Uma Estranha No Meu Quarto escrita por Damn Girl


Capítulo 21
Capítulo 21 - Consequência


Notas iniciais do capítulo

Um novo fantasma aparece, mais problemas a vista...
Boa leitura a todos :)



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         Heather trancou a porta do seu quarto, sinal de que ela não ia me deixar escapar dessa vez. Cheia de desejo espalmou a mão pelo meu peitoral e me empurrou até que eu cai no colchão da sua cama, depois debruçou sobre mim beijando meu pescoço, só por tempo suficiente para que eu ficasse arrepiado. Ela voltou a ficar de pé e ligou o rádio, se movendo no ritmo da música, meu corpo começou a ficar hipnotizado. Contive meu impulso de tirar a blusa e sentei na beira da cama, não foi nada fácil.

— Heather precisamos conversar...

— Fala meu amor — Ela beijou meu pescoço, subindo no meu colo, uma perna de cada lado. Começou a se esfregar em mim. — Fala aqui no meu ouvidinho.

         Segurei sua cintura com as duas mãos, travando uma batalha interna comigo mesmo. Talvez eu devesse transar com ela, esquecer Jaynet de uma vez por todas, fazer daquele momento no terraço uma lembrança. Afinal pensando de maneira pratica nos só poderíamos ficar juntos se eu morresse e, por um milagre virasse um fantasma também. Mesmo se eu desse uma de Romeu e cometesse suicídio por ela não haviam garantias nenhuma. E a Heather estava viva ali para mim, fácil como beber um copo de água. Suspirei, me sentindo o pior dos cafajestes.

— Christian! Se você é gay pode nos dizer, nada vai mudar.... Bem talvez eu mude meu quarto para mais longe ...

         A gargalhada de Nick me trouxe de volta para o presente. Dentro do banheiro meus três amigos me fitavam com curiosidade esperando uma resposta. Corri os olhos pelo cômodo e para meu alívio Jaynet havia desaparecido. Eu não queria falar nada na frente dela, contudo agora eu teria a oportunidade de revelar meu segredo de uma vez por todas. Tomei um longo fôlego antes de disparar com o rosto vermelho.

— Eu não s-sou g-gay!... — Gaguejei com raiva pensando em como continuar. Decidi falar na lata. — Eu sou virgem, pronto falei!! Estão satisfeitos agora é? Não dormi nem com a Heather nem com ninguém. Por isso tanto ela quanto a minha ex me difamaram, elas tem raiva de mim!

         Michael sibilou, os olhos arregalados, enquanto Nick se contorcia de tanto rir. Fitei Kevin esperando sua reação mas ele continuava fitando em shock pro ponto onde Jaynet antes estivera, seu rosto pálido como nunca havia visto. Me lembrei da primeira vez em que ela apareceu para mim, do pânico que eu senti e quis ir confortá-lo, mas eu tinha problemas maiores, fora que seria meio difícil com meus outros dois amigos nos observando.

— Como assim cara? — A voz de Michael soou falhada. — Como que você não perdeu a virgindade?

— Eu sei lá cara aconteceu — Enrubesci por ter de contar tantos detalhes íntimos — Eu não achei ninguém com quem eu queira fazer. E não queria sair fazendo assim.

Brother, o que você faz da sua vida? — Nick enxugou o canto dos olhos com voz de riso. Ele mostrou a mão aberta arqueando as sobrancelhas. — Canta a música da Eliana enquanto...?

— Taquepariu Nick  — Michael começou a rir também — Agora tá explicado tantos calos na mão.

— Não tenho nenhum calo na minha mão!

         Disse horrorizado, e isso só os fizeram rir mais.

— Sério, sempre pensei que o Kevin fosse o virgem. Você não é sarado que nem a gente, mas sempre foi popularzinho com as garotas. — Michael lançou um olhar pro garoto pálido — Mas até ele... e você não. É estranho.

— Acontece. — Dei de ombros tentando encerrar o assunto.

— Não mesmo, a gente não vai deixar essa passar. Você está ouvindo Kevin — Ele estalou os dedos na frente de Kevin que não esboçou nenhuma reação — O que ele tem? — O sacudiu pelos ombros — Fala alguma coisa porra!

— Deve estar chocado — Arfou Nick. — Cara a gente vai resolver seu probleminha, tenho o telefone de uma gata aqui, ela faz tudo que você quiser, não precisa se preocupar com nada...

— Eu não quero um prostituta Nick, obrigada.

— Como não? São as melhores, para esse tipo de situação é bom uma mulher experiente. Não aquelas de esquina, a gente te arruma uma de luxo... essas cara... é incrível, vale cada euro. — Franziu o cenho — Ah... já sei, você está apaixonado!! — Abri a boca para protestar mas ele me cortou — Quem é ela? É daqui da escola? É gata? A gente conhece?

