediu licença a William, na promessa de que o encontraria mais tarde. Espantou-se, porém, ao ver que Henry e Lucy entravam no salão de dança, prontos para a próxima que música, que já seguia nos seus primeiros acordes.

Susanna sorriu para prima, mas ela nem pareceu notar, de tão distraída que estava. Deixando os dois amigos de lado, Susanna seguiu direto para a pilastra, que marcava o início da varanda da mansão Cartwright. Sem nem dizer nada, Christopher estendeu o braço para fora, num claro convite para que os dois fossem dar um passeio nos jardins.

- Susanna das Rosas. – ele falou por fim, quando já estava debaixo do luar, andando ao lado da jovem, nos caminhos de pedrinhas que serpenteavam pelo jardim do local.

A Lua deixava tudo com um tom prateado incrível de se ver. Iluminava todos os objetos cá embaixo na Terra, tão pequenininhos se comparados à imensa dimensão que o satélite tinha. Susanna estava gostando da caminhava, em especial por estar se refrescando no ar noturno, ao relento, depois de uma agitada valsa.

Ela respondeu, retribuindo o sorriso:

- Christopher.

- Eu estava ponderando se você viria, querida. – ele falou, usando aquele termo casualmente.

- Eu estava me perguntando o mesmo. – ela falou, estranhando o “querida”. – Mesmo porque nunca ouvi Mary Jane mencionar nenhum Christopher a não ser o primo dela...

- Oh, então você é amiga da anfitriã? – ele perguntou.

- Sim, eu sou. A conheço há muito tempo, e igualmente visito essas festas desde que era criança... Diga-me, porque nunca o vi por aqui?

- Digamos que eu estava ausente de Valliria por um longo período. Mas eu também costumava vir quando era criança. Talvez não se recorde de mim...

Susanna ponderou bastante sobre a última frase de Christopher. Isso a fizera imaginar se o jovem na realidade não a conhecia da infância, e, já que era mais velho, houvesse maiores recordações dela. Susanna forçou a memória o máximo que pôde, para ver se em algum lugar encontrava um menino de cabelos castanhos e olhos esverdeados, mas em vão. Respondeu depois de um tempo:

- De fato não me lembro de você. Por acaso chegamos a nos encontrar quando pequenos? – Susanna estava surpresa pelo fato de ele não considerar aquela coincidência algo surpreendente.

“Então” pensou Christopher “ela não se recorda de nada. Talvez nem sequer a ponte e o mito das rosas...”.

- Oh, eu não saberia dizer, estava apenas fazendo uma suposição, dado que frequentávamos a mesma festa. – ele preferiu manter sigilo sobre as suas memórias. Contaria e ela em outro momento mais propício. Nem sequer tinha certeza de que era Susanna, apesar de recordar-se claramente dos cabelos ruivos da moça, que se destacavam em meio às outras.

- Ah, sim. – Susanna falou, acreditando no que dizia. Olhando através da janela para o salão de danças, a jovem sentiu vontade de dançar com Christopher, uma vez retomadas suas energias. A música que estava tocando era ouvida por ela mesmo dos jardins, e mais uma vez, ela identificou uma valsa. Sem pestanejar, falou: - Christopher, gostaria de dançar?

A oferta pegou o jovem se surpresa. Ele olhou para dentro, para o calor e a luminosidade, e depois tornou a olhar para Susanna.

- Mas é claro. – respondeu, estendendo o braço a ela.

Pela segunda vez naquela noite, Susanna se encaminhou para a pista de dança, dessa vez com outro acompanhante. Os dois entraram na pista quando a música já havia começado e o local já estava um tanto cheio de casais. No entanto, logo Christopher pegou o ritmo, de tanto costume que tinha em valsar, e conduziu Susanna através do salão, rodopiando para lá e para cá.

Entre uma volta e outra, Susanna entreviu Lucy, mais uma vez dançando com Henry. Os dois pareciam extremamente felizes, mas não trocavam nenhuma palavra; apenas se encaravam. Suze sorriu ao ver os dois, contagiada pela felicidade dos amigos.

Christopher notou o seu olhar, e comentou:

- Está sorrindo por causa de sua prima?

- Como sabe que ela é minha prima? – ela rebateu curiosa.

- Bem, não tem muitas jovens ruivas por aí... Além do mais, a primeira vez que te vi você estava no seu jardim, e depois eu soube que aquela era a residência dos Hayes.

- Então você me conhece pelo sobrenome?

- Eu te reconheci pelo sobrenome. – ele corrigiu - Juro que não sabia quem você era no momento em que parei para perguntar sobre a floricultura.

