– Então deixe-me ver se eu entendi. - perguntou Ron parecendo compreender a historia - Você encontrou Rose junto com Albus e... ELE? - o ruivo apontou perplexo para o pequeno loiro que estava parado ao lado de seu sobrinho.

– Não foi exatamente por escolha própria - resmungou Scorpius, mas fechou a boca quando seu amigo lhe deu uma cotovelada dolorida em suas costelas. Por sorte, Ron e Hermione não escutaram o que ele acabara de falar.

– Sim. - afirmou Hagrid. - Você sabe como as Acromântulas podem ser perigosas, tive sorte de encontrá-los a tempo.

– Oh, obrigada! - exclamou Hermione de repente abraçando Albus e Scorpius ao mesmo tempo. - S-se não fosse por vocês... Se-se... Ah, vocês não sabem como estou em divida.

– Do que ela está falando? - questionou Scorpius sem fôlego preso no abraço. O sussurro não chegava aos ouvidos da senhora Weasley, mas sim de Albus - Nós não fizemos nada! Foi Rose que cismou de continuar a andar.

– T-tia... Nós realmente não fizemos nada de--

– Não tente desvalorizar seus atos, Albus Sirius Potter! - censurou Hermione saindo do abraço, dando tempo para que Scorpius voltasse a respirar. - Vocês entraram naquele bosque assustador para salvar minha pequena flor. Rose é tão delicada.

Scorpius cobriu uma risada fingindo que estava tossindo. Rose delicada, essa é boa.

– Ronald - disse Hermione rigidamente para seu esposo - Será que você não tem nada a dizer a esses dois.

Ela mandava aquele olhar irritado que o ruivo conhecia muito bem. Por um momento Ron somente fitava Scorpius, não dizia nada. Seus olhos azuis encaravam os acinzentados, seu cenho era franzido e parecia que não estava disposto a abrir a boca. Atrás dele estava um Hagrid revirando os olhos.

– AHHHH!

Todos se viraram para encara quem gritava, até mesmo um garotinho de aparência peculiar que estava deitado em outra cama. A expressão rígida de Rony se suavizou imediatamente e seus olhos brilharam de preocupação. Mas então Rose parou de gritar rapidamente e se virou. Parecia que fora somente um pesadelo. Rony sentou em um banco do lado da cama e tirou uma mecha de cabelo que estava no rosto de sua filha. Suspirou aliviado ao ver que realmente não fora um grito de dor. O rosto de Rose estava tranquilo e sereno.

– Tenho uma divida com você, garoto Malfoy. - comentou Rony acariciando o rosto de sua pequena flor.

– Não quero ter divida nenhuma com vocês - Scorpius comentou perplexo. Apesar de achar a mãe de Rose uma pessoa doce e amável, muito diferente da corvinal que ele despreza, o pai lhe lembrava mais a filha. Aquele olhar que lhe deu, o modo de que o encarou. Sem dúvidas ela puxou todos os defeitos dele. Pelo menos isso era o que o pequeno loiro acreditava e a ultima coisa que queria era que algum deles possuísse alguma divida com ele.

– Acredite, eu preferiria não dever nada a você. Mas lhe direi algo, Malfoy, nem sempre você pode ter as coisas que quer! Então nós dois teremos que conviver com a ideia de que te devemos isso. Entendido? - perguntou bruscamente virando para o pequeno loiro, que somente engoliu a seco. - O mesmo vale pra você, Albus - adicionou suavemente para o sobrinho.

– Papai. - a mão de Rose alcançou a de Rony, a qual ele apertou. Ainda não acordara, mas parecia que reconhecera a voz dele - Desculpe papai.

– Shh. - ele a silenciou - Tudo bem, minha flor. É só um pesadelo - disse calmamente. Scorpius estava perplexo com a mudança de personalidade. Uma hora era severo e rígido com ele, na outra amável e doce com Rose. Isso significa uma coisa... Provavelmente ele era mais uma dessas pessoas que odiava os Malfoys. Ou somente ele, não saberia dizer. - Durma, Rosinha. - ele lhe deu um beijo de leve em sua testa, fazendo Rose se remexer um pouco. - Ela está com febre. - anunciou a Hermione. - Será que a enfermeira deixará eu passar a noite aqui? Não conseguirei dormir tranquilo até ter certeza de que ela estará bem. Harry e Gina não se importarão de cuidar de Hugo por mais tempo... Pelo menos acho que não.

