Bleach - The World escrita por Yoshiro Nakayama, Naomi Cipriani


Capítulo 4
Change Your World - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Bem, capitulo novo pra vcs!! Enjoy =)



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– Eu ainda acho que matar não é uma boa idéia.

– Mas eu já disse: matar hollows significa purificar suas almas. Eles não morrem de verdade.

– Mas alguns deles vão pro Inferno! Eles não são purificados! Nós não sabemos o que acontece com eles lá!

– De todo jeito, são só histórias, porque essa preocupação toda vez?

Ichigo, sentado em uma cadeira no meio do quarto de suas irmãs, viu-as reclamando mais uma vez sobre o mesmo tema. Já era 21h30 e ele decidiu contar uma história a elas antes de dormirem. Geralmente, era seu pai que fazia isso, mas ele já não estava mais aqui... Depois que ele morreu, seus filhos ficavam sempre juntos. Eles deviam ir à escola amanhã e isso os assustava, pois iriam se separar, mesmo que por um curto período de tempo.

Ele se levantou bruscamente, desejou boa noite à suas irmãs e saiu do quarto. Agora ele entendia várias coisas estranhas sobre o comportamento de seu pai, que ele sempre considerou como ‘manias estranhas’.

Como por exemplo, as histórias estúpidas sobre shinigamis e hollows que ele contava durante toda sua infância, mas que só refletiam a realidade da Soul Society.

Mas também por ele ter-los inscrito em cursos de kêndo, desde que eles tinham idade suficiente para segurar uma espada. Graças a isso, Ichigo já tem um bom domínio da luta com espadas, embora ele nunca tenha usado seus novos poderes de shinigami.

Seus poderes de shinigami...

Ele parou em frente à porta de seu quarto. Foi por isso que seu pai colocou Ishida Ryûken como o tutor dele e de suas irmãs. Para não expor os membros da família de Masaki ao perigo que eles certamente correriam se abrigassem um shinigami em sua casa, e pra ter certeza que Ryûken iria proteger-los de todo e qualquer perigo. Ele explicou que a Soul Society ficaria encarregada de sua formação. Ele também explicou que ele e seu filho tinham exatamente os mesmos poderes, mas que não tinham nada a ver com os de Ichigo, e que sua raça foi exterminada pelos shinigamis. Em que tipo de organização seu pai se meteu?

Quando ele abriu a porta do quarto, uma voz engraçada, que pertencia agora a seu ‘colega de quarto’, disse:

– Ichigo! Até que enfim, eu estava me sentindo sozinho!

– Cala a boca, eu só fui fazer o que você pediu. Eu continuei a contar à elas essas histórias de shinigamis.

O silêncio retomou o quarto do adolescente.

Kon era um Mod Soul, uma alma modificada. Se Ichigo entendeu bem, ele era um dos últimos, já que sua produção foi interrompida por razões éticas. Ele havia acompanhado seu pai até o mundo humano quando este perdeu seus poderes e foi embora da Soul Society. Durante esse tempo ele ficou na pelúcia preferida de seu pai, aquele que seu pai guardava, e que agora tinha uma enorme força nas pernas. Era complicado.

Ichigo deitou em sua cama, colocou a cabeça no travesseiro e olhou deliberadamente o teto. Ele não estava com vontade de falar. Não depois do que aconteceu. Aconteceu a mesma coisa na morte de sua mãe. Aqueles mesmos sentimentos o consumiam...

A tristeza, é claro. Nunca mais ele acordaria com os ataques surpresa de seu pai imbecil ou seria chutado depois de um dia duro. Nunca mais ele o veria fumar perto do túmulo de sua mãe. Nunca mais ele iria sorrir de suas piadas estúpidas. Nunca mais iria ouvir seus conselhos idiotas. Nunca mais, pois ele não estava mais aqui.

A preocupação. Mais uma vez ele tinha medo por suas irmãs. Yuzu escondia suas lágrimas e se refugiava na arrumação da casa para esquecer de tudo isso. Karin não deixava cair lágrima alguma, pelo menos não em público, mas tinha olheiras enormes e quase não falava. Elas reagiam exatamente como na morte de sua mãe. Karin foi a que mais preocupou Ichigo. Ele tinha medo de vê-la cair na depressão. Ele queria estar lá para elas, sendo que ele mesmo só queria ficar sozinho.

A raiva. Ele tremia, socava a parede, e em seguida as lágrimas de raiva vieram. Ele não podia admitir que o destino era tão cruel. Primeiro levara sua mãe, e logo depois seu pai.

