Highway To Glory - Season 2 escrita por ThequeenL


Capítulo 6
Seis - Cato


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu provavelmente já estou jurada de morte pelos quase dois meses de atraso. Não vou tentar desculpas porque sei que foi inadmissível esse sumiço da minha parte Mas enfim, era época de vestibular e eu estaria mentindo se dissesse que conseguia me concentrar em alguma outra coisa. espero que alguém ainda leia, fiz com muito carinho :)



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Vê-la daquele jeito me fez querer morrer. Ser o culpado pela expressão dela me fez querer me matar. Eu tinha jurado a mim mesmo que jamais a faria sofrer, e quebrei em tempo recorde minha própria promessa. Mas prefiro Clove me odiando viva a correndo o risco de ser morta. Confesso que tive vontade de permitir que ela furasse Loivissa com aquela faca. Eu mesmo o teria feito se não fossem pelas circunstâncias. Como as coisas ficaram desse jeito? Preciso recapitular para mim mesmo e ver se acho algum sentido (o que é pouco provável).

Primeiro acabamos “aterrissando” na casa dos parentes da Glimmer e descobrimos da pior maneira que ela tinha uma irmã gêmea. Depois Clove ficou o dia inteiro trancada no quarto conversando com aquele Thorm pelo lado de fora enquanto eu tentava compreender a operação Tordo e pensava em uma maneira de fazer as coisas ficarem bem. Então fui pedir desculpas à Clove ao anoitecer e passei a melhor noite da minha vida. E, por fim, ao descer para preparar um café da manhã para o que eu pensava que seria o segundo melhor dia da minha vida, encontro Loivissa na cozinha com uma faca apontada para o meu pescoço. Pensei que essas coisas só existiam nos livros que minha mãe lia.

Lembro como se fosse agora do tom que ela usou para me chantagear, dos argumentos, da cara sínica que ela fez quando anunciou o que pretendia fazer.

“Bom dia, Cato, que bom que acordou. Espero que tenha curtido bastante sua ex-namoradinha, porque é a última vez que ficará tão próximo dela.” Ela começou.

Você não acha que esse romancinho de vocês já passou da validade? Não posso acreditar que você trocou a minha irmã por ela. Confesso que quando soube que vocês viriam, pensei em matá-lo dormindo, mas escutei Torm falando sobre o que ele estava fazendo, pensei melhor e vi que na verdade aquela era uma brilhante idéia. Quer dizer, o que deixaria aquela idiota mais arrasada do que ser trocada por mim?” Foi nessa parte que comecei a rir. Ela tinha achado mesmo que eu iria trocar Clove por qualquer outra em Panem? Já tinha enjoado do rosto de Glimmer/Loivissa há tempos. Mas quando eu lhe disse isso, ela me encurralou mais do que eu esperava.

“Você não pensou que eu iria apenas te pedir para largá-la, não é? Por favor. Quem acha que as coisas devem acontecer naturalmente por aqui é o Thorm, eu sempre acho que o destino precisa de uma ajudinha. A situação é a seguinte: vocês estão na minha casa, sem ordem para mudar de alojamento, sem aliados por perto fora dessas paredes. Um movimento em falso que você fizesse e eu poderia ‘sem querer’ deixar escapar para algum pacificador que vocês estão aqui em casa. Minha família seria vista como heróica: Aqueles que prenderam os traidores da Pátria! Não parece ótimo? A sede dos pacificadores é logo ali ao lado, quer fazer um teste para ver se eu falo sério?”

Eu jamais poderia arriscar daquela maneira. Correr o risco de ser pego era o mesmo que correr o risco de Clove ser morta. Já corríamos perigo demais mesmo escondidos.

Então ela escutou alguém descendo as escadas, e meu coração se apertou forte, porque eu já sabia quem era. Eu já previa como seria a cena, mais foi muito, muito pior do que o imaginado.

E agora Clove está novamente trancada no quarto, enquanto eu estou parado em frente a Loivissa devaneando sobre esse inferno de dia que mal começou.

“Quer repetir o beijo, amor?” Ela perguntou, sádica. Cuspi no chão em sinal de resistência, e Loivissa fez de novo aquela cara séria de sociopata.

“É melhor você diminuir as gracinhas, Cato, ou pode ser que eu os dedure mesmo depois do nosso acordo...”

Não pensei que minha presença naquele lugar fosse valer de alguma utilidade, e subi as escadas pala falar com Thorm. Ele estava saindo do quarto quando entrei pelo corredor as pressas. Peguei-o pelo colarinho da blusa e empurrei-o na parede, levantando seus pés centímetros do chão

“Bom dia pra você também, Cato. Algum problema?” O desgraçado perguntou.

