Desolation escrita por Mandy-Jam


Capítulo 1
Choque


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai o primeiro capítulo.
Dedico á Nina Castro, que me encheu a paciência até eu postar essa fic. Valeu, Nina! Amo você.
Boa leitura.



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Meus olhos estavam grudados nele. Transferia toda minha esperança para seus movimentos desesperados e pouco precisos, enquanto ele corria pelo meio da floresta como se sua vida dependesse disso.

E de fato dependia.

Não demoraria muito para ele parar, eu sabia. Ia ficar cansado, e seu próprio corpo o levaria ao chão.

Como se eu previsse o futuro, aquilo realmente aconteceu. Ele tropeçou em seus próprios pés e caiu. Rapidamente olhou em volta enquanto se colocava de joelhos, e notou que continuava sozinho. Não completamente, mas por alguns minutos sim.

O suor de seu rosto escorreu até suas bochechas. Ele limpou o rosto com as mãos sujas, mãos que tremiam de medo e adrenalina. Os mesmo sentimentos levavam seu coração a bater em um ritmo anormal, alto e forte. Também em desespero.

- Vai... Vai embora. – Murmurei tensa.

Ele não ouviu. Nunca ouviria.

Não ouviu também quando ela se aproximou por trás dele, e com um movimento rápido cortou sua garganta para vê-lo se debater em desespero por sua vida. Mas não havia mais o que fazer.

Um sorriso misturado á várias emoções surgiu no rosto dela. Felicidade, alívio, alegria, satisfação. Mas por cima de tudo, alívio.

O canhão disparou quando o corpo dele caiu no chão sem vida, sujando as folhas e galhos secos de vermelho escuro. A garota jogou sua cabeça para trás e deixou seu sorriso aumentar ao ouvir as palavras ecoarem no ar.

Parabéns, Susan Spring. Você é a vencedora dos Jogos Vorazes!” Anunciou um dos idealizadores dos Jogos.

Desviei meu olhar um tanto insatisfeita, mas pude notar que algumas pessoas á minha volta comemoravam.

- Eu sabia que ela ganharia, desde que conseguiu roubar a mochila daquela carreirista. – Comentou uma de minhas amigas. Ela deu uma risadinha triunfante e abaixou-se para fazer carinho em sua poodle verde – Não é mesmo, Beth? Nós só apostamos nos vencedores.

- Eu achava que ele ganharia... – Murmurei desapontada – Achei que ele tinha treinado bastante para isso.

- Até parece que aquele garoto do Distrito 5 ia conseguir. Nem patrocinadores ele devia ter! – Riu ela em deboche. Não quis ficar muito tempo para discutir sobre o assunto, por isso fui embora depois de uma breve despedida.

As ruas da Capital estavam em festa, como sempre estão. Estavam celebrando a vitória de um tributo na mais nova edição dos Jogos Vorazes. Aquela tinha sido uma disputa bem acirrada, como na maioria dos anos é.

Os adultos bebiam e riam em suas roupas coloridas, enquanto apontavam para os telões espalhados pelo alto dos prédios e faziam comentários sobre os flashbacks das melhores cenas.

Algumas mortes passaram de novo, mas nenhuma delas parecia realmente incomodar ninguém. Eram divertidas ou até mesmo boas, se quem morreu era o oponente do tributo no qual você apostou.

Eu caminhei até meu prédio, entretanto não fiquei com as imagens das mortes em minha mente. Por que ficaria? Via aquilo todos os anos, e devo admitir que ficava um tanto repetitivo com o passar do tempo.

Aquela era a 14ª edição dos Jogos que eu vira em minha vida de 14 anos de idade. Não lembro as primeiras, é claro, mas ainda carrego nas memórias a primeira morte que eu vira na tela grande.

Era uma garota do Distrito 10. Lembro que ela era parecida comigo. Tinha o mesmo cabelo loiro, os olhos claros, e as pequenas pintinhas no rosto. Eu tinha 6 anos, e ela 12, mas poderia se passar por uma menina de 8 se quisesse.

Ela estava sozinha em uma caverna. Com medo, obivamente. Minha mão olhara para mim, e sorrira dizendo que talvez ela pudesse ganhar. Que os Jogos tinham os resultados mais improváveis ás vezes, mas hoje eu tenho certeza de que é mentira.

Observei a garotinha sair da caverna quando alguém o tributo de seu Distrito chamou seu nome. “Gabriele, aqui!” foi o que ele disse. Ela obviamente não queria ficar sozinha, por isso correu o mais rápido que pôde em direção ao lado de fora da caverna.

Só precisou colocar um pé para fora, para ele lançar uma faca e ela rodar no ar até cravar-se no crânio dela.

Foi como se tivessem jogado uma faca em mim. Era como se eu fosse ela.

Comecei a chorar desesperadamente, com medo do que tinha visto, e minha mãe me abraçou. “Ray, calma. Isso acontece.”.

Acontece mesmo.

Sobre certas coisas, eu nunca mais tive dúvidas.

Primeiro, 23 tributos vão morrer.

Segundo, a maioria deles é magra e fraca. Imagino que nos Distritos eles levem a noção de modo bem ao estremo, pois todos eles têm um biótipo perfeito para qualquer roupa. Enquanto nós surtamos em relação ao peso, eles parecem nascer daquele jeito perfeito.

