Após muito tempo longe da central dos shinigamis, que era o local onde todos os shinigamis costumavam se alojar, Grell Sutcliff resolve retornar ao local para fazer uma pequena visita a um velho amigo que a muito não via. A muito o ruivo não voltava lá, pois muita coisa havia acontecido desde a ultima vez que saiu de lá. E consequentemente a muito Sutcliff não via seu velho e melhor amigo. William T. Spears, não era um exemplo de bom humor, mas o ruivo sempre gostou dele e estava sentindo falta do jeito frio que apenas William tinha de lhe tratar.

Grell não sabia onde encontrar o moreno agora. Ele não parava em casa, estava sempre preocupado com: trabalho, relatórios e mais trabalho. “Arg.” Mas fazer o que. Agora o ruivo não iria voltar antes de encontrar o amigo. Grell procurava por todo o pátio,  pelos alojamentos, por todos os lugares que William costumava frequentar. GRell estava quase desistindo daquilo e esperando por outra oportunidade. Até que pensou consigo mesmo. “Acho que não custa dar uma passadinha na casa dele.”

▬ Será que ele vai se importar? – Levava o indicador da mão esquerda a boca pensativo, e logo respondendo a própria pergunta com um sorrisinho bobo nos lábios. – Claro que não...

Sutcliff ria baixinho e saiu cantarolando alguma coisa, enquanto caminhava calmamente na direção da casa do amigo. Grell ainda se lembrava bem do caminho, e lembrava também da ultima vez em que esteve lá. Já fazia muito tempo. “Será que as coisas ainda estão como antes?” Ele se perguntava no caminho, além da saudades de William agora ainda estava curioso sobre em como as coisas estavam. Não demorou nada e ele mais uma vez estava de frente com a moradia de William. Assim se dirigiu a porta da frente. Quando deu a primeira batida na porta notou que ela estava apenas encostada e se abriu a sua frente. Grell olhou lá para dentro sem demora procurando pelo moreno.

▬ Wiru....?! – Sussurrou na esperança de não levar uma bronca logo na entrada. Não queria que o moreno tivesse que ser rude. – Tudo bem? Eu vou entrar...

O ruivo adentrava a residência do outro com cuidado para procura-lo. Ele olhou tudo em volta, incrivelmente parecia que nada havia mudado ali, estava tudo como ele costumava se lembrar. Cada móvel, cada quadro, tudo em seu devido lugar, não era de se surpreender, já que o moreno sempre foi muito organizado. Grell sorria de leve vendo tudo aquilo e se lembrando de quando ia aquele lugar de surpresa para visitar William, assim como estava fazendo agora. Era bom relembrar os bons e velhos tempos. Grell parava em frente a uma prateleira, ali haviam alguns porta retratos espalhados, em todos os que o moreno aparecia ele estava incrivelmente sério e frio, aquilo fazia Grell cobrir a boca com a destra e rir baixinho. Bem no meio da prateleira estava um retrato grande com uma foto que trazia recordações a cabeça do ruivo. Era a foto da formatura, na qual ambos estavam, todos os shinigami que se formaram aquele ano estavam ali, Grell adorava aquela foto, ele achava que havia saído bem nela. Ele estava bem ao lado de William com a cabeça apoiada no ombro do moreno que o entreolhava com uma reprovação no olhar, porem não tirava o ruivo dali.

Ele ficou ali por um bom tempo olhando aquelas fotos, ele aparentemente se esqueceu que estava na casa de William de penetra. Porem já era tarde demais para se lembrar.

▬ Sutcliff...?!

A voz vinha de traz de Grell, era uma voz conhecida, ele não precisava ver para saber quem era. Um breve arrepio lhe passou pela espinha naquele instante.

▬ Wiru... – Ele sussurrou baixinho.

Em seguida o shinigami vermelho se virou, vendo que a figura de William também não havia mudado em nada. Ainda era o mesmo Wiru de sempre, frio e sério. O ruivo rapidamente abria os braços para envolver o moreno, porem William o evitava, sem deixar de encarar o ruivo que por sua vez emburrava por um momento, mas logo desfazia aquilo sorrindo lindamente para o moreno.

▬ Ain Wiru... É tão bom te ver por aqui. É uma surpresa te encontrar aqui.

▬ Surpresa?! – Perguntava o moreno incrédulo. – Como pode ser uma surpresa para você me encontrar em minha própria casa?

