En, to, tre séculos se passam.

En, to, tre milhares de pessoas perdem suas vidas.

A neve cai silenciosamente por estas paisagens, criando esta monótona rotina.

Se repetindo durante todos esses anos.

“Jeg elsker dig.”

Quantas vezes você já pronunciara essas palavras? Førti-fem ganger.

Seus dedos macios, acariciando minha face, meus cabelos, meu corpo.

“Du er min.”

Você sussurra rente ao meu ouvido, provocando um calafrio cruel percorrer-me a espinha. Suas mãos cálidas deslizam por meu tronco, abdômen e coxas, fazendo com que minha pele gélida experimentasse uma sensação de ardência.

Mas você é um mentiroso. Suas palavras nada de verdades possuem. São mentiras, que fizeste a mim.

To, tre, fire vezes.

Fem, seks, sju mentiras.

Até quando irás continuar com este humilhante jogo? For alltid?

Eu não pertenço-te. Eu não lhe devo minha força.

“Du er min. Evigt.”

As cicatrizes dançam por minhas costas alvas. Estas já não hão de sangrar, mas deixam a sensação do líquido escarlate escorrendo por suas fendas. Suas mãos passeiam por elas, e por entre as lágrimas consigo ver seu rosto.

Seria arrependimento ardendo em seus olhos anis? Kanskje.

Uma noite sem luar, um grito histérico cortando a calmaria da penumbra. Você aos meus pés, e meus olhos fixos em seu rosto.

Åtte, ni, ti lágrimas a rolar.

Elleve, tolv, tretten batimentos do coração.

“Farvel.”

Seis simples letras, ditas em hesitantes dois milésimos.

Fjorten, femten, seksten passos na neve acumulada sob meus pés.

O rosto virou-se a quarenta e cinco graus exatos. E de soslaio, pude vê-lo erguer a mão.

Seria para deter-me? Impedir-me? Ou era um simples aceno? Jeg har aldri kjent.

Quatro séculos e noventa e oito anos.

Sytten, atten, nitten arrependimentos.

E durante todo esse tempo, as palavras que sufocam-me a garganta não foram ditas nenhuma das vezes.

E que diferença faz mais um coração dilacerado, em meio há tantos e tantos outros?

Absolutt ingen.