Susanna e Christopher continuavam valsando, sem perder o ritmo a despeito da conversa.

- Isso é outro dos mistérios a respeito de você que me intriga... Embora possa estar sendo um pouco enxerida, e me perdoe se o estou sendo, queria te perguntar: para quem você queria comprar rosas naquele dia?

- Não está sendo, de modo algum. – ele respondeu. – Para ser mais preciso, fui comprar rosas. Ver o seu tamanho cuidado com elas me inspirou a comprar uma. E para responder a sua pergunta, foi para minha mãe. Ela estava precisando de uma pequena alegria. – Christopher se justificou depois de ver Susanna rir.

- Compreendo. Mas não parece do feitio de um menino que frequentava a famosa festa dos Cartwright não saber onde fica o florista... – ela o questionou, mas não com o intuito de acusá-lo de algo, só querendo instigar-lhe a revelar quem era.

- Eu já lhe falei: eu estive ausente de Valliria por muitos anos... – ele explicou novamente. Captando as intenções da moça, retrucou, enquanto diminua o ritmo dos rodopios para poder conversar melhor – Está me perguntando isso porque quer saber quem eu sou?

Susanna desviou o olhar, entregando a si mesma. Não era uma atrocidade ser curiosa, assim como havia ressaltado Lucy, mas ela sentia que o misterioso jovem tinha razões para não se revelar.

- Eu lhe asseguro que não estou te perseguindo, minha cara. – ele respondeu, rindo. – Nem que eu entrei de penetra nessa festa.

- Ah, isso eu descobri, você falou em nossa conversa no jardim... – a música estava chegando ao seu fim. Os casais ali se reduziram a apenas alguns, os que mais brilhavam no ofício da dança, entre eles Henry e Lucy. Nas últimas notas soadas, Christopher segurou Susanna firme em seus braços, cessando a conversa, e deitou-a teatralmente. Os espectadores, que apenas assistiam a todos, aplaudiram, deixando Susanna um tanto constrangida.

- Gostaria de continuar aqui? – Christopher sussurrou ao seu ouvido, retornando-a a pose ereta.

- É claro. – ela respondeu, distanciando-se dele para poder ver seu rosto. – Eu só espero que seja uma valsa de novo... oh, como eu adoro esse ritmo.

- Somos dois.

Para a alegria dos casais dançarinos e dos espectadores, que estavam adorando ver a maioria jovem na dança, a banda novamente escolheu uma valsa, dessa vez uma conhecida por Susanna. Coincidia em ser uma de suas favoritas, e também de Lucy, que não se separara de Henry até então. Estava tocando naquele momento a Segunda Valsa, de Dmitri Shostakovich.

- Eu amo essa música.

- Nada mais adequado para esse momento. – Christopher respondeu, mais uma vez conduzindo-a pelo salão com maestria.

- Retornando ao assunto... – ela falou depois de certo tempo – Sei que não é um perseguidor. Mesmo porque Mary Jane iria expulsar qualquer um que não tivesse sua autorização escrita (ou seja, o convite) que ousasse pisar aqui. – Suze riu da amiga, que não via desde que fora dançar.

- Essa Mary Jane parece uma personalidade intrigante...

- Não mais do que a sua, tenho certeza. Diga-me,Christopher, quem você é?

- Hm, essa pergunta pode ser interpretada de diversas maneiras, minha cara Susanna das Rosas. Por exemplo, eu poderia responder que sou um estudante. Poderia responder que sou um ser humano qualquer. Que sou morador de Valliria, que sou um irmão mais velho... Possibilidades infinitas.

- E não se encaixa nessas possibilidades responder o que quero saber? – Susanna retrucou, porém não estava chateada com seu par de danças. Estava mesmo é se divertindo com o diálogo, assim como acontecia toda vez que conversava com Christopher.

- Se encaixa, sim. – ele respondeu, fingindo pensar profundamente. – Mas de que serve o meu sobrenome? Nada, pois. Meramente me designa como herdeiro de fulano de tal, de uma linhagem tal... O que importa, querida, está aqui. – quando ele falou “aqui” gentilmente pousou a ponta dos dedos sobre o coração de Susanna, bem encoberto pelo vestido. Não chegou a ser um gesto indecente, de tão delicado e discreto que foi. Todavia, a mensagem chegou à interlocutora.

- Está correto. Por acaso deveria acrescentar filósofo ou artista à lista de coisas que poderiam te definir? O modo como diz certas coisas me lembra muito meu pai... Que certamente você deve conhecer como o fotógrafo da cidade.