▬ Errr... Deixe isso pra lá. – Sorria de leve dando mais alguns passos na direção de William. – Mas em fim.. Faz tanto tempo que eu não o vejo.. Como você está Wiru querido?

▬ Estou bem.... – Dizia com seu jeito frio e seco de sempre, mas não deixava de ser cordial e respondia prontamente ao ruivo que o encarava.- Até você quebrar alguma regra e eu ficar com dor de cabeça.... Mas e você como vai? Correndo muito atrás daquele demônio como sempre acertei?

▬ Arg Wiru... Você.. Frio como sempre... Sabe de uma coisa, os outros gostariam mais de você se você fosse um pouquinho mais gentil. Poderia começar a tentar fazer isso comigo já que nos conhecemos a tanto tempo.. Hein?!  - Grell sorria insinuante achando que o moreno poderia concordar em ser mais gentil ou ao menos dar mais atenção - Mas respondendo as suas perguntas eu estou ótimo, e estou trabalhando se é que isso te importa. Rum' ... E só para informar eu não estou mais "correndo atras daquele demônio" rum'.... Eu me casei com ele. 

A expressão de William desmoronava instantaneamente ao ouvir o termino das palavras do ruivo. “Como? Ele se casou?” Essas perguntas giraram por alguns momentos na cabeça do moreno que não podia acreditar no que ouvia. Grell casado? Isso era possível... O shinigami ruivo atrapalhado que dava tanto nos nervos de William havia se... Ele não queria pensar na palavra. A surpresa de William agora se convertia em irritação e raiva, ele estava inconformado, como o ruivo podia ter feito uma coisa assim. Toda aquela raiva certamente acabaria sendo descontada em cima do shinigami atrapalhado.

▬ Se casou? Nada me dá mais desgosto do que ouvir isso..... A proposito, não sei por quanto tempo poderei te manter nesse trabalho.... Um Shinigami casado com um demônio..... É o fim dos tempos..... Provavelmente terei que te banir.... Para sempre.....

Aquelas palavras fizeram o ruivo arregalar os olhos no mesmo momento em que foram ditas. Grell nasceu shinigami, tudo o que ele sabia fazer se resumia aquela profissão.. William não podia fazer aquilo com ele, o ruivo não sobreviveria se não fizesse aquilo pela eternidade. O shinigami vermelho pela primeira vez na vida se viu sem chão. Ele como esperado entrou em desespero e começou a tagarelar tentando convencer William a reconsiderar tudo o que havia dito outrora.

▬ Wiru.... Wiru não... Você não pode me banir. Por favor isso não. Eu trabalho mais e melhor eu garanto, eu faço qualquer coisa que você me mandar fazer, mas por favor não me mande embora daqui. Eu não sei fazer outra coisa, eu nasci fazendo isso e devo morrer fazendo isso. Você sabe. É assim que as regras funcionam. Por favor Wiru. Eu faço qualquer coisa. 

▬ Qual será a diferença?. Você não serve para nada e só me causa problemas.  "Trabalho mais e melhor". Quantas vezes já ouvi isso.  E todas as vezes você não cumpriu.  Tenho um ótimo emprego para você, torne-se um demônio. E viva "feliz" no inferno ao lado daquele ser. – Os olhos do moreno fuzilavam o ruivo, com uma raiva aparente no olhar, nada iria convence-lo de agir diferente naquele momento. – E você falando de regras? Nunca as seguiu e só quando precisa se lembra delas. E falar em regras sendo que está quebrando a maior delas, chega a ser ironico. Faz qualquer coisa? Torne-se um Shinigami exemplar. 

Arrumava os óculos indignado com o ruivo se casar com um demônio. Havia algo muito errado com o ruivo, William sempre suspeitou disso, porem agora ele tinha certeza do fato, e aquilo o irritava profundamente. Como um shinigami que devia se dar ao espeito poderia ser tão irresponsável assim?

▬ Wiru...?! Eu... Eu... 

 O ruivo gaguejou, não sabia como ou o que dizer as palavras engasgavam na garganta antes que pudessem tomar partido e saírem fazendo sentido em uma frase completa, ele apenas tinha certeza de uma coisa, precisava convencer o colega de trabalho a permitir que aquilo acontecesse, isto é, sem que fosse banido para tal. Grell nunca... Nunca tinha visto o moreno ser tão cruel assim com as palavras, não podia imaginar o que estava havendo com o moreno, nem mesmo quando o ruivo cometia os maiores de seus erros William lhe repreendia tanto assim. O que estava havendo de verdade? O ruivo não tinha tanto tempo assim para analisar isso. E... Aquilo o estava assustando de tal forma que e um nó se formava em sua  garganta tão rapidamente que ele não podia conter nem mesmo se tentasse. 

