Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 3
A Gloomy Old Place




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O quarto novo de Hermione era bem pequeno. Havia duas camas, a dela sendo a do lado direito do cômodo, e, em ambos os lados da porta, havia um pequeno guarda-roupas onde os ocupantes do lugar poderiam guardar os seus pertences. Não era um lugar bonito; ele tinha aquele mesmo ar sombrio que parecia estar em todo o orfanato, mas, ao menos, as paredes amareladas e os azulejos marrons que as cobriam até a metade pareciam bem limpes, assim como o chão de pedra. A menina tentou imaginar como aquele lugar gelado ficava durante o inverno, pois, mesmo no meio do verão, a atmosfera do quarto já era suficiente para deixá-la arrepiada.

Se o quarto não estava longe do que ela esperava, a sua colega de quarto era outra história. Anna Parker era uma garota alta de dezessete anos cujos cabelos ruivos ela usava penteados em duas longas tranças, com olhos azuis, nariz longo e um rosto cheio de sardas. A menina era tagarela ao extremo e, desde que Hermione pisara em seu quarto, ela não parara de falar, contando à sua nova colega tudo sobre o orfanato, sobre os seus funcionários, sobre os outros órfãos e, acima de tudo, sobre os seus hobbies... Anna tinha um imenso amor por cinema. Ela tinha inúmeras revistas antigas com fotos de suas estrelas de cinema favoritas e ficara por um bom tempo falando sobre elas.

“Ah, me desculpe. Eu fico tagarelando sobre todas essas coisas.” Ela apontou para as revistas em sua cama. “E esqueço de terminar de falar sobre o orfanato. Oh, bem. O jantar é servido às sete e o apagar das luzes é as dez... Sra. Cole ou outro funcionário vai passar pelos quartos para ver se todos então na cama, mas, depois disso, você pode levantar, desde que fique quieta. Eu normalmente faço isso.” A menina deu de ombros. “Os funcionários... Você conheceu Martha e o Dr. Mazarovsky. Depois temos Susan, Jonathan e Amelia, mas você realmente vai ver mais a Susan, Martha e a Sra. Cole por aqui.”

“Desculpe interromper, mas...” sussurrou Hermione. “A Martha e o médico, eles são casados?”

“Ah, sim!” Anna sorriu abertamente. “Eles se casaram há mais ou menos três anos se não me engano. Eles não são adoráveis?”

“E ele não é... Não é britânico, certo?” perguntou a bruxa. “Digo, ele parece ter um sotaque diferente.”

“Não. Ele é russo, mas vive aqui já faz um bom tempo.” Parker deu de ombros. “Não dê atenção ao que falam sobre ele. Algumas pessoas aqui tentam usá-lo para assustar as crianças mais novas, sabe? Toda aquela história de “ele é russo, ele é um bárbaro, ele é um comunista e ele irá fazer picadinho de você caso você não se comporte”. Hermione riu, seguida da outra. “Aposto que é Susan quem começou tudo isso... Mas, não, ele não é comunista e ele é um homem legal. Meio quieto, mas legal.”

Anna finalmente parou de falar e sentou-se em sua cama, cruzando as pernas sob o corpo enquanto observava a colega de quarto com cuidado.

“O que aconteceu com você?” A pergunta que saiu de sua boca tinha um tom completamente diferente. Não era a voz entusiasmada de antes, mas uma voz quieta e preocupada.

“Eu não me lembro direito,” disse a bruxa. “Martha e Alexei me encontraram em um beco, eles disseram que eu estava muito machucada e que eles me trouxeram até aqui...”

“Oh.” A ruiva mordeu o lábio inferior e colocou uma mão sobre o peito. A ação parecia dramática demais, mas Hermione acreditou que ela realmente queria dizer o que havia acabado de falar. “Eu cheguei aqui quando tinha onze anos. Minha mãe morreu quando eu era um bebê e meu pai cuidou de mim desde então... Mas ele morreu de pneumonia e eu não tinha para onde ir.”

“Me desculpe.”

Anna sorriu e sacudiu a cabeça.

“Não. Eu tive ótimos momentos com o meu pai e eu sou grata à isso... Digo, sim, eu não tenho ele aqui agora, mas eu tive ele por perto antes e isso é o que importa,” ela explicou. “Têm muitas crianças aqui que nunca conheceram os seus pais. Eu tive a chance de crescer com o meu pai e isso já é uma benção.” Parker a encarou por um tempo. “Nós precisamos pedir para a Sra. Cole tirar as suas medidas e ajustar as suas roupas. Essa nlusa está muito larga, parece que você é magra demais.”

