Os três homens que apareceram na porta vieram em minha direção e me encurralaram. Um deles me deu um soco na boca, outro um chute no estomago me fazendo cair de quatro com a boca sangrando e a mão no estomago. Snow ria como se estivesse assistindo um filme de comédia.

– Patético... - ele falou sem conter a risada.

Vi Mags saindo da sala com cara de medo para não ver. O terceiro brutamonte apontou a arma e andou até a minha direção. Eu estava de joelhos no chão. Ele encostou a arma na minha testa e me olhou.

– Vai querer brincar ainda? – o homem me olhava com raiva.

– Você não tem coragem pra fazer isso. – provoquei desafiando ele.

– É uma pena... Olha pra lá. – disse o homem apontando pra um espelho que tinha na parede ao lado. – Dê adeus pra esse rostinho bonito. – ele segurou minha cabeça virada para o espelho.

Naquela hora, eu estava com medo e sabia que morreria. Fechei os olhos e tudo o que eu passei na minha vida inteira veio na minha cabeça e inclusive o que eu passei com a Katniss. Escutei o “clack” do gatilho e me preparei. Abri os olhos e me olhei no espelho pra onde o homem segurava minha cabeça virada. Olhei a imagem do homem que de repente caiu atrás de mim e atrás dele, Haymitch tinha atirado. Levantei rápido e peguei minha arma do chão, mas o outro homem deu um tiro em minha mão. Parti para cima dele na luta corpo a corpo. Ele era maior que eu, isso eu não podia negar, mas mesmo assim, pulei nas costas dele e bati na sua nuca com a arma que Haymitch jogou pra mim. Briguei com o cara que me deixou várias marcas enquanto Haymitch brigava com o terceiro homem. Matamos todos os homens e finalmente só sobrou Snow. Me levantei e peguei minha arma do chão. Ainda fraco caminhei até ele e escutei alguém entrar pela porta. Era Mags com uma faca em uma das mãos.

– Não dê mais nenhum passo. – disse ela se aproximando de mim me empurrando contra a parede.

– Me solta! – disse enquanto ela passava a faca no meu peito fazendo dois grandes cortes em mim. Empurrei-a e Haymitch a segurou, fazendo ela parar de se mexer.

– Acho que você não previu isso né Presidente? - perguntei rindo dele e chegando mais perto encostando a arma em sua testa.

Puxei o gatilho da arma e a cabeça de Snow explodiu. Foi horrível, fiquei com o sangue de Snow na minha roupa, mas ele estava finalmente morto. Minha camiseta branca estava suja com o sangue dos cortes que Mags havia feito em meu peito. Me agachei no chão, larguei a arma, coloquei os cotovelos nos joelhos e as mãos na cabeça. Respirei aliviado e vi Haymitch vindo até mim.

– Acabou garoto. – ele colocou a mão no meu ombro e eu levantei.

Saímos da casa eu, Haymitch e Mags. Entramos na van machucados e eu com sangue na parte do abdômen e peito.

– Snow está morto? - perguntou Johanna tentando sair do abraço de Finnick e eu assenti com a cabeça. – Annie... Controla seu homem, por favor.

– Controla o seu! - falou Annie que tentava se desvencilhar dos beijos e carinhos de Cato.

– Cadê o Gale? - perguntou Katniss olhando de um lado para o outro.

– Olha Kat... - tentei falar delicadamente com ela, mas o ciúme estava me consumindo. - O Gale morreu na arena.

Ela olhou pra mim por um momento como se eu tivesse tirado o doce de uma criança. Os olhos acinzentados começaram a ficar marejados e não era por mim, era por um morto.

– Gale... Meu Gale está morto... - abracei ela segurando as lagrimas, minha Kat não me amava mais, amava um morto.

– Shhhhh, vai ficar tudo bem... - falei afagando seus cabelos e dando um beijo na sua cabeça.

– Como vai ficar tudo bem? Gale está morto! – Katniss começou a chorar de uma forma incontrolável. – Como?!

– Katniss, eu não sou o cara certo pra... Explicar... Isso... – minha voz começou a falhar por conta do aperto que insistia em aparecer na minha garganta.

– Meu corpo dói Peeta... – a voz de Katniss estava cada vez mais fraca e me lembrei que ela, Finnick e Cato estavam totalmente machucados.