– Quem é Hugo? - questionou Scorpius em baixa voz para Albus.

– O irmãozinho de Rose.

– Ah não! - lamentou-se - Está dizendo que existe DOIS dela? Só espero que a versão masculina não seja pior que a original!

Os dois amigos ficaram na Ala-Hospitalar até que a velha madame Pomfrey aparecesse para conceder o pedido dos pais. Aquela noite era permitido Hermione e Rony ficarem com sua filha. A enfermeira somente deixara, pois notara que com a presença deles Rose parecia mais calma em seu sono.

– Posso falar com você? - perguntou Hermione calmamente para Scorpius.

O garoto não sabia se deveria ou não, mas qualquer desculpa para ficar longe do velho, louco e mau humorado senhor Weasley era um presente. Os dois saíram lado a lado para fora da Ala-Hospitalar onde se podiam ver duas garotas de cabelos negros discutindo uma com a outra enquanto outra ruiva parecia estar cansada de ouvir.

– A culpa é totalmente sua! - acusou Lucy apontando o dedo para Roxanne.

– Se você não tivesse um bode expiatório, se você sujasse suas próprias mãos, nada disso teria acontecido!

– Tia Mione! - exclamou a Molly ao vê-la com Scorpius, fazendo a discussão das outras duas parar. - Como está -

– Ela ficará bem - tranquilizou-as Hermione - Rose teve muita sorte, foi uma aranha bem filhote que a picou. Se fosse uma das mais velhas que perseguiram Scorpius, Albus e ela, provavelmente... - ela nem conseguira terminar a frase. Hermione engoliu um soluço e disse - Bem, não precisam mais esperar. Rose irá sobreviver. Melhor vocês três voltarem para seus dormitórios, está ficando tarde e nenhuma quer receber uma detenção, não? Principalmente você Lucy, que é uma monitora honorável.

Em qualquer outra circunstância, Lucy ter levantado o nariz, dado um sorriso arrogante e concordado com sua tia. Dessa vez porém, não era hora para sentir-se orgulhosa. A garota somente acenou com a cabeça e foi junto com sua prima e irmã, de volta para as salas comunais.

Assim que as duas saíram, Hermione deu um suspiro, apoiou suas costas contra a parede e deixou-se deslizar até sentar-se no chão frio. Scorpius, sem saber o que fazer, sentou-se do lado da mulher.

– Que dia, hã? - comentou Hermione.

– É...

– Escute, você não tem ideia de como estou agradecida. Sei que marido está agindo como um insensível com você, mas a realidade é que ele está muito agradecido. Rony não quer admitir, mas...

– Ele me odeia, não? - perguntou Scorpius sem delongas. - Assim como Rose.

Hermione o olhou com curiosidade. Não pode evitar de sorrir.

– Você acredita mesmo que ele poderá odiá-lo? Como um pai pode odiar a pessoa que salvou a vida de sua filha?

– Mas... o modo que ele.

– Rony é assim - Hermione o cortou - Ele não gosta de admitir, mas a verdade é que ele nunca poderá odiá-lo. Às vezes ele parece se sentir repugnado por certas pessoas, ou até animais... Mas no fim, elas são importantes para ele. Entenda uma coisa, querido... - ela virou-se lentamente para encarar Scorpius e apontou seu dedo indicador em direção ao seu nariz - Somente porque uma pessoa parece desprezar algo, não significa que na realidade ela se sinta assim. É difícil saber o que se passa na cabeça de alguém. E para ser sincera, conhecendo meu marido, ele deve estar confuso agora. Você salvou a vida de nossa pequena e delicada Rose!

– Honestamente, senhora. - começou Scorpius sentindo uma pontada de culpa. - Não fui para a floresta por Rose. Fui somente porque Albus estava desesperado em salvá-la e acabei seguindo. Se não fosse por ele, provavelmente eu nem teria ido atrás dela.

Mesmo depois da confissão dele, Hermione ainda o olhava amavelmente.

– Você parece não gostar muito de minha filha.

Scorpius não respondeu, somente evitou encarar os olhos dela.

Hermione deu uma leve risada.

– Eu ouvi você se lamentar ao descobrir que Rose tem um irmão, por medo de que ele seja igual a ela.

As bochechas de Scorpius ficaram vermelhas e ele começou a fitar suas mãos.