“Ah, não se preocupe; eu não quero incomodá-la mais do que eu já incomodei,” disse Hermione, puxando o tecido da blusa e tentando desamarrotá-la.

“Mas você não pode andar por ai com essas coisas praticamente penduradas em você!” A menina gesticulou para as suas roupas. “Bom, podemos conversar depois do jantar. Aliás, estamos quase atrasados.... Vamos!”

Antes que pudesse responder, Anna levantou-se e segurou-a pelos pulsos, puxando-a de sua cama e guiando-a até fora do quarto. Enquanto elas andavam pelos corredores e desciam as escadas, a ruiva fez questão de lhe mostrar onde ficava cada coisa. O quarto delas ficava no terceiro andar, junto com outros quartos que pertenciam aos órfãos mais velhos. No segundo andar ficavam os dormitórios coletivos das crianças mais novas, um para meninos e um para meninas; a enfermaria e o berçário também ficavam naquele andar. No primeiro andar havia o salão de jantar, a sala de visitas – que também servia como um tipo de biblioteca -, e alguns quartos que eram usados como salas de aulas, junto com a cozinha e o dormitório dos funcionários. Anna também explicou que eles tinham um quintal onde os órfãos eram permitidos passar o seu tempo livre e onde também ficava o abrigo anti-bombas do lugar, mas, de acordo com a menina, já havia algum tempo desde que eles o usaram pela última vez, mesmo que os ataques à capital ainda estivessem ocorrendo.

E agora elas estavam sentadas em uma das três longas mesas que preenchiam o salão de jantar. A maioria dos ocupantes da mesa delas pareciam ser ófãos com mais de dezesseis anos. Pelo que Anna explicara, a menina loira de olhos azuis sentada ao seu lado era Mabel Davies, enquanto a garota mais nova com quem está conversava, uma com cabelos castanhos cacheados e dentes da frente levemente separados, era Amelia Thomas. Havia um menino sentado à sua frente e que estava falando sobre a guerra com tamanho entusiasmo que Hermione achou estranho. Ele tinha olhos escuros e seu cabelo, também escuro, estava penteado para trás e fixo com muito laquê. Aquele, de acordo com Parker, era Sebastian Turner.

“Eu queria poder estar lá,” o jovem falou. “Na guerra, digo.”

“Cale a boca.” Outra moça de cabelos castanhos que estava sentada ao lado dele sacudiu a cabeça ao falar. “Você não tem idéia do que você está falando.”

“É claro que tenho!” O rapaz estufou o peito e ergueu a cabeça.

“Essa é Mary Bennett,” sussurrou Anna. “Eu acho que ela tem alguma coisa pelo Sebastian...”

“O que você disse?” A menina, Mary, virou o rosto para encarar a ruiva.

“Só estava dizendo o seu nome à Hermione,” ela explicou. “Ela nova.”

“Ah, sim.” Mary estreitou os olhos enquanto observava a bruxa. “Hermione Elston, estou certa?”

“Sim.”

“Espero que... Aproveite... O lugar.” Ela deu de ombros e Hermione se perguntou se a garota realmente quis dizer aquilo.

“Como eu estava falando,” Sebastian começou a falar outra vez. “Eu me alistaria ao exército caso pudesse, mas como ainda não posso...”

“É claro que não pode, você tem dezesseis,” disse Amelia, rindo. “Imagine você, um menino, no exército.”

As garotas riram enquanto o rapaz encarou-as com uma careta no rosto. Hermione percebeu que ele, na verdade, parecia mais velho... Talvez dezessete ou até dezoito, mas, como a outra menina havia falado, ele continuava uma criança. E ela tinha certeza de que ele se arrependeria de suas palavras sobre juntar-se ao exército assim que ele pisasse em um campo de batalha. Ela sabia como era umaguerra, sabia como era estar na linha de frente, lutando contra inimigos. Essas crianças, apesar de terem visto muito mais da guerra do que jovens da idade deles no futuro, ainda não tinham a menor idéia do horror que era lutar em uma.

“Eu queria fazer dezoito esse ano,” o jovem resmungou, olhando ao seu redor. “Assim eu poderia me alistar o mais rápido possível, diferente de outras pessoas...”

“Sebastian...”

