"Os dias tem sido bem cansativos. As coisas estão acontecendo muito rápido. Para alguém como eu, isso é muito diferente. Esses fatos dos últimos 4 meses não ocorreriam nem em um espaço de tempo de algo em torno de 10 anos, mas, mesmo assim..."

"Depois que ela chegou, minha vida certamente mudou."

Ela. Sarah.

Eu. David.

Estávamos em uma batalha, isso era certo. Uma batalha com um tema um tanto quanto diferente. Mas, hey, "Diferente" não é minha especialidade?

De alguma forma, eu estava perdendo. Ela tinha algum tipo de manipulação mental que me fazia me desconcentrar de meu objetivo real (que todos aqui já conhecem, mas vou repetir): Permanecer sem qualquer tipo de relação com absolutamente ninguém.

Sarah forçava uma amizade que eu insistia em não aceitar. Eu tinha meus próprios motivos na época, que, na verdade, prevalecem até os dias de hoje. Ela não dizia o por quê exato daquilo, só coisas do tipo "Você é uma pessoa muito boa" ou "Se eu não fizer isso, quem vai?", e isso me intrigava intensamente.

Mas ela também tinha um outro segredo. Eu fingia que não ligava, mas aquilo consumia meus pensamentos. Sua bondade. Sua vontade de ajudar todos. Os hematomas em seu corpo. Ah, como aquilo me intrigava. Eu não queria demonstrar interesse na história, mas acho que ela percebia minha curiosidade. Ela sabia(e ainda sabe) ler os pensamentos, de alguma maneira, não é?

Será que você é capaz de descobrir todos os segredos, antes de eles serem revelados? Ainda falta bastante tempo, eu não quero passar a história assim rápido. Eu te desafio, então!

...

─ Urg, como eu odeio manhãs. ─ Acordei em uma péssima segunda-feira, resmungando. Como sempre, me levantei e fui fazer minha higiene matinal. Fênix me perseguia, mas eu não estava com saco para aguentá-lo.

Tomei um copo de café, para me ajudar a acordar. Se em dias prévios eu estava de bom humor, este era totalmente o contrário.

Olhei pro relógio, sem dar muita importância. Fiquei o encarando por alguns instantes, antes de perceber...

─ ESTOU ATRASADO! ─ Peguei minha mochila e rapidamente saí. Fui correndo sem ver para onde eu ia, e acabei esbarrando em umas duas ou três pessoas.

Como se não fosse o suficiente, bem em frente ao portão principal de encontrava um "presentinho" que algum cachorro deixara por lá. Eu não vi e, em minha pressa, acabei escorregando e caindo com a face no chão.

─ Merda! ─ Resmunguei para mim mesmo. Algumas pessoas riam, outras me observavam preocupadas. Levei um arranhão no joelho (mesmo estando de calça), mas nada demais.

Eu já estava atrasado, e não podia perder tempo. Me levantei e corri até a minha classe.

Cheguei esbaforido, mas, por algum motivo, apenas pouquíssimas pessoas se encontravam na sala. Olhei para o relógio que lá se encontrava.

─ Eu... cheguei cedo?! ─ Exclamei, indignado. Comparei os 2 relógios, e constatei que o meu se encontrava 20 minutos adiantado! Ainda faltavam 17 minutos pra aula.

Me sentei em minha carteira, e abaixei a cabeça. "Tudo está dando errado hoje...".

Não demorou muito para Sarah aparecer também. Diferentemente de mim, ela estava com seu sorriso costumeiro.

─ Bom dia! ─ Ela me cumprimentou, se sentando ao meu lado. Eu não respondi, apenas me recostei na cadeira.

Suspirei pesado, e ela me fitou com um olhar diferente.

─ O que aconteceu? ─ Sarah me perguntou, parecia meio preocupada.

─ Nada. ─ Respondi imediatamente, e peguei meus materiais em minha mochila. Coloquei-os em cima da mesa, e fingi estudar.

─ Com esse mal-humor logo de manhã você não vai poder aproveitar o dia ─ Ela deu tapinhas na minha cabeça, como se eu fosse um animal ou algo do tipo.

─ Por quê eu iria querer aproveitar o dia? ─ Perguntei, perceptivelmente emburrado.

─ Dias são para ser vividos. Se você não for aproveitar, então para quê está aí, respirando? ─ Ela esbaldava alegria. Isso chegava a me irritar. Não era possível um ser humano ser tão bem humorado como ela. "Seria Sarah algum tipo de mutante, ou algo do gênero?"

─ Por quê está me encarando assim? ─ Ela me olhava de um jeito estranho, eu diria que quase assustado. Foi então que percebi que, enquanto estava em meus devaneios, fixei meu olhar nela. Provavelmente porque eu estava tentando enxergar o tipo de ser que ela era.

─ Não é nada. ─ Me recostei novamente. Ficamos sem conversar mais nada, o que me agradava. Alguns minutos depois o professor chegou, e a aula se iniciou. Tivemos algumas experiências, e isso me animou um pouco. Mas se eu fosse embora, certamente estaria bem mais feliz.

Aulas vêm, aulas vão, quando percebi já estávamos no horário de intervalo. Mas como aquele dia estava sendo perfeito, uma mão me agarrou pela gola da blusa e me atirou contra a parede.

─ Que diabos...? ─ Subi a cabeça para ver quem era.

─ Você, otário! ─ Daí identifiquei o rosto. Mike. O mesmo idiota do outro dia.

─ O que você quer? ─ Perguntei com desgosto.

─ Temos um assunto inacabado! ─ Ele rugia e me fuzilava com os olhos, cujos estavam bem próximos dos meus.

O empurrei para trás. Ambos exaltávamos ódio pelos olhos.

─ Diga logo o que quer. ─ Falei com impaciência.

─ Naquele dia, eu tinha tomado muita vodka. Eu quero uma revanche. E garanto que não vou perder! ─ Ele colocou os braços na cintura, em uma pose confiante. ─ Vamos ter uma luta justa, amanhã. Atrás da escola é um bom lugar?

As vozes cessaram por alguns instantes. Pessoas nos cercavam e, para muitos, era um momento de tensão. Eu estava em minha pose normal, com as mãos nos bolsos.

─ E então, o que vai ser? ─ Ele gritou, como se eu estivesse longe e não pudesse ouvir.

─ Não. ─ Respondi, depois de alguns segundos.

─ Como é?! ─ Parecia que para ele era algo como um fato inaceitável.

─ Não vou perder meu tempo com briguinhas idiotas e sem razão. Sayonara. ─ Virei as costas e acenei um "tchau" com a mão. Todos me observavam estupefatos. Sarah também estava lá, mas ao invés disso, me olhava com certa felicidade. Passei reto por ela, que não ligou.

─ Qual é?! Vai amarelar?! Volte aqui! ─ Mike gritava sem sucesso. "Humanos são estúpidos. Criam brigas sem motivo, apenas para se mostrarem superiores. Eu não sou assim. Se fizesse algo do gênero, jamais me perdoaria.".

Sarah não me seguiu, apenas ficou com aquela cara idiota de felicidade. "Ela certamente não é como os outros. Isso é um ponto positivo em sua personalidade. Jamais pensei que pudesse encontrar um, mas aí está. Ela não é estúpida e desprovida de esperteza como os outros.".

Deu um leve sorriso. Não sei por quê sorri, mas me deu uma vontade súbita de fazê-lo. Saquei meu celular, e coloquei em minha música predileta, enquanto caminhava em direção ao meu local de paz. Pelo menos até ela chegar.