Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 33
Waves on pebbles


Notas iniciais do capítulo

Como recebi review falando que eu mudei o rumo da história sem dar satisfação aos leitores, aqui vai: Kolybel'naya não é mais Tomione apenas, como vocês devem ter percebido, afinal, Abraxas se enfiou no meio da parada. Ah, por que você fez isso, seu autor fajuto? Porque fazem 6 anos desde que eu comecei a escrever essa fic e 6 anos é tempo pra caramba para a gente pensar sobre os personagens e ships. Tomione perdeu a graça pra mim por N razões, mas eu ainda gosto de trabalhar com Tom e Hermione como amigos ou com TomBraxMione, então eu escolhi a segunda opção,já que o Abraxas está presente desde o início da fic e desde lá ele tem vontade de tascar-lhe um beijo nesses dois. O rumo da história não mudou em nada, o plot continua o mesmo, a única diferença é um terceiro elemento no ship. Então, sim, a fic vai ter temas como poliamor, bissexualidade, etc. Se você não gosta, não leia. Se você se sentiu enganado, peço desculpas, apesar de que pra mim ainda tem Tomione ali no meio. Kolybel'naya nunca foi escrita para ser apenas sobre o ship, então peço desculpas se não consegui prender vocês com a história em si, além do par romântico.



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O barulho ritmado das ondas o acalmavam enquanto ele observava a água ir e vir, molhando a areia e fazendo conchinhas e pedrinhas rolarem. Seus pés estavam afundados na areia úmida e sempre que uma onda vinha, a água fria fazia os seus pelos se arrepiarem. Era bom e calmo, tão diferente de tudo que havia sentido nos últimos dias.

“Minha mãe dizia que o mar era um dos melhores calmantes que existia.”

Tom fechou os olhos para evitar de revirá-los. Respirou fundo, sentindo a maresia e o cheiro de algas, antes de voltar a abrir os olhos e ver o homem que estava parado ao seu lado. Olhando para ele com calma, o rapaz via que havia sim diferenças entre ele e o pai: Tom Riddle Sr. tinha a mandíbula mais forte e um nariz maior que o seu, os cabelos do homem também eram mais claros e com mais cachos. Havia algumas sardas que salpicavam o nariz do mais velho e, como sempre, olheiras sob os seus olhos azuis.

“É por isso que você sempre aparece aqui ou na sua casa?” o garoto perguntou, foçando-se a manter a calma. Sua mente parecia leve e, no momento, ele realmente não estava com vontade de elevar a voz ou se meter em discussões.

“Sim,” o homem respondeu, um sorriso mínimo repuxando os seus lábios. “Quando eu estava me sentindo mal, mas ainda assim conseguia sair de casa, acabava vindo para cá. Às vezes passava a noite aqui, olhando o mar, andando, de vez em quando cochilando em algum canto. Não é de se surpreender que eu tivesse uma reputação... ahm... não muito boa.”

“Essa praia,” disse Tom, gesticulando para o mar. “Essa é a tal Hornsea?”

“Ela mesma.” O sorriso se alargou no rosto de Riddle, logo antes de ele se agachar para apanhar uma concha. “Conhece?”

“Não.” O rapaz achou melhor não completar que, depois da sua visita à casa dos Riddle, ele não teve muito tempo de ir visitar a praia. “Meu amigo, Abraxas, tem uma casa aqui. Ele sempre me convida para passar o verão lá.”

“Você devia ir,” disse Tom Sr., abaixando a mão que segurava a concha para lavá-la na água quando uma onda veio. “É um lugar lindo. Um banho de mar pode te ajudar.”

“Como?” O bruxo observou o homem se levantar outra vez, ainda analisando a concha com cuidado enquanto afundava mais os pés descalços na areia. As calças do trouxa estavam dobradas até um pouco acima dos tornozelos, mas era possível ver que o tecido havia sido molhado mesmo assim.