“Você sabe que eu estou com a razão, Mabel. Tommy Baker fez dezoito e já está se alistando. Ele não. Ele vai fazer dezoito esse ano e não irá mover um dedo para ajudar a Inglaterra...” Hermione franziu o cenho. Seja lá quem fosse o menino sobre o qual eles estavam falando, ela se sentia mal por ele... Era uma decisão própria querer entrar em uma guerra ou não e ninguém tinha o direito de julgá-lo por decidir não se envolver.

“Talvez a guerra não seja o negócio dele,” a bruxa murmurou, atraindo a atenção dos outros.

“Ela tem razão,” disse Sebastian. “A única coisa que o interessa é aquela maldita escola de ricos dele.” O garoto parou de falar inesperadamente e olhou para a porta do salão. “Não é verdade?” ele perguntou, alto, para um órfão que havia acabado de se sentar no fim da mesa. “O que? Nós não estamos à sua altura, milord?”

A bruxa suspirou, virando o rosto para ver o alvo das acusações de Turner. O garoto não era muito alto e parecia ser mais novo do que Sebastian. O seu corpo magro parecia ainda menor por conta do suéter cinzento que ele usava e que, assim como a blusa de Hermione, também era largo demais para ele. Sua pele pálida demais, quase atingindo um tom doentio, e contrastava contra o seu cabelo castanho escuro e muito bem penteado. Ao ouvir o outro rapaz, a sua única reação foi encará-lo com seus olhos azuis frios por alguns segundos, antes de virar o rosto para o prato à sua frente.

“Quem é?” perguntou Hermione em voz baixa. Ela tinha a estranha sensação de que já havia visto aquele rosto em algum lugar, mas não conseguia se lembra de onde exatamente.

“Aquele é o Tom,” disse Anna e a bruxa sentiu o seu estômago se revirar ao começar a entender a situação. “Tom Riddle. Eu sugiro que não chegue muito perto dele... Ouvi dizer que coisas esquisitas acontecem quando ele está por perto.”


***

Anna já havia caído no sono quando Hermione levantou-se para pegar a sua bolsa de contas do armário. Ela a havia escondido entre as suas “novas” roupas, mesmo sabendo que ninguém no orfanato seria capaz de abri-la devido aos feitiços protetores que ela colocara no objeto. Sentando-se novamente em sua cama e posicionando-se em um ponto onde a luz da lua que entrava pela janela a alcançava, a bruxa abriu a bolsa e olhou para dentro do buraco negro que havia dentro desta. Suspirando, ela colocou seu braço ali dentro, sentindo o conteúdo com a ponta de seus dedos... Era completamente não-prático, mas era a única forma que tinha de achar o que queria, afinal, ela perdera a sua varinha na Mansão Malfoy e não poderia lançar um feitiço de convocação para alcançar um pedaço de pergaminho e uma pena.

Assim que encontrou tudo o que queria, a menina colocou a bolsinha de lado e apoiou o pergaminho em seus joelhos, antes de abrir o pote de tinta e mergulhar a ponta de sua pena no conteúdo preto. Agora que ela estava ali, pronta para escrever a carta para a única pessoa na qual ela poderia confiar, Hermione não tinha certeza se devia fazer aquilo... Dumbledore estaria apto para ajudá-la ou, caso não estivesse, seria bom, ao menos, voltar para Hogwarts, onde ela saberia que estaria segura... Mas agora a menina não tinha mais tanta certeza da segurança que encontraria no castelo graças à uma única pessoa.

Quando o nome Tom Riddle saiu dos lábios de Anna ainda no salão de jantar, Hermione sentiu-se pronta para se levantar e sair correndo daquele lugar o mais rápido possível. O pânico cresceu dentro de si ao lembrar-se de tudo o que ouvira falar sobre o Lorde das Trevas e tudo o que ele havia feito ao mundo bruxo. Era culpa dele que os pais de Harry estavam mortos, assim como Sirius e Olho-Tonto; era culpa dele que os Weasley estavam sendo perseguidos; era culpa dele que os seus pais agora estavam na Austrália sem ter nenhuma lembrança da filha deles. E lá estava ele, há alguns metros dela, comendo o seu jantar como qualquer pessoa normal faria.

A garota não queria viver debaixo do mesmo teto que Voldeort, mas ela conseguia agüentar a situação ali, em um lugar onde ele não poderia usar magia caso não quisesse ser preso por exposição do mundo bruxo... Mas, uma vez que ele colocasse os pés em Hogwarts, Tom Riddle estaria em seu próprio reino, um lugar onde ele poderia fazer tudo o que quisesse. E era a idéia de um Riddle livre para fazer qualquer coisa que a assustava... Mas, ainda assim, era Hogwarts, era um lugar seguro e a coisa mais perto de uma casa que ela poderia encontrar em 1944.

