Anti-social escrita por UnknownName


Capítulo 26
Uma boa ação que pode trazer muitos problemas


Notas iniciais do capítulo

Quando houver um "*" há uma nota sobre isso no fim do capítulo.



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Era sexta feira. O último dia de aula antes das férias do meio ano, ou, como chamam, férias de verão. E que verão! Acordei suado e morrendo de calor, isso porque eu estava apenas usando uma bermuda!

Abri a janela, e a luz que entrou cegou meus olhos por alguns segundos. Lavei meus rosto, escovei os dentes e tomei um banho rápido, como sempre fazia. Desci as escadas e enchi o pote de comida do Fênix, tomei um suco e fui embora. A mesma bobagem de sempre.

─ Que calooooooooor! ─ Reclamei, próximo do portão de entrada do colégio. Mas eu sou teimoso e não iria tirar meu blusão. Eu sou assim. Por algum motivo além de meu conehcimento, eu sou tão apegado ao meu blusão quanto você pode ser apegado à seu animal de estimação, ou sei lá.

─ Bom dia! ─ Sarah me saudou como sempre, com aquele seu sorriso que eu acabei me acostumando a ver. Respondi com um movimento da cabeça, e abri meu armário para guardar os materiais que não usaria na próxima aula, e pegar os que me seriam úteis.

Olhei para o relógio. Ainda tínhamos 7 minutos, então ia dar pra conversar. ─ A propósito, eu falei com o meu pai ontem. ─ Comentei, sem olhar para seu rosto.

─ Sobre o quê? ─ Ela perguntou, segurando os livros entre os braços, e me olhando com atenção. Ela sempre ouvia atentamente cada palavra que eu dizia, mas, de certa forma, naquele momento, aquilo chegava a me incomodar um pouco.

─ V-Você sabe... Esse negócio de você se mudar e tal. ─ Continuei a olhar em outra direção que não fosse a dos seus olhos.

─ Ah... Ele é advogado, né? O que ele disse? ─ Ela parecia prestar mais atenção ainda, e eu comecei a ficar nervoso.

─ O-Olha... Pelas palavras dele, não minhas, f-foi ele que disse... ─ Ela assentiu com a cabeça, e eu continuei ─ Q-Quer dizer... Até as coisas se resolverem... Já que v-você quer tanto ficar aqui... E-Ele disse que você pode ficar lá em casa. ─ Falei as últimas palavras em um tom muito baixo, do qual ela não entendeu nada.

─ Hahaha ─ Ela riu ─ Você está vermelho como um pimentão. ─ Murmurei algo como "é o calor", e ela prosseguiu ─ O que disse? Eu não entendi sua última frase.

─ Eu disse que v-você pode ficar na minha casa. ─ Falei um pouco mais alto, o suficiente para ela ouvir. Ela ficou estupefata, como se não acreditasse. "Será que eu falei algo tão idiota assim?"

─ Isso é sério? ─ Ela me perguntou, ainda surpresa.

Cocei a nuca ─ É claro que é... Não tem motivo pra eu mentir sobre isso pra você.

Eu juro, pareciam sair faíscas de seus olhos. Ela me olhou com aquela cara de filhote de cachorro, o que me deixou um pouco envergonhado. Sua próxima ação me surpreendeu, posso dizer. Em um movimento rápido, ela me abraçou com toda a sua força, e eu não sabia como reagir.

Não me lembrava muito bem quando foi a última vez que abracei alguém, mas com certeza fazia MUITO tempo. Quando uma pessoa fazia isso, como eu deveria reagir? Eu estava confuso.

Ouvi algo que parecia como um choro. "PQP! Eu fiz ela chorar! E agora?! O que eu faço?!" ─ E-Eu fiz algo de errado? ─ Perguntei, nervoso.

─ Não... É só que eu estou muito feliz! Sério, muito obrigada! ─ Ela me apertou com mais força, e pude sentir os olhares em cima de nós. Na verdade eu não ligava, mas de certa forma me causavam desconforto.

─ E-Eu já disse que a ideia foi do meu pai... ─ Comecei a coçar a nuca novamente. Ela cessou o abraço e me olhou nos olhos.

─ Mesmo assim! Sério... Eu estou muito feliz. ─ Ela olhou para o chão em seguida, e pude perceber suas bochechas ficarem vermelhas. Foi até engraçado vê-la toda sem jeito assim. ─ Nem sei como te agradecer.

