Minha mãe tagarelava algo sobre meu aniversário estar chegando enquanto eu almoçava e fingia estar escutando tudo o que ela dizia. Na verdade eu odeio essa data. Mas pelo visto minha mãe adorava e estava bem mais animada do que eu.
Eu estava quase terminando de almoçar quando ouço "giving up the gun", o toque no meu celular. Olhei em volta e o vi em cima do balcão. Fui em direção e atendi.
– Estou indo pra sua casa. - Ouvi Dani dizer.
– Ah tá, de nada pelo não convite.
– Tá engraçadinha você né? Acordou de bom humor hein?
– Aham, bastante. - respondi sendo o mais irônica possivel.
– Que bom. Lucy vai comigo e nós vamos passar o dia assistindo filme e comendo chocolate. Sem garotos. Só nós.
– Agora você pareceu uma garota fresca de algum filme.
– É, eu sei. Tava assistindo gossip girl.
– Tá explicado então.
– Chego ai em cinco minutos, beijo. - E desligou. Na minha cara. Como as minhas amigas são educadas né?
– Lucy e Dani estão vindo pra cá. - avisei pra minha mãe.
– E você quer que eu saia. - Disse me olhando e se levantando da mesa.
– Obrigada por entender mãezinha.
– Só não aprontem, ok? Vou visitar algumas amigas.
– E você tem amigas? - perguntei fingindo surpresa e ela revirou os olhos. Já vi de onde herdei isso.
– A anti-social aqui é você. - respondeu sorrindo cinicamente.
– Olha aqui, você não vai falar assim comigo não. - Até minha mãe me critica. Não mereço isso Deus, não mereço.
– Você que começou com as ofensas.
– Tá, mas fala ai, você vai é ver o tal de Victor, sua safada.
– Lisa!
– Que foi? Eu sei que é.
– Não é nada. - disse tentando reprimir um sorriso.
– Aham tá, agora vai logo.
– Mal educada.
– Safada.
– Arrogante. - tá eu vou ensinar uns palavrões pra minha mãe.
– Tarada.
– Anti-social.
– Gorda. - ela arregalou os olhos e fez cara de ofendida.
– Sua filha da pu... - ela parou quando percebeu o que ia falar. Eu arregalei os olhos rindo.
– Você ia falar palavrão!
– Não ia não.
– E ia se auto-xingar. - Isso existe?
– Claro que não. Eu ia dizer... Filha de uma pura mulher.
– De pura você não tem nada mãe, Victor que o diga.
– Lisa!
– Meu nome. - falei levantando a mão e ela revirou os olhos. De novo.
– Eu ainda sou sua mãe, não fale assim comigo.
– Aham tá, agora vai logo anda véia.
– Ai, tá já tô indo. - Pegou sua bolsa que estava jogada no sofá e saiu.
Enquanto esperava as meninas chegarem, fui separar alguns filmes. Peguei "Jogos Vorazes", "Se beber não case 2", "A menina da capa vermelha", "Homem de Ferro" e a primeira temporada de FRIENDS.
Minutos depois elas chegaram com algumas sacolas cheias de chocolate, coca-cola, balas, um pote de sorvete e uma pizza. Agora vocês me dizem "Mas você acabou de almoçar e já vai comer tudo isso?", sim eu vou.
– Fiz dieta por um mês pra ganhar tudo de novo agora. Mas tudo bem né. - Lucy disse entrando e colocando as sacolas na mesa.
– O que nós vamos assistir primeiro? - Dani perguntou se deitando em um dos sofás. Peguei uma das barras de chocolate e fui para a sala com Lucy me seguindo. Ela pegou os DVD's que estavam na mesinha de centro.
– Não acredito que você não tem Percy Jackson aqui. - falou indignada.
– A gente pode assistir jogos vorazes? - Dani pediu.
– Não. - Lucy respondeu e eu ri. As duas nunca iam parar com essa briguinha.
– Vamos assistir Iron Man porque eu quero ver meu Robert Downey lindo gostoso perfeito. - falei. Elas iam protestar mas eu completei: - Vocês estão na minha casa sem serem convidadas então nós vamos assistir o filme que eu quiser. - Elas reviraram os olhos mas acabaram cedendo.
Nós acabamos nem assistindo o filme já que mais conversavamos do que prestavamos atenção no filme. Então eu resolvi perguntar sobre a festa da piranha.
– Mas então, como foi a festa ontem? - Percebi que Lucy ficou tensa apesar de ela ter tentando disfarçar.
– Foi legal até. - Dani falou dando de ombros.
– Vocês... viram o Nathaniel por lá? - perguntei tentando não parecer tão interessada.
– Eu vi ele umas duas vezes.
Lucy continuava calada fingindo prestar atenção no filme. Mas eu conhecia ela muito bem, tem alguma coisa a incomodando. Depois disso, Lucy mal olhou pra mim e passou o resto da tarde calada. Eu queria perguntar o que era mas preferi deixar pra lá. Talvez depois eu tocasse no assunto com ela pra tentar saber o que tinha acontecido.
Elas foram embora cerca de oito horas da noite. Minha mãe já tinha chegado e estava no quarto. Subi pro meu e fui tomar um banho.
Não tinha falado com Nathaniel o dia todo. Ele costumava me ligar quando não podia vir me ver, mas hoje não. Tentei afastar esses pensamentos. Talvez ele ligaria a noite, eu não precisava ficar assim. Me deitei e peguei Sussurro da Becca Fitzpatrick (n/a: nem gosto, só amo) pra ler mas acabei nem prestando atenção no livro, porque de dois em dois minutos eu olhava o celular pra ver se tinha alguma mensagem ou algo do tipo, mas nada. Bufei e resolvi ir dormir.
Não tem problema ficar um dia sem falar com ele né?! Eu tô ficando meio paranoica.
***
No dia seguinte eu tentei me distrair com qualquer outra coisa. Lendo, assistindo qualquer coisa que passava na TV mas nada me fazia parar de pensar nele. Porque era tão dificil ficar sem falar com ele? Porque ele não apareceu nem deu um sinal de vida ainda? Ás vezes até esquecia mas ai começava a pensar no porque a Lucy teria ficado daquele jeito quando eu citei a festa.
A tarde eu peguei o celular e resolvi mandar uma mensagem.
"Hey, tudo bem?"
Esperei uma resposta que logo chegou.
" Aham, e vc?"
"Normal. Tô no tédio, tá fazendo o que?"
"Na casa do Brian."
Ele ia na casa do Brian mas não vinha me ver. Legal hein. Porra, eu tenho que parar com isso.
"Tá perdendo pra ele de novo no video-game?"
"Você sabe que eu nunca perco."
"Como foi a festa?"
Perguntei, curiosa.
"Legal."
"Só isso?"
"É. Porque?"
" Nada."
"Algum problema?"
"Não, você que tem que me dizer isso."
Tá, eu não devia ter dito isso. Tô parecendo essas mulheres ciumentas obsessivas. Meu celular tocou e o nome dele apareceu na tela.
– Lisa, o que aconteceu? Você tá estranha.
– Não tô não.
–Tá sim. O que foi?
– Nada, é sério. Tô normal.
– Hmm.. Então tá. - Ficamos em silencio por um bom tempo, até que eu resolvi quebra-lo.
– Fez o que ontem? - Fechei os olhos me xingando. Agora eu tô mesmo paranoica, eu não preciso saber de tudo na vida dele. Para Lisa!
– Cuidei da Ju. Meus pais passaram o dia fora. Foram para um evento em uma cidade vizinha que agora eu não lembro o nome.
– Ah. - De novo aquele silencio constrangedor. - Olha, eu tenho que desligar. Até depois.
– Até. - Desliguei.
Ele estava estranho. Talvez fosse só coisa da minha cabeça. Resolvi ligar pra Lucy, depois de dois toques ela atendeu.
– Fala gata.
– Tá fazendo o que?
– Assistindo PLL. E você?
– Mofando no sofá.
– E eu achava que a minha vida que era sem graça.
– Pois é. - Ficamos sem falar nada por um tempo e eu fiquei apenas ouvindo o barulho da TV. - Escuta, o Paul te falou alguma coisa sobre o Nathaniel?
– Não, porque?
– Sei lá, é que ele tá meio estranho. Não veio aqui em casa e nem ligou ontem, nem hoje. Só falei com ele porque eu liguei. Talvez eu esteja ficando louca ou algo do tipo. - Ela demorou um pouco pra responder.
– Deve ser coisa da sua cabeça mesmo.
– É.
– Ai, esse Toby é tão gato. - ela falou e eu ri.
– Vou desligar pra você poder ficar a vontade com o Toby.
– Ok, a gente se fala. Beijo amiga.
O resto do dia foi chato e monótono. Fiquei assistindo FRIENDS e quando já eram quase meia noite resolvi dormir já que no outro dia teria aula.
***
Fui direto pra a sala porque mais uma vez eu tinha chegado atrasada. O professor já estava lá e reclamou do meu atraso mas eu dei uma desculpa qualquer.
No intervalo procurei pelo pessoal e encontrei Dani falando com uma menina e fui até ela. Ela sorriu pra mim mas continuou conversando com a tal garota sobre um trabalho. Esperei que elas terminassem pra poder falar com Dani.
– Oi.
– Oi, vem vamos sentar com o povo. - Me puxou até a mesa onde estavam todos lá. Dani sentou ao lado de Brian, deixando só uma cadeira vazia, ao lado de Nathaniel. Eu não sabia se estava tudo bem entre a gente, mas tentei agir o mais natural possivel. Beijei sua bochecha e ele me olhou e sorriu. Mas aquele não era o sorriso maravihoso que eu amava do Nathaniel. Mordi o lábio me sentei. Eu não estava nem um pouco confortavel ali. Não era como nos outros dias que todo mundo ficava conversando sem parar. Hoje, além de Nathaniel quase nunca se dirigir a mim, Lucy também ficava me lançando olhares estranhos e quando nossos olhares se cruzavam ela desviava e fingia que nada tinha acontecido. O resto do pessoal estavam agindo normalmente. Mas eu sabia que tinha algo de estranho. E eu não estava gostando nada daquilo.
Quando fui pra sala com a Dani - já que esse horario nós teriamos a mesma aula - perguntei a ela se tinha percebido algo. Mas ela disse que não e falou que se estava mesmo incomodada era melhor conversar com Lucy. E eu resolvi que faria aquilo. Já não aguentava esses olhares.
Quando a aula acabou, saímos todos juntos. Nathaniel se aproximou e me abraçou, do nada. Tudo bem que as demonstrações de carinho estavam se tornando constantes mas depois de toda aquela tensão, eu não tinha certeza se estava tudo bem entre a gente.
– Tudo bem? - perguntei
– Aham.
– Certeza? Você tá... esquisito. - ele se afastou de mim, me olhando.

– Não, tá tudo bem. É só que as coisas com meu pai ainda não melhoraram, então...

– Hmm. - Talvez fosse isso mesmo e eu tô pirando. Mas ainda tenho que falar com Lucy.
Nathaniel me levou pra casa e quando eu ia saindo ele travou a porta. Me virei pra ele esperando que ele falasse algo. Mas nada. Ele só me olhou e ficou assim por um bom tempo, cheguei até a ficar sem graça. Mas ai ele se aproximou e me beijou. E aquele foi diferente de todos os outros beijos, foi diferente de um jeito bom. Não que os beijos dele não fossem bons, mas aquele foi melhor. Foi mais intenso e mostrava tanto sentimento, sentimentos que eu nem sabia definir.
Quando nos afastamos ele me olhou e sorriu fraco. Baixou a cabeça e parecia querer dizer algo. Voltou a olhar pra mim e passou a mão pelo meu rosto, acariciando minha bochecha com a ponta dos dedos. Fechei os olhos.
– Eu te amo. - falou derrepente em um tom baixo. Eu o olhei assustada e maravilhada ao mesmo tempo. Me encarou provavelmente tentando decifrar a expressão em meu rosto.
– Por favor, não diz isso se não for verdade. - falei baixo, sem desviar o olhar.
– Lisa, eu pensei muito antes de dizer isso. Porque eu não queria mesmo dizer isso sem ter certeza, entende? Mas eu não aguentava mais. Eu precisava que você soubesse. - Abaixei a cabeça sem saber o que falar. O problema é que eu não tenho certeza do que eu sinto. Ainda não tô pronta pra dizer isso também. - Acredita em mim, por favor. - Eu assenti com os olhos marejados. Vi ele sorrir, aquele sim é sorriso que eu amo e não aquele de hoje mais cedo.
– Eu só... Olha Nate, eu...
– Ei, eu sei o que você vai dizer. E é como eu falei, eu disse isso porque não conseguia mais guardar só pra mim. Eu só precisava que você acreditasse em mim. Você não precisa se sentir pressionada a falar isso também, tá? Eu só falei quando tinha certeza do que eu sentia e quero que seja assim com você também... - Eu sorri e juntei nossos labios de novo.
– Eu adoro você. E sou apaixonada por você. - Sussurrei no ouvido dele e ele sorriu mais uma vez. Me afastei um pouco pra poder olhar em seus olhos. - Só que paixão e amor são muito diferentes. E eu preciso saber o que eu sinto. Não adianta eu dizer e não sentir. - Ele assentiu.
– Eu sei. E é por isso que eu quero que leve o tempo que precisar. Você não é obrigada a dizer que me ama também. Eu só quero que você saiba. - balancei a cabeça positivamente e o abracei. Ele beijou meu pescoço e disse novamente: - Eu te amo, Lisa Miller.