▬ Mas eu não posso controlar o que eu sinto Wiru. Por favor, eu não sei fazer mais nada. E eu amo o que eu faço. Só quero mais uma chance. Se não atrapalhar no trabalho pode acontecer... Não é isso que você sempre diz.  Você não vai mesmo me banir .. Vai Wiru? 

O moreno ainda estava com os nervos a flor da pele, nem mesmo olhava no rosto do menor, mas ao ouvi-lo proferir tais palavras sentiu como se algo o apunhala-se no peito. “Controlar o que eu sinto?”, Como se ele soubesse o que é sentir de verdade – Pensou o moreno antes de se virar para o outro. Estava pronto a levantar novamente a voz, e dar mais algumas lições de moral ao ruivo atrevido. Porem, aqueles olhos, aqueles orbes verdes marejados fizeram o moreno se calar por alguns instantes. Suspirou. Quando voltou a se pronunciar seu tom era demasiadamente pesado, e porque não dizer, doloroso.

▬ Poderia dizer para esquecer aquele demônio, mas vejo que isso é impossível, então, o darei uma ultima chance, Grell Sutcliff, Terá que me provar que não abandonará seu trabalho para ficar com aquele ser, e que seu trabalho está em primeiro lugar...

O tom de voz do moreno ainda era seco apesar de tudo, mesmo assim fazia questão de manter seu desapontamento com o menor em sigilo. Já que ao que parecia, nada disso iria importar mais.

▬ Mesmo... Wiru... 

O ruivo precisou de alguns segundos para a "ficha" cair. Logo em seguida deu um saltinho animado de quem estava pronto para o trabalho correndo até o moreno de surpresa e o abraçando rapidamente com força. Por um breve instante aquele abraço fez ambos estremecerem juntos, aquilo não durou mais que alguns segundos, mas fora o bastante para toca-lo, em especial ao moreno que afastou o ruivo logo em seguida. Grell também sentil, porem a euforia amenizou os efeitos. Ele ainda estava saltitante em volta do maior antes de parar a sua frente batendo continência, esperando não ter deixado o moreno atordoado.

▬ Você ainda vai se orgulhar de mim Wiru. Eu prometo, vou fazer tudo direito dessa vez. 

Sorria encolhendo um pouco os ombros, assim algumas mechas de seus cabelos caia cobrindo parte de seu rosto. Naquela posição ele lembrava  uma garota inocente e feliz . Parecendo estar agradecido o supervisor. 

▬ Se eu disse isso eu cumprirei. E pare com essas demonstrações de afeto escandalosas..... Você fede a demônio. Mantenha o máximo de distancia de mim... Duvido muito que algum dia eu me orgulharei de você. Mas vejamos do que é capaz... Só espero que não me decepcione como das outras vezes.  – Pegava sua death scythe e com a ponta arrumava seus óculos

O shinigami ruivo ficava um tanto cabisbaixo ao ouvir o moreno se pronunciar, não gostava do modo com que ele se referia ao demônio, Sebastian estava parecendo a Grell, diferente dos outros demônios que conhecera, o ruivo sentia que o mordomo realmente podia ama-lo. O ruivo pela primeira vez estava sentindo eu alguém era capaz de ama-lo, já que depois de tanto tempo tentando fazer com que William o notasse o menor desistiu de ter com o moreno algo além da amizade.

▬ Mas eu darei o melhor de mim Wiru.. Eu te garanto. E eu não vou desistir de fazer você se orgulhar de mim. Esse... Esse sempre foi o meu sonho. E não vou joga-lo fora ... nunca. Isso é uma promessa.

Disse em um sorriso fino antes de se dirigir a porta da casa do moreno, afinal o dia seguinte seria cheio demais para que o menor se desse ao luxo de não descansar.

O moreno nem teve a chance de se despedir, quando foi até a porta apenas viu os cabelos do ruivo ao longe esvoaçando ao toque da brisa leve daquela noite enluarada. “É melhor que seja assim” – O moreno repetiu mentalmente para si mesmo. Suspirou. Olhou a lua por uma ultima vez. E por fim, entrou novamente em casa com aquela expressão fria de sempre que aparentava estar mais triste que o normal aquela noite.