– Ainda assim, ainda estou de devendo uma. - ela disse - Você acompanhou Albus para ajudar alguém que você despreza. Acredite em mim, é preciso muita coragem para salvar alguém de quem você gosta, mas se necessita de muito caráter para ajudar a resgatar alguém que você despreza.

– Jura?

– Quer ouvir algo engraçado? - Hermione comentou sorrindo - Eu já fui salva por duas pessoas que me desprezavam.

– Sério? - o garoto perguntou interessado. Mione confirmou.

– Sim. Um queria me salvar porque acreditava ser o certo a se fazer, o outro foi junto pelo seu melhor amigo. Acredite, esse segundo, ele praticamente me odiava. Naquele dia, eles me salvaram de um gigante... E acredite ou não, aquele que somente quis me ajudar por causa de seu amigo, hoje em dia é meu esposo.

Hermione começou a rir pela careta que Scorpius fez.

– É por isso que você se casou com ele? - perguntou o garoto que não entendia como uma mulher sensata como ela acabou com aquele homem severo. - Por que ele te salvou?

– Não. Casei com ele porque o amo.

Scorpius balançou negativamente a cabeça.

– Olhe, sei que por enquanto você não gosta de minha filha - comentou Hermione se levantando - Mas dê uma chance a ela. Acredite, ela é uma garota delicada. Sei que parece que não, mas ela é. - Scorpius aceitou a mão que Hermione lhe oferecia para se levantar - Aposto que poderiam virar bons amigos.

– Não quero ofender... Mas é que ela parece sempre tão... tão mandona, acha que sabe as coisas melhor, sem falar que adora me julgar e...

– É... - Hermione começou a rir - Infelizmente ela pegou meus defeitos.

Scorpius arregalou os olhos. Defeitos dela?

– Quando tinha a idade de Rose, eu admito que era assim. Por isso Harry e Rony me desprezavam, mas nunca julgue um livro pela capa. Rose pode ter alguns de meus e outros defeitos de seu pai também, mas ela possui grandes qualidades, assim como eu, Rony, Albus e até mesmo você. Ou quer que eu acredite que é sempre gentil como está sendo comigo? Aposto que deve dar motivos pra minha filha ser dura com você.

Scorpius mais uma vez evitou olha-la. Hermione revirou os olhos divertidamente.

As portas da Ala-Hospitalar de abriram e Albus saiu.

– Tia Mione, tio Rony disse que você pode voltar pra casa se quiser e ficar com Hugo. Ele vai passar a noite aqui.

Hermione balançou a cabeça negativamente e disse com uma voz séria.

– Esse Rony! Como se eu pudesse ir! Pois ele não vai se livrar de mim, não irei deixá-lo sozinho aqui. Seus pais se ofereceram em cuidar de Hugo hoje. Irei ficar aqui com ele querendo ou não. Enquanto a vocês dois - disse virando-se para os garotos. - Melhor voltarem para seus dormitórios, antes que levem uma detenção! E você, Al, não queira ver sua mãe brava.

Albus concordou e foi, acompanhado com Scorpius, em direção a sala comunal.

– Malfoy - gritou Hermione antes de que os dois dessem a volta. Scorpius a encarou. Hermione observou o loiro. Fisicamente, ela tinha que admitir que era parecido com Draco, mas havia algo diferente nele, algo em sua personalidade que não o fazia igual ao resto de sua família. Sorrindo, ela disse - Você fica bem com essa gravata dourada e vermelha.

E isso foi o ultimo que disse antes de voltar para a Ala-Hospitalar para se juntar ao seu marido e filha.

x-x-x-x-x

– Você acha que ela vai ficar bem? - perguntou Albus nervosamente debaixo das cobertas. Seus colegas já estavam dormindo tranquilamente, com exceção de Scorpius.

– Você já me perguntou isso como uma centena de vezes!

– Não foram tantas assim! - protestou Albus olhando em direção ao teto. Suas mãos brincavam distraidamente com um fio solto da coberta. Seus pensamento voltavam para o momento em que sua melhor amiga desmaiou. Aquele rosto pálido, a respiração pesada, o temperamento alterado e incomum... Percebera que algo estava errado, mas não pensara que... que... - Você não acha que ela vai morrer, acha?

– Para de falar essas idiotices, pois senão entrarei naquela maldita floresta e pegar uma Acrômantula para te servir como jantar! - Scorpius virou de costas para Albus e cobriu sua cabeça com a almofada. - A mãe dela disse que ficaria tudo bem, ou não?

