Sara estava apoiada na grade da pista de kart observando seu namorado e amigos a correr. Tinha um sorriso distante no rosto, e uma paz invadia seu coração depois de tantos dias. Ela se permitiu divagar um pouco, e ficou tão absorta em seus pensamentos que nem viu quando a corrida terminou.

--Sarinha! Está melhor?

Greg foi o primeiro a se aproximar dela, despertando-a de seus devaneios. Abraçou-a com força, mas cuidado, e foi retribuído com o único braço bom da amiga.

--Bem melhor agora. –Ela respondeu abrindo um sorriso.

--Você no deu um susto e tanto, hein? –Warrick foi o próximo.

Logo seus outros amigos cumpriram o mesmo ritual de Greg e Warrick, um a um abraçando-a com carinho. Grissom, que apenas observava a movimentação deles, postou-se ao lado dela e sugeriu:

--Vamos comer alguma coisa?

Ele não estava realmente faminto, mas precisava conversar com a sua equipe; mesmo que isso o deixasse desconfortável. Antes de irem, porém, Sara o parou pelo braço e arrumou seu cabelo, retirando a boina e a segurando na mão. Os amigos já estavam na frente, mas ainda assim Sara recebeu um sorriso de Nick.

Todos concordaram em permanecer na lanchonete do kart, e ocuparam uma grande mesa do lado de dentro. Logo fizeram seus pedidos, e o silêncio reinou. Todos observavam cada movimento de Sara e Grissom, que sentavam lado a lado.

--Vocês poderiam ser mais discretos. –Catherine deu uma dura, mesmo fazendo igual.

Entretanto, nenhum deles parou de observar o casal. Queriam respostas.

--Não somos estranhos, ok? –Sara disse, recebendo seu suco. –Vocês podem parar de nos olhar assim e perguntar de uma vez.

Grissom a olhou de lado, estranhando a naturalidade da namorada ao falar; e tinha um sorriso no canto da boca, que murchou quando todos começaram a perguntar juntos.

--Um de cada vez seria melhor. –Sara comentou bebendo um gole de seu copo.

Eles se calaram meio envergonhados, enquanto a garçonete terminava de entregar os pedidos. Quando cada um já estava com seu respectivo, Catherine disse:

--Vocês chegaram juntos, então não é algo platônico do Gil. –Ela observou. –Isso é sério?

Grissom a censurou com o olhar, e Sara segurou uma risada.

--Não sei se devemos mesmo perguntar. –Warrick disse, antes que obtivessem resposta. –Isso é uma coisa somente de vocês, e a partir do momento em que o Grissom assumiu, significa que é sério. Não que você não seja, Sara.

Gil, que parecia querer enfiar a cabeça num buraco quando a loira perguntou, sorriu agradecido ao amigo. E, superando suas expectativas, ele respondeu calmamente:

--Sim, temos um relacionamento. E é muito sério.

Sara sorriu boba olhando para seu lanche.

--Há quanto tempo? --Jim tomou a palavra.

Neste momento Sara e Grissom se entreolharam; essa pergunta sempre confundia os dois. E foi ele quem respondeu novamente:

--Sempre tivemos um relacionamento. –Segurou a mão dela por cima da mesa. –Mas há dois anos que realmente começamos a namorar.

--Quem tomou a iniciativa¿ --Cath queria detalhes.

--Dessa vez o Gil. –Sara respondeu segurando o riso. –Pouco antes do sequestro do Nick ele me chamou para sair. Foi num domingo.

Como em um coro, eles assoviaram, e depois caíram na risada. Warrick, mais à vontade para questionar o casal, observou:

--Eu sabia que a Sara não gostava de outras mulheres na vida do Grissom, mas não achei que o contrário também acontecia.

--Quando eu fui atrás da Sara, e encontrei só o carro dela no shopping, eu vi que o Gil ligava sem parar. –Jim contou. –Então eu cheguei no laboratório e o vi lívido com a miniatura nas mãos. Ele nem precisou falar nada.

--Foi um choque e tanto para nós também. –A loira disse. –Ele falou “Eu tirei dela a pessoa que ela mais amava, e agora ela vai fazer o mesmo comigo” e simplesmente saiu da sala. Foi tão... Súbito!

Grissom e Sara se entreolharam. Afinal, nem estavam contando tudo; os CSIs estavam tirando as próprias conclusões. E não falar deixava o entomologista mais confortável, definitivamente.