A culpa. Era com certeza o pior dos sentimentos. Era essa culpa que o fazia rever o cadáver de seu pai, seja dia ou noite. Ele não fez nada para salvá-lo. Exatamente como não fez nada para salvar sua mãe. Ele estava desmaiado enquanto aqueles que ele amava estavam sendo mortos. Ele se sentia culpado por não poder ajudar suas irmãs. Ele não sabia o que fazer para ajudá-las, sendo que ele não suportava a companhia de mais ninguém. Ele não sabia o que fazer para vê-las sorrir outra vez. Ele se sentia culpado por não se sentir suficientemente culpado. A cada vez que ele pensava em outra coisa, a imagem de seu pai aparecia em sua cabeça, e ele se sentia mal por ser tão egoísta, por não pensar neles, como eles pensaram nele antes de se sacrificarem...

Ele tinha certeza que, como sua mãe, seu pai o havia protegido. Ele até lutou por isso. Mais uma vez, ele era responsável pela morte de uma das pessoas que ele mais amava no mundo...

O tempo corria sem que ele percebesse. A visibilidade abaixou, e já que nem ele nem Kon haviam ligado a luz, o quarto mergulhou na escuridão.

Seus pensamentos pararam nos shinigamis presentes no funeral de seu pai. Os capitães e tenentes das 13 divisões de proteção do Seireitei. Ele reteve alguns rostos. Um velho com uma longa barba branca. Um homem de cabelos negros e com um estranho objeto metálico na cabeça. Um outro, de mais ou menos sua idade, tinha cabelos vermelhos e tatuagens nas sobrancelhas. Um colosso que dissimulava seu rosto atrás de uma máscara de madeira grande. Um garoto pequeno e que tinha cabelos brancos. Uma garota menor que o anterior, com cabelos cor-de-rosa. Um homem grande e com sinos no cabelo. E aquela garota.

Poderia parecer estranho, que ela, que não tinha nada que marcasse sua presença, foi a que ele mais observou. Mas ele com certeza se lembraria do olhar dessa garota. Como se fosse um reflexo de seus próprios sentimentos.

De repente, Ichigo sentiu algo. Uma presença... Uma borboleta negra passou diante dele e evaporou. Ele se levantou rapidamente e logo depois se sentou. Uma sombra estava prestes a entrar no quarto pela janela. Ele ficou sem reagir durante um tempo, até que ouviu uma voz:

– Kurosaki Ichigo?

A luz se acendeu. Ele piscou os olhos várias vezes e olhou o interruptor. Kon havia acendido a luz. Ele olhou a figura que estava à sua frente.

– Você...

Era aquela garota. As mesmas mechas que caiam em seus ombros. O mesmo kimono negro. A mesma espada amarrada na cintura.

– Mas o que...

A shinigami continuou em silêncio. Tinha aquele mesmo olhar melancólico, mas tão doce ao mesmo tempo. Sua cabeça se encheu de perguntas: Quem era ela? O que ela estava fazendo aqui? O que ela sabia sobre a morte de seu pai?

– Ah, até que enfim você decidiu vir!

Era Kon havia falado. Ela olhava com receio para a pelúcia.

– Você é o Mod Soul de Kurosaki Isshin? – Ela perguntou hesitantemente.

O nome de seu pai fez Ichigo acordar de seu transe.

– Quem é você? Kon, do que você ‘tá falando? Ela é uma shinigami?

– Sim. Sou Kuchiki Rukia, tenente da 13ª divisão de proteção do Gotei 13.

Tenente? Ichigo se lembrava que seu pai falava muito sobre essa classe.

– E o que você ‘tá fazendo aqui?

Kon foi o primeiro a responder.

– Não é óbvio? Como Ryûken já te disse, a Soul Society não pode mais te ignorar agora que seu pai te transformou em shinigami. E eles enviaram uma tenente.

Ele pensou alguns segundos nessa frase. Suspirou e respondeu:

– Qual é o problema? Como eu não sou um shinigami de verdade, eu tenho que ser observado?!

A shinigami suspirou. Eles não se parecem só fisicamente, ela pensou.

– Não. Sinto muito por entrar assim em sua casa, mas eu posso me sentar? O que eu tenho a te dizer vai demorar um pouco.

Sem uma palavra, ele mostrou a cadeira que estava em seu quarto. A garota caminhou lentamente em sua direção, virou-a para a cama sem tirar os olhos de Ichigo. Ele percebeu o olhar de Kon para a shinigami. Como uma pelúcia podia demonstrar um olhar tão adorador?

– Primeiro, o que você sabe sobre os shinigamis?

– Mais ou menos o que se tem que saber, eu acho. Meu pai contava histórias sobre o seu mundo, quando eu era pequeno. Eu devo conhecer até mesmo os detalhes da Soul Society.