– Haymitch, temos que ir mais rápido. – apressei Haymitch que dirigia com cuidado por causa da escuridão que estava do lado de fora.

Haymitch dirigiu o mais rápido que pode e então chegamos na Capital. Fui com Katniss, Cato e Finnick para o hospital com urgência. Eles foram para os quartos para serem cuidados e eu voltei para o prédio. Entrei para o meu quarto, precisava ficar um tempo sozinho. Entrei no banho e tirei todo o sangue do meu corpo, os cortes no meu peito estavam grandes e fundos, não paravam de sangrar. Sai do chuveiro, me sequei e sujei a toalha. Coloquei uma calça de moletom e me deitei. Dormi logo, estava cansado e iria ver Katniss cedo na manhã seguinte.

POV Katniss

Acordei num quarto de hospital e estava cheia de curativos e com um dos braços enfaixado. Olhei para os lados e meus dois braços tinham tubos enfiados neles. Bufei e voltei a fechar os olhos. Não sei por que, mas alguma coisa estava me deixando irritada que nem eu me aguentava. Ouvi a porta abrir e uma enfermeira entrou com uma bandeja de café da manhã nas mãos.

– Vamos comer? – a enfermeira se aproximou colocando a bandeja no meu colo.

– Não estou com fome... – disse secamente.

– Tudo bem, vou deixar aqui... – disse ela colocando a bandeja na mesinha ao lado da cama.

– Eu-não-estou-com-fome! – disse pausadamente e irritada.

A moça saiu do quarto me deixando sozinha e bateu a porta. Fiquei um tempão

sozinha e escutei a porta abrir de novo. Era a minha médica e estava junto com Peeta.

– Finalmente acordou senhorita. – disse minha médica. O nome dela era Coin.

– Bom dia... – disse mais animada, eu gostava dela.

– Hoje nós vamos fazer exercícios pro seu braço e memória. – disse ela fazendo anotações na prancheta que ela carregava para todos os lados.

– Ele vai ajudar? – perguntei apontando para Peeta com a cabeça que estava parado no vão da porta.

– Sim... Ele vai ajudar com exercícios para a memória. – Coin me ajudou a levantar da cama.

– Olá... – disse para Peeta sorrindo que me retribuiu o sorriso.

Saímos do quarto para a parte da fisioterapia. Coin explicou todos os exercícios para Peeta, ela teria que sair e ele ficaria comigo fazendo os exercícios.

– Os exercícios são esses. – Coin explicava tudo para Peeta enquanto eu estava sentada num banco. – Ela tem que fazer todos.

– Pode deixar, ela vai fazer. – Peeta olhou e piscou pra mim.

Coin foi embora e Peeta veio até mim me puxando pela mão para eu começar a fisioterapia. Eu tinha que levantar pesinhos com o braço machucado. Cada vez o pesinho era mais pesado. Peeta pegou o mais pesado de todos e estendeu pra mim.

– Solta. – disse para ele soltar o peso em minha mão.

– Vou soltar... Agora! – ele soltou o pesinho e eu não consegui segurá-lo por um segundo. Gargalhamos juntos. – Você pode parar agora. – ele disse.

Parei com os exercícios e fomos caminhando até o jardim do hospital. Era um jardim muito grande com muitas árvores. Sentamos num banco grande. Ficamos em silêncio só apreciando o vento fresco naquele dia de calor. Peeta pegou minha mão e colocou em seu coração.

– Sente isso Katniss? - fiz que sim com a cabeça meio confusa. – É meu coração quando estou com você. – ele olhou pra mim e colocou a mão sobre o meu coração. – E o seu fica assim por mim.

– Não Peeta, é pelo Gale. – tirei a mão de seu peito.

– Você não se lembra de nada, não é? – Peeta me perguntou pegando minhas duas mãos.

– Não... Quase nada. – respondi sinceramente.

– Eu te ajudo com isso. – Peeta disse e beijou as minhas mãos.

