O Único Que Não Posso Esquecer escrita por Machene


Capítulo 4
Não Quero te Esquecer




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/230356/chapter/4

Cap. 4

Não Quero te Esquecer

Já se passaram dois meses. De uns tempos pra cá a Elie anda estranha e desligada, como se estivesse preocupada com alguma coisa. Mesmo tentando saber com o que ela se incomoda tanto, ela não me conta nada e sempre está sorrindo pra que eu não perceba. Na percepção do Música, o melhor é que a gente fale com a Melodia e é por isso que estamos em frente à casa delas agora.


– Não se preocupe. Se a Melodia souber de alguma coisa ela vai contar. – ele diz, ligando o alarme do carro.

– Você acha? Por que acredita que ela ia fazer isso?

– Porque eu estou com você!

– Ah tá... Eu me sinto bem melhor, obrigado Música. - -‘


Depois de tocar a campainha a Melodia abre a porta uns segundos depois e parece ficar surpresa por nos ver. Mesmo assim, ela nos deixa entrar e põe na mesa da sala um pouco de café com biscoitos.


– Eu sinto muito Haru, mas a Elie saiu bem cedo hoje.

– E ela te contou pra onde ia?

– Bom... Ela disse, mas eu... – Música e eu logo notamos que ela esconde algo. Ele senta do lado dela no sofá maior.

– Melodia, pode nos dizer pra onde ela foi?

– A Elie está um pouco concentrada em umas coisas que ela quer fazer, então não precisam se preocupar com ela.

– É por isso mesmo que estamos preocupados com ela! – interrompo – A Elie não está querendo me contar o que está incomodando ela. Melodia, você sabe o que é. Pode me contar?

– Eu não sei se devo. Ela me pediu pra guardar segredo.

– Amor, por favor. – Música segura sua mão – É importante!

– Tudo bem. – ela suspira – Vocês já sabem da doença da Elie, então eu vou ser rápida... Ela tem tido um sonho estranho que se repete quase todas as noites, isso já faz alguns dias. Nele, um garoto está entrando em um avião e indo embora de Hip Hop, a nossa cidade natal, pra vir pra cá. Ela está vendo tudo e logo em seguida tem outro ataque e desmaia.

– Então isso deve querer dizer que aquele garoto devia ser alguém muito importante pra ela, não?! – Música olha de relance pra mim (provavelmente querendo saber se eu já estava ficando com ciúme uu).

– É sim, mas quando ela acorda já se passaram muitos anos e ela está em um quarto de hospital, segurando um colar.

– Um colar? – começo a prestar mais atenção.

– É, um colar com um pingente de coração prateado. Elie não sabe o que significa, mas ela ficou tão fissurada por esse garoto do sonho que quer saber quem ele é, onde morava e que relação tinha com ela.

– Mas isso já faz anos. Por que ela se importa agora? Pode até ser que os sonhos que ela tem nem sejam reais.

– Sim, eu disse isso pra ela também Música, mas a Elie acredita que esse menino possa ter algum tipo de ligação com sua doença, porque ela diz que se lembra de ter desmaiado antes da notícia da morte dos pais. Eu nunca a vi desmaiar antes disso, mas ela acha que suas lembranças estão tentando alertá-la para encontrar o garoto. ‘ ‘

– E onde a Elie foi? – interrompo. Melodia me encara.

– Foi até a biblioteca, procurar o livro com a lista registrada de pessoas da cidade que vieram de outro país.

– Dá pra conseguir ter acesso a esse livro assim? oo – estranho.

– Descobri durante um passeio pela cidade que a esposa do bibliotecário é uma amiga antiga da mãe da Elie, nossa vizinha em Hip Hop.

– Ah bom, se for assim é fácil! ^^ - Música comenta.

– E como ela sabe que o garoto veio pra cá? – corto.

– Ouviu isso no sonho. Mesmo que pedisse pra guardarem segredo ela vai saber que fui eu que contei, então não comente nada com ela ainda Haru, por favor! Deixa só ela resolver isso e garanto que vai voltar a ser como era!

– “Mas e se ela não voltar?... O que é que eu faço?”