Suspirando e sacudindo a cabeça, a menina encostou a ponta da pena no pergaminho e começou a escrever. Ela sentiu-se mal por estar mentindo para alguém como Dumbledore, mas, pelo menos por enquanto, Hermione preferia esconder toda a história de viagem no tempo, pelo menos até ter a chance de falar com o professor cara a cara. Afinal, seria um desastre caso uma carta com tais informações caísse em mãos erradas. Então, por enquanto, ela esconderia tudo com uma história inventada sobre como ela era uma refugiada da guerra contra Grindelwald, sobre como estava buscando ajuda e como achou que seria uma boa idéia terminar a sua educação na escola de magia mais conhecida da Europa.

Assim que terminou a carta, Hermione dobrou-a e colocou-a dentro da sua bolsa, junto com sua pena e pote de tinta, antes de colocar a pequena bolsa sob o seu travesseiro e deitar-se novamente. Agora ela só teria que esperar até o amanhecer, quando tentaria escapar da companhia constante de Anna por algumas horas para ira até o Beco Diagonal para poder enviar a carta ao professor Dumbledore. Você deveria dormir; ela conseguia ouvir a voz de Alexei ecoando em sua cabeça e sorriu. Normalmente era ela quem mandava as pessoas irem dormir ou que ficava dando sugestões sobre o que seria melhor para os outros... Era estranho não ter ninguém para cuidar agora que nem Harry e Ron precisavam dela. ‘Não, eles precisam de mim,’ ela pensou, sentindo o seu coração apertar-se em seu peito. ‘Eles precisam de mim e eu não estou por perto.’

A garota sentiu as lágrimas voltando aos seus olhos e os fechou para impedir a si mesma de chorar. Era a primeira vez que ela realmente parava para pensar que estava sozinha naquele lugar, em um orfanato, em 1944. Só agora com Anna quieta e sem Alexei por perto que essa idéia lhe pareceu real. Ela estava sozinha, sem Ron Weasley para fazer piadas idiotas ou comentários impertinentes e sem Harry Potter para ficar preocupado com os amigos ou falar sobre Quadribol. Também nao havia Ginny, Neville, Luna, Dean, Seamus, Fred ou George... Maldição, até Parvati e Lavender pareciam opções válidas naquela situação. Mas ali só havia Anna, Amélia, Mabel, Mary, Sebastian, Martha, Alexei, Sra. Cole e, o pior de todos, Tom Riddle.


***

Hermione sonhou com Fofo, o cão de três cabeças de Hagrid. Não, na verdade, ela sonhara sobre os testes dos professores que impediam que alguém chegasse até a Pedra Filosofal e os quais ela e os amigos conseguiram vencer quando tinham apenas onze anos. O Visgo do Diabo; as chaves voadoras; o xadrez bruxo gigante; o troll – que, por sorte, eles não tiveram de enfrentar – e, por último, as poções... A menina conseguia lembrar como se fosse ontem da sua preocupação ao ver Harry atravessar as chamas arroxeadas após beber a poção correta, deixando-a para trás e, pela primeira vez, encarando Lord Voldemort.

‘Eu! Livros e inteligência! Existem coisas mais importantes do que isso – amizade e bravura e...’

A bruxa riu, lembrando-se de suas palavras para Harry. Agora ela sabia exatamente o que ela queria dizer ao amigo... Afinal, ela ainda tinha os livros e a inteligência, mas as amizades haviam ido embora e a bravura, ela temia, estava indo pelo mesmo caminho.

Após passar alguns minutos na cama, aproveitando os últimos pedacinhos coloridos de seus sonhos, a menina se levantou, quieta para não acordar a colega de quarto, e vestiu o uniforme acinzentado do orfanato, antes de sair do quarto. O lugar – que, depois de um tempo, ela descobriu que se chamava Orfanato Wool’s – estava estranhamente quieto e até meio bonito naquela manhã. Ao descer as escadas, Hermione não pôde deixar de notar como o lugar ficava com uma aparência agradável quando havia luz do sol entrando pelas grandes janelas e iluminando os corredores. Ela sorriu ao olhar para uma das janelas atrás das escadas e ver pequeninos grãos de poeira flutuando ali, sendo visíveis apenas contra a luz.