“O mar às vezes consegue levar embora algumas coisas,” disse Riddle, passando o polegar pela concha que estava em sua palma, antes de deixá-la cair com um suspiro. “Frustração, tristeza, medo... As ondas conseguem levar isso embora, nem que seja só um pouco.”

“Acha que eu tenho algo disso que tem que ser levado embora, Riddle?” o rapaz perguntou, arqueando uma sobrancelha enquanto se lembrava a razão de nunca dar ouvidos para aqueles sonhos.

“Talvez.” O homem encolheu os ombros e enfiou as mãos nos bolsos das calças.

“Fala como se me conhecesse,” Tom resmungou, cruzando os braços na frente do peito. “Como se tivesse ficado por perto todos esses anos e agora soubesse exatamente o que estou sentindo e como poderia ajudar.” O garoto soltou uma risada debochada, tirando os pés da areia e chutando a água quando uma onda o alcançou. “Um tanto pretencioso, não acha?”

Riddle ficou em silêncio, observando-o com cuidado, antes de suspirar e tirar as mãos do bolso. O olhar do mais velho se perdeu no mar outra vez, como se a água estivesse lhe contando algo muito importante, a julgar pela concentração com a qual a olhava.

“É só que...” o homem começou a falar, interrompendo-se para morder o lábio inferior, parecendo estar debatendo sobre falar algo ou não. “Você não precisa ser o Tom Riddle, Monitor-Chefe e melhor aluno de Hogwarts, o tempo inteiro, sabe? De vez em quando é até bom se deixar... Sentir algo diferente.”

O bruxo franziu o cenho enquanto observava o outro. Será que seu pai havia sido tão intrometido ao ponto de vê-lo com Abraxas e Hermione? Era só o que faltava, o fantasma de um trouxa metido o espionando em momentos um tanto íntimos.

“O que está querendo dizer?” Tom sibilou.

“Estou querendo dizer que tudo o que aconteceu desde que descobriram que, bom, você é o filho de um trouxa... Está te preocupando e te fazendo se sentir mal,” ele explicou, arriscando um olhar para o mais novo. “Pelo que entendi, você construiu um personagem para você aqui em Hogwarts e esse personagem foi por água abaixo quando descobriram. Você não sabe mais quem você é, certo?”

O rapaz manteve-se sério, apenas olhando o outro. Tom Sr. o olhava com algo que parecia ser esperança, como se estivesse apenas esperando que o filho lhe confirmasse as suas suspeitas.

“E isso está pesando em você, mas... Você é teimoso e não se deixa sentir isso de verdade,” o homem falou, franzindo o cenho e então rindo. “Minha mãe dizia que todos os Riddle são meio teimosos...”

“Eu não sou como vocês.”

O trouxa o olhou e Tom percebeu que ele não tinha mais aquele pavor no olhar. Talvez tivesse entendido que, morto, não havia mais nada que o filho pudesse fazer contra ele e, por isso, os olhos dele não eram mais assustados o tempo inteiro, apenas tristes e, de vez em quando, esperançosos. O garoto se perguntou se os seus olhos eram tão expressivos quanto os daquele homem, pois, se fossem, aquilo era um grande problema. Não era bom ser tão fácil de ler apenas pelos olhos.

“E, ainda assim, é tão teimoso quanto nós, tão organizado quanto a minha mãe e tão metódico quanto o meu pai,” disse Riddle, contraindo os lábios como se estivesse se controlando para não sorrir. “Você me lembra muito o meu pai.”

“Você nem me conhece.”

“O que vi de você me lembra muito o meu pai. Vocês teriam se dado bem.”

“Se eu não tivesse matado ele,” murmurou Tom e, agora, foi possível ver a tristeza se intensificar no olhar do outro. Algumas pessoas diziam que o luto não seguia fases, mas sim desaparecia por dias e então voltava quando desengatilhado... Foi como ver o luto voltar aos olhos de Riddle.