Falar de seu pai ainda doía. Seus olhos começaram a arder e a dor no coração voltou. Ainda bem que a Kuchiki, impressionada com as palavras dele, não perguntou nada sobre seu pai. Ele com certeza começaria a chorar.

– Muito bem. Então, você também deve conhecer os hollows.

– São as merdas que vocês tentam matar com suas espadas para salvar o mundo. Hollows, Arrancars... Vocês são muito corajosos.

Ela ignorou o tom cínico do garoto, mas franziu ligeiramente as sobrancelhas.

– Seu pai era mais corajoso do que muitos jamais serão. Ele era um capitão do Gotei 13 e...

– Chega! Eu conheço seu nível, seus poderes e porque vocês o expulsaram da Soul Society. Kon já me contou tudo. Eu não estou com muita vontade de falar agora. Então diga logo: ele fez de mim um shinigami, e você pretende me colocar nesse seu grupo de Deuses da Morte, não é isso?!

Via-se raiva nos olhos do adolescente. Rukia ficou paralisada por alguns segundos e depois disse:

– É claro que não. Os shinigamis são soldados, nossas vidas são dedicadas ao combate. A sua vida não. Você ainda é humano. Você tem uma vida nesse mundo, uma família para cuidar, você não é um soldado. Você virou shinigami por acidente. Você não tem o dever de se sacrificar pelos outros. Pelo contrário. Eu estou aqui para te proteger.

Um silêncio surpreso seguiu suas palavras. Ichigo recuperou o fôlego.

– Me proteger? Você quer dizer que a coisa que atacou meu pai pode voltar e tentar atacar eu ou minhas irmãs?

– Nós ainda não sabemos quem matou seu pai. Nenhuma Garganta foi detectada antes do assassinato, e de todo jeito, se ele tivesse recuperado seus poderes, poucos adversários conseguiriam derrotá-lo. O shinigami que cuidava de Karakura sentiu uma explosão de energia muito forte, mas ele não conseguiu se aproximar já que não conseguia suportar esse reiatsu, mais o de seu pai em pleno combate.

A menina deixou a Ichigo tempo para digerir essas informações antes de retomar.

– E sim, você e suas irmãs estão em perigo.

– Porque nós estamos em perigo? Por causa da coisa que atacou meu pai?

– Os hollows e arrancars procuram presas com um reiatsu elevado. Isso quer dizer uma grande energia espiritual. Depois que você se tornou shinigami, eles podem sentir a sua.

– Quer dizer que minha energia espiritual pode fazer essas coisas atacarem minhas irmãs?

– Eles atacariam você e qualquer um que for próximo a você. Principalmente suas irmãs, porque como você elas devem possuir uma grande energia espiritual. Eu posso fazer algumas perguntas?

– Tanto faz...

Ele não gostava disso. Se ela fizesse muitas perguntas indiscretas, ele a expulsaria de lá.

– Desde quando você pode ver os fantasmas?

– Como você sabe que...

– A energia que você emitia antes de sua morte era muito forte.

– Como assim antes da minha morte?! Eu não ‘tô morto!

– Não, é claro que não. Sinto muito.

O adolescente não conseguia se acalmar. Essa garota estava lá para protegê-lo por que ele havia se tornado um alvo para os hollows. E o pior de tudo era que suas irmãs também corriam perigo só de estarem perto dele. Ele deveria ouvir o que a shinigami tinha a dizer, mesmo que isso não o agradasse. A voz surpreendentemente doce da shinigami o tirou de seus pensamentos.

– Você ainda não respondeu...

– Eu os vejo desde sempre, mas demorou um tempo para diferenciá-los dos vivos.

– Suas irmãs podem entrar em contato com eles?

– Não exatamente. A Yuzu só sente a presença deles, mas a Karin os distingue claramente, só que ela nunca fala com eles. Ela se recusa a acreditar que eles existem.

– Muitas crianças fazem a mesma coisa nessa idade.

– Tem mais alguma pergunta?

– Sim. Seu pai sempre contava histórias sobre os shinigamis, mas ele nunca te disse que eles reais? Nem depois que você começou a ver os fantasmas?

– Não. Foi o Kon que me explicou que tudo isso era real.

Durante um tempo, Rukia pareceu ficar perdida em seus pensamentos.

– Isso quer dizer que sua energia já era grande faz um bom tempo, mas foi a partir da adolescência que os hollows começaram a detectá-la.

– E daí?

– Você pode se transformar em shinigami? Eu quero verificar uma coisa...

De mau humor, Ichigo pegou um objeto que estava em cima da mesa. Um emblema de pedra, decorado com uma caveira. Era a que seu pai utilizava quando ele não estava com a pílula de Kon. De um gesto decidido, ele o aplicou no peito. Seu corpo caiu na cama enquanto seu alter-ego espiritual surgiu em uma luz azul elétrica. Agora ele usava um kimono idêntico ao de Rukia, porém sua espada não estava em seu ‘cinto’, mas em suas costas.