         Quando eu ia tentar explicar o inexplicável e torcer para que eles não me mandassem para o hospício uma voz soou no autofalante da escola. O me deixou de imediato aliviado no final não foi tão bom assim pois a voz ordenou numa voz entediada que Nick, Michael, Kevin e eu comparecêssemos a direção. E isso nunca é bom, mas pelo menos encerrou toda essa babaquice sobre minhas escolhas sexuais.

         Com os meninos arrastando Kevin, descemos alguns lances de escadas. As pessoas não estavam mais me olhando estranho nem tampouco rindo e dei graça por isso, entretanto elas agora me fitavam acenando com a cabeça numa espécie de apoio. A maioria tinha um panfleto nas mãos e cochichavam baixinho sobre o tal papel. Meus olhos correram de curiosidade e achei estar louco quando vi o conteúdo. Levantei a cabeça para os meus amigos e eles desviaram os olhos, voltei a olhar o papel que estava por toda parte, incrédulo.

         Uma foto gritante de Heather nua com seu ex preenchia quase todo o espaço. Ela estava com o vestido de formatura, ou parte dele, já que a maioria do seu corpo estava descoberto, eles estavam no meio do ato sexual, dava para ver o pau de Carl nela. Minha garganta fechou ao perceber que ela havia me traído no baile, mas eu continuei caminhando pelo corredor como se não tivesse visto escondendo minha vergonha. Ela ter marcado comigo na hora errada, não ter me deixado busca-la em casa, havia tudo sido premeditado. Eu deveria estar chocado mas depois de tudo que ela inventou de mim hoje, eu já sabia o quão horrível ela é.

         O diretor abriu a porta para nós, com cara de poucos amigos. Nada em sua sala havia mudado desde a ultima vez que estive ali, quando coincidentemente eu havia brigado com o ex de Heather no meu primeiro dia de aula. Sorri de canto ao lembrar a surra em que aquele metido a machão havia tomado. Pierre, o Diretor, gesticulou para que nos sentássemos frente a sua mesa. Ele continuava vestindo roupas chamativas e assim como fez comigo da primeira vez em que estive ali, ofereceu chá e cookies para todos nós. Os garotos me lançaram um olhar confuso e aceitaram o chá.

— Você de novo senhor Randall. — Arqueou a sobrancelha — E vejo que agora trouxe seus amigos pra merda com você. Queria dizer que é um prazer conhece-los, mas infelizmente não posso.

         Ele tentava ser um típico inglês cordial, mas seu rosto fervia em raiva.

— Senhor? — Kevin finalmente acordou do transe — Pode nos dizer por que estamos aqui? Não me lembro de ter feito nada.

— Nem eu. — Nick levantou zombeteiro. — Já podemos ir embora? Tenho assuntos mais urgentes para resolver. Algumas provas de recuperação.

— Só algumas? — Michael riu. — Porra tu ta ferrado nessa vida, vão te deserdar. — Ele levantou — Vou indo também, não sei nada do que esses dois vem aprontando..

— SENTA AI OS DOIS — Pierre socou a mesa — Vocês acham graça? Acham graça nisso?

         Ele atirou um bolo de papeis na mesa, todos os panfletos que eu havia visto antes. Os meninos arregalaram os olhos surpresos. Nem eu estava entendendo o que nós tínhamos a ver com isso quando uma assinatura digital no canto do papel não tão discreta pulou na minha cara.

         Jaynet backer.

         Eu devo ter lido em voz alta pois Pierre pareceu muito satisfeito, exibindo um Iphone 4 com uma capa rosa brilhante. Ele jogou o telefone na mesa e eu pude ver uma foto de Jaynet na tela principal. Ela sorria de forma radiante abraçada a um rapaz com uniforme do time da escola, ele parecia ser forte e atraente e isso me encheu de ciúmes. Certamente era seu namorado de quando estava viva. Viva e linda, ela era estonteante. Me perguntei por que Pierre estaria nos mostrando um celular velho de uma aluna morta.

— Fiquei sabendo que houveram boatos muito grosseiros sobre sua potencia sexual e Heather mais cedo — Eu abri a boca mas ele gesticulou para que eu ficasse calado — Eu entendo sua raiva, sério entendo mesmo, também tive sua idade. Mas aí... meia hora depois, coincidentemente alguém sobe ao terraço e lança esses panfletos por todo pátio da escola, assinados com o nome de uma ex-aluna morta, que “coincidentemente” morava na casa de vocês, expondo a intimidade da senhorita Heather Frankilin com dizeres maldosos.

