O Garoto Da Casa 918. escrita por Greensleeves


Capítulo 1
Capítulo 1




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Eu nunca soube como minha mãe morreu. Ninguém na verdade nunca me contou toda a história; a história verdadeira. Não sei se ao certo eu gostaria de saber, as vezes minha vida pode estar melhor com a duvida.

Mas o que eu sei da minha mãe é que ela era uma mulher feliz, ela não tinha medo da vida nem do que a fazia. Acho que por isso que acabou se matando. Não é fácil lhe dar com uma perca, principalmente tão grande quanto essa. Mas eu tinha apenas quatros anos quando isso aconteceu e não acho que possa interferir na minha vida agora. Eu acho.

Mas depois disso, papai enlouqueceu e não pude mais morar com ele. Ele sabia que na família da minha mãe havia um histórico de esquizofrenia, mas mesmo assim a amou inconfundivelmente, como no primeiro dia que a viu.

E isso era uma das coisas que eu mais admirava no meu pai.



"Helena, acorde." -Uma vozinha doce e familiar chamou.

Abri meus olhos que foram direto para a janela aberta. O dia estava ensolarado e seria perfeito.

Me levantei e fui para o banheiro. Molhei meu rosto e prendi meu cabelo num rabo, troquei de roupa e desci para a cozinha.

Eu morava com minha avó a seis anos, seis maravilhosos anos. Antes disso eu vivi um grande tempo da minha vida num orfanato só para meninas. Depois que minha avó melhorou da diabetes, pude enfim, morar com ela numa pequena cidadezinha de Londres.

"Fiz torradas, pois eu sei que você adora." -Ela disse colocando o prato na mesa.

"Ah, obrigada vó." -Sorri e me sentei.

"Hoje você pode tirar o dia de folga, sair com seus amigos, se divertir."

Olhei para ela.

"Eu sei que as férias estão acabando e eu não quero que perca as ultimas semanas trabalhando com a velha da sua avó."

"Você sabe que eu amo trabalhar com a senhora." -Disse bebendo o chá.

Vovô morrera cinco anos depois da minha mãe; vovó morava sozinha, e por ser já de idade não tinha mais condições de trabalhar. Ela, então, começou a fazer entregas pelo bairro. Claro que com uma grande ajuda da minha tia para pagar as contas, ela conseguia um bom dinheiro nessas encomendas.

"Você sabe que eu não tenho muitos amigos aqui." -Comentei.

"Tem a filha da Linna, ela é uma boa menina." -Disse vovó.

Suspirei.

"Ok, se vai te deixar feliz eu sair, eu saio." -Sorri me levantando e pondo o prato na pia.

"Eu só quero que divirta-se querida."

"Eu sei vó." -Fui até ela e lhe dei um beijo- "Vou me arrumar e ligo para ela."

Subi as escadas até meu quarto. Quando cheguei fui até a janela e abri as cortinas, arrumei minha cama e peguei um casaco. Voltei para sala e vovó lavava a louça do café.

"O telefone esta do lado do sofá." -Ela disse.

Peguei o telefone e disquei o número.

"Alô? Oi Jully, sou eu Helena. Que bom, eu estava pensando se não queria, sei lá, dar uma volta. Ok então te vejo lá." -Desliguei.

"E então?"

"Estou indo para o parque, volto antes do almoço." -Disse indo até a porta.

O dia estava realmente lindo. Atravessei o pequeno jardim da vovó e saí pela cerquinha. Jully morava a sete casas da minha virando a esquina, então pude vê-la saindo também.

"Oi." -A cumprimentei.

"Quando tempo." -Ela sorriu.

"É, as entregas me deixam ocupadas." -Dei de ombros.

Jully era uma garota simples, seu cabelo era todo enrolado e tinha o corpo mais lindo da cidade. Por onde passava era difícil não atrair olhares para ela.

"Alexa voltou hoje da casa da mãe. Podemos chamar ela." -Disse Jully.

"É.." -Concordei.

Fomos até o parque, lá sentamos nos bancos de madeiras velhos mas que davam um ar romântico no parque.

"Soube que o cinema vai reabrir." -Disse Jully.

"Já estava na hora. Eu amo aqui, mas precisamos de mais diversão."

"Concordo."

O barulho do carrinho do sorvete chamou minha atenção, apalpei meu bolso para ver se tinha alguma dinheiro, sem sucesso.

"Quer um sorvete?" -Ela perguntou depois de um longo silêncio.

"Estou sem nada." -Fiz uma careta.

Ela suspirou.

"Só tenho para mim." -Ela comentou.

Nesse momento dois garotos se aproximaram, como sempre acontecia com Jully por perto.

"Olá meninas." -Disse o mais alto- "Eu e o meu amigo estávamos pensando se não gostariam de um sorvete. Nós pagamos."

Eu e Jully nos entreolhamos e não pude deixar de rir.

"Pode ser." -Disse Jully enrolando uma mexa do cabelo com o dedo.

O de cabelo preto ficou e o mais alto foi para o carrinho.

"Então... Posso saber o nome de vocês?" -Disse ele.

"Sou Jully e essa é minha amiga Helena."

"Oi." -Disse timidamente.

"Nomes bonitos." -Ele sorriu- "Sou Lian e aquele é Howard."

Olhei para o outro garoto que voltava com quatro sorvetes na mão.

"Aqui esta." -Ele disse.

Peguei o meu e Jully fez o mesmo; ela já era acostumada com aquele tratamento.

"Vocês não são daqui." -Ela disse.

"Não, o pai do Lian esta em uma viajem de negócios, somos da América."

"Nossa." -Olhei para Jully.

"Já foi para lá?" -Lian perguntou.

"Não, mas deve ser bem interessante."

"As garotas daqui são mais bonitas." -Howard comentou, e todos riram.

"Vão ficar quanto tempo?" -Disse Jully se levantando e jogando seu palito fora.

"Só até sábado." -Disse Lian. Ele tinha um sorriso lindo.

"Mas podemos sair até lá, nós quatro." -Howard olhou para Jully.

"Claro." -Ela sorriu.

Olhei para o relógio e já era meio dia.

"Tenho que ir." -Me levantei.

"Não precisa não." -Disse Lian.

Corei.

"Eu também preciso." -Jully foi até mim e abraçou meu braço- "Mas a gente se vê amanha?"

"Que horas?" -Perguntou Howard.

"Aqui, as duas." -Jully sorriu.

"Ok, vamos estar esperando." -Ele disse piscando.

Jully riu.

"Chau." -Me despedi.

No caminho para casa, Jully ainda segurava meu braço.

"Eles são uns fofos." -Ela disse.

"É..." -Concordei.

"A gente se vê." -Ela se separou e foi para casa.

"Até."

Segui pela rua sozinha. Não era tão movimentada, por isso não tinha problema, mas quando olhei para o céu me arrepiei. Ele não estava mais azul e sim preto, sem nuvens, começou a ventar e senti algumas gotas no meu rosto. Percebi que tinha esquecido meu casaco, então comecei a acelerar meus passos. No meio do caminho eu já estava encharcada. Mas o pior era que virando a rua tinha uma casa que sempre me assustou, e passar por ela não era uma escolha.













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Notas finais do capítulo

espero que gostem...