Mesmo com o clima mais ameno, Nick ainda parecia bravo e resmungou enquanto fatiava seu bacon:

--Mas isso ainda é muito injusto! Vocês nos esconderam por dois anos, não confiaram na gente. Só o Greg sabia! –Ele olhou para o colega. –Acharam que íamos julgá-los? Íamos fazer vocês se separarem?

Essa pegou o entomologista desprevenido, ele não achava que magoaria a equipe se escondesse tudo.

--Eles não me contaram. –Greg disse, terminando de engolir. –Eu os flagrei.

Eles riram e pediram para que o antigo lab rat narrasse; e mesmo com o olhar zangado de Gil e o vermelho gritante no rosto de Sara, ele continuou:

--Sara e eu estávamos assistindo o campeonato de surfe no apartamento dela. Grissom devia estar em uma conferência ou seminário, sei lá... Mas ele chegou mais cedo e parecia bem... Saudoso. –A equipe ouvia com atenção, mas rindo. –A campainha tocou, e a Sara foi atender achando que era a pizza. Mas o “Entregador” –Ele gesticulou aspas com as mãos –A agarrou com vigor na soleira da porta. Bom, aí ela se perdeu, né! Se eu não tivesse deixado meu copo cair de surpresa, sabe-se lá o que eu acabaria vendo...

--Oh, eu não imagino vocês se beijando. –Nick comentou.

Gil se mexeu desconfortável na cadeira, e respondeu seco:

--Eu ia fazer uma surpresa pra ela.

Catherine sorria boba para o amigo.

-Então... –Sara pigarreou. –Nós confiamos em vocês, mas as paredes do laboratório têm ouvidos, e estes reportam tudo ao Ecklie. Se algum comentário ou olhar inocente fosse lançado, estaríamos perdidos. –Ela olhava nos olhos de cada um. –Teríamos que nos separar mais cedo.

--Separar? Você vai sair do CSI? --Warrick perguntou bravo.

--Um de nós terá que mudar de turno, por conflito de interesses e favorecimento. Entramos em um acordo e eu irei para o Intermediário. –Ela forçou um sorriso.

A equipe toda estampava olhares chocados.

--Vocês dois são os mais profissionais que eu conheço! Jamais deixariam a emoção interferir na evidência! –Catherine estava indignada. –O que podemos fazer para mudar isso?

--É, podemos falar com o Ecklie? --Nick perguntou ansioso.

--Não seremos mais a melhor equipe se um de nós sair! –Greg estava nervoso.

Gil abriu um largo sorriso para a equipe, e passou os braços por trás da cadeira de Sara.

--Vocês me orgulham, sabiam? --Sara se aconchegou em seu braço. –Nós agradecemos, mas não adiantará. Tentamos de tudo com o Ecklie.

--Aquele idiota. –Warrick falou mal murmurando.

Por alguns minutos o silêncio se instalou novamente, com cada um absorto em seu próprio prato. Greg murmurava algumas coisas para si em um tom magoado, mas foi Catherine quem chamou a atenção:

--Vocês vão se casar?

A pergunta soou tão natural e súbita, que Sara se engasgou com o suco. Grissom pigarreou e abriu a boca como um peixinho fora d’água, sem saber ao certo o que responder.

--Sara é anticasamento, Cath. –Nick sussurrou para a amiga.

--Eu não sou anticasamento! –Sara disse com a voz estrangulada. –Sou antiestupidez. Fazer algo por ser tradição...

Gil fez um biquinho para a namorada e a olhou como se estivessem sozinhos no mundo.

--Seria estupidez se fizéssemos isso?

Ela sorriu de lado e deixou sua mão ser envolta novamente pela do namorado. Os amigos prendiam a respiração aguardando a resposta.

--Eu acho... Que seria algo sensato. –Suspirou.

Os dois entrelaçaram os dedos por cima da mesa, enquanto a equipe encarava-os embasbacados. Grissom não acreditou de primeira na resposta dela e indagou:

--Sério?

--Sim, vamos fazer isso. –Ela confirmou, aumentando o sorriso.

Os olhos do entomologista brilharam com a resposta, e ele não se conteve. Com um sorriso largo nos lábios, ele se aproximou do rosto da namorada, envolvendo-se em um beijo profundo e apaixonado. Não perceberam quanto tempo ficaram ali... Talvez segundos, minutos, ou vários dias quentes de verão; não ouviram os vivas do pessoal, ou as lágrimas nos olhos de Catherine. Podiam ser desajeitados socialmente, mas completamente ajustados um ao outro; afinal, cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar. (Machado de Assis)