Talking To A Moon escrita por Rach Heck


Capítulo 10
All You Need Is Love


Notas iniciais do capítulo

Tudo bem, acho que viciei em fazer capítulos grandes. E também acho que vocês não vão reclamar por isso né haha



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Os sinos da porta da loja soaram ao longe.
- Ah, muito obrigada... - Tentei não encará-lo confusa, mas minhas sobrancelhas se uniam, sem que eu tivesse controle.
- Minha afilhada também adora pelúcias. Se parece muito com a... - Reconheci as reticencias em sua fala, a espera do nome do anjinho loiro em meu colo. Forcei meus pulmões a encherem-se de ar. Não podia ficar ali, parada, boquiaberta.
- Lotte... Desculpe, Charlotte. 
- Que nome bonito! - Ele me pareceu sincero. Ou talvez apenas atuasse bem. - É sua irmã?
- Na verdade minha filha emprestada. - Sorri. Mas foi a vez das sobrancelhas dele se unirem. - É minha prima.
- Ah sim. Prazer. - Ele esticou uma das mãos. - Me chamo Steven.
- Prazer em conhecê-lo, Steven, me chamo Mariana.
- Eu realmente preciso ir, mas foi um prazer te conhecer, Mariana. E você também, Charlotte. - O sotaque ao pronunciar meu nome fez meus pelos se ouriçarem. 
- Igualmente, Steven. - Ele voltou pelo corredor de onde viera, mas logo virou-se e veio em nossa direção novamente.
- Se importa de trocarmos nossos números? - Meus olhos se arregalaram. Quero dizer, não é todo dia que um cara lindo, como um modelo saído daquelas revistas em que passamos horas encarando, pede o seu numero de telefone. - O anjinho loiro em meu colo soltou uma risada e escondeu-se novamente em mim, como se compreendesse o que ele havia falado e estivesse sentindo-se tímida. 
- Ahn... Não, tudo bem. É só que meu celular não é daqui. - Lotte ajeitou a cabeça entre meus cabelos, fazendo cócegas em meu pescoço com seu nariz gelado.
- Sem problemas, também não sou daqui de Paris. Moro em Londres. - Ele sorriu.
- Não, você não entendeu. - Ri, como se ele fosse um bobo. - Meu celular é do Brasil. Estou passando uns dias na casa da minha tia, ah, ela também mora em Londres. 
- Oh, você é brasileira? - Seus olhos pareceram brilhar. - Mas seu sotaque... Deus, se não tivesse dito, nunca teria suspeitado. - Seu sorriso parecia que nunca mais iria se desmanchar.
- Nossa, que bom que ficou feliz com isso. - Fiz-me de assustada, mas logo sorri. - Eu posso te dar o numero da casa da minha tia, se quiser. Acho que é mais fácil, não?
- Ah sim... - Ele ainda sorria enquanto eu anotava o numero em seu celular, com a ajuda do que estava gravado no meu. - Bom, foi um prazer conhecê-las. - E assim virou-se e tornou a seguir o seu caminho. Minha cabeça ainda estava embaralhada.
- Nai... - Ela balbuciou novamente. 
- Não Lotte, esse não é o Niall... - Disse meio anestesiada, ainda encarando a enorme figura virar o fim do corredor. - É tão lindo quanto... mas quer saber? Meu marido é mais. - Empinei o nariz. - Espera aí. - Exclamei, percebendo por fim o que havia acontecido. - Você... Você disse o que? Meu Deus Charlotte, temos que encontrar a sua outra mãe agora!

Ela havia pronunciado sua segunda palavra. E esta havia sido o nome do meu amor. Seria um sinal? Ou eu quem sou maníaca?
- Tia! - Exclamei ao encontrá-la dirigindo-se ao caixa, o carrinho lotado de objetos festivos.  – Tia, a Lotte disse sua segunda palavra! – Parei ofegante. Tente correr por uma loja gigante, com uma bebê de onze meses, quase um ano, no colo. Coloquei a pelúcia de lua no carrinho.
- Ah, e o que ela disse? Mamãe? – Disse praticamente aos gritos, e como conversávamos em inglês, a loja inteira nos encarou.
- Na verdade... – Percebi então o quanto seria difícil explicar que sua filha, a qual fora educada com todo o amor possível, de repente fora atraída por uma estranha parente distante, que virara o mundinho infantil da mesma, fazendo com que suas primeiras palavras fossem todas relacionadas àquela louca.
- Nai... – Lotte balbuciou, balançando-se para frente, pedindo o colo de sua outra mãe.
- Parece que não foi mamãe... – Sorriu enquanto virava-se com Lotte em seu colo, era a sua vez de pagar. – Quando você vai começar a agir como um neném normal? – Brincou. – Ah, esqueci que ninguém nessa família é normal.