— Acha que fizemos isso?? — Nick interrompeu o diretor rasgando os panfletos com raiva — A gente estava no banheiro!

— Ninguém viu vocês nessa última meia hora.

— A gente tava na porra do banheiro — Repetiu.

— É verdade senhor — Kevin me lançou um olhar aflito — A gente estava conversando com o Christian sobre o acontecido.

— Falei porra, pra que a gente ia querer fazer isso?

— Eu não terminei ainda Nick Cabot. — Os dois fizeram silencio — Como se não bastasse espalhar panfletos, “alguém” invadiu a sala de objetos apreendidos, pegou o celular da ex-aluna em questão numa caixa específica, entrou na conta do Facebook da falecida, QUE MORAVA NA CASA DE VOCÊS, e mandou em todos os grupos vídeo de uma das câmeras de segurança. Um vídeo de Heather e Carl fazendo sexo antes do baile, o que nós todos sabemos, só beneficiaria a reputação de uma pessoa.

         Os meninos estavam bem surpresos. Eu estava chocado demais para falar, em boa parte por que eu sabia perfeitamente quem havia feito, e mesmo se eu falasse a verdade ninguém acreditaria. Massageei minhas têmporas tentando buscar um pouco de controle. Kevin mexeu a boca, dizendo o nome da culpada. Pierre apontou para mim.

         Eu vou matar a Jaynet.

— Você é o único beneficiado com isso Christian, vocês foram muito burros de espalhar isso quase na mesma hora. Um de vocês foi, e eu quero saber quem é. — Bebericou o chá — Eu tenho o dia todo, tem uma menina com a vida acabada na outra sala, e boatos de fantasmas pela escola inteira. Vocês tem ideia da estupidez que fizeram? Meia hora depois, não foi nada inteligente da parte de vocês. E o celular de Jaynet, obviamente de alguma forma vocês sabiam a senha por isso pegaram o dela em específico. Talvez acharam a senha na casa. — Ele nos fitou de forma doentia. — Talvez vocês peguem o celular dela com frequência. Meu deus, preciso reforçar aquela porta.

— Ninguém aqui pegou nada, senhor. — Michael se manifestou pela primeira vez — Eu sei que tudo parece apontar para a gente mas a gente estava onde o Nick falou. É só você olhar nas câmeras de segurança e ver quem jogou.

         Eu senti um arrepio correr pelo meu corpo, meus olhos se viraram para a menina que estava sentada em um sofá no canto da sala. Seus lindos olhos azuis estavam repletos de culpa e ela ouvia tudo atentamente, um meio sorriso em seus lábios, lábios os quais eu sentia uma falta imensa. Estremeci de desejo querendo beijá-la ali mesmo

— Christian me desculpa — Ela brincou com os cabelos — Eu não... eu não pensei direito, só queria te ajudar. Seus amigos estavam falando em sair da cidade por conta disso.  — Ela baixou o olhar — Eu vi a Heather te traindo, quis contar mas não consegui, foi péssimo você descobrir desta forma. Criei problemas para você e seus amigos. Mas em parte eu não me arrependo, essa garota merece pagar pela forma como age.

— Então. — Voltei minha atenção para Pierre. — Ninguém vai botar o seu na reta, então vou ter que suspender todo mundo por um mês.

— Um mês — Kevin gemeu — Estamos no fim do ano letivo em época de provas, vamos todos repetir!

— É só entregar quem fez isso ou confessar.

         Kevin arregalou os olhos finalmente se dando conta de que Jaynet estava na sala. Ninguém falou nada, não havia nada a ser dito, pois além de mim e ele ninguém sabia realmente quem foi.

— Ótimo suspensão de um mês! — O diretor levantou — Vou pegar uns papeis para vocês assinarem, vocês fiquem ai.

— A gente tá ferrado — Nick traçou uma faca imaginária no próprio pescoço — Quem será que fez isso?

— Christian... — Sussurrou a dona do celular.

         Voltei a fitar Jaynet, e ela estava toda encolhida segurando a barra de sua saia de pregas. Na outra ponta do sofá um rapaz apoiava o braço no encosto de forma relaxada. Ele era alto, moreno, cabelos na altura dos ombros, feições fortes e corpo robusto. Vestia uma camisa de gola polo branca e uma calça jeans, acompanhada por all-stars vermelhos. Ele nos fitava de forma despreocupada, mas seu rosto se mantinha franzido. Assim que percebeu que eu o observava ele levantou, pigarreando.