Ao chegar no hall de entrada, a menina olhou em volta, percebendo que não havia nenhum outro órfão acordado ainda e, pelos barulhos que ouvia, apenas os funcionários da cozinha pareciam estar trabalhando naquele horário. Ela não estava com fome e não queria esperar até o café da manhã para ir até o Beco Diagonal, então, após ficar parada ali por alguns minutos, Hermione decidiu sair. Era apenas uma ida rápida para mandar a sua carta, nada que fosse tomar muito do seu tempo. Caso ela saísse agora, talvez até chegasse a tempo de pegar o café da manhã.

Como ainda estava cedo, não haviam muitas pessoas nas ruas ainda, o que fez Hermione sentir-se ainda mais dentro de um sonho esquisito ou algo do gênero. A garota nunca pensara em ver Londres daquela forma. Tudo tinha um toque antigo: os carros que eram dirigidos pelas ruas ou que estavam estacionados, os prédios, os anúncios, as pessoas... Era quase prazeroso ver todos aqueles homens e mulheres andando pelas ruas, enfiados em roupas de época, fazendo parecer que ela estava dentro de um filme.

Foi preciso mais tempo do que ela esperava para chegar ao Beco Diagonal já que ela tivera que pedir ajuda duas vezes depois de perceber que não sabia chegar até lá vindo do orfanato, mas, assim que chegou, um sentimento confortante a atravessou ao se ver parada em frente da porta escura do Caldeirão Furado. Hermione ficou ali por alguns segundos, antes de abrir a porta e adentrar o pub. Pelo que ela se lembrava, o lugar não havia mudado muito. Era o mesmo velho e bagunçado salão de jantar; as mesmas escadas escuras que rangiam e que levavam aos quartos; a mesma atmosfera mágica que contrastava tanto com a Londres trouxa que ficava logo do outro lado da porta.

“’lá, mocinha!” Hermione virou-se para ver um homem de rosto avermelhado parado atrás do bar, limpando um copo com um pano. Seu cabelo escuro tinha vários pontos esbranquiçados e estava bagunçado, apontando para inúmeras direções como se ele tivesse acabado de levar um choque, mas o seu sorriso era simpático. “Posso ajudar?”

“Olá.” A menina se aproximou. “Eu sou nova em Londres e precisava comprar algumas coisas o Beco Diagonal...”

“Oh, sim! A porta é logo ali.” Ele apontou para uma porta de madeira nos fundos do salão de jantar. “É só passar e você estará no quintal... ‘cê tem que bater com a sua varinha nos tijolos da parede. Três acima e dois para o lado do lixo.”

“Ah... Eu não tenho uma varinha.”

“Perdão, mocinha?” Ele inclinou-se para a frente como se tentasse escutá-la melhor.

“Eu perdi a minha varinha há alguns dias, em um duelo,” ela explicou. Bom, não era uma mentira. “É uma das coisas que eu preciso comprar.”

“Eh, entendo.” O homem colocou o copo sobre o balcão e o cobriu com o pano que usava para limpá-lo. “Venha, então, vou dar uma ‘judinha.”

Ela o seguiu até o quintal e observou enquanto o bruxo tirava a varinha de seu bolso e cutucava o tijolo correto com ela. Logo, a parede começou a se abrir até formar um arco que deixava o Beco Diagonal finalmente entrar no seu campo de visão.

“Bem vinda ao Beco Diagonal, moça.” O homem piscou para ela e sorriu. “Eu ficarei no bar, caso precise de ajuda...”

“Obrigada, Sr...?”

“Gauge, mas pode me chamar de Wilfred.”

Hermione concordou com a cabeça enquanto observava o outro se afastar. Olhando para a entrada do beco novamente, a jovem sentiu um sorriso aparecer em seu rosto ao entrar ali. Ela podia sentir a magia que cercava o lugar, vinda dos donos das lojas, dos visitantes, dos objetos e criaturas mágicas e até mesmo dos feitiços protetores que escondiam a rua dos olhos trouxas. Mesmo já conhecendo o beco, a garota não pôde deixar de jogar alguns minutos fora passeando de vitrine em vitrine, observando os produtos com curiosidade.

“Pare com isso, Hermione,” ela sussurrou após dar as costas para a vitrina de Equipamentos para Escrita Scribbulus, onde uma elegante pena escura estava escrevendo por si só em um pedaço de pergaminho. “Você tem coisas mais importantes para fazer no momento.”

A bruxa foi até o correio. Era um dos poucos lugares no qual ela nunca havia entrado, mas não ficou surpresa ao encontrar um ambiente parecido com o corujal de Hogwarts: escuro, fedorento e cheio de pios de corujas. A mulher sentada atrás do balcão estava ocupada lendo uma revista sobre criaturas mágicas, mas logo ergueu o rosto ao perceber a presença de Hermione.

