Rachel passou o seu notebook para a mão esquerda, se preparou mentalmente para enfrentar a carisma de Quinn mais uma vez e abriu a porta do café.

Aquele café de luxo era o seu favorito, não só pela sua proximidade do prédio em que ela morava, mas pelos bolinhos de nozes e lascas de chocolate de lá, de preferencia recém-saídos do forno, enquanto as lascas de chocolate ainda estavam derretidas.

Rachel fez um gesto para Mike, o garçom, tentado se convencer de que o calor que a envolvia tinha tudo a ver com o fato de ela ter deixado o vento frio do lado de fora e nada, absolutamente nada, com o fato de ela ter visto Quinn se levantando de uma cadeira, numa mesa de canto.

Ela estava vestida informalmente para uma tarde de domingo, com uma calça jeans apertada e um suéter cinza de gola V. Rachel pôde ver a camiseta preta que ela estava usando entre o suéter e a sua pele alva da barriga de relance.

Não pense no que está próximo á pele.

Mantenha essa reunião num clima profissional.

Se ela flertar com você, simplesmente ignore-o.

Falar era fácil, difícil era fazer, especialmente quando o sorriso dela a convidava a quebrar todas as regras com a promessa de que adoraria fazê-lo. Por que aquela mulher a tentava a jogar todo o seu cuidado e bom-senso pela janela?

Quinn puxou uma cadeira para ela e fez um meneio de cabeça em direção á sua pasta.

- Você veio preparada.

- Eu sou boa no que faço. É por isso que você está me contratando. Trouxe uma lista de locais e datas que podemos conseguir nas próximas quatro semanas. Nem preciso dizer que é uma lista bastante reduzida, uma vez que os melhores lugares fazem reservas com meses ou até mesmo anos de antecedência.

Tentar entrar em contato com seus fornecedores em pleno domingo tinha provado ser algo completamente infernal, mas ela o havia conseguido, cobrando todos os favores que eles lhe deviam. Afinal. Esse trabalho era muito importante.

- Eu pedi o de sempre para você. Mike disse que vai sair uma fornada de bolinhos doces daqui a cinco minutos.

O de sempre? Ela já havia se encontrado com Quinn, Santana e Britty por lá algumas vezes, mas não tinha percebido que ela havia notado que sempre pedia a mesma coisa.

- Obrigada.

Ela pousou o notebook sobre a mesa e o abriu. Quinn deu a volta e a ajudou a tirar o casaco enquanto o computador ligava. Cada toque, por mais fugaz que fosse a atingia com uma descarga de eletricidade.

Rachel se sentou rapidamente para escapar de calor do toque dela e colocou uma folha de papel sobre a mesa assim que as costas dela tocaram o encosto da cadeira.

- Aqui estão as fotos, as datas disponíveis, a capacidade dos espaços e os preços. Teremos que agir rápido, pois estamos apostando nos cancelamentos. Assim que escolhermos o local, começaremos a tratar do cardápio. Você está com a lista de convidados.

Quinn a extraiu do bolso do seu casaco. Rachel se pôs a avaliar os nomes. Uma descarga de adrenalina percorreu o seu corpo. Se pudesse convencer apenas duas ou  três daquelas pessoas a contrata-la, Affairs by Rachel ficaria no azul por muito tempo.

Uma sombra caiu sobre a folha de papel. Ela ergueu o olhar e conteve um gemido. Finn, seu ex-namorado, mentiroso e ladrão, estava apoiado sobre a mesa. Rachel precisou de toda a sua disciplina e civilidade para esconder a sua reação nada feliz ao vê-lo.

- Olá, Rach.

-Oi Finn. Não posso conversar com você no momento. Pode nos dar licença, por favor?

O traste não se mexeu.

- Dei uma passada no seu apartamento.

- Finn, eu estou trabalhando.

- Seu empréstimo no banco vence esta semana. Está com dinheiro para cobri-lo?

As faces de Rachel começaram a arder. Ela não precisava que Quinn ficasse a par de seus problemas financeiros. Ela poderia acabar mudando de ideia quanto a contratar os seus serviços.

- Não tenho tempo para essa discussão agora. Mais tarde, está bem?

Finn enfiou as mãos nos bolsos como se não tivesse a menor intenção de ir a lugar algum tão cedo.

- Eu posso lhe emprestar algum dinheiro, se você estiver apertada.

Dinheiro que provavelmente era o seu próprio. Ela precisava se ver livre dele.

- Por que não conversa diretamente com o meu advogado a esse respeito?

Ela sabia que estava blefando, mas pôde ver o efeito de sua ameaça estampado nos olhos dele, para então desaparecer completamente. Os lábios dele se curvaram num sorriso de satisfação.

- Ora, Rach não há motivo para ser rude desse jeito. Nós dois sabemos que você não quer atrair a atenção dos seus pais para as suas... dificuldades.

Maldito. Mil vezes maldito. Ela olhou para Quinn, e o seu olhar se fixou no dela por cerca de dez segundos. Logo em seguida, ele afastou a cadeira e se levantou.

Ela havia perdido o negócio... Rachel vasculhou alguma coisa de sua mente á procura de uma maneira de salvar a situação, mas não conseguiu pensar em coisa alguma.

Em vez de sair tempestivamente do café, Quinn estendeu a mão para Finn. O brilho estampado nos olhos verdes dela e a sua postura estavam longe de parecer amigáveis. Na verdade, ela nunca havia visto Quinn com uma expressão tão feroz e fria capaz de meter medo até mesmo em Finn que era duas vezes maior que ela.

- Não acredito que finalmente vamos nos conhecer. Eu sou Quinn Fabray, a advogada financeira de Rachel.

Finn arregalou os olhos e sua boca se abriu. Assim que ele a soltou Finn com desconfiança para Quinn e Rachel e então endireitou os ombros.

- Finn Hudson, namorado de Rachel.

- Ex-namorado – corrigiu ela. – Assim que cancelou o aluguel do nosso apartamento sem me dizer nada e se mudou enquanto eu estava fora da cidade, você deixou de ser qualquer coisa minha.

Ele a havia deixado com uma das mãos na frente e a outra atrás e uma pilha de contas para pagar. Como vinham dividindo as despesas igualmente, seu nome constava em todas as contas, embora não no aluguel. Ela havia sido duplamente prejudicada. Tivera que se mudar e cobrir as dívidas dele. Deus sabe onde Rachel poderia ter acabado se Brittany não estivesse precisando de alguém para dividir o apartamento.

Finn pareceu se recompor.

-Bem, quanto ao empréstimo...

- Se Rachel precisar de alguma coisa, tratará disso por meu intermédio, compreendido? – disse Quinn num tom gelado.

Rachel piscou repetidas vezes ao olhar para ela. Não estava acostumada a ter alguém que viesse em sua defesa e havia gostado disso, ainda que estivesse mentindo quanto ao fato de ser sua advogada.

Finn deu mais um passo para trás.

- Oh, claro. Vejo você por ai, Rach.

Ela o observou sair do café.

- Arrume as suas coisas. Vou pedir que preparem o nosso pedido para viagem. – disse Quinn.

- Por quê?

- Porque você vai me contar o que está acontecendo e eu não creio que você queira discutir a sua situação financeira num café cheio de gente. Nós vamos para o seu apartamento.

Tê-la novamente em seu apartamento não lhe pareceu uma boa ideia.

- Eu realmente não gostaria de discutir as minhas questões pessoais.

- Se você não se abrir comigo, nosso negócio estará terminado – disse arqueando a sobrancelha.

Ela suspirou. Não tinha alternativa.

- Para o meu apartamento, então.