Segredos Em Família escrita por Carol Bandeira


Capítulo 15
Segredos


Notas iniciais do capítulo

Para que vocês entendam melhor:quando a conversa estiver "entre aspas" significa que estamos utilizando a linguagem dos sinais, ok?

Boa leitura!



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Conforme previu o médico, na manhã seguinte Sara fez todos os exames que podia para se certificar que o bebê estava realmente bem. Tirando essa dúvida da cabeça dos pais preocupados, o médico liberou sua paciente.

Já em casa Sara foi se deitar, ainda estava muito cansada. Betty levara Cássia para a creche e prometera pegá-la quando fosse a hora para que Gil também pudesse descansar. Mesmo com tudo resolvido, o homem ainda possuía aquela estranha sensação de que se esquecera de algo. Cansado como estava, entretanto, a única coisa que pode fazer foi deitar-se com sua esposa para dormir.

Algumas horas depois com o barulho do despertador tocando o avisando da hora de ir buscar Cássia. Silenciou imediatamente o aparelho e se virou para contemplar a esposa. Sara dormia pesadamente, algo que só fazia com a ajuda de remédios. Resolveu então levantar e ir preparar um lanche para sua princesinha. Ela sempre chegava com fome da escolinha.

Terminada a tarefa que se dispusera a fazer Gil resolveu esperar sua mãe e filha chegarem. Foi então na cozinha que Beth achou seu filho, sentado a mesa bebendo um copo de café. Cássia, como era de se esperar, saiu correndo e se atirou no colo do pai. Afinal aquela era a primeira vez que a menina o vira desde que ele se fora. Gil a apertou bem forte e com a única mão livre agradeceu a mãe por ter cuidado da menina. Como Cássia não queria desgrudar do pai ela tomou seu lanche no colo de Gil enquanto contava a ele tudo o que ela fizera naqueles dias. Beth observava a cena do outro lado da mesa, mas ela não conseguia se alegrar muito. Precisava ter uma conversa séria com seu filho.

A oportunidade que Beth aguardava veio quando a menina resolveu assistir a seu desenho favorito. Tão concentrada que estava Cássia nem percebeu sua avó chamando seu pai para a cozinha. O homem seguiu a mãe a contragosto. Sabia que estava para levar um esporro da senhora. E nenhum homem feito gosta de sermões de sua mãe. Resolveu então tentar tomar as rédeas da situação começando o embate.

“Então, mãe, qual é o problema?”

“Problema? Não, Gilbert, não há problema algum. Só o fato de você ir se embrenhar Deus sabe onde quando sua mulher, grávida, e sua filha pequena precisavam de você! E quando você iria me contar sobre a gravidez, hein? Quando o bebê já estivesse aqui?”

“Mãe! Isso não é justo! Como eu iria prever que Cássia e Sara ficariam doentes!

“Ainda mais com o histórico de gravidez da sua mulher e...”

“Sara só teve complicações no fim da gravidez mãe.”

“Não importa. Eu acho que você precisa se lembrar de que sua família é mais importante que qualquer corrida de baratas que você possa encontrar!”

Grissom não conseguiu acreditar no que sua mãe acabara de dizer. Como ela poderia pensar em uma coisa dessas! Agora Beth passara dos limites e não mostrava um pingo de remorso pelo que falou.

–Mãe... - Gil não sabia o que dizer agora. Suas mãos tremiam e ele pensou que não teria controle para dizer algo sem ofender a mulher a sua frente. Foi quando a salvação tocou em algum lugar da sala. Como a mulher não poderia ouvir Gil tratou de avisá-la.

“Meu celular está tocando, vou atender” -ao olhar desafiador de sua mãe ele completou “Deve ser a Catherine querendo notícias, ou o laboratório”

Gil foi buscar o celular com a mãe em seu encalço. Ao ver que era Ângela uma expressão de culpa tomou seu rosto. Agora sim entendia a sensação de hoje de manhã. Havia esquecido completamente dela e do filho. Saiu de lá com tanta pressa que nem ao menos se despedira direito de Noah. Ainda prometera que iria ligar e não o fez. O homem atendeu a ligação com o coração pesado e não viu quando sua mãe apareceu na sala.