“Como posso ajudá-la?” A sua voz soou entediada e ela voltou a olhar para a sua revista.

“Queria enviar essa carta.” A menina enfiou a mão em sua bolsa de contas e tirou a carta dali. A bruxa torceu a boca e colocou a revista de lado, antes de se levantar e ir até as gaiolas das corujas.

“Para onde?”

“Hogwarts.”

“Hum... Artemis vai levá-la para você,” ela falou, abrindo a gaiola de uma coruja cinzenta. “Quer receber em sua casa?”

“Não, acho melhor vir pegar aqui.” Hermione entregou-lhe a carta e ela a deu para a coruja.

“Então volte em alguns dias. Se é para Hogwarts, posso dizer que voltará em dois dias... Professores normalmente respondem rápido.” A bruxa acariciou a cabeça da coruja, antes de deixá-la ir. A ave voou pela janela aberta e, logo, estava fora de vista. “Um galeão.”

Hermione a pagou e deixou o correio. Olhando em volta, ela viu a loja de Ollivander e foi até ela sem hesitar. A menina estava desesperada por uma varinha, já que era horrível sentir-se inútil e exposta quando estava desarmada. A loja, assim como o Caldeirão Furado, parecia ter parado no tempo. As prateleiras continuavam bagunçadas e as caixas das varinhas ainda tinham as grossas camadas de poeiras por cima delas.

“Olá?” Hermione chamou, olhando em volta e não vendo ninguém por perto.

“A sua magia é bem forte, senhorita.” A menina não reconheceu a voz que a respondeu e muito menos o jovem homem que apareceu por entre as prateleiras. Levaram alguns segundos para que ela percebesse que conhecia aqueles olhos azuis brilhantes e aqueles cabelos claros e bagunçados... E aquele sorriso, sim, aquele sorriso interessado.

“Sr... Sr. Ollivander?” A bruxa o encarou, de boca aberta, surpresa.

“Vamos ver,” ele sussurrou, não a respondendo e analisando as caixas nas estantes, seus dedos longos pairando sobre elas, como se ele conseguisse sentir o desejo de cada varinha. “Tente esta.” Ele puxou uma caixa roxa e a abriu, tirando uma varinha escura e a entregando para Hermione. “Carvalho ancião com núcleo de pêlo de unicórnio... Trinta e três centímetros. Não-flexível e muito forte.”

Hermione segurou-a, mas nada aconteceu. Ollivander estreitou os olhos e voltou para as prateleiras, voltando com outra caixa, uma vermelha agora.

“Salgueiro, quarenta centímetros e núcleo de pena de fênix. Forte e leve.”

Outra vez, nada. O bruxo, de novo, voltou para as suas caixas e, depois de mais duas tentativas falhas, Ollivander voltou com outra caixa vermelha escura. Ele a abriu e entregou a varinha para a menina com cuidado.

“Teixo, quarenta e três centímetros. Núcleo de cordas de coração de dragão... Flexível e boa com encantamentos.”

Assim que seus dedos se fecharam ao redor da varinha de madeira clara, Hermione sentiu uma onda de calor correr por seu braço, espalhando-se por seu corpo. A sensação era ótima, como se a varinha a completasse, encaixando-se perfeitamente com a sua magia e a completando. Um sorriso sutil apareceu em seus lábios e esse sinal não passou despercebido por Ollivander.

“São sete galeões.” O homem sorriu enquanto ela lhe entregava as moedas douradas. “Seja cuidadosa com essa varinha, senhorita. Ela pode não parecer grande coisa, mas, nas mãos corretas, ela pode ser muito poderosa... E eu posso sentir o seu poder.”

“Obrigada, Sr. Ollivander.”


***


Aparentemente a sua visita ao Beco Diagonal demorara mais do que ela esperara demorar e, assim que voltou para o orfanato, Hermione encontrou uma Anna muito preocupada a esperando na mesa do café da manhã.

“Onde você estava! ?” a menina perguntou assim que sua colega de quarto sentou-se ao seu lado.

“Fui dar uma volta,” disse Hermione. “Precisava ver um pouco de cor.”

“Londres não é muito colorida,” sussurrou Anna, empurrando o seu prato para longe ao terminar o seu café. “Tudo é cinza e sem graça.”

“Vamos lá, você, acima de todos neste lugar, deveria saber ver a beleza de Londres!” A bruxa riu.