— Olá, meu nome é Jason — Ele sorriu mas o sorriso não chegou aos olhos. — Eu poderia apertar sua mão mas ia parecer estranho pros seus colegas. Bom talvez nem todos — Ele acenou para Kevin que o fitava assustado — Desculpa aparecer de repente mas eu tenho um trabalho para você e sua.... — Secou Jaynet de cima a baixo — e sua secretária gostosa. — pegou a mão de Jaynet e deu um beijo leve, com os olhos voltados para mim — Fiquei sabendo da sua reputação.

         Eu lancei um olhar de suplica para Jaynet, o que eu menos precisava agora era de um fantasma em meu encalço, mas eu sabia que ele não iria embora fácil.

— O que você quer? Ele não pode responder, melhor falar comigo.

— Claro, está certa, qual seu nome?

— Jaynet. Jaynet Becker.

— Jaynet. Jaynet Backer, essa semana minha família inteira foi assassinada na minha frente por um fantasma acredita? Minha esposa, minha filha de seis anos, meu filho de 15. — Ele riu — O cara era louco, entrou na minha casa e matou a todos, sem motivo aparente. Tentei impedir mas era um fantasma das antigas, sabe, muito poderoso. Eu não pude protege-los.

— Como ele era? — Pude jurar que Jaynet ficou mais pálida.

         Jason deu de ombros.

— Homem, 20 anos, usando roupas antigas porém elegantes, completamente doido, sotaque meio escocês, olhos castanhos, cabelo preto. Ele disse que era necessário... matar minha família, que eles iriam o ajudar em seus propósitos.

         Roosevelt. Com certeza era aquele cretino. Kevin que prestava atenção deu um passo para trás. Contudo Jaynet não pareceu muito convencida.

— Seu amigo ai faz exorcismos, quero que vocês levem esse cara pro inferno. — Ele olhou dentro de meus olhos — Faz isso ou eu juro que em uma semana eu tranco as portas desse prédio e mato cada pessoa dessa escola. Um trágico incêndio vai acontecer.

         Estava dirigindo para casa com uma suspensão e uma ameaça nas costas. Minha cabeça latejava, por causa do meu “servicinho” todos da escola iam morrer. A não ser que eu pusesse um fim no Roosevelt o quanto antes. Jaynet no banco do carona olhava a paisagem em silencio, visivelmente chateada. Decepção enchia seus olhos. Tentei puxar assunto.

— Já pode tagarelar Jay, não estou mais com raiva de você, pelo menos não agora. Tô ocupado pensando em como pegar o Roosevelt.

— Tem uma coisa que eu não te contei... — Ela virou o rosto para mim e me forcei a manter a atenção na estrada. — Eu vi Roosevelt no baile.

— O QUÊ? — O carro foi pro lado um pouco — Ele te fez alguma coisa? Fez alguma coisa para alguém?

— Não... — Ela brincou com as mãos nervosa — Ele foi bem gentil.

         Apertei as mão no volante até as juntas ficarem brancas.

— Gentil como exatamente?

— Nós dançamos, ele ... conversou comigo, me fez companhia...

— E?

— E... Ele me disse que mata as pessoas para reviver, mas só as pessoas ruins, a escória da sociedade — Ela buscou meus olhos desesperada —  Duas crianças não se encaixa nessa descrição. Ele também falou que eu posso reviver, sem ter que matar ninguém

— Ele mentiu para você. — falei incrédulo de que ela acreditava mesmo nessa ladainha. — Sobre você reviver também.

— O ponto é que eu acho que ele falou a verdade, ele pareceu muito sincero. Acho que devemos dar um voto de confiança nele.

         Encostei o carro no acostamento da estrada e puxei o freio de mão, irado. A última coisa que eu imaginaria ver era Jaynet deslumbrada por aquele psicopata, mas era exatamente assim que ela parecia. Uma noite e ele a havia fisgado com a falsa promessa de revivê-la, algo que ela, e eu na verdade, queríamos muito. E ao ver seus olhos cheios de esperança soube que nada do que eu falasse ia convencê-la.

— Se existe uma possibilidade de eu reviver sem envolver ninguém eu quero tentar, eu preciso tentar.

— E o que você sugere?

— Roosevelt me chamou para ir na casa dele, para a gente conversar melhor sobre como eu posso reviver... — Eu suspirei frustrado — Eu poderia ir, e investigar se foi realmente ele quem matou a família do Jason.  Por favor, eu quero fazer isso. Não paro de pensar desde que ele me convidou, está me corroendo.

         Eu gemi derrotado, parte de mim também queria saber se havia uma possibilidade dela reviver, de ficarmos juntos. Todas míseras chances eram bem vindas, mesmo que isso significasse se aliar ao próprio demônio.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo.
O próximo capítulo será postado dia 28/06 sem falta (sim estou mais organizada parece rsrsrs) Até o próximo!!