Ainda nevava enquanto o trem bala corria em toda a sua velocidade voraz, mostrando a todos que nem o vento era capaz de desviá-lo.  Senti um calafrio só de imaginar o frio que deveria estar lá fora. Só queria chegar em casa, tomar um longo e escaldante banho, enfiar-me debaixo das cobertas e dormir o resto do tempo que tinha.

Mas, como sempre, meus planos não deram certo.
- Mariana, pode atender o telefone para mim, por favor? – Minha tia gritou da cozinha, no andar de baixo, logo quando estava me preparando para me enterrar debaixo de toneladas de cobertas. Suspirei e desci as escadas correndo.
- Alô?
- Oi, a Mariana se encontra? – Demorei um tempo processando aquelas palavras, em parte porque eram difíceis, e nunca as havia visto. Mas deduzi o que era ao ouvir meu nome. Pensei ter reconhecido a voz.
- É ela... – Respondi, sentando-me no sofá.
- Ah, oi Mariana, é o Steven. – Pude imaginá-lo sorrindo. – Pode parecer perseguição, mas não é eu juro. – Ele riu e eu não contive uma gargalhada. – É só que pensei que, não sei, você poderia ter me passado o número errado, ou sei lá.
- Alguém alguma vez fez isso? – Perguntei assustada. Nenhuma garota em sã consciência daria o seu número errado para um gato como o Steven. Não de propósito. Porque claro, com um modelo daqueles pedindo o seu número, você provavelmente pode entrar em pânico e esquecer o número, ou passar um digito errado... Mas jamais...
- Sim. – Uma risada tímida cortou a linha. – Algumas vezes.
- Sem piadinhas de mal gosto. – Ri forçadamente.
- Estou falando sério.
- Essas meninas tinham sérios problemas. – Fiz-me de indignada e ele gargalhou.
- Você gostaria de tomar um café comigo, algum dia desses? – Sua voz pareceu tremer, e eu sorri ao imaginá-lo tímido diante daquela pergunta.
- Claro, por que não? – Sorri amigável, como se ele pudesse ver o meu sorriso. – É só que essa semana eu vou estar ocupada com o aniversário de Lotte. Lembra-se dela, não?
- Como me esquecer daquela risada?
- Impossível, eu sei. E, bom, você está convidado para a festa, claro.
- Ah... Muito obrigado. – Ele pareceu surpreso, porém radiante. Tentei imaginar como seria sua expressão radiante. Droga, nunca fui muito boa nisso. – Bom, preciso desligar. Depois ligo novamente e marcamos o café, ok?

Minha tia fazia biscoitos, e o cheiro era inebriante.
- Eu convidei um amigo para a festa de Lotte, tem problema?
- Problema algum... – Ela tirou a bandeja do forno, e ao coloca-la em cima da bancada me encarou. – Amigo? – Sua sobrancelha esquerda se ergueu.
- Sim, um amigo. – Disse me aproximando do balcão. Meu Deus que cheiro era aquele.
- E onde a senhorita conheceu esse... amigo... posso saber? – Revirei os olhos. Minha família.

Faltava um dia para a festa. Não tinha nem uma hora que havíamos finalmente chegado em casa, depois de mais uma manhã cansativa comprando as ultimas coisas. Minha mãe chegaria no outro dia, e eu só pensava em descansar. Passara os últimos dias acordada quase a madrugada inteira, conversando com o Steven, e quando finalmente nos despedíamos, apagava no sofá mesmo. Era tão bom falar com ele, de uma forma quase renovadora. Era incrível como ele me ajudava, me dava forças quanto aos meus sonhos. Ao meu sonho.
- Ih, já está esse telefone tocando. – Minha tia revirou os olhos, mas logo sorriu. Boba, não queria admitir que gostava do Steven, eu havia mostrado algumas fotos dele pela internet.
- Pelo menos a Lotte gosta dele. – Mostrei minha língua enquanto corria para atender ao telefone. A neném em meu colo rindo, misturando o som de sua risada com o barulho estridente do telefone. – O que você quer? Não tenho o dinheiro do resgate, pare de me encher! – Fiz voz de choro, e logo caímos na gargalhada.
- Está com tempo livre hoje? Estou com a tarde livre...  Quero dizer, se o Café ainda estiver de pé.
- Espera. – Tampei o telefone com a mão que estava livre, pois o outro braço segurava Lotte, que brincava com meus cabelos. – Tia, posso ir no café com o Steven?

POV Niall

Nem sempre era assim. Digo, eu gosto de ficar sozinho às vezes, mas de repente a solidão me pareceu... Depressiva. Não gosto de me sentir assim. Solidão me lembra vazio, e vazio me lembra estômago vazio... Mas não tinha nada na geladeira que eu quisesse realmente comer. Talvez... Talvez sair para comer poderia ser uma boa ideia. Ah, mas está tão frio lá fora...