“Você é o meu problema.”

“Achei que já tivéssemos deixado as coisas bem claras no vagão. Não fiz absolutamente nada sem te comunicar das minhas pretensões.”

“Você não me comunicou que fazer Loivissa me chantagear estava entre uma de suas pretensões” Falei com os dentes cerrados, pronto para dar-lhe um soco. Ele me olhou com uma cara de espanto que pareceu sincera. No entanto, já o vi mentindo antes e sei que é capaz de fazê-lo com naturalidade e, portanto, não baixei a guarda.

“Com o quê ela está ameaçando você?” Ele perguntou sério

“Não finja que não sabe. Ou eu viro namorado dela eu ela nos entrega para os pacificadores. Ela disse que foi idéia sua..”

Thorment levantou as mãos em protesto. “Alto lá. Virar sua namorada e deixar o caminho livre para mim com a Clove: idéia minha. Ameaçar nos entregar e destruir o plano todo: loucura dela. Você não pode estar achando mesmo que eu sugeri a ela que colocasse a minha segurança na reta não é? Se vocês forem pegos, toda a operação Tordo desanda.”

Deixei que Thor caísse de volta no chão. Ele estava certo, também iria ser morto caso fôssemos delatados. Ele não iria tão longe assim para se vingar de mim.

“Como faremos agora então?” Perguntei. Ele ajeitou a gola da blusa e foi conferindo os celulares nos bolsos.

“Bom, você vai passar a ser o Encantado da miss serpente de Panem, caso contrário explodirão a gente antes que você seja capaz de dizer ‘eu amo roupa de balé e passo gel no cabelo’, e o Haymitch e os chefes do distrito 13 vão dar um jeito de nos reviver só para ter a chance de nos comer vivos, ou meio vivos. Vou ligar agora para a sede e ver se podem nos mudar de esconderijo a médio prazo. Mesmo adorando a idéia de te ver longe da Clove, tenho que zelar pela operação.”

A ligação durou mais de meia hora, e Thorment ficou mais da metade dela conversando com alguém chamado Coin, que parece estar arrancando os cabelos do outro lado da linha. Ele desligou pálido.

“Vão nos tirar daqui?”

“Não” Ele respondeu. “Eles tem problemas maiores. Deram início às propagandas clandestinas na televisão, mas as coisas acabaram mal e o distrito 13 foi rastreado. A guarda de Snow acaba de seqüestrar Peeta Mellark. Pretendem usá-lo como prisioneiro de guerra e moeda de troca. Temos que incitar uma rebelião nesse distrito o quanto antes para nos juntar à Everdeen e planejarmos o resgate. Onde está Clove?”

“Trancada no quarto”

“Bem, Encantado, não me interessa se você irá persuadi-la a sair ou se irá arrombar a porta. Tire-a de lá agora. Vocês tem milhares de coisas para fazer hoje.”

Essa era a pior ordem que ele poderia ter me dado, mas antes que eu pudesse reclamar ele já tinha decido as escadas e me deixado só no corredor. Levantei a mão para bater na porta do quarto de Clove, mas a porta se abriu antes e ela saiu de lá de dentro com pressa, amarrando os cabelos num rabo alto com a expressão congelada. Fiquei alguns segundos sem saber o que fazer, meu cérebro me mandava dizer alguma coisa, mas minha garganta parecia petrificada. Ela sequer levantou os olhos para mim quando disse “Sai da frente” em tom grosseiro e desceu as escadas a passos pesados. Estava vestida para a guerra, então achei melhor ir ao meu quarto e vestir o mesmo.

Quando cheguei na sala Thorm e Clove conversavam sobre o plano. Era um pouco arriscado, e nos levaria à prisão caso falhasse, mas não era de todo complicado de ser feito. Precisaríamos de roupas típicas do distrito 1, de escutas telefônicas e muito monitoramento. Thorm nos informou que tinha reforços disfarçados por toda a cidade, e que as famílias de antigos participantes mortos dos Jogos estavam dispostas a cooperar divulgando o plano.

Entre às 12h, os pacificadores do distrito eram convocados para o almoço, e a retomada da ronda só aconteceria 12h20min, o que nos dava vinte minutos para atuar. O local da intervenção seria o salão de festas do clube central, onde o pai de Marvel era presidente, e havia convocado as famílias mais influentes e parte da população para um “almoço beneficente”.  Clove e eu deveríamos entrar na festa e discursar rapidamente sobre o que vivemos na arena e os planos da capital, antes que algum dos demais convidados acionasse a segurança e os pacificadores invadissem o prédio. Thorment nos dará cobertura enquanto nos passa instruções através das escutas. Ele nos entregou as sacolas com roupas de festa compradas em lojas locais e mandou que nos apressássemos. Faltavam duas horas para a ação e ainda não havíamos sequer rascunhado na mente um discurso convincente.