Terceiro, e não menos importante... A melhor parte dos Jogos é comemorar a vitória de um tributo. Saber que ele conseguiu escapar com vida, o torna um verdadeiro herói. Ou heroína no caso.

- Rayssa? – Perguntou minha mãe abrindo a porta de casa. Eu tinha acabado de sair do elevador, por isso fui pega de surpresa – Voltou da aula mais cedo?

Minha mãe usava um de seus ternos rosa choque, combinados á uma maquiagem roxa. Estava muito bonita, por isso sorri para ela.

- Eles nos liberaram mais cedo para ver os Jogos. Fizeram isso a semana toda, mãe. – Relembrei ela.

- Ah, é verdade. Filha, eu vou ter que ir trabalhar mais cedo. Volto para o jantar, certo? – Disse ela ajeitando o cabelo. Minha mãe foi embora, e eu entrei em casa ainda me perguntando o que eles faziam para serem tão magros...

XxX

Eu estava morrendo de fome, mas não podia ir embora. De jeito nenhum.

Grande parte das pessoas doo Distrito 5 estavam na praça da cidade olhando para a grande tela que mostrava as cenas dos jogos. A garota do Distrito 3 tinha acabado de matar Stephen.

A família dele teve que voltar para casa carregando a mãe, que tinha desmaiado ao ver a cena. Todos tinham lágrimas nos olhos, mas nenhum de nós teve coragem de pronunciar nenhuma palavra.

Eu estava chorando também, assim como muitos outros, mesmo não sendo da família. Não gostava dos Jogos, tanto quanto não gostava da Capital. Como podiam fazer algo do tipo conosco? Por causa de uma antiga rebelião eles tinham o direito de destruir famílias?

Não era justo, mas não podíamos fazer nada.

- Atenção! – Exclamou um dos pacificadores. Uma grupo deles se aproximou, e nós recuamos com medo do que fariam. O que parecia ser o chefe, pegou uma prancheta e citou alguns nomes. Dentre eles... O meu – As pessoas selecionadas deverão nos acompanhar imediatamente.

Três garotos deram passos fracos em direção á eles, e eu fiz o mesmo. Nós estávamos famintos, cansados, e abalados demais para fazermos qualquer coisa, mas eles nos empurraram em uma direção escolhida.

Não andávamos tão rápido quanto eles, por isso em alguns minutos sua paciência se esgotou. Um garoto que estava mais para trás foi puxado para um canto e surrado pelos guardas. Nós tentamos não olhar e seguimos em frente o mais rápido que conseguimos.

Mesmo assim, pude notar que ele fora arrastado pelo chão até onde estávamos antes e jogado para a frente.

- Levanta! – Exclamou um dos guardas dando a ordem e um chute nas costelas. Eles tossiu um pouco de sangue e colocou-se de pé com dificuldade. Enquanto isso o chefe no acompanhava, mas acabou parando para ver o resultado.

- Parem. – Disse ele quando os guardas iam bater nele novamente. Ele fez um gesto com a cabeça, enquanto o garoto continuava a tossir sangue – Levem ele para a ala especial. Ele não vai servir mais.

Os guardas agarraram o garoto, que tentou se debater inutilmente, e o levaram para longe. Quando alguém era levado para “A Ala Especial” nunca mais voltava. Como o Distrito 5 era responsável pelas experiências genéticas e mutações, havia grandes rumores sobre o que acontecia lá.

Uns diziam que utilizavam todas as partes de seu corpo para montar uma espécie de monstro, que serviria como arma caso alguém se rebelasse.  Outras diziam que eles faziam testes com você. Tentavam mudar a cor dos seus olhos com efeitos de substâncias químicas, ou tentavam modificar a composição de seus ossos.

Fosse como fosse... Ninguém nunca saiu com vida de lá.

Nós, entretanto, fomos levados para outro lugar. Era uma construção de três andares que tinha um ar gélido e sombrio. Entramos pela porta, e fomos obrigados a sentar em cadeiras de madeira que estavam distribuídas na sala de espera.

Os pacificadores pararam na porta e o chefe deles levou um dos garotos para dentro. Olhei para o outro garoto, o único que tinha sobrado. Ele parecia tão tenso quanto eu, e talvez até um pouco mais.

Ele me conhecia, e eu o conhecia.

- Bia... – Murmurou ele vendo se os pacificadores o mandariam ficar em silêncio. Nada aconteceu – Você sabe o que é isso?

- Não sei, Rhamon. – Respondi em um murmuro também.

Ele tinha cabelo preto e usava óculos precários, os melhores que conseguiria comprar, para poder enxergar melhor o rosto das pessoas. Eu deixei meu corpo afundar na cadeira, e ninguém falou mais nada.

O garoto que tinha entrado foi mandado embora, e logo Rhamon foi chamado para dentro. Ele saiu depois de longos minutos, mas não disse nada para mim. Só passou com a cabeça baixa e os olhos fixos no chão.

- Beatriz Sampaio. – Chamou o chefe dos pacificadores, e eu tive que levantar para ir.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Espero por reviews. Críticas, opiniões, dúvidas, qualquer coisa.
Obrigada por lerem, e até o próximo capítulo.



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