Albus engoliu em seco.

– É-é que acho estranho ela querer ficar. Você não conhece tia Mione. O trabalho é sagrado para ela e que eu saiba, ela geralmente teria que trabalhar amanhã... Nunca a vi faltando um dia sequer de emprego, nem mesmo quando Rose pegou a gripe draconiana ou quando Hugo foi acidentalmente atingido por um dos produtos da loja de meu tio Jorge. Ele ficou com o rosto verde e vomitou uma gosma roxa o dia inteiro.

– Mas isso é diferente!- comentou Scorpius com uma voz abafada pelo travesseiro.

– Tia Mione nunca falta em casos que ela tem certeza que acabarão bem. Se ela ficou aqui, é porque provavelmente tem duvidas.

Por um momento, nenhum dos dois disse nada. Albus achara que seu amigo havia dormido quando Scorpius finalmente de pronunciou.

– Ela está só preocupada. Digo, Rose foi mordida por uma Acrômantula, isso não quer dizer que sua mãe pense que ela não ficará bem...

Albus suspirou.

– Acho que está certo... Estou pensando demais nesse assunto.

– Agora vá dormir antes que eu te nocauteie com algum feitiço.

O de cabelos negros revirou os olhos. Desejou boa noite e virou-se para dormir.

Potter caiu rapidamente no mundo dos sonhos. Sua respiração era tranquila, seus olhos pareciam que poderiam abrir a qualquer estante, quando na realidade só se abririam depois de várias horas.

Scorpius por outro lado, não dormiu.

x-x-x-x-x

Esse túnel...Esse túnel tem que ter uma saída.

Não tinha certeza se realmente era um túnel. Estava tudo escuro... Tudo que sabia era que corria, corria e corria à procura da saída.

Onde está a saída? Por favor... Mostre-me a luz... Preciso ver uma luz!

E como se houvesse algum gênio, seu desejo se realizou.

Em cima de sua cabeça acendeu-se uma lâmpada. Ainda assim, tudo ainda possuía a cor negra.

Mas reconhecera que a cor não era causada pela falta de luz, mas sim, pelas milhões de aranhas que estavam caminhando pelo túnel.

Assim que percebera a claridade, as aranhas se viraram, para a única pessoa humana presente.

Sem aviso algum, todas elas pularam para cima de seu alvo. Não tinha como sobreviver... Ela afundava, afundava, afundava cada vez mais em vários pontos pretos. Não tinha escapatória. Não tinha como se salvar.

Era assim que morrer? Era esse seu fim?

Ninguém para me salvar? É assim, então que tudo acaba? Sozinha?

Sentia as lágrimas caírem, enquanto afundava cada vez mais na escuridão de aranhas.

Adeus...

Disse sem ao certo saber para quem.

Adeus.

– AHH!

Rose respirava sem fôlego sentada em sua cama. Abraçou a si mesma, notara que estava tremendo e suava frio.

Um pesadelo. Somente um pesadelo...

E de repente, somente via pontinhos de chuva caírem em cima de seu lençol branco. Não, não eram gotas de chuva... Eram lágrimas. Estava chorando.

Agora, não estava somente chorando, mas também começara a soluçar.

Seus soluços não cessaram nem quando sentira dois braços a envolverem.

– Shh... - sussurrou - Foi só um pesadelo...

Rose apoiou seus braços em volta do corpo familiar. Olhou para cima tentando encará-lo.

Suas lágrimas ainda caindo pelas suas bochechas. E como esperado, encontrara os olhos tranquilos... Os olhos azuis e serenos.

– P-p-p - ela tentava dizer tropeçando no meio dos soluços - P-p-pa-pa

Sem esperar para que ela terminasse, Ron a apertou em uma abraço mais forte. E inconscientemente, sem entender porque, Rose escondeu seu rosto no peitoral de seu pai e chorou. Chorou baixo. Depois o volume foi aumentando aos poucos. Agora, tudo que você podia ouvir era os prantos altos de Rose. Seu choro era um grito de desespero que somente era interrompidos por um breve momento quando está soluçava ou precisava respirar.

– Está tudo bem... - sussurrou Ron balançando seu corpo levemente como se estivesse em um berço com sua filha - Foi só um pesadelo... Só um pesadelo.