Christopher assentiu.

- Ele tinha uma visão muito diferente das coisas, e se expressava de um modo parecido com o seu. – ela falou, com o olhar vagueando em nostalgia. – Meu pai era um artista, por isso adicionei esse adjetivo.

- De certo modo, eu não deixo de ser. – Christopher respondeu, enigmático como sempre.

- Mas mesmo assim me intriga seu sobrenome. E o engraçado é que mesmo você sendo conhecido – porque, meu caro, se você está aqui seu nome é alguma coisa em Valliria – eu nunca te vi antes. Cheguei até a ponderar sobre o Christopher que eu conheço por aí... – ela revelou, rindo de si mesma.

- Eu não acredito que fez isso! – ele exclamou, surpreso e achando graça naquilo ao mesmo tempo.

- Eu fiz, eu fiz... Quer saber dos nomes, apesar de que eu acho que você vai rir de mim?

- Eu vou tentar me manter sério, prometo. – Christopher falou, com uma risada traidora no final.

De um a um, Susanna foi citando os nomes que havia citado para Lucy, semanas atrás. Ainda se lembrava da maior parte deles, pois o mistério da identidade de Christopher não saíra de sua mente desde então.

- ...Há o Christopher Giusini, mas não creio que esse seja você...

- E porque não? – Christopher perguntou, segurando a risada. Ele deveria ter revelado que carregava Giusini no nome logo de cara, mas não poderia prever o que Susanna estava prestes a falar.

- Bem, ele é tão orgulhoso e arrogante... Frio, talvez. Nunca ninguém gostou dele. Dizem que não tem a mesma generosidade e nem é tão simpático quanto seu irmão. Por falar nele, Lucy mencionou que viria para esta festa, mas não faço ideia de como ele é... – Susanna terminou, sem se dar conta do tamanho erro e, agora sim, atrocidade que estava cometendo. Meramente olhou de um lado a outro, na esperança de ver alguém que nem sequer sabia como era o rosto.

Christopher mordeu o lábio para impedir que agravasse a sua expressão em desgosto. Continuou dançando, maquinalmente, e respondeu, agora com o calor que antes sempre expressara perdido assim que ouvira as duras palavras de Susanna:

- Nunca o viu na vida? – ele perguntou, mantendo a farsa, sem ter outra saída que não deixasse Susanna na pior posição possível.

- Não, nunca o vi... – ela respondeu.

- Eu também não sei quem ele é direito. – Christopher respondeu. Julgava não estar mentindo de todo, visto que ele mesmo havia perdido um pouco de si ao voltar para sua cidade natal. – Mas como pode saber que é isso tudo que o acusa?

Por mais que tentasse disfarçar, a revolta e a frieza ainda estavam presentes em sua voz. A música ainda corria, agora com cada nota torturando-o. Não sabia o que pensar de Susanna, mas achava-se traído, por imaginar que ela fosse diferente do resto. Pensara que ela não julgava pelas aparências, mas ainda assim mantivera sigilo de sua identidade, com medo de que ela ficasse acuada ao saber que ele na verdade era um Giusini... Quem errara, ali, afinal? Era inegável, na mente de Christopher, que Susanna errara e muito ao julgá-lo, ou como ela ainda pensava, julgar Christopher Giusini com antecedência.

- Bem, é o que dizem os rumores. – ela deu de ombros. Na sua mente nada de errado se passava naquele momento. Ela estava meramente repetindo o que ouvira tantas e tantas vezes Isobel lhe dizer, sem nem conceber por um momento que o jovem “arrogante e orgulhoso” era quem a segurara em seus braços.

- Rumores são apenas rumores, gerados por fofoqueiros e fofoqueiras que não sabem o que é cuidar das próprias vidas e por isso se intrometem na vida alheia...

Ele pronunciou a frase com raiva, mas sem encará-la no rosto. Por fim notando que algo errado se passava, Susanna perguntou:

- Por acaso você conhece Giusini, ou porventura ficou ofendido com algo que disse?

Encarando-a nos olhos, Christopher viu que sua preocupação era genuína. Porém, a ferida já estava feita, e não seria com mera preocupação que seria curada.

- Não é nada. – ele respondeu. Por fim, notou que os últimos acordes da música estavam por vir...

Dessa vez, ele não a segurou teatralmente, para a infelicidade do público, e a intriga da própria Susanna.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Eu sei que todo mundo deve ter ficado: #*$&%*#$!@# Susanna! Mas fiquem tranquilos, ainda tem muito mais intrigadas por aí, se vocês conseguiram captar minhas dicas...