Por algum motivo esse gesto me causou umas coisinhas esquisitas na barriga, mas não sabia o que era. Peeta me olhava como se estivesse vendo a coisa mais bonita de todas. Ele foi chegando mais perto de mim e acariciou meu rosto tirando os fios da franja que caiam em meus olhos. Peeta me olhou por um tempo e encostou seus lábios nos meus. Peeta abriu a boca pedindo passagem com a lingua e não sei o que houve comigo, ficamos nos beijando e eu gostei. Peeta se afastou de mim e voltou a me olhar esperando alguma resposta que eu não dei.

– Katniss, você se lembra de alguma coisa? - Peeta perguntou ainda acariciando meu rosto e me olhando profundamente nos olhos.

Aqueles olhos azuis profundos fazia alguma coisa chacoalhar dentro de mim, eu já tinha visto-os antes, em algum lugar, em algum sonho, mas não conseguia me lembrar. Esforcei minha mente ao máximo e algumas coisas apareceram na minha cabeça, como se fossem cenas de filmes cortadas.

– Lembro... – disse fazendo mais esforço para continuar a lembrar.

– De que Katniss?! Lembra de que? - ele perguntou me olhando com aqueles enormes olhos azuis.

– De um elevador... – fui relacionando as coisas até que me lembrei de uma coisa bem pequena. – Nós dois parados nele e nós estávamos nos beijando?! - perguntei confusa.

– Sim! Sim! Você se lembrou Katniss! – Peeta abriu um sorriso enorme.

– Então nós somos namorados? – perguntei ainda confusa.

– Sim Katniss, eu te amo e você me ama. – disse Peeta ainda sorrindo.

– Mas e o Gale? – perguntei e vi o sorriso dele desaparecer.

– Vocês nunca ficaram, eram só amigos... Pra falar a verdade, ele ficou com a sua irmã. – explicou Peeta.

– Irmã? Eu tenho uma irmã? – minha cabeça fez um nó gigantesco.

– Sim, ela é mais velha e já ganhou uma edição dos Jogos Vorazes.

– E eu gosto do cara que a minha irmã ficou? – tentei entender melhor.

– Você não gosta dele... A Capital apagou a sua memória e colocou outra no lugar... – Peeta bufou. – É difícil de entender...

– Então me explica... – peguei sua mão e ele olhou pra mim.

– Então vamos lá. – ele sorriu torto. – Você é a irmã mais nova da Annie que já ganhou uma edição dos Jogos Vorazes. Você mora no Distrito 12 assim como eu, com seus pais adotivos Beetee e Wiress. – olhei para ele boquiaberta. - Sim, sua mão biológica largou você e a Annie com eles. Nós éramos amigos desde pequenos, mas brigamos e ficamos até esse ano sem nos falar. Teve a colheita... – Peeta estava me explicando tudo, mas eu não me lembrava do que era a Colheita.

– Colheita? – perguntei confusa.

– Colheita é aonde todos os moradores dos distritos vão pra ver quem é o escolhido do ano para os Jogos Vorazes, mas esse ano foi o terceiro Massacre Quaternário. Eu, você, Gale e Annie fomos escolhidos. Entramos na arena e conhecemos Finnick, Cato e Johanna que estão com a gente até hoje. Conseguimos sair os seis da arena.

– Nossa! – eu estava entretida com a história.

– Onde eu tinha parado? – perguntou Peeta divertido com meu interesse.

– Ficamos até esse ano sem nos falar... – sorri.

– Ah tá. – ele sorriu torto. – Fomos para a Capital, nos beijamos no elevador e uma noite antes de entrarmos para a arena, nós transamos. – ele parou de falar e começou a rir.

– Nós fizemos mesmo isso? – perguntei tentando me lembrar.

– Sim... Duas vezes... – Peeta não conseguia conter o sorriso.

– Duas? – perguntei sorrindo.

– Sim, a outra foi quando nós saímos da arena e eu te levei pra jantar. – ele piscou.

– Você me levou para jantar? Que romântico! – dei um tapinha em seu ombro. – Me fala do que eu gosto.

– Você disse que o cozido de carneiro é a melhor coisa que você já comeu. Sua cor preferida é verde. Você dorme com a cortina aberta porque se esquece de fechá-la. – Peeta sorriu enquanto falava e seus olhos brilhavam. – E você tem um jeito engraçado quando está mentindo, você começa a repetir as palavras e quando está com vergonha suas bochechas ficam vermelhas.

– Você sabe tudo isso sobre mim? – perguntei passando as mãos em seus cabelos loiros.