“O que estou querendo dizer é que você tem mania de tentar esconder o que sente,” o homem falou, ignorando o que o outro havia falado. “Meu pai fazia isso, meu avô fazia isso... Eu fazia quando precisava, mas era horrível. Mal esperava pela hora em que pudesse sentir sem esconder, de estar sozinho e poder chorar ou de confiar em alguém o suficiente para me deixar fazer isso na frente deles. Nem sempre funcionava, claro, meu pai era muito melhor do que eu em esconder essas coisas.”

“E quem disse que estou querendo chorar?” Tom perguntou, bufando fraco. “Está fazendo aquilo de novo. Fingindo que sabe alguma coisa de mim.”

“Não estou falando isso porque acho que conheço você,” o trouxa murmurou, segurando uma mão na outra e deixando os dedos traçarem a linha esbranquiçada da cicatriz em um dos punhos. “Estou falando isso porque me conheço. Sei que não é bom segurar essas coisas... Você coloca tudo isso lá no fundo, acha que está bem e então, um dia, percebe que não está nada bem e é obrigado a sentir tudo isso de forma muito mais intensa, porque tudo estava acumulado. Algumas pessoas escondem tanto que o que era tristeza vira outro sentimento, como ódio.” Riddle respirou fundo e soltou o ar lentamente, antes de olhar o garoto e, depois de um momento de hesitação, dar um passo na direção dele. “Dá pra ver no jeito que você fala, na sua postura, até nos seus olhos, o quanto tudo isso está pesando... Não é só um colega implicando com você, é algo muito maior. O que ele falou para você na biblioteca, o jeito como ele o ameaçou, aquilo mexeu com você, Tom, e... Você precisa se permitir sentir isso.”

“E o que você quer que eu faça, Riddle?” o garoto perguntou, surpreendendo-se com o quão fraca a sua voz saiu.

Era horrível sequer cogitar a possibilidade de admitir que aquele homem não estava totalmente sem razão. As ameaças de Avery haviam pesado em seus ombros, o jeito como alguns sonserinos o olhavam com desdém, a ideia de que tudo o que ele havia construído até então podia estar ameaçado... E aquele trouxa desgraçado conseguia ver tudo isso. Aquilo talvez fosse o mais frustrante: seu pai, que nunca o tirara de um maldito orfanato, conseguia ver e entender todo aquele conflito melhor do que o próprio Tom.

“Não sei,” Riddle falou, sua voz também soando baixinha. “Chore, grite, soque alguma coisa.” O homem apontou para o próprio rosto e deu uma risada fraca. “Deus, lance outra daquelas maldições da morte em mim, se isso for lhe fazer bem, pelo menos eu não vou morrer de novo.” Ele suspirou, aproximando-se mais um pouco e erguendo uma mão, mas parando na metade do caminho. Depois de alguns segundos com a mão suspensa no ar, finalmente apoiou-a no ombro do garoto, fazendo-o estremecer. “Só faça alguma coisa antes que isso o consuma.”

Tom encarou o pai em silêncio, não acreditando na audácia daquele trouxa. Mas então o peso da mão dele em seu ombro pareceu maior e o olhar dele, mais profundo. Da mesma forma que a presença de Abraxas lhe passara tamanho conforto que o permitiu chorar abertamente, o homem na sua frente parecia induzi-lo a fazer algo, como se o olhar dele o forçasse a lembrar da forma como Walburga o olhou quando viu os cortes em seu braço, das palavras de Avery, do medo que sentiu ao pensar na possibilidade de Malfoy reagir da mesma maneira que eles, da confusão que estava a sua cabeça desde o encontro na floresta, de tudo o que havia pesquisado para o projeto de poções e de como ele se lembrava de ter tomado a Amortentia na frente da sala inteira, mas não se lembrava do que acontecera entre aquele momento e o sonho com o pai...

“Por que você só faz isso agora?” o bruxo perguntou, quase não ouvindo a própria voz de tão baixo e embargada que ela saíra. “Eu esperei por... anos...”

“Me desculpe,” o homem murmurou, erguendo a outra mão e encostando as pontas dos dedos no rosto do rapaz, limpando o que devia ser uma lágrima teimosa.

“Qual a última coisa que você se lembra?” disse Tom, odiando o nó que havia se formado em sua garganta. “Antes de... antes-“

“Chá,” o trouxa respondeu e agora era possível ver uma pontada de medo nos olhos dele, medo do que havia acontecido. “Era dezembro, ela me convidou para tomar um chá. Não sei por que aceitei, acho que foi o frio. Tinha um cheiro diferente de... chocolate e tintas e do mar. Cheguei a me perguntar como era possível um chá ter cheiro de mar.” Ele riu fraco. “Tinha gosto de hortelã... E depois... depois...” Riddle sacudiu a cabeça, os olhos brilhando com lágrimas. “Eu não sabia onde estava e não estava me sentindo bem. Ela não explicava nada. Eu estava enjoado, mal conseguia me manter em pé, minha miopia pareceu piorar da noite pro dia porque eu não enxergava direito... Nem sei como consegui correr, mas eu corri. Sei que isso foi covardia, mas eu não olhei para trás, apenas corri sem nem saber por onde. Não sei como diabos cheguei até um lugar conhecido.”

Enquanto o trouxa falava, Tom tentava se lembrar do que havia sentido depois de beber a poção. Lembrava-se vagamente de uma sensação de euforia e, então, nada.

“Algumas coisas voltavam, sabe? Às vezes eram só sensações.” O homem encolheu os ombros e estremeceu, como se tivesse se lembrado de algo ruim. “Outras eram vozes ou lembranças picotadas... Tinha vezes em que estava sozinho, no meio da noite, e conseguia ouvir a voz dela. Ou estava dormindo e sentia os dedos dela-“ Riddle fechou os olhos e respirou fundo. “Eu sei que isso soa patético e louco... Quero dizer, se você for procurar, é exatamente isso que escreveram nos meus prontuários.”

Quando o trouxa abriu os olhos novamente, Tom decidiu que queria mais do que tudo poder se esquecer do que havia acabado de ouvir e de tudo o que havia aprendido sobre a Amortentia durante as suas pesquisas. Queria ainda ter convicção de que aquele homem era portador de toda a culpa pela sua infância em um orfanato, alguém que não merecia ser ouvido antes de ser morto... Era difícil olhar para ele sabendo que aquele lapso de memória de algumas horas que ele tivera naquele dia e, dois anos antes, quando Myrtle Mortmore lhe deu uma poção do amor não era nada comparado ao tempo que Tom Riddle Sr. perdeu de lembranças por conta de sua mãe. Era difícil admitir para si mesmo que, talvez, ele tivesse feito a coisa errada naquela noite de 13 de Julho de 1943.

O vento pareceu ficar mais forte e a atenção do trouxa foi desviada para o céu por um momento. Ele então voltou a olhar Tom, apoiando as duas mãos nos ombros do garoto antes de se aproximar no que parecia ser um abraço um tanto desajeitado.

“Tente sentir um pouco mais,” Riddle murmurou perto do seu ouvido. “Chore, grite... Não mate ninguém, por favor, se quiser isso, durma e me mate outra vez.” Os braços do homem escorregaram até ele o estar abraçando de verdade, fazendo o rapaz se assustar ao notar que não sentia vontade de se afastar. Ele apenas soluçou baixinho, odiando o fato de estar chorando, e abaixou o rosto até apoiar a testa no ombro do mais velho. “Obrigado por me ouvir.”

Tom fechou os olhos com força, respirando fundo e sentindo o cheiro da maresia se mistrar com o cheiro doce de flores que o homem parecia ter, algo que ele já havia sentido ali em Hogwarts. Não demorou até tudo ir desaparecendo lentamente: o barulho das ondas, o frio da água batendo em seus pés, os braços do pai ao seu redor, o cheiro da flor desconhecida e da maresia...

Quando abriu os olhos, não encontrou a praia, mas sim o teto de pedra de um dos quartos de Hogwarts. Ainda sentindo o coração bater rápido, principalmente depois de sentir algo quente ao seu lado, Tom virou o rosto e se surpreendeu ao ver que não se tratava de travesseiros, mas de Hermione Elston.