Música e eu voltamos pro apartamento. Pra variar, está como todo lugar onde só existem homens morando sobre o mesmo teto: bagunçado! Vou direto pro sofá e ele vai atacar a geladeira (aparentemente não está tão preocupado com a história da Elie quanto eu ¬¬). Minutos depois ele volta, senta no sofá do meu lado e coloca entre nós uma bacia com salgadinhos e liga a televisão.


– Ainda tá grilado com o que a Melodia disse?

– Deu pra notar? ¬¬ - ele abre uma garrafa de refrigerante e joga metade em cada copo que botou na mesa de vidro da sala.

– Você se preocupa demais Haru! Ouviu a Melodia, a Elie vai ficar bem.

– Eu não estou preocupado com aquele garoto Música, eu só queria ficar perto dela, poder fazer parte dessa busca que ela tá fazendo, mas depois que eu fiquei de fora não posso fazer nada! É frustrante! ~ ~

– Provavelmente ela deve ter achado que você ficaria meio chateado. uu

– Chateado por quê? Só porque ela está procurando por um cara que nem deve estar mais lembrado dela? õõ

– ¬¬ É, por isso aí mesmo! – suspiro.

– Quer saber, acho que eu vou ficar de fora. – seguro o copo e começo a tomar o refrigerante – Vou dar um espaço pra ela.

– Eu tive uma idéia... – ele bebe o refrigerante – Antes de você ter esse ataque repentino de querer ir conversar com a Melodia...

– A idéia foi sua e vai por a culpa em mim agora? - -

– Ok, antes disso!... Eu tinha ligado pra Melodia e marquei de tomarmos café naquela lanchonete onde fomos da primeira vez que as conhecemos. Se eu disser que você vai, ela vai chamar a Elie, então vocês podem conversar.

– Certo, e se ela não quiser dizer nada pra mim?

– Ué, pensei que você fosse ficar fora disso. ^^

– ò ó E eu vou, não comece a me irritar!

– uu Certo, certo, eu já calei! – controla o riso.


No fim das contas, acabo concordando em me encontrar junto com esses dois pra conversar com Elie. (- - Admito que, de certa maneira, eu possa estar com ciúme sim, e me sinto mal justamente por achar que foi esse o motivo da Elie ter me tirado da jogada!) As garotas já tinham chegado quando entramos.


– Olá meninas! – Música fala na frente, sentando numa cadeira ao lado da Melodia – Vocês esperaram muito? ^^

– Só o suficiente pra terminar de tomar o café, não é Elie? ^^

– Ah é, é sim...! Podem sentar rapazes.

– Ótimo, vamos pedir café também então. – Música sorri.


Noto que Elie não parece tão contente. Na verdade, ela estava distraída antes de a Melodia chamar sua atenção (mas ela continua linda a ponto de poder me hipnotizar também, então eu não tenho argumentos! **). Sento ao lado dela e começo a tentar quebrar o gelo falando de assuntos diferentes. Elie está com o mesmo humor e sorri da mesma forma pra mim... Nada mudou.


– Tem um celular tocando. – aviso. Olhamos ao mesmo tempo os nossos.

– Ah, desculpa. É o meu! ^^ - ela atende – Sim, quem é? – a expressão dela muda – Já ficaram prontas?... Ok, eu vou buscar agora. Obrigada!

– Quem era Elie? – pergunto assim que ela desliga.

– Ah, era da biblioteca. A Xerox de um arquivo que eu pedi está pronta e eu tenho que ir pegar. – levanta – Sinto muito pessoal, até mais.

– Ei, espera Elie! – levanto junto e a sigo pra fora da lanchonete, ainda dando pra ver o Música esconder metade do rosto entre as mãos e a Melodia suspirar, se escorando na cadeira.

– Não posso esperar agora Haru, eu tenho que ir pegar as cópias.

– Então me deixa ir com você. Não posso?

– Melhor não. – consigo alcançá-la e seguro seu braço.

– Olhe, eu sei o que você está fazendo.

– Sabe? õõ Aquela Melodia fofoqueira!

– Antes que você mate ela, tem que saber que fui eu que pedi pro Música pra me acompanhar e insisti que ela contasse tudo! - -‘

– Então não está zangado comigo? ç ç

– ^^ Claro que não! Não tem como eu ficar zangado só por isso.

– Eu achei que iria ficar chateado quando soubesse que eu vou viajar.