Ignorei a lembrança de que eu ficava fofo de gorro. Estava ventando tanto lá fora, que seria quase suicídio. Inspirei o último ar quente e saudável, e me atirei na ventania. Senti minhas bochechas queimarem pelo frio, e pensei instantaneamente em dar meia volta. Mas lembrei da comida. Tem um Café, não é tão longe daqui... E também não é tão conhecido. Quem sabe eu posso apenas tomar um café, comer algo, sem que me reconheçam, sem que me façam sorrir e congele minhas bochechas.

As ruas estavam vazias. Talvez pelo frio... Me enganei ao virar a última esquina. A rua do Café estava lotada. Dei de ombros. Não voltaria agora.
- O que vai querer? – Disse o cara atrás do balcão assim que sentei no penúltimo banco. Os sinos da porta da loja ainda tilintando em meus ouvidos. Gosto do som dos sinos.

POV Mariana

Subi as escadas correndo, precisava tomar um banho, me arrumar. Steven disse que chegaria em poucos minutos, se o transito ajudasse. Droga transito, por favor, não ajude dessa vez.
- Se está assim porque vai tomar um café com um... amigo... – Pude ouvir a malicia em sua voz. Revirei os olhos. O Steven era realmente apenas meu amigo. – Fico imaginando como vai ser no seu casamento.
- Coitado do Nini, vai me esperar por horas no altar. – Praticamente negritei com a voz o “Nini”. Karla riu.

Estava terminando de passar o perfume quando a campainha tocou. Pude ouvir minha tia atender a porta.
- Mariana! – O loiro alto, de olhos azuis como o céu de verão do Brasil sorriu e levantou do sofá ao meu ver descendo as escadas.
- Nossa, lembrou meu nome? – Fiz-me de desentendida. Nesses últimos cinco dias, eu havia me tornado muito próxima a ele. Não próxima... próxima... apenas muito amiga.
- Como eu ia esquecer? Você não para de me ligar. – Me olhou de cima a baixo, e eu gargalhei.
- Mari, tem certeza de que está agasalhada o suficiente? Eu sei que não está nevando, mas não se sabe...
- Não tia, estou bem. Peguei praticamente todos os casacos que trouxe, quase não consigo respirar aqui dentro. – Sorri.

Não estava bem. Não estava agasalhada o suficiente. Droga.

POV Niall

Agradeci por ter lembrado de trazer a carteira. Paguei a conta e me levantei. Sentia meu corpo quente, o café havia me esquentado por dentro.

Os sinos soaram quando abri a porta para sair do Café. Sorri e fechei a porta, tornando a abri-la apenas para ouvi-los novamente. Todos dentro do Café me encararam. Sorri envergonhado e me virei, tomando o caminho de volta para casa.

Estava quase virando a esquina quando ouvi os sinos soarem novamente. Algo em mim gritou para que eu voltasse. Estatelei confuso no meio da calçada.

POV Mariana

Os sinos soaram ao entrarmos no ambiente. Sorri instantaneamente. Adoro sinos. Me fazem lembrar da minha avó, sempre que ia para casa dela nas férias, de manhãzinha, gostava de ouvir o sino da igreja. Logicamente o som era diferente, mas não sei, desde então todo o tipo de sino me faz sorrir. Me fazia lembra-la.
- O que vai querer? – Um rapaz engraçado dirigiu-se à mim e ao Steven, que já havia sentado na última cadeira do balcão. Sorri e sentei-me ao lado dele, na penúltima. E então meu coração acelerou. O que...
- Mariana, você está bem? – Os olhos de Steven me encaravam cheios de preocupação.
- Eu estou sim, é só que... Não sei. É apenas dificuldade para respirar. Deve ser por causa do tempo frio. Não estou acostumada a esse tipo de clima. – Meus pulmões não me obedeciam. Meu coração doía. Que droga é essa que está acontecendo?

POV Niall

Balancei a cabeça e continuei andando. O que estava pensando? Que iria voltar e encontrar o amor da minha vida? Contive um riso. Foram apenas os sinos. Nada demais. A neve começou a despontar do céu, cobrindo-me com uma fina camada branca. O frio me obrigou a cruzar os braços, e um pensamento me ocorreu sem que eu controlasse. Como se eu controlasse algo em minha mente. Uma música entoou, provavelmente de alguma loja.

“All you need is love, all you need is love, all you need is love, love, love is all you need”

Talvez Zayn estivesse certo. Talvez eu realmente precisasse me apaixonar.

Mas isso não iria acontecer em um Café, certo?


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