Estavam deitados em sua cama no dormitório dos monitores e a garota tinha um braço embaixo dele, que estava com a cabeça apoiada no ombro dela. Para o seu alívio, percebeu que ambos estavam vestindo os uniformes, apesar de os sapatos estarem jogados no chão. O rapaz não tinha a menor ideia de como havia ido parar ali, muito menos como Hermione havia encontrado o caminho até a sua cama... Mas ela parecia estar dormindo, com os olhos fechados e a respiração calma, então Riddle decidiu ficar quieto, sem se mexer, apenas sentindo o subir e descer do peito dela, ouvindo alguns suspiros fraquinhos e sentindo o perfume dela (algo floral, mas, diferente da memória que continuava viva de seu sonho, ele conseguia reconhecer o cheiro de lavanda) dela.

“Hermione?” ele chamou, depois de alguns minutos sem perceber nenhuma reação da grifinória. Erguendo uma mão, ele cutucou o outro ombro dela. “Hermione?”

“Hm?” a bruxa grunhiu.

“Hermione, acorda,” o rapaz falou, cutucando-a de novo e vendo-a abrir os olhos devagar. “Como você veio parar aqui?”

Ela o olhou por um momento, parecendo confusa, antes de suspirar. Sacudindo a cabeça e esfregando os olhos com os dedos, a garota parecia finalmente despertar.

“Que bom que acordou,” disse Hermione, bocejando. “Achei que ia passar a noite aqui.”

“O que aconteceu?” ele perguntou, esticando o pescoço para olhá-la e só então notando que ainda não havia se afastado, mas, mesmo assim, não o fazendo. “Por que você está aqui? Cadê o Abraxas? A aula do Slug...?”

“A aula acabou faz horas,” a bruxa explicou, franzindo o cenho enquanto o olhava. Erguendo a mão, ela passou os dedos pela maçã-do-rosto do garoto e notando-os sair úmidos. “Você tomou a Amortentia como teste e, bom, ficou bem animado com a perspectiva de flertar comigo na frente de todos...” O rosto de Hermione se corou. “Quando a aula acabou, Slughorn pediu para que nós o trouxéssemos até o seu quarto para esperar o efeito da poção passar e aqui estamos nós.”

“E por que você está na minha cama?”

“Porque, Tom Riddle, você agarrou o meu braço e não me deixou sair, ficou implorando para que eu ficasse aqui com você,” ela explicou, revirando os olhos. “Por sorte Abraxas tinha alguns frascos de poção calmante e você apagou em alguns minutos, mas ficamos com medo do que poderia acontecer caso você acordasse, ainda sob o efeito da poção, e não me encontrasse por aqui. Abraxas disse que você iria sair declamando poesias pelo castelo inteiro e achamos melhor lhe poupar de tal humilhação.”

A garota o observou por um momento e então riu, erguendo a mão para bagunçar os cabelos de Riddle e o fazendo se encolher ao seu lado.

“Eu falei muita merda?” ele perguntou, virando-se até estar de bruços, apoiado nos cotovelos.

“Fez todo tipo de declaração possível, tentou brigar com Lestrange quando ele riu e, no final da aula,” ela explicou. “Não largava da minha mãe e ficava me olhando como se eu fosse feita de ouro, foi esquisito pra caramba.”

O garoto sentiu o rosto esquentar.

“Eu não... tentei fazer nada, tentei?” ele perguntou. “Quero dizer-“

“Não, eu disse que se tentasse qualquer gracinha, iria te odiar pelo resto da vida.” A bruxa encolheu os ombros. “Foi o suficiente para que você não fizesse nada.”

Riddle suspirou e deixou-se deitar na cama outra vez, o rosto pressionado contra o colchão. Não demorou até sentir os dedos de Hermione em seus cabelos, fazendo-o suspirar novamente. Eles ficaram em silêncio, apenas o barulho de suas respirações os atrapalhando.

“Está tudo bem?” Hermione finalmente falou.