─ Não precisa. ─ Apoiei minhas costas nos armários. ─ Temos um quarto sobrando mesmo. Você já sabe o endereço, não é? Você só precisa falar com os seus pais e eu te ajudo a trazer as malas e tudo mais. Ainda mais com meu pai preguiçoso do jeito que é, eu já sei que ele não vai ajudar em nada.

Ela secou as lágrimas com as mangas da camiseta. ─ Por quê está me ajudando assim? Até um tempo atrás você me odiava.

─ Mas você não. ─ Ela me olhou, confusa. ─ Você sempre foi gentil comigo, a nunca deixou de acreditar em mim. ─ Olhei para outro lado, pensativo. Péssimas lembranças vieram à minha mente. ─ Acho que está na hora de eu agradecer, né? ─ Sorri, e ela fez o mesmo.

─ Bom... De qualquer forma, eu tenho que ir pra aula. Mais tarde eu converso com a minha mãe e com o meu pai, depois eu te ligo, tá? Tchau. ─ Ela acenou e foi embora, e eu fiz o mesmo, indo para a minha classe.

─ Acho que eu acabei de fazer uma boa ação. ─ Ri comigo mesmo. ─ Quem poderia imaginar, uh?

As aulas correram normalmente, se bem que a maioria dos alunos não viera, então foi mais zoação do que aprendizado. E foi aniversário de um professor também. É, talvez não tivesse sido tudo tão normal.

No fim da aula, cruzei com a Sarah no corredor e me despedi, depois fui embora para casa. Cheguei e meu velho estava sentado no sofá, lendo um livro.

─ "Tadaima"* ─ Falei, quase que sem perceber. "Acho que estou vendo anime demais..."

─ Tada o quê? ─ Meu pai me olhou com uma sobrancelha arqueada.

─ Nada não. ─ Me sentei na poltrona e liguei a televisão.

─ Falou com a garota? ─ Ele perguntou, sem tirar os olhos do que lia.

─ Que garota? Ah... Falei, sim. ─ Respondi, fazendo malabarismos com as bolinhas do Fênix.

─ E...?

─ Ah, ela ficou feliz. Disse que vai falar com os pais. ─ Deixei uma das bolinhas cair, e Fênix a pegou, irritado, e a levou embora, vitorioso.

─ Entendo... Que bom, então. ─ Ele sorriu, e voltou sua atenção à leitura.

Mais tarde fui para meu quarto e dei uma das minhas raras cochiladas da tarde. Acordei com o som chato do meu celular tocando. "Preciso mudar esse toque...".

─ ... Alô? ─ Atendi, sem muita vontade, e com voz sonolenta.

─ David? ─ Ouvi a voz da Sarah do outro lado da linha, e deitei de barriga para cima, ainda meio grogue.

─ Fala.

─ Então... Eu conversei com a minha mãe, e ela disse que tudo bem de eu ficar aí. Mas... Bem, o meu pai não gostou muito da ideia. Eu estava pensando se você não podia tentar convencê-lo... ─ Quase pude ver seu rosto corado, e ela com vergonha. Sorri imaginando a cena.

─ Tenho certeza de que não vou me dar bem com ele... Quer mesmo minha ajuda? ─ Perguntei, meio duvidoso de que algo poderia, de alguma forma, dar certo.

─ Bom, não custa tentar, né?

─ É, acho que não tem problema. Afinal eu que convidei, mesmo... ─ Falei, olhando para o teto, contemplando um pôster de uma das minhas bandas favoritas.

─ Legal! ─ Percebi que ela sorria ─ Então, você quer conversar com ele aí na sua casa mesmo?

─ É melhor. ─ Falei, depois de pensar um pouco. ─ Assim ele já vai ver o lugar, é mais simples.

─ Ok então... Obrigada, mesmo. Tchau. ─ Ela falou, e logo depois eu desliguei o telefone.

Não demorou muito para a campainha tocar. Olhei para cima da mesa e vi um bilhete do meu pai, que dizia "Fui comprar cerveja, já volto.". "Maldito... vai me deixar sozinho aqui...". Abri a porta e de imediato vi um homem alto, com a barba por fazer, mas usando uma roupa social. Entreolhamo-nos e um não gostou do outro, sabe? Foi ódio a primeira vista.


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Notas finais do capítulo

* Tadaima é uma expressão utilizada pelos japoneses quando chegam em casa. Seria algo como "Cheguei" ou "Estou em casa".
Reviews, plz?
~Aya