– Cada detalhe. – ele olhou nos meus olhos.

– Eu gosto dos seus olhos... – admiti e senti minhas bochechas esquentarem como disse Peeta.

– Eu gosto quando você fica assim... – Peeta pegou minhas mãos.

– Assim como? – me fiz de desentendida.

– Com as bochechas vermelhas. – Peeta se aproximou.

Sorri sem graça e Peeta me beijou. Os beijos dele eram bons, eu gostava.

– Vi que se lembrou bem rápido das coisas senhorita Everdeen... – Coin chegou interrompendo nosso beijo. – Temos que ir agora, você vai comer, tomar os remédios e descansar. Podem se despedir, eu não vou olhar... – brincou ela virando de costas nos fazendo gargalhar.

Peeta me deu um selinho e se levantou do banco junto comigo.

– Te vejo amanhã? – perguntei animada.

– Sim... Até amanhã Katniss... – Peeta começou a andar para ir embora.

– Peeta! – gritei e corri até ele para abraça-lo. – Eu quero me lembrar das noites... – sussurrei em seu ouvido.

– Eu vou te fazer lembrar... – Peeta sussurrou dando risada.

Peeta foi embora e eu entrei para o hospital. Voltei para meu quarto e nele estava Cato e Finnick. Eles estavam bem, tirando os curativos, estavam ótimos.

– Olha a Garota Quente aí! – Cato e Finnick levantaram e me abraçaram.

– Cuidado! – disse quando um deles encostou no meu braço enfaixado. Eu olhava para cima para falar com eles. Era como uma formiga falando com duas girafas.

– Como vocês lembram disso? – perguntei confusa.

– Annie me ajudou... – disse Finnick.

– E a Johanna te ajudou? – perguntei olhando para Cato.

Ele assentiu com a cabeça e voltaram a sentar no grande sofá que tinha no quarto.

– Vocês já foram liberados? – perguntei me sentando na cama.

– Sim. – respondeu Finnick. – Mas vamos ficar um pouco aqui com você.

Ficamos um tempão conversando e rindo, relembrando das coisas e rindo mais ainda. Eu tinha arrumado dois melhores amigos e estava feliz com aquilo.

– Você está ótima Kat! – disse Cato.

– Ela vai sair amanhã. – disse Coin com um sorriso no rosto.

– Amanhã? Sério?! – pulei de alegria e abracei Coin.

– Temos que ir Kat... – disse Finnick se levantando junto com Cato.

– Até amanhã. – disse Cato.

– Se cuida hein... – Finnick e Cato me deram um beijo no rosto e foram embora.

Olhei no relógio e já era tarde. Coin pegou o remédio e colocou a seringa no meu braço. Adormeci um minuto depois. Acordei no dia seguinte e o sol batia no meu rosto. Suspirei e senti só algumas partes do meu corpo doerem, mas logo ignorei. Coloquei a roupa que Effie tinha deixado no quarto mais cedo junto a um bilhetinho que dizia:

Bom dia!

Peguei essa roupa com o Cinna hoje, vamos todos tomar café da manhã juntos. Peeta vai com Annie e Haymitch te buscar logo cedo.

Estou feliz por você estar bem, garota encrenca!

Beijos, Effie.

Eu gostava da Effie, pelo que Peeta tinha me contado, ela era meio maluquinha, mas ela era como uma mãe pra nós. Se preocupava e cuidava de mim e dos outros. Peguei o bilhetinho e guardei no bolso do short. Sai daquele quarto. Fui até o consultório da Coin e ela me liberou.

– Só não faça muito esforço! – me lembrou Coin enquanto eu saia de sua sala.

– Pode deixar comigo! – gritei em resposta.

Sai da sala dela com um sorriso no rosto e comecei a correr.

– Estou livre! – sai saltitando pelo corredor do hospital até o lado de fora.

Vi um carro preto parado na porta do hospital, vi Peeta sair dele e sorri. Corri para abraça-lo. Abracei-o forte e ficamos um tempão abraçados.

– Eu quero também! – era Annie e a vi saindo do carro também. Fui até ela e abracei-a.

– Como você está? – Peeta perguntou me ajudando a entrar no carro.

– Ótima! – e era verdade, nunca me senti melhor.