“Sim, por quê?”

“Você estava com o rosto molhado,” ela explicou. “Parecia que estava chorando. Teve um sonho ruim?”

“Não sei se posso classificar como ruim.”

Riddle grunhiu baixinho, ainda com o rosto na cama. Parte de si queria poder falar sobre o sonho com alguém, mas a única pessoa que sabia do fato de ele ter matado Tom Riddle Sr. era Abraxas. O rapaz não sabia se tinha coragem de contar para Hermione, não agora que... Não queria afastar Hermione, por mais estranho que fosse admitir isso.

“Sonhei com o meu pai,” ele explicou. “É estranho sonhar com alguém que você nunca conheceu de verdade.”

“Oh.” Os dedos da bruxa em seus cabelos ficaram parados por um momento. “Às vezes sonho com os meus pais também, ou com meus amigos. Sonhos muito reais, chega a assustar um pouco.”

“E você gosta quando isso acontece?”

“Às vezes, sim. É uma forma de lembrar deles, com se estivesse conversando outra vez com eles,” ela explicou.

Riddle respirou fundo e apoiou-se nos cotovelos outra vez, olhando a garota ao seu lado.

“Me diz uma coisa,” o rapaz falou, franzindo o cenho. “Como ficou com a varinha? Quero dizer, depois que paramos de fazer as aulas.”

“Ora.” Elston estalou a língua dentro da boca. “Não se lembra de como duelei contra aqueles loucos em Hogsmead?” Ela riu. “Acho que aquela foi a prova máxima: acredito que consegui dominar a famigerada varinha de teixo.”

“Caso não se lembre, eu estava no chão, sangrando e com a boca quebrada.” Tom apontou para o próprio queixo, onde a pequena cicatriz resultante de um chute ainda era visível. “Mas você vai ver que varinhas de teixo são realmente poderosas... Teimosas, mas poderosas.”

“Teimosas como você,” murmurou Hermione, fazendo o garoto morder o lábio inferior ao se lembrar do que seu pai havia falado sobre a teimosia dos Riddle.

Tom continuou de bruços, apenas observando a garota enquanto esta também o olhava. Os olhos castanhos dela estavam fixos no seu rosto, como se procurassem algo que denunciasse os seus pensamentos, e os cabelos armados estavam por todos os lados no travesseiro. Um tanto hesitante, o bruxo deixou-se enrolar um cacho em seus dedos, lentamente, antes de soltá-lo e repetir a ação com outra mecha. O tempo inteiro, Elston permaneceu em silêncio, apenas o observando.

“Tom?” ela chamou, quando ele repetia o processo de enrolar os cabelos dela pela terceira ou quarta vez. “O que foi aquilo na floresta?”

Riddle franziu o cenho, interrompendo-se na brincadeira com as mechas da garota e a olhando no rosto. O que havia sido aquilo na floresta? Uma experiência ou um descontrole? Algo bom ou assustador? Ele ainda não sabia e, mesmo depois de ter repetido os beijos com Malfoy, nenhuma resposta havia se feito presente.

“Foram beijos,” ele falou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. “Abraxas não iria ouvir que nunca beijamos ninguém e nos deixar sair dessa sem se aproveitar da situação.”

“Acho que até ele ficou surpreso com o rumo que as coisas tomaram.”

O bruxo concordou e suspirou. Voltou a olhar o rosto de Hermione, antes de tomar coragem de erguer a mão e tocar-lhe a bochecha. A pele era quente contra as pontas de seus dedos e os olhos castanhos agora o observavam com ainda mais cuidado. Queria tanto Abraxas ali, a presença dele sempre facilitava as coisas... Era como se o amigo o permitisse se soltar mais.

“E você gostou do rumo que as coisas tomaram?” Hermione perguntou com a voz baixinha, finalmente desviando o olhar.

“Eu...” ele começou, mas se interrompeu. “Você gostou?”

“Me surpreendi. Foi... Interessante te ver tão relaxado e Abraxas tão realizado,” Elston explicou e ele pôde ver um tom rosado tingir as bochechas da garota. “Acho que gostei, apesar de ter ficado confusa.”

