Santuário escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 19
Se reencontrando




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/230167/chapter/19

Ela voava pela noite fria, sentindo o coração oprimido só de pensar que aquela poderia ser sua última noite no Santuário. Olhando para baixo, ela via as luzes da cidade, imaginando que as pessoas pareciam nem se importar o que estava acontecendo com o seu Santuário. Os humanos eram assim mesmo. Só se importavam com um problema quando lhes afetava.


Mais adiante, um clarão fez com que ela voasse mais devagar e assim foi possível ver um edifício em chamas. As labaredas subiam até o céu e ela imaginou que ainda devia ter gente dentro daquele prédio.


– Espero que fiquem bem... que horror!


Embora quisesse ir embora, ela ficou ali olhando o desenrolar dos acontecimentos. Será que ninguém ia apagar aquele fogo?E se os bombeiros não pudessem chegar a tempo? Ela já havia combatido incêndios nas matas várias vezes e sabia que também seria capaz de combater aquele fogo. Mesmo estando cansada, ela ainda tinha alguma energia de reserva que era suficiente para pelo menos diminuir o incêndio.


“Mas esse não é meu trabalho. Meu trabalho é proteger a natureza e esse prédio é uma construção humana.” Pensando naquilo, ela quis ir embora e não teve coragem. Seria justo deixar aquelas pessoas morrerem só porque aquilo não era seu trabalho?


Um homem entrou dentro do prédio e saiu apoiando uma pessoa que andava com dificuldade. Olhando melhor, Nina viu que ele não era bombeiro e portanto, não era trabalho dele enfrentar as chamas para salvar as pessoas. No entanto, ele tinha feito aquilo mesmo assim e ela ficou pensando se era certo deixar de ajudar alguém só porque aquilo não fazia parte do seu trabalho.


Ela lembrou-se de Cebola e sabia que sua antipatia era porque ela não tinha ajudado a irmã dele. Ela não tinha feito aquilo por maldade e sim porque sabia que seus esforços seriam melhor aproveitados se combatesse a inundação, ajudando assim um maior numero de pessoas. Mas e se as circunstâncias fossem outras? Não havia nenhum desastre natural ali exigindo sua atenção imediata e mesmo que houvesse, seria justo deixar tantas pessoas morrerem de foram tão cruel apenas porque não era seu trabalho ajudá-las?


Nina sempre acreditou que fosse seu trabalho proteger o planeta. Os humanos também faziam parte daquele planeta, também eram parte da natureza, não eram? Também não era certo protegê-los quando necessário? Ela não pretendia deixar seu trabalho de lado para cuidar só dos humanos. Seu trabalho ainda era proteger a natureza. Por outro lado, não era crime nenhum também ajudar as pessoas de vez em quando ao invés de ignorar e deixá-los sofrerem apenas porque não era seu trabalho cuidar delas.


Sem pensar duas vezes, ela foi até o topo do prédio e se concentrou.Um facho de luz saiu do seu corpo e incidiu sobre as chamas, fazendo com que o fogo diminuísse até praticamente acabar. Mesmo não tendo conseguido extinguir as chamas, ela sabia que seu esforço permitiria que aquelas pessoas tivessem mais tempo até a chegada dos bombeiros. Seu corpo foi perdendo as forças e ela sentiu que estava caindo. Ela já estava cansada e aquilo tinha terminado de exaurir suas forças. Antes de perder os sentidos, ela sentiu alguém lhe segurando e um suave cheiro cítrico invadiu suas narinas. Depois tudo ficou escuro.


Ângelo segurava Nina nos braços, sentindo-se culpado por tê-la deixado passar por aquela situação.


– Não se sinta culpado. Uma lição importante precisava ser aprendida.

– Você? O que... ei, peraí! Que lição ela precisava aprender?

– Ela tem excelente coração, não vou negar isso. Mas essa menina precisa entender que nem tudo se resume a fazer somente nosso trabalho e ignorar todo o resto em nome do nosso dever. As vezes teremos que extrapolar um pouco.


Ângelo olhou para ele com a boca aberta tentando processar o que estava acontecendo. Gabriel se divertia com a confusão do rapaz que parecia totalmente confuso com tudo aquilo. Segundos depois, ele despertou daquele mar de confusão e perguntou ao superior.


– O que a D. Morte me disse ontem, sobre anjos poderem amar...

– Sim?

– Ela disse uma coisa, mas você falou outra a algum tempo atrás...


Ele esfregou a nuca com uma das mãos, um tanto sem jeito.


– Digamos que eu falo para as pessoas o que elas precisam ouvir. Se eu tivesse dito a verdade, você não teria aprendido nada.

– Então eu posso mesmo amar?

– Claro. Parece que você aprendeu sua lição.

– Eu aprendi sim e tenho certeza de que ela também aprendeu. Bem... melhor levar ela embora, você sabe. Um banho no lago vai resolver isso.

– Claro. Vá logo. Vocês têm assuntos importantes para conversar, certo? – ele falou lhe dando uma piscada marota, deixando-o com o rosto corado.


__________________________________________________________


– Cebola, você tem certeza?

– Claro! A gente vai fazer isso enquanto você fica esperando na sua casa. Amanhã você reúne o pessoal pra gente ir até a prefeitura e entregar os documentos.

– O que te fez mudar de idéia?


Ele olhou para o chão, arrastou um pé, raspou a garganta e falou, meio sem jeito.


– Hã... em parte porque eu não tinha entendido que a fada do mato realmente tinha ajudado a Mariazinha, só que de outro jeito. E também porque eu não quero te deixar enfrentar isso tudo sozinha, sabe...


Ela abriu um grande sorriso e tomando o rosto dele entre as mãos, lhe deu um beijo suave na boca deixando o rapaz sorrindo de orelha a orelha.