– Mostre-me sua zanpakutô, por favor. – Sem uma palavra, ele a retirou das costas e a mostrou.

– Uma espada tradicional. Mas tem um tamanho impressionante. Isso indica que você tem uma enorme energia espiritual. Você tem que aprender a controlar seu tamanho, isso reduziria os riscos...

– Como assim controlar seu tamanho? O que eu posso fazer?

– Os shinigamis que tem alguma experiência podem controlar o tamanho de suas zanpakutô. Isso evita que os mais poderosos tenham que manipular espadas absurdamente enormes. Por agora tudo bem, mas quanto mais você treinar, mais sua energia espiritual vai se manifestar, e sua espada vai crescendo.

– E você controla a sua?

– É claro. Se eu não controlasse minha energia, minha espada iria ser bem maior do que sua casa. – Ichigo se lembrou que estava falando com um tenente do Gotei 13.

– A propósito, porque alguém com seu nível veio? Eu pensei que você tinha mais coisas a fazer.

– Sua força espiritual é muito grande, é arriscado algum hollow de alto nível vir.

– É só isso? Então não tem nada a ver o fato de você ficar me olhando o tempo todo na cerimônia?

Dessa vez ele havia acertado. As bochechas da garota ficaram rosadas.

– Ichigo! – exclamou Kon, em tom de raiva. Mas mesmo assim a garota respondeu.

– É só que... Você pareceu muito com alguém que eu conhecia... E que era muito importante pra mim... Era o antigo tenente da minha divisão.

Ichigo a olhou, espantado. Então era isso? Ela simplesmente tinha afeição por ele por causa de uma semelhança física?

– Ele está morto. Enfim... Já tem um bom tempo, mas... Meu capitão pensou que se eu estivesse acompanhada de alguém que passou pela mesma coisa poderia talvez... nos ajudar.

Agora Ichigo ficou totalmente paralizado. Uma desconhecida acabara de falar que ele parecia a um de seus amigos mortos, e ela estava preparada a apoiá-lo em qualquer situação. Ele lançou um olhar furtivo a Kon que também parecia estar em choque. A garota continuou.

– Então eu devo te proteger fisicamente, te treinar e, se possível, te ajudar psicologicamente. E como os hollows podem atacar a qualquer minuto, eu devo sempre estar por perto. Por isso eu me inscrevi na mesma escola que você e aluguei um apartamento bem perto daqui.

– O que? Você vai estudar na mesma escola que eu? Mas... Eu...

Não havia motivo para a garota não ir. Como ele sabia, ele se calou.

– Depois, eu tenho que te treinar. Se algum dia eu não estiver e algum hollow atacar, você vai poder se defender.

– Meu pai já me treinou. Ele me colocou em cursos de karatê e de kendô desde a minha infância. Minhas irmãs também.

– Ele fez bem. Era um jeito de não deixar vocês sem proteção...

O coração de Ichigo doeu outra vez, mas ele continuava a olhar a garota. Ela contou coisas sobre a vida pessoal dela para estabelecer uma relação de confiança, para ajudá-lo. Só então ele percebeu que não estava mais com raiva.

– Continuem com esses cursos então, eu não tenha nada a ensinar desse lado... Porém você vai passar por um treinamento de iniciantes. Como você ainda é humano, você não pode ir à Academia do Seireitei. Pode ser?

– E eu tenho escolha?

Rukia ficou impressionada de ver como o garoto se comportava. Ele se parecia realmente com o Senhor Kaien.

– Eu vou considerar isso como um sim. Você deve saber que uma estrada dolorosa te espera. O treinamento é muito cansativo, e talvez você conheça um hollow mais cedo do que imagina.

Ela fez uma pausa para verificar bem o rosto do adolescente. Via-se apenas determinação.

– Você não tem perguntas a fazer?

– Não. Nenhuma.

– Muito bem, então. Até amanhã... Ichigo.

Ele olhou-a atentamente. Ela tinha uma aura de doçura ao seu redor. Essa aura se fazia sentir em sua voz, em seu olhar... Ele percebeu que, à luz da lua, reflexos violetas dançavam em seus belos olhos.

– Até amanhã, Rukia.


Kon

Não deixe ninguém decidir por você.

Não deixe ninguém viver em seu lugar.

Não vire as costas para uma mão estendida.



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Notas finais do capítulo

É incrivel como o numero de leitores é sempre maior q o numero de reviews... Mas acho q já sei qual é o problema... Vcs tem medo de nós! @.@ Por favor, mandem reviews... A gente não morde =D