“Acho que todos ficamos. Ou não, acho que Brax não ficou muito confuso.”

“Acho que ele ficou emocionado.” A bruxa sorriu, segurando a mão dele na sua e esticando-lhe os dedos com calma. “Você também ficou confuso?” Ela riu baixinho. “Desculpe, é só que... É estranho pensar que Tom Riddle possa ter finalmente encontrado algo que o desconcerte.”

Tom deixou que ela brincasse com a sua mão, virando-a conforme os dedos da moça corriam pelos seus. A magia dela pinicava-lhe a pele levemente, fazendo-o sorrir fraco. Quando se deu conta, Hermione o observava com aqueles grandes olhos castanhos e seus dedos haviam parado de se mexer.

“Qual é o cheiro da sua Amortentia?” Riddle finalmente perguntou, enganchando o dedo indicador no da menina.

“Grama recém-cortada e pergaminho,” ela murmurou, mordendo o lábio inferior. “Tinha outro cheiro antes, mas... Ele mudou.”

“Antes?”

“Quando aprendi sobre a Amortentia em casa, os pais do meu amigo tinham uma amostra. Foi a primeira vez que senti o cheiro dela, mas mudou de lá para cá,” a garota explicou e então suspirou. “A grama e o pergaminho continuam, mas agora tem...” Ela estremeceu, respirou fundo e então escondeu o rosto atrás das mãos. “Droga. Tem o cheiro do Abraxas e seu, satisfeito?”

Se Tom dissesse que ouvir aquilo não lhe causou nada, estaria mentindo, pois uma sensação engraçada (que arriscava dizer que era boa) o atingiu e, quando percebeu, havia um minúsculo sorriso em seu rosto, o qual ele tentava esconder.

“Isso é... Inesperado.” Ele riu. “Qual é o nosso cheiro?”

“Lã.” Hermione apontou para ele. “Abraxas é o cheiro da colônia que ele usa, parece alguma coisa meio amadeirada. E você, qual o cheiro da sua? Além do chocolate e do amaciante.”

“Lavanda,” ele murmurou, sendo a sua vez de sentir o rosto esquentar. “E alguma coisa meio amadeirada.”

Não houve resposta vinda de Hermione. Ela apenas o encarou por alguns longos minutos e então fechou os olhos e escondeu-os por debaixo dos braços. De repente, a garota pareceu cansada e, talvez, envergonhada. Tom se perguntou o que havia surgido na mente dela para fazê-la mudar de postura e expressão tão subitamente, mas tudo o que fez foi puxar o braço dela para baixo com calma.

“Hermione?”

A bruxa abriu os olhos, voltando a olhá-lo e agora ele podia ver que havia lágrimas nos olhos dela. Suspirando fraquinho, Riddle levou as pontas dos dedos até logo abaixo dos olhos da grifinória, tocando com cuidado e conseguindo pegar uma única lágrima insistente que conseguiu escapar. A garota fungou e desviou o olhar. Ela estava com vergonha. Por alguma razão, admitir que gostava dele (afinal, a Amortentia não teria tal cheiro se não houvesse afeição) lhe causava vergonha e Tom não sabia se devia se sentir mal por isso... Seria por ela ser uma grifinória e ele, um sonserino? Seria a lembrança de como ele a tratara no orfanato?

Respirando fundo para tentar juntar a coragem que lhe faltava na ausência de Malfoy, o rapaz inclinou-se para mais perto e roçou os lábios no rosto da bruxa. Ela pareceu congelar abaixo de si, mas logo relaxou e um suspiro escapou de sua boca. Tomando isso como um passe livre, Tom pressionou mais os lábios contra a pele dela, antes de se afastar e beijar-lhe a testa e, depois, o espaço entre as duas sobrancelhas. O tempo inteiro, Hermione permanecia parada e em silêncio, com os olhos fechados.

