“Como aconteceu Marcus?” Rosalie perguntou e, por trás da aparência que conservava, aparência de superioridade do mundo real, senti verdadeira empatia.

            Eu demorei para responder... estava revendo toda a história. Reorganizando as cenas outrora apagadas, obliteradas por poderes à época desconhecidos. Ao falar, estava de olhos fechados, apoiando meu peso sobre o castão.

            “Quando retornamos para a Itália, eu podia finalmente viver meu amor. Sarah deixou sua casa na França e veio morar em Volterra. Porém, não tínhamos toda a privacidade que queríamos. Pessoas entravam e saíam do castelo o todo tempo, nossos servos também estavam lá, isso sem falar de Aro e Caius, sempre discutindo política e estratagemas para voltar a perseguir Vladimir, Stefan e Alexander. Claro que requisitavam, sem a possibilidade de negação, nossa presença nessas reuniões”

            “Assim sendo, logo consideramos a hipótese de nos mudarmos. Chegamos até a visitar os antigos domínios de Hassam Weishaupt, o antigo líder dos Hiram e dos Weishaupt. Foi nessa visita que consegui este anel” eu indiquei à eles o anel que levava em minha mão direita.

            “Estes não são os símbolos da Maçonaria? Lembro de ter ouvido falar muito nela em vários livros que li” Edward perguntou

            “Sim, fico feliz que tenha perguntado. Realmente achei que não iriam perguntar...” disse entregando o anel aos demais para que vissem melhor “mas na verdade, apenas o esquadro e o compasso são símbolos da Maçonaria. A Pirâmide Que Tudo Vê é um símbolo específico dos Illuminati, outra confraria antiga e secreta, que de uma certa forma foi fundada por este Hassam Weishaupt. Mas voltando à história, na época eu não podia deixar de tocar meu irmão Aro, e dessa forma não podia esconder meus pensamentos dele...”

            “E pode agora?” Carlisle me interrompeu, surpreso com minha declaração. Eu dei um sorriso torto em sua direção e me virei para Alice.

            “Alice, você me viu decidindo vir visitá-los?”

            “Na verdade não, Marcus...” ela disse, insegura “mas imaginei que fosse por Jacob estar relacionado, e como não posso ver nada que o envolva...”

            “Interessante... Edward, você pode ouvir meus pensamentos agora?”

            “Na verdade, não te ouço desde que você chegou... sua mente ficou em silencio durante a conversa toda”

            “Jasper, me lembro que você também tem alguma habilidade não?”

            “Sim, posso sentir e controlar as emoções das pessoas...”

            “E sabe como me sinto agora?” Jasper me olhou com curiosidade e respondeu:

            “Nada, está totalmente sem emoções... o que de fato é estranho, dado o teor da conversa que estamos tendo”

            “Exatamente. Viu Carlisle? Estou totalmente alheio a qualquer um dos poderes aqui desta sala. Edward não me ouve, Alice não me vê e Jasper não me sente. Posso ver cada uma das ligações que vocês mantém entre si, mesmo se Bella tentasse bloquear-me, e poderia inclusive tocar Renesme sem ver aquilo que ela tentasse me fazer ver”

            “Mas como isso?” quis saber Renesme.

            “Entendendo toda a complexidade que envolve as habilidades que temos, dediquei cerca de 200 anos à esse estudo, e só há poucos anos consegui aperfeiçoar a técnica. Consiste mais em burlar, desviar dos efeitos do que simplesmente bloqueá-los.”

            “É possível aprender isso?” Emmett perguntou.

            “Claro, mas serão necessárias muitas horas para produzir algum resultado, por menos que seja. Enfim, como eu dizia, não podia, na época esconder meus planos de Aro, então logo ele soube que Sarah e eu ansiávamos morar sozinhos, longe dos Volturi. Deixar os Volturi e Volterra para nunca mais precisar voltar. Agora, conseguem entender a finalidade que Aro deu ao meu dom? Podendo conhecer os laços que as pessoas nutriam umas pelas outras, era muito mais fácil arregimentar asseclas para a Guarda Volturi, então Aro não quis me perder.”

            “Lembro-me que ele ficou furioso por saber que decidiríamos deixá-lo. Sarah também tinha poderes, muito mais úteis aos planos de Aro que qualquer outro. Ela era o que nós costumamos chamar de mentalista. Eles trabalham com a mente da pessoa, alterando e apagando pensamentos. Depois de poucas tentativas, ele pareceu se resignar e simplesmente aceitar nossa mudanças”.