Beth observou o filho atender a ligação com uma expressão de culpa. Culpa de quê, exatamente, ela não sabia. Olhou atentamente para o rosto de Gil, lendo seus lábios automaticamente.

“Desculpe-me por não ter ligado antes, Ângela.”

“Mesmo assim, essa não era a maneira que eu gostaria de me despedir”...

Gil teria continuado a conversa, mas reparou que sua mãe havia lhe seguido.

“Só um instante, eu vou até o meu escritório para continuar nossa conversa”

Ele pronunciou cada sílaba com cuidado, em um aviso para a senhora do outro lado de sua sala. Beth entendeu o recado, mas somente cruzou os braços, olhando para o filho com uma expressão de desagrado. Gil teria que sair dali se quisesse falar em segredo com essa tal de Ângela.

Chegando a seu escritório ele retomou a conversa.

“Desculpe-me por isso, Angie’ ele falou enquanto sentava na sua cadeira favorita em frente a escrivaninha. “ Minha mãe está aqui e parece que desaprendeu o conceito de privacidade”

“Ah, tudo bem...mas me diga, como está sua esposa?”

“Bem...estamos em casa já. Sara está repousando. O médico fez vários exames e constatou que o que ela teve foi um caso agravado de virose. Ela já estava meio enjoada por conta da gravidez, então acabou desidratando um pouco mais rápido. Mas mãe e bebê já passam bem.”

“Graças a Deus!”

“E como está o Noah? Muito chateado?” Gil sabia que não havia se comportado devidamente com o filho. As circunstancias eram atenuantes, mas mesmo assim Gil se sentia culpado.

“Se eu te dissesse que ele ficou bem estaria mentindo. Ele esperava mais tempo com o pai, e ter essa semana encurtada abruptamente foi um golpe para ele. Mas Noah é um bom garoto, ele sabe que você não estava fugindo. Tenho certeza de que ele não vai ficar remoendo isso por muito tempo.”

“Fico mais aliviado então”

Um silêncio tomou a conversa após essa última frase. Gil não tinha muito que conversar com Angie. A mulher, por sua vez, tinha um último detalhe que queria falar, mas receava que Gil achasse que ela estava se metendo onde não devia. Mas Ângela não era uma mulher de papas na língua, e como o assunto dizia respeito a seu filho ela se sentiu no direito de prosseguir com ele.

“Gil...é, me desculpe seu eu estiver me metendo onde não sou chamada, mas...”

“Pode falar Angie...não tenha medo.”

“É sobre a... você acha que... quando você quer contar ao Noah sobre...que ele vai ter mais um irmão?

“É...nossa, Ângela” Gil estava novamente surpreso e irritado consigo mesmo. Ele contara a Ângela sobre a gravidez de Sara sem o consentimento dela. Sabia que sua mulher preferia anunciar ao mundo sobre isso após terminar o primeiro trimestre. Foi assim que eles fizeram com Cássia. Mas agora Ângela sabia e queria contar para Noah...

“Gil, você ainda está aí?”

“Sim... bom... eu não sei... como você acha que ele reagiria ao saber...”.

“Realmente não faço ideia... ele já sabe que você tem sua família aí então ele não ficaria tão surpreso...”.

“Eu não sei, Ângela... eu e Sara preferimos manter isso em segredo por um tempo... você nem deveria saber...”.

“Ok...era só isso que eu queria saber.”

“Por favor, não fique chateada...”.

“Eu não estou, Gil. E até entendo você não querer contar. Vai esperar até ela fazer 12 semanas ,não é? Eu fiz a mesma coisa...quando sabe...

“É...até lá eu penso em uma boa maneira de contar a ele.”

“Vai ser melhor assim, ele ouvir de você”... de quanto tempo ela está?

“Pouco mais de 4 semanas.”

“Bem no início. Vai ser uma longa jornada.”

“Vai ser sim...bem Angie, eu preciso ir. Mande um abraço para o Noah quando ele voltar da escola. Diga a ele que...que...eu entrarei em contanto.”