– ^^ Mas é só uma viagem boba e... oo Você vai viajar?

– õõ É, mas você não disse que a Melodia tinha te contado tudo?!

– ò ó Não contou essa parte! Mas pra onde você vai?

– Eu vou voltar pra Hip Hop.


(No meio desta conversa, já estávamos atravessando as ruas e desafiando a morte entre os carros e outros veículos! oo) Por mais que eu tente pensar em uma boa forma de argumentar com isso, não encontro nenhuma! oo Elie, a MINHA Elie, vai viajar de volta pra terra natal e não me contou nada!


– Por que você quer voltar? Eu fiz alguma coisa?

– Não Haru, o problema não é você. É só que eu preciso descobrir mais do meu passado, saber mais sobre aquele garotinho, e eu não vou conseguir saber de quase nada estando aqui.

– Mas você já conseguiu a lista de estrangeiros! Não basta?

– Eu quero olhar a lista de estrangeiros de Hip Hop.

– Mas você não sonhou com ele dizendo que ia pra Ilha Garage? õõ

– É, mas vai que eu entendi errado! Não vou arriscar!


Entramos na biblioteca e ela pega a lista com a mulher. Saímos do lugar lendo os pedaços de papel e não encontramos um homem que bata com a idade da Elie. De repente ela tromba com alguém quando íamos dobrar a calçada, mas por sorte consigo segurá-la pelos ombros.


– ò ó Ei, olha por onde anda! – ela se irrita – oo Ham?

– Ora, olá. – quando levanto a cabeça pra ver com quem ela trombou, eu me deparo com o cara em quem eu quase dei uma surra no cassino semanas atrás – Mas que coincidência ver os dois juntos por aqui.

– É sim, muita coincidência. – sorrio secamente – Vamos Elie! – seguro a mão dela e a puxo sem muita força.

– Oh, esperem um pouco! Esqueceram isso. – ele recolhe uma das folhas que tinha caído no chão. Elie solta minha mão e volta.

– Ah sim, obrigada. – ela faz o sinal de que vai pegar a folha, mas ele desvia a mão e eu resolvo me aproximar.

– Espere aí, aqui tem o meu nome. – nós dois nos surpreendemos com o que ele diz – Essa é uma lista de estrangeiros?

– É!... – ela toma a folha – É que eu... Eu tava fazendo uma pesquisa. ^^’

– Sei... O meu nome é esse aqui no topo. – ele aponta.

– Ok, obrigada. – seguro a mão da Elie, mas ela não anda.

– Espera, aqui não tem a sua data de nascimento! – ela vira pra ele – Escuta, pode me dizer em que ano você nasceu?

– Foi no mesmo ano em que teve aquele acidente de avião em Hip Hop, lembra? – a última palavra me força a olhar com mais preocupação ainda pra Elie, mas ela não expressa nenhuma emoção de tristeza.

– Sim, eu me lembro... Obrigada. – ela sorri um pouco.

– Anda Elie, vamos. – ela me encara e concorda com a cabeça. Ainda dou mais uma encarada no loiro e começo a andar com a Elie agarrada no meu braço. Quando nós nos afastamos eu a encaro – Você está bem?

– Estou. – ela sorri e encosta a cabeça no meu ombro – Eu não gosto de pensar muito no que aconteceu, mas eu já superei.

– Quer que eu te leve pra casa? – ela concorda balançando sua cabeça e continuamos o caminho juntos do mesmo jeito.


Entro junto dela quando chegamos e vemos que nem Música ou Melodia voltaram. Está perto da hora do almoço, então Elie resolve preparar uma torta e me manda esperar em qualquer lugar. Sento na cadeira da mesa-de-jantar na cozinha mesmo e começamos a conversar. (** Confesso que eu me distraio fácil olhando cada movimento que ela faz enquanto mexe os ingredientes!)


– Haru, sabe que agora que eu pensei, aquele cara pode ser aquele garoto.

– O quê? Ah, desculpa Elie, o que você disse?

– ¬¬ Não estava prestando atenção, não é?!

– Claro que eu estava! Ouvi tudo! uu’

– Então me diz qual o tipo de torta que eu disse que ia fazer amanhã.