“Eu vivia no interior até completar sete anos,” ela falou, baixinho, e deu de ombros. “Aquilo era colorido.”

Hermione sentiu-se mal pela garota e tentou achar qualquer outro assunto para preencher a conversa delas.

“Anna, aquele garoto de ontem,” a bruxa começou a falar, olhando em volta para ver se o alvo do assunto não estava presente. “Por que todos falam dele daquela maneira? Digo... O jeito como Sebastian falava sobre ele era esquisito.”

“Oh, Tom Riddle.” A ruiva suspirou e mordeu o lábio inferior. “Ele é meio esquisito. Não tem amigos e está sempre sozinho... Há alguns anos ele entrou para uma escola particular, entende? Eu não lembro o nome do lugar, mas parece ser um colégio bom. Ele vai todo Setembro e só volta em Julho. Sebastian não gosta disso, diz que é injusto Riddle ter o direito de ir para um colégio particular e nós não, mas eu sempre digo: o menino merece. Ele é inteligente e recusar uma oferta como essa seria como assinar um certificado de que ele quer passar o resto da vida preso nesse lugar. Ele teve a sua chance e a agarrou... Eu sempre digo ao Sebastian: Riddle será conhecido um dia e nós iremos ouvir falar muito sobre ele. Eu, particularmente, acho que ele vai virar um médico, como Alexei.”

Hermione conteve-se para não rir ao imaginar Tom Riddle como um médico. Se Anna ao menos soubesse que, no futuro, aquele rapaz iria acabar matando homens, mulheres e crianças sem hesitar...

“De qualquer maneira, eu não o julgo por gostar de ficar sozinho, mas eu também não fico muito perto dele... Como já disse: coisas estranhas acontecem perto dele.”

“Coisas estranhas?”

“Sim,” ela respondeu. “A menina que dividia o quarto comigo, Amy Benson, morria de medo dele.” Hermione estreitou os olhos ao reconhecer aquele nome. Harry havia falado sobre aquela garota... Riddle, uma vez, levara ela e outro garoto até a caverna que, anos depois, serviria como esconderijo para uma de suas Horcruxes. E, de alguma forma, as duas crianças saíram aterrorizadas do passeio. “Ela nunca falou sobre o que aconteceu, mas sempre dizia que eu não deveria chegar perto dele porque ele iria me machucar. Os órfãos ainda falam sobre o incidente de Dover, depois do qual Amy e Dennis Bishop ficaram esquisitos. Dennis foi adotado quando tinha quatorze anos e Amy foi embora semana passada. Ela tinha acabado de fazer dezoito, mas disse que queria sair de perto de Riddle o mais rápido possível.”

“Entendo...”

“O negócio é o seguinte: fique longe dele e ele será inofensivo.” Anna deu de ombros. “Você nunca verá Riddle falando ou coisa parecida... As únicas pessoas com quem ele conversa são Martha e o Dr. Mazarovsky, mas ele parou de falar com ela há mais ou menos dois anos, depois que ficou muito doente em umas férias de verão. Dr. Mazarovsky ainda mantém mais contato com ele.”

“E... Desde quando ele está aqui?”

“Ele nasceu aqui,” disse a ruiva. “A mãe dele morreu quando ele nasceu, dizem. E o pai dele nunca apareceu. Deve ser triste, não? Viver toda a sua vida aqui, sem conhecer os seus pais... Era isso o que eu quis dizer ontem: eu conheci o meu pai e sou agradecida por isso. Riddle não teve essa chance e eu sinto um pouco de pena dele por isso.”


***

A sala de visitas do orfanato, como Anna explicara, também servia como um tipo de pequena biblioteca onde as crianças poderiam ficar quando queriam ler ou fazer as suas tarefas durante o período de aulas, mas, agora, nas férias, ele estava bem vazia. Hermione decidiu que seria interessante dar uma olhada nos livros que os funcionários deixavam disponíveis, já que ela não agüentava mais ler as revistas de Anna – no início, a garota ficara fascinada com as revistas antigas, mas, após um tempo, ela já não conseguia mais ler sobre fofocas de celebridades antigas ou sobre passo-a-passos de “como cachear os seus cabelos”.
Havia apenas uma pessoa na sala quando ela entrou e, para o seu azar, era a única pessoa que ela não queria ver na sua frente. A menina diminui o seu ritmo ao aproximar-se dele. Riddle estava parado na frente da estante de livros que cobria parte da parede do lugar, encarando os livros enquanto mordia as suas unhas curtas. Seus olhos deixaram os livros por um rápido momento enquanto ele olhava para Hermione, mas o garoto permaneceu em silêncio. A bruxa sentiu-se extremamente desconfortável na presença dele e aquele silêncio entre eles não estava ajudando nem um pouco.