O que dizer para pessoas que não estão dispostas a escutar? A grande maioria do Distrito 1 é cegamente fiel a Snow e à Capital. Vivem com o maior conforto e recebem privilégios que são negados aos demais distritos. Não há motivos para arriscarem a mordomia em uma luta que não enxergam como sendo deles também. São os mais escravos, pois se crêem livres.

Clove estava linda com o vestido de festa roxo que Thorm lhe dera. Ele a obrigou a soltar os cabelos para esconder um pouco o rosto, o que só tornou ainda mais perfeito todo o conjunto. Ela me viu de relance depois que coloquei o smoking, mas logo abaixou os olhos. Perguntei-me o que ela estaria pensando, se tinha vontade de me enforcar com a gravata. Pelo menos Loivissa não apareceu para piorar a situação. Thorm saiu da casa para conferir o que ele chamou de “elemento surpresa”. Passamos as horas seguintes esperando o momento certo.

“O que tinha pensado em dizer?” Perguntei relutante à Clove depois de quarenta minutos em silêncio completo. Ela não me olhou nos olhos para responder.

“O básico, Greedth. Que a Guerra já começou nos outros distritos, a tirania de Snow, o sofrimento dos rebeldes, essas coisas”

Ótimo, ela agora me chama pelo sobrenome, impossível ser mais distante que isso. Vou tentar ao menos manter a conversa. Já é um avanço vê-la falando comigo de qualquer maneira.

“Acha que eles não comprar a nossa causa?”

“Não recebi ordens para achar nada. A chance de fazer alguma mudança é essa, só podemos fazer o que está no nosso alcance, que no momento é fazer esse discurso.”

A frieza de Clove havia retornado com toda a força. Antes que eu pudesse contra argumentar Thorm retornou para nos buscar. Passamos despercebidos pelas ruas movimentadas até o clube, e pegamos o elevador vazio como já era o esperado. O relógio marcava 12h05min quando entramos no salão lotado, onde num palanque duas cadeiras com microfones nos esperavam. Fomos escoltados por Thorm em meio à multidão de convidados, e sem apresentações prévias fomos orientados a começar a falar.

Clove foi quem iniciou o discurso. Suas primeiras palavras já tomaram a atenção do público, que, meio espantado meio surpreso, fez silêncio completo para escutá-la. Thorm estava de guarda na porta do salão, onde havia utilmente bloqueado a entrada com cadeados e segurava no alto um relógio digital para que eu e Clove pudéssemos acompanhar o tempo. Assim que Clove disse quem éramos percebi várias pessoas ligando os celulares, provavelmente chamando pelos pacificadores. Foi quando os homens e mulheres vestidos de garçons começaram a circular, pedindo aos mais assustados paciência e evitando as delações. Haviam muito mais rebeldes do que eu imaginava, estava tudo rigorosamente planejado. Foi quando percebi a dimensão do que estava acontecendo. Direcionei minha atenção para as palavras de Clove, para melhor saber a hora de completá-la.

“...A Capital nos controla. Os jogos servem para mostrar a todos o quanto somos medíocres diante dela, é a prova anual de que somos mais fracos. Não é sobre heroísmo ou orgulho para o distrito, é sobre controle de massas. Serve para nos trazer medo, e não honra. Quantos de nós já tivemos algum parente ou amigo sendo enviado à arena? Quantos retornaram? O distrito 1 de vocês, junto com o nosso, é o que mais ganhou edições dos Jogos Vorazes. E, no entanto, ainda tivemos tantas baixas. Tantas famílias desfalcadas em prol de nada. Eu passei 16 anos da minha vida sendo treinada como um animal para morrer pela “honra”. Morrer como forma de punição ao nosso distrito pela rebelião de anos atrás. Pois eu digo que não devemos ser punidos por querer liberdade. Enquanto estamos aqui, sentados diante de um banquete, pessoas dos distritos mais distantes morrem de fome, são espancados, oprimidos pelos pacificadores – a mando da capital – a cada dia. Muitos de vocês podem não perceber como a Capital controla cada uma de nossas ações, mas se prestarem um pouco mais de atenção verão que nem nosso pensamento é livre. Fomos todos condicionados a agir da maneira que convinha ao governo, a julgar o certo e o errado da maneira que eles nos ordenaram. Aqueles que tentavam sair do sistema acabavam mortos. Ficamos nesse silêncio durante anos. A única coisa que pedimos agora é que vocês clamem pelo direito de usar a voz.”