– Você é um amor, sabia? Então tomem cuidado vocês dois, viu? Vou ficar esperando noticias.

– Xá com a gente! – Cascão falou levando o amigo, que ainda estava abobado e rindo a toa.


Quando os dois foram embora, ela voltou para dentro de casa feliz por aquela picuinha entre os dois ter acabado. Pelo menos por enquanto.

__________________________________________________________


Ao chegar perto do lago, Nina ainda estava desacordada em seus braços. Ele escolheu a outra margem que tinha menos movimento e assim os dois podiam ficar um tempo a sós. Como ela estava desacordada, ele entrou no lago junto com ela até ficar com a água batendo na cintura e mergulhou o corpo dela com cuidado. A pele dela brilhou suavemente, mostrando que estava absorvendo energia da Terra e enquanto ele a segurava com um braço, com a outra mão ele pegava um pouco de água e passava no seu rosto para ajudar a reanimá-la.


Pouco depois, os olhos dela se abriam e logo brilharam ao se deparar com dois olhos azuis que a olhavam com expectativa.


– Ângelo! O que aconteceu?

– Você desmaiou depois que combateu o incêndio daquele prédio e eu te trouxe pra cá. Olha, foi mal você ter sido forçada a fazer aquilo...

– Eu não fui forçada. Fiz porque quis fazer e não me arrependo. Ajudar as pessoas também é gratificante.

– Você se sente melhor agora?

– Bem melhor. Esse lago é realmente fantástico. Aposto que até você deve estar se sentindo melhor também.


Ela tinha razão. Ângelo notou que ao entrar no lago, até ele tinha se sentido mais forte. Ou seria o sentimento dele por ela que estava lhe dando aquela força? Como a ninfa estava melhor, ele a ajudou a se levantar, deixando-a ficar de pé na frente dele. Ainda assim ele não deixou que ela se afastasse, ainda mantendo-a em seus braços.


– Er... obrigada por ter me trazido até aqui...

– Imagina. Eu ainda pretendo te proteger, esqueceu? – ele falou afagando o rosto molhado dela, fazendo com que suas faces ficassem coradas. Por que ele estava tão diferente? Mesmo gostando da situação, ela ainda ficou hesitante, esperando que a qualquer momento ele fosse recuar sob o pretexto de que aquele sentimento tinha que ser deixado de lado em nome do dever.


Ele percebeu que ela estava insegura e imaginou que era receio por não saber que eles já estavam livres para amar. Estava na hora de falar aquilo para ela. Os braços dele a apertaram ainda mais, deixando o corpo dela totalmente junto ao dele. Nina tremeu e ficou olhando para ele em expectativa, mal acreditando no que estava acontecendo.


– Ângelo, eu não sei se é boa idéia...

– Desde quando amar não é boa idéia?


“Amar? Então ele também me ama!” ela pensou entre a alegria e angustia. Se para viver aquele sentimento ele tivesse que se sacrificar, então ela não queria.


– Você ainda tem seu dever e eu não quero atrapalhar.


Ao invés de perder tempo argumentando, ele decidiu tomar outro caminho. Sem nenhum aviso prévio, ele beijou seus lábios delicadamente e com ternura, fazendo com que o corpo dela tremesse ainda mais e um suspiro escapasse dos seus lábios. Nina fechou os olhos e deixou a sensação dos lábios quentes dele tocando os seus levá-la para um outro mundo onde não existiam problemas, deveres e nem preocupações.


Ela abraçou o pescoço dele, entrelaçando os dedos nos cachos macios dele e Ângelo apertou o corpo dela com força e mudou o ângulo do beijo, fazendo com que os lábios dela se abrissem para dar passagem a sua língua. Mais uma surpresa, já que ela não esperava que ele fosse capaz de fazer algo parecido.


Nem ele mesmo sabia como conseguia fazer aquilo e também não se preocupou. De certa forma, parecia natural e instintivo. Era a primeira vez que ele sentia o sabor dos lábios de uma garota e os dela eram a coisa mais doce e suave que ele tinha provado em sua vida. Sua língua brincava com a dela, que também correspondia aos seus movimentos. Enquanto um braço apertava o corpo dela contra o dele, a outra mão afagava seus cabelos molhados.Várias sensações novas tomavam conta do seu corpo e ele não conseguia descrever nenhuma delas, então apenas se deixou levar. Mesmo estando dentro d'água e sendo inverno, um forte calor percorria seu corpo de cima abaixo ao mesmo tempo que ele sentia arrepios agradáveis.


Tudo nela o inebriava: a textura da sua pele, o sabor dos seus lábios, o calor que vinha do seu corpo e até o som da sua respiração que também estava ofegante.


Quando eles precisaram de ar, Ângelo continuou beijando suavemente seu rosto, até chegar a uma das orelhas que ele também beijou enquanto sussurrava palavras de amor no ouvido dela, fazendo-a se derreter em seus braços.


– Ângelo... nós não podemos... – ela falou com muita dificuldade.

– Sim, nós podemos e devemos.

– Mas como...

– Shhhh... só me beija de novo.


Apesar de as águas do lago ter recuperado suas forças, ela não teve como recusar aquele pedido e se deixou levar mais uma vez, desistindo de pensar no que estava acontecendo.


__________________________________________________________


Ela olhava o casal de longe, feliz por eles terem se resolvido.


– Às vezes acho que você está ficando com o coração mole...

– Nhém-nhém-nhém! Há séculos você vem me falando isso.


Gabriel acabou dando uma risada ao ver que ela tinha mesmo razão. Era impressionante ver como D. Morte não tinha endurecido com o tempo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Santuário" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.