– Tá, você venceu, eu não prestei atenção!

– Eu notei. Você se distraiu com o quê?

– Com quem!... Foi com você. ^^ - sorrio, apoiando a bochecha no punho apoiado pelo cotovelo sobre a mesa.

– Ah, seu bobo! Pára de ficar me observando, eu fico sem graça!

– Sem graça é que você fica mais bonitinha mesmo! **

– ¬¬ O caso não é esse, você não estava me ouvindo! – dou uma tossida e ela suspira – uu Vou dizer de novo... Eu acho que o cara loiro com quem eu trombei pode ser o garotinho dos meus sonhos.

– Só porque ele nasceu no mesmo ano que você?

– Não tinha mais nenhum estrangeiro naquela lista que batesse Haru.

– Mas ainda sim, pode ser que eles tenham errado os nomes.

– Eu prefiro arriscar. Sei que ele freqüenta o cassino, vou ficar de olho e marcar um encontro com ele pra fazer algumas perguntas.

– Eu não confio naquele cara Elie! Não deixo você fazer isso! ò ó

– õõ Pára de ser tão ciumento Haru. Se eu não fizer isso, como vou saber a identidade daquele garoto?

– E por que você se importa tanto com ele? – levanto – Pode ser que ele nem lembre mais quem você é, mas agora você tem pessoas que te amam e se importam com você Elie! Nós vamos estar sempre ao seu lado.

– Eu sei. – ela pára de mexer a colher e me olha nos olhos – Eu também gosto muito de vocês, mas entenda Haru... Eu não posso continuar vivendo a minha vida assim, com medo de que a qualquer momento a minha doença faça com que eu me esqueça de todos, de você! Aquele menino foi a primeira pessoa que me fez desmaiar, e talvez se eu reencontrá-lo possa melhorar. Seria como fazer um antídoto do próprio veneno usado! uu – suspiro e segundos depois dou um sorriso, me dando por vencido.

– Tudo bem... Eu vou te ajudar a procurar por ele.

– ** Mesmo? Não vai mais me impedir?

– Não. ò ó Mas ainda não quero que vá ver aquele cara!

– Ai... - -‘ Haru... – ela vira o rosto de volta pra fôrma e eu aproveito pra agarrá-la por trás, dando-lhe um pequeno susto.

– Eu sei que meu ciúme pode ser um pouco obsessivo às vezes, mas é só porque eu não agüento nem imaginar que possa existir outra pessoa que, além de mim, tenha a permissão de te tocar como eu te toco... – apóio meu queixo no seu ombro – te beijar como eu te beijo... – beijo seu pescoço – e te amar!

– Certo Haru, eu já entendi, mas não faça isso! – começa a rir.

– Isso o quê? – finjo que não entendi e rio – Ah, isso! – mordo sua orelha.

– Ai! – ela torce a cabeça pro lado, vermelha – Faz cócegas!

– É a intenção! ^^ - esfrego o nariz no seu pescoço.

– Eu não vou conseguir terminar a torta nesse ritmo! ^^ – solto ela e tiro uma caixinha do bolso.

– Tenho um presente pra você. Fecha os olhos. – ela obedece, contente, e eu retiro um colar da caixinha, prendendo no seu pescoço. Pego um espelho pequeno encima da mesa e coloco em suas mãos – Pode abrir.

– Ah Haru, ele é lindo! – admira sorrindo – Um coração.

– Pensei em você na hora em que vi um vendedor oferecendo na rua. Tive que brigar com uns caras que também queriam levar pras namoradas! uu

– ^^ Você é um amor! – beija meu rosto e me abraça.


Pensando no que a Melodia disse sobre o colar que a Elie deveria estar segurando no sonho enquanto estava na cama de hospital, fiquei meio tenso em dar o presente, mas vendo o quanto ela está feliz acho que talvez deva ter sido apenas um sonho mesmo. (uu Imagino se estar vivendo tão feliz ao lado dela e dos outros também não seja um sonho...)


– “Um sonho do qual a gente pede pra não acordar, sendo que a realidade é pior... Mas mesmo que seja um, garanto que não há perigo de magoar a Elie, mesmo na realidade! Eu não a esquecerei e ela não me esquecerá, jamais!...”


Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Único Que Não Posso Esquecer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.