“Você vai pegar algo ou vai ficar parada aí por muito tempo?” A menina supreendeu-se ao reconhecer a voz do outro. Era a mesma voz que ela ouvira falando com Alexei na enfermaria há alguns dias. Assim como naquele dia, a sua voz era suave, mas, ao mesmo tempo, fria e irritada.

“Você está fazendo a mesma coisa.” Ela ergueu uma sobrancelha e franziu os lábios. Quem ele pensava que era? O dono do lugar?

Riddle pulou para a frente e apanhou um livro com uma capa marrom escura com o titulo escrito em letras douradas. Antes que a garota pudesse ver do que se tratava, ele enfiou o livro em suas mãos, forçando-a a pegá-lo.

“O que é isso?”

“Isso sou eu a ajudando a não perder tempo,” ele falou, olhando para a estante outra vez. “Agora vá.”

Hermione fez uma careta, mas ele não falou nada. Ela simplesmente segurou o livro firmemente, quase afundando as unhas na capa de couro, e deu meia volta, afastando-se dele. Assim que chegou ao seu quarto, a menina jogou o livro dentro de seu guarda-roupas, dizendo a si mesma que não iria ler algo que aquele idiota simplesmente enfiara em sua cara, e sentou-se em sua cama. Anna não estava por perto e Hermione perguntou-se onde ela estaria... ‘Talvez ela tenha saído para caminhar.’

Olhando para a porta por um tempo, a bruxa ergueu-se e foi até o guarda-roupas, pegando a sua bolsa de contas. Ela enfiou a mão ali dentro e apanhou a sua nova varinha. Uma sensação confortável, seguida por um formigamento, encontrou os seus dedos ao segurar o objeto. Hermione ergueu a varinha perto dos olhos e encarou os detalhes cravados na madeira clara. Diferente da sua antiga, essa varinha tinha um punho bem marcado e, nele, haviam pequenas folhas e caules gravados, circundando-o. Aquilo, na realidade, a lembrava do design de sua antiga varinha. A menina estava concentrada em analisar o objeto quando a porta abriu-se abruptamente.

“Hermione, a Sra. Cole quer falar contigo...” Anna entrou, falando alto, mas logo parou ao ver a sua colega. Hermione conseguira esconder a varinha por debaixo de sua blusa antes que a outra pudesse vê-la. “O que você está fazendo?”

“Nada,” ela falou, amaldiçoando-se por deixar a sua voz soar trêmula. “O que você estava dizendo?”

“Sra. Cole quer você no escritório dela,” disse a ruiva. “Você está bem? Parece pálida.”

“Sim, estou. Obrigada por perguntar.” Ela sorriu. “Bom, vou indo lá...”

“Certo. Droga! Esqueci meu caderno lá fora com Mabel e Amélia,” a menina sussurrou. “Vejo você depois, Hermione.”

A bruxa concordou com a cabeça enquanto observava Anna sair. Assim que se viu sozinha outra vez, Hermione guardou a varinha em sua bolsa e levantou-se, desamassando a saia e saindo do quarto.


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Notas finais do capítulo

Trouxas, trouxas, trouxas, Sr. Ollivander, trouxas, 1944, Tom, trouxas. Como diria a Vika: VINTAGE, VINTAGE, VINTAGE, ÓRFÃOS SENDO DRAMÁTICOS, VINTAGE, TOM, VINTAGE, HERMIONE SENDO DURONE, VINTAGE!
1- Sobre a fala do dono do Caldeirão Furado: ficou meio estranho em português, mas, em inglês, eu tentei dar à ele um sotauqe cockney, que seria um sotaque não-tão-perfeito de Londres. Eles perdem H's e falam muitos "eh" e por ai vai... O que ficaria: "Eh, I see." The man set the glass down and put the cloth on the top of it. "Come on, then, I'll give you a 'and." acabou ficando: Eh, entendo. O homem colocou o copo sobre o balcão e o cobriu com o pano que usava para limpá-lo. Venha, então, vou dar uma judinha. >—< O mesmo vale pra Anna, apesar de ela não ter isso tão forte e só ter aparecido uma vez no capítulo quando ela falou "contigo" ao invés de "com você".
Muito obrigado à quem deixou review nos últimos capítulos, seus lindos :D Espero que tenham gostado desse e digam o que acharam (: