Cada Um Escolhe Sua Paixão escrita por Pseudonerd


Capítulo 1
Mudança


Notas iniciais do capítulo

Introdução a história, sem personagens do anime, mas essencial para entendimento.



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O crepúsculo terminava o dia, ouvia-se vozes, via-se sorrisos. Bela tarde de fevereiro em pleno verão no Brasil. Pequenas esferas amarelas saltitantes espalhavam-se por sobre o chão das quadras de tênis do melhor clube da região. Ao longe, numa quadra quase que esquecida, observava-se uma garotinha, a mesma garotinha que, mesmo ao final dos treinos, continuava a jogar até que alguém a parasse.

- Ei, vamos... – O técnico, tanto era o costume, já suspirava algumas palavras que a garotinha logo entendia o significado.

O som dos passos rápidos diminuíam e se tornavam quase inaudíveis, os fios de cabelo que formavam ondas ao longo do comprimento, negros como a noite, presos num rabo de cavalo que já deixara escapar algumas madeixas, esvoaçavam com o vento que trazia chuva, a menininha de mais ou menos 1,50 voltava seu rosto para trás, ao encontro dos rígidos olhos de fadiga do técnico. Tamanha era sua doçura, tinha lábios carmim bem desenhados, bochechas levemente rosadas e, dotada dos misteriosos olhos asiáticos, puxados; mas também dos ternos olhos claros, âmbar, dos ocidentais; e possuidora de sedutores cílios curvos, longos e bem alinhados das ciganas feiticeiras. E seu andar, cheio de elegância, mas com o toque de fofura de uma criança. Normalmente, caminharia com passos arrastados, mas esse dia, esse dia era especial, por isso andou alegremente e cheia de disposição até o vestiário.

Não demorou muito até um policial chegar ao clube, que pelo visto trazia algo que não agradaria. Aproximou-se do técnico, que o fitava cheio de perguntas:

- No que posso ajudar? – Perguntou o técnico, um tanto eufórico, mas contido.

- Procuro a Srta. Miyuki Nishimura Azzi.

- Do que se trata? – O técnico perguntou com desconfiança.

O policial pareceu ter percebido tal suspeita por parte do homem. Então, retirou um distintivo e o mostrou, não falou mais nada. O técnico informou:

- Está no vestiário, logo está saindo. – Ele deu as costas e se dirigiu para dentro de seu escritório.

Não demorou muito até Miyuki sair do vestiário e trombar com o policial, que, ao vê-la, estreitou os olhos, cerrou os lábios e franziu as sobrancelhas, revelando extrema dor. Miyuki estranhou, mas tentou ser indiferente e pediu com educação:

- Me desculpe Sr.! Com licença, meu pai já deve estar me esperando.

Aquela figura minúscula já começava a desviar o caminho quando o policial a parou posicionando seu braço esquerdo na frente da mesma, bloqueando a passagem.

- É sobre seu pai que eu quero falar. – O policial cuspiu as palavras com grande esforço. E continuou, falando lentamente, com uma voz aveludada e do modo mais brando que podia. Pois observou que as pupilas dos olhos arregalados da garota haviam dilatado. – Seu pai sofreu um acidente quando estava vindo para te buscar, sua morte foi instantânea. Se a Srta. estiver interessada em detalhes...

Miyuki o interrompeu mostrando sua palma, não conseguia soltar palavra alguma, ainda que tentasse, pois nesse momento já havia se derramado em lágrimas, soluçando sem parar, não tinha forças para mais nada, nem ao menos ficar de pé, visto que estava ajoelhada em um mar de tristeza. Só conseguia chorar, só sentia dor.

-

A manhã do dia seguinte representava parte dos sentimentos de Miyuki, o céu escuro derramando incessantes lágrimas de anjos, tão cheio de nuvens que escondiam o sol e deixavam tudo muito frio. Ela não dormira naquela noite, já não derramava mais suas tristezas, estava seca, mas ainda chorava, por dentro. Estava deitada na cama do pai, cheirava o cobertor, o travesseiro, aninhando-se de hora em hora. O telefone toca, tirando Miyuki do transe:


- Filha... – Uma voz conhecida, Miyuki pôde se sentir um pouco mais acolhida.

- Por que Mamãe? E ainda no aniversário dele... ? – Miyuki questionava aos prantos.

- Eu sei filha... Eu sei. Você virá morar comigo, no Japão, vai dar tudo certo, em dois dias nos encontraremos e vai ficar tudo bem. – A mãe não tinha muito que falar, e tentava de qualquer maneira, acalmar sua filha.


Miyuki não se despediu, apenas desligou o telefone e se dirigiu à janela do quarto. Observou cada detalhe da vizinhança, voltou o olhar para o quarto e relembrou cada momento junto de seu protetor e companheiro. Só havia um momento que gostaria de esquecer: O funeral. Que parecia tão forte na sua mente naquele momento.

Ela não havia saído do quarto do pai fazia um bom tempo, apenas arrumou as malas que deveria, mas sabia que faltava algo: aquela foto, em que estavam ela e seus pais, juntos e felizes, era como voltar no tempo em que tudo era bem mais fácil.

Miyuki pegou tudo que era dela, mas dos pertences do pai, a única coisa que ela queria era o colar de ouro branco e pingente de um tipo de símbolo, de suaves curvas e brilho de pequenas pedras de diamante, que seu pai havia comprado para Miyuki há tempos. Colocou o colar o dirigiu-se ao espelho:

“Estou horrível, não posso ficar assim, ele estará sempre aqui”

E colocou a mão no peito, sentindo seus batimentos.

“Aqui, para sempre”

-

Como sentiria falta do cheiro do Brasil, do calor, e principalmente, sua equipe de tênis. É difícil explicar esse sentimento, é como a união da alma de todos: a sensação de interação, apenas os que já tiveram tal ligação dentro de um time conseguem entender.

Miyuki havia saído para procurar seu técnico, que como sempre, estava em seu escritório cuidando de uma papelada dos atletas. Quando entrou na sala, ele havia acabado de pronunciar “(..)uki, obrigada” no telefone. Ela não perguntou o que era, apenas correu até ele e o abraçou.

- Obrigada por tudo! – Soluçou as palavras.

- Se cuide, querida. Vai dar tudo certo. – O técnico afagava a cabeça da mocinha, preocupado.

Todos da equipe foram se despedir no aeroporto, olhares de tristeza, frases como “sentiremos sua falta”, “você é insubstituível” e “lembre-se de mim quando for uma tenista famosa”, beijos e abraços. Tudo isso ficaria para sempre, guardado nas lembranças de Miyuki.


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