Eram 12h13 quando Clove se calou, e percebi que era a minha vez de falar. Respirei fundo e levei o microfone à altura dos lábios, para ser bem ouvido enquanto dizia

“Talvez seja difícil compreender o motivo dessa guerra quando se é um privilegiado, digo isso por experiência própria. Mas cabe a cada um pensar: vale a pena todo o conforto, se ele vem às custas de derramamento de sangue? Sangue do nosso povo, nascido e criado na nossa terra. Vale a pena ser aliado da Capital quando tudo o que ela faz é oprimir nossos direitos de poder escolher em que acreditar? Durante os Jogos Vorazes, Katniss Everdeen mostrou coragem ao se aliar – de verdade, não apenas por estratégia – a uma menina de um distrito diferente, e foi fiel à sua memória mesmo após a morte de Rue. Um ato de bravura foi a faísca necessária para estourar uma revolução. Não foi coincidência, era a hora certa. Era o que os demais distritos precisavam para agir juntos, era o que estavam esperando. Então o que tenho para perguntar a vocês é: o que vocês estão esperando para agir?”

Nessa hora a porta do salão foi forçada. Conseguimos ouvir milhares de pés marchando em nossa direção. Os rebeldes disfarçados pegaram suas bandejas e fingiram normalidade, enquanto Thorm corria até nós e ordenada que eu e Clove saíssemos pela sacada. Olhamos para baixo, eram mais de dez metros, era impossível simplesmente pular. Thorm lançou três cordas, nos entregou correndo as luvas e gritou ”Agora!” no exato momento em que a porta foi arrombada pelos pacificadores. Eram 12h18min, alguma coisa tinha dado errado para eles chegarem antes do tempo previsto. Por sorte conseguimos sair do prédio antes que eles cortassem as cordas.

Corremos para a casa da família de Glimmer e trancamos a porta ao entrar. Por incrível que pareça, as ruas estavam ainda mais tumultuadas que o salão de festas. Clove, eu e Thorm sentamos nos sofás da sala, ainda arfando com a corrida.

“Como...isso...aconteceu?” Foi o que Clove conseguiu perguntar.

Thorm sorriu entre uma respirada e outra, antes de começar as explicações.

“Foi o ‘elemento surpresa’. Os comandantes da operação tordo irão me idolatrar quando souberem que a ideia foi minha”

“Do que você está falando? Pensei que discursar no clube fosse idéia deles” Falei

“Discursar no clube foi idéia deles. No entanto, transmitir o discurso nos alto falantes da estação de metrô e na rádio foi idéia minha”

“Você não pode estar falando sério! Isso significa que mais da metade da cidade nos escutou agora a pouco” Clove falou, surpresa.

“O que aumenta ainda mais as chances de sermos apoiados por mais pessoas no distrito.” Concluiu Thorm. Devo admitir que foi mesmo uma idéia genial. Estava tudo entrando nos eixos

Ele se levantou do sofá enquanto Clove ainda sorria  abismada no tapete. Se dirigiu até as escadas, e antes de subir virou-se para nós mais uma vez

“Ah, esqueci de avisar, vocês têm que dar comida pra Phia e pro gato antes de viajarmos pro distrito 2. A Kyelles deixou um bilhete dizendo que eles estavam comendo a cortina antes dela sair para fazer compras.”

Assim que Thorm saiu, as duas criaturinhas apareceram. Phia montada no gato, o gato vestido com roupas de batalha. Olhei para Clove com um quase sorriso, e ela fechou a cara novamente. Ela não iria esquecer a cena na cozinha tão cedo, e não posso culpá-la por isso. Tenho eu mesmo que aprender a tratá-la de maneira indiferente, ou correremos ainda mais risco do que agora a pouco com os pacificadores. Ela se levantou, pegou o bicho pelo rabo e a criança pela perna esquerda, balançando-os no ar e causando crise de risos em Phia, e foi no rumo da despensa.

Levantei-me para ir descansar, me preparar para o dia seguinte. Só o que conseguia torcer era para que Clove desse Loivissa de comer para Phia e o gato. Talvez aí as coisas ficassem realmente nos eixos.


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Notas finais do capítulo

gostaram? odiaram menos que o último? Tentarei ser mais regular daqui pra frente. Bjs



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