“Mandarei o recado Gil. Tchau”

“Até mais”

Gil relaxou em sua cadeira após a ligação e suspirou fundo. Ele teria que contar a Sara que muita gente já sabia do pequeno segredo deles. Suspirou fundo, pensando em como seria difícil para ele contar para seus filhos que eles teriam mais um irmão. Imaginava que Cássia ficaria feliz com a notícia, mas não conseguia saber qual seria a reação de Noah. Será que ele se ressentiria com o fato de que ele teria que dividir o pai com mais uma pessoa quando ele já perdera tanto tempo com ele? Ângela afirmara categoricamente que ele não era assim, mas Gil sabia que ele era apenas mais um adolescente, e que ele teria os sentimentos a flor da pele. Só de pensar nisso já dava a Gil uma enorme dor de cabeça. O homem levou as mãos ao rosto e gemeu. Quando é que sua vida havia se tornado tão complicada?!

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Beth Grissom não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Poucas eram as vezes que ela se desentendia com Gilbert, e mais rara ainda era o filho lhe dar as costas. A senhora sabia que tinha ido um pouco demais em sua ânsia em obter respostas sobre o comportamento do filho. Porém na defesa da senhora estava o fato de que o filho podia muito bem enganar a quem quisesse, mas a ela nunca. Alguma coisa o senhor Gilbert aprontava e Beth jurava que tinha algo haver com a misteriosa viagem que ele fizera e com a mulher chamada Ângela. Todo aquele segredo a fazia imaginar que seu precioso filho tivesse um caso.

Aquele não era um pensamento estranho para Beth quando se tratava desse casamento. Mas a parte envolvida invariavelmente era a nora, pois apesar de todas as juras de amor que Sara pudesse fazer para seu filho, isso não mudava o fato de que a nora era bem mais nova do que ele. Além de trabalhar para ele. Isso fazia a senhora, no início, presumir que a jovem estava querendo tirar vantagem de seu filho, querendo subir na carreira dormindo com o chefe. Afinal, qual outro motivo teriam as jovens para ficarem com homens mais velhos além de ganhar alguma recompensa?

Por muito tempo Beth teve essa imagem negativa de Sara, o que fazia com que as duas tivessem um relacionamento difícil. Nada do que Sara pudesse fazer faria a desconfiança de Beth cair. Ainda mais porque depois de casados e de ter tido uma filha a jovem não demonstrou vontade de abandonar seu emprego para se concentrar em sua família. Beth não entendia como eles conseguiam viver daquele jeito, com horários trocados. Não havia tempo para que as necessidades de Gil fossem cuidadas!

Então qual não foi a surpresa de Beth ao perceber que quem poderia estar pulando a cerca era seu filho?! E ela sempre injusta com Sara...Beth teria que remediar isso, tanto esse caso de seu filho quanto sua relação com a nora. Se suas suspeitas fossem verdadeiras, Sara precisaria de um ombro amigo para chorar. Beth esperava que este ombro fosse o dela.

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Cássia olhou para um lado e para o outro no intervalo de seu desenho favorito. Onde teriam ido seu pai e sua avó? Tudo bem, pensou a garota. Seu coraçãozinho ditava a ela que procurasse sua mãe. Ela estava dodói ontem. sempre que Cássia ficava doente sua mãe estava sempre ao lado dela, cuidando dela. Cássia queria fazer o mesmo por sua mãe.

Com alguma dificuldade ela desceu do sofá alto e se dirigiu as escadas. Sem nenhum adulto por perto ela não deveria subir, mas era imprescindível que ela fosse até a mãe. E sozinha ela foi.

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Sara estava naquele delicioso estado de sono em que ainda não estava totalmente acordada, mas também não dormia. Ajeitou-se novamente na cama e já pensava em dormir mais um pouco quando ouviu a porta do quarto ranger. Olhando para a direção da porta ela não pode ver ninguém entrando, mas os passos leves no quarto silencioso indicavam uma pessoinha se aproximando da cama. Sara sorriu quando viu o rosto de Cássia aparecer do seu lado da cama.

–Mamãe- a pequena sussurrou.

–Oi meu amor.

Essa foi a deixa para que a pequena se jogasse na cama e nos braços da mãe.

–Mamãe, cê tá melhor?

–Sim, princesa. Só precisava descansar.

–Que bom, te amo!

–Eu também te amo!


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