            “Na época, nós, Volturi principais éramos Aro, Caius, Sarah, Ístria, Mary e eu. Essa Mary era outra mentalista, e Ístria tinha entrado em nosso convívio por substituição a Cratus, cujo poder era induzir pensamentos e opiniões. Ela combatera ao nosso lado contra os romenos, mas era, na época, a principal protegida de Aro, e por isso não chegou a lutar fisicamente. Digamos que ela tenha feito o serviço de inteligência”

            Foi então que percebi que me estendera além do planejado em meus relatos. As cinzas esfriavam na lareira, o céu clareava do lado de fora e, ao contrário do que poderia imaginar, todos ainda estavam tão interessados quanto no início. Eu olhei para fora, sugestivamente, e disse, me desculpando:

            “Acho que acabei me excedendo no tempo que qualquer paciência poderia suportar... me desculp...”

            “O que é isso?!?! Sua história é maravilhosa, e creio que é de importância, por que de outra forma estaria nos contando tudo isso, e ainda mais mantendo segredo de Aro e Caius? Posso não ser dono desta casa, mas como membro desta família que sou, falo por todos    quando digo que debaixo deste teto, você não se desculpará... não por isso pelo menos.” Jacob falou, ficando de pé num pulo e surpreendendo não só a mim, mas, pelo que pude perceber, alguém teria dito aquilo, mas ninguém esperava que fosse ele a fazê-lo. Ao que parece, nunca esperariam tanta indulgência vinda dele. Renesme o apoiou.

            “Jacob tem razão, Marcus... não estamos preocupados com o tempo. Temos a eternidade também, lembra-se?”

            “Renesme” eu disse com emoção. Há séculos não era tratado como um igual “eu agradeço pela compreensão, e pela empatia, Jacob... mas fazem parecer que eu não ocupei a noite inteira de vocês, isso sem falar no fato de que eu planejava voltar à Itália antes do amanhecer e...” Bella me interrompeu.

            “Pois vai ficar mais alguns dias conosco então, Marcus. Assim poderá continuar nos contando sua história”

            “Mas...”

            “Marcus, é falta de educação negar a hospitalidade alheia, você sabe bem disso... e não tente convencer Bella do contrário, vai acabar desistindo... eu mesmo desisti muitas vezes” Edward disse.

            “Edward... não registre o que vou dizer agora, mas... Mach, meu mensageiro, ele me disse que você foi o que mais se perturbou com minha visita, então pensei que não quereria que eu ficasse por aqui muito tempo”

            “De fato, não me senti muito à vontade com sua visita, no início, mas conhecendo sua história, sabendo de seus motivos para o segredo, e comprovando que veio sozinho, pude ouvir a verdade em suas palavras e enxergar o grande abismo que há entre você e Aro, ou até mesmo Caius”

            “Obrigado. Não sabe a importância que tudo isso tem para mim. Por 900 anos foi apenas mais um no círculo dos Volturi. Aro faz parecer que regemos os vampiros como uma triarquia, mas na verdade tudo se resume em um grande absolutismo. Vocês agora me fazem sentir da família, e agradeço muito por isso”

            “Então fique, e assim poderá nos ensinar a nos esconder das habilidades de outros vampiros” Emmett disse com entusiasmo de quem adora ter uma vantagem em uma luta. Penso, agora como algo distante à minha realidade, que se Aro o visse lutando, certamente faria de tudo para ter músculos e coragem como respaldo.

            “Emmett!” advertiu Esme.

            “Não se preocupe Esme. Aquele que detém o conhecimento tem como missão transmiti-lo àqueles que não o tem. Admiro sua vontade de aprender, Emmett, e por isso vou ensiná-lo. E aos que mais quiserem aprender, claro” incluí olhando para os outros Cullen.

            Eu nunca teria sido tratado assim em Volterra. E se eu contasse minhas descobertas a Aro, nada receberia a não ser a incumbência de treinar, compulsoriamente, todos os Volturi. Já entre os Cullen, um novo sabor vinha da tutela cognitiva que eu estava prestes a iniciar. Idealizando esse momento, eu era Sócrates, e os Cullen, os jovens de Atenas. Nada pode ser mais prazeroso ao conhecedor do que fazer conhecer, ensinar.