Foi Elston quem ergueu a cabeça e alcançou os seus lábios com os dela. O beijo da grifinória era diferente do de Malfoy, mais controlado, mas ainda carinhoso. Os beijos dos dois ainda eram uma sensação estranha e nova para ele, algo que o assustava, de certa forma. Sentiu a mão da garota em seu pescoço, os dedos pressionando levemente ali para puxá-lo para mais perto e, por consequência, aprofundando o beijo. Quando se deu conta, estava com parte do corpo sobre o de Hermione, seu peito contra o dela, uma mão no rosto da bruxa e a outra, na cintura dela.

Os lábios dela escaparam dos seus, deslizando pelo seu queixo e chegando até o seu pescoço, beijando de leve enquanto os dedos dela agora seguravam-lhe as roupas. Algo no fundo do peito do rapaz pareceu acordar, um sentimento um tanto chato que fazia parecer que havia algo roendo o fundo de seu estômago. Uma ansiedade insistente que, por fim, o fez se afastar.

Os olhos de Hermione se abriram, arregalados, como se ela acabasse de ter ideia do que havia feito e não demorou para que ela se sentasse na cama, ajeitando o suéter e olhando em volta. Tom também se sentou, colocando uma certa distância entre eles enquanto tentava arrumar o próprio cabelo com as mãos.

“Desculpe,” ele murmurou.

“Está tudo bem.” A voz de Elston estava um tanto trêmula, mas mesmo assim ela esticou a mão para apertar-lhe o ombro e sorriu. “O efeito da poção já é para ter ido embora, mas pode acontecer de você se lembrar de alguma coisa que aconteceu durante o dia... Se eu fosse você, voltava a dormir. Amanhã temos Adivinhação e nós dois sabemos como aquela aula induz o sono.”

“Adivinhação é uma matéria muito interessante, Hermione,” ele falou, provocando-a.

“Confesso que está me chamando mais atenção do que da última vez que estudei, mas ainda assim, me dá sono.” Ela deu de ombros.

Pulando da cama, a garota procurou pelos sapatos e os calçou, antes de ir até uma das poltronas para apanhar a capa que havia deixado ali. Quando Hermione voltou a olhá-lo, Riddle se odiou por sentir o rosto esquentar de novo. Ou talvez só estivesse com o rosto quente como resultado dos beijos.

Sem avisar, a bruxa cruzou o quarto e se ajoelhou na cama, inclinando-se na direção dele e lhe beijando os lábios rapidamente, antes de se afastar. Hermione tinha o rosto corado e um sorriso pequenino na boca.

“Boa noite,” ela falou, acenando rapidamente e saindo pela porta.

Tom continuou com o olhar fixo no lugar onde a garota estava a poucos segundos. A sensação do beijo ainda estava em seus lábios e ele apenas passou a língua por sobre o lábio inferior, antes de se deitar na cama outra vez, encarando o teto. Não devia se sentir feliz por algo tão simples, mas, ao mesmo tempo, lembrou do que Tom Riddle Sr. havia falado em seu sonho: deixe-se sentir. Ele não acreditava que iria seguir algum conselho daquele homem.

“Hermione?” Riddle virou o rosto ao ouvir uma voz diferente falar do outro lado da porta. Não demorou para lembrar-se de que McGonagall já devia estar em seu quarto, pois já devia ser tarde da noite. “Posso fala com você?"


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Notas finais do capítulo

Rebobine a fita para o final de 2009, eu estava na praia e imaginei Tommy e Tom Riddle Sr conversando na beira do mar. Foi dai que surgiu minha outra fic, "Like father, like son", e essa imagem dos dois Riddle na beira do mar é algo que sempre volta pra mim... Na verdade, Tom Maior parado na praia é quase como a imagem padrão que tenho dele na minha cabeça, o mar é meio que algo que representa ele pra mim.

Eu realmente não sei como ficou esse capítulo. A parte com o Tom Sr pra mim foi bem mais fácil escrever, mas a parte com a Hermione, não tenho ideia de se ficou boa ou não. Mas espero que gostem :B