Please Dont Leave Me escrita por N Matt


Capítulo 1
One Shot


Notas iniciais do capítulo

Raccoon City... pelo menos 100mil habitantes mortos com a catástrofe envolvendo o acidente biológico e as medidas posteriores do Governo em relação a isso... mas e as coisas que se passam ao fundo da trama?
Pensando nisto resolvi escrever este conto, que narra a luta pela sobrevivência, bem como o despertar de sentimentos desconhecidos em nossos protagonistas, em meio a todo o caos que serve de cenário para Resident Evil.
Espero que curtam ^^



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Era o segundo andar de um edifício agora abandonado. O garoto estava aguardando por algo ou alguém, ainda que não se lembrasse exatamente o que seria, mas sabia que estava, tamanha a angústia que lhe tomava. Os olhos azuis observavam, apreensivos e preocupados, ao quase nulo movimento das pessoas — se é que ainda pudessem ser chamadas assim — na rua, e pareceu sentir-se aliviado com aquilo.

Lá fora, o cheiro podre de morte empesteava o ar, e tudo o que se podia ouvir eram gemidos de dor e de fome, emitidos por aqueles que caminhavam em busca de saciar o que lhes era insaciável. Mesmo o vento parecia ter parado de soprar ali, fazendo de Raccoon uma cidade morta, literalmente. "Os mortos andam", o que seria a manchete de algum jornal sensacionalista, ou mesmo o título da sinopse de algum filme trash sobre zumbis, passara a ser a assustadora realidade do lugar.

O sol começava a se por, e o céu, nublado e cinzento, sutilmente ganhava tonalidades mais quentes, antes de entregar-se por completo ao negro cobertor da noite. Uma chuva fina começava a cair, e o garoto percebeu-se sentindo frio, ou a vontade de algo para aquecê-lo. Olhou novamente a rua, a incansável e funesta procissão dos mortos, que pareciam alheios à água que passava a cair com maior intensidade. Sentiu-se melancólico, e estranhamente triste com algo que ele nem bem sabia o motivo.

Um som na porta, que se abriu com um "click", e os olhos azuis se voltaram para ela, felizes por agora descobrirem a razão de sua preocupação, e por perceberem que esta havia acabado de chegar. E ele foi sorrindo, ao encontro do outro jovem que adentrara naquele lugar. Os cabelos negros estavam molhados, e a roupa estava mais que ensopada. O menor percebeu, assustado, a presença de uma grande quantidade de sangue que manchava a camisa do outro rapaz. "Será que ele precisou atirar em...", ia pensando, quando sua expressão de contentamento fora substituída, de maneira brusca, pela de medo e desespero.

Por que ele estava tão pálido? Por que ele caminhava em sua direção como os outros lá fora faziam ao encarar algo "vivo"?

"Que brincadeira era essa? Isso não tem graça"... e ele percebera, um tanto tarde, que não era uma piada...

Amedrontado, recuou alguns passos, enquanto o outro avançava cada vez mais ao seu encontro. "Não, não, não...", e repetiu até não ter mais voz, que fora calada pelo nó que se formara em sua garganta. As lágrimas saltavam-lhe dos olhos azuis, que teimavam em não acreditar no que viam.

E ele queria correr, mas pra onde? Sentiu suas costas chocarem-se a algo duro e frio; era o fim da linha, não tinha mais para onde recuar, e estava acuado no canto daquela parede, com a única pessoa a quem realmente lhe importava prestes a tentar matá-lo. Que terrível destino seria aquele? "Primeiro meus pais, agora meu... meu?"

"Meu...?"

Sem mais forças, sem mais opções, deixou-se cair sentado ao chão, ainda chorando em desespero. Não tinha forças para escapar dali, e tampouco tinha vontade de fazê-lo, caso ainda pudesse. Sua vida e sua vontade de viver se foram com a humanidade daquele que era o seu guia.

Esperou pelo destino que ele tantas vezes presenciara por aquela janela, aos desafortunados que tinham a infelicidade de cruzar o caminho dos "zumbis", mas o que viera fora diferente... E sentiu, estranhamente, o toque quente de um corpo que deveria estar frio. Ergueu-se bruscamente e abriu os olhos, apenas para observar, num misto de angústia e felicidade, que tudo não passara de um sonho ruim.

...

"Tá tudo bem? Você estava se contorcendo e murmurando coisas estranhas".

Seus olhos se encheram de lágrimas, e ele instintivamente abraçou o outro jovem, que o observava atônito e curioso, sentado ao seu lado na cama. As lágrimas desceram pelos olhos azuis, e ele não conteve o choro. Nada no mundo poderia se comparar, nem mesmo descrever a alegria que ele tivera ao acordar e perceber que estava vivo aquele que ele amava. Sim, ele o amava, e só agora, entregue ao calor e à proteção de seu corpo, ele finalmente percebera o porque de se preocupar tanto com aquele outro rapaz.

O mais velho sorriu serena e sutilmente, retribuindo a carícia e o envolvendo em seus braços.

— Não se preocupe... — e afastou os cabelos suados da testa do mais novo, dando ali um beijo de leve. — Foi só um pesadelo.

Aquele par de olhos azuis pareciam querer ter mesmo a certeza do engano. O mais novo se separou por um instante, encarando de perto a escuridão dos olhos do mais velho, e foi levado pelo mesmo a repousar sobre seu ombro. Sentiu as carícias que ele fazia em sua nuca, e aos poucos sentiu-se sonolento novamente, entregando-se quase que por completo aos braços do deus do sono. Não percebeu quando o moreno tremeu de leve ao toque dos seus lábios em seu pescoço, tampouco a reação semelhante, ao deixar escapar lentamente e em forma de palavras, o ar quente de seus pulmões.

— Não me deixa — ele teria dito, pouco antes de adormecer — Por favor, não me deixa não.

O coração batera mais rápido, a respiração perdera o compasso... O mais velho realmente se surpreendera — era a primeira vez que o garoto falava algo, desde que o encontrara prestes a ser atacado por aqueles que um dia foram os seus pais. Demorou a responder, mas sussurrou um "nunca", enquanto um nó teimava em apertar em sua garganta, e lágrimas insistiam em descer por seu rosto.

Sentiu-se feliz por perceber, ainda que confuso, um forte e desconhecido sentimento que começara a sentir em relação ao seu protegido. Fê-lo repousar novamente na cama, e deitou ao seu lado, abraçando-o. Um leve e sutil beijo de boa noite, antes de entregar-se também ao sono.

"I think I want you, I want to sing you to sleep, with you I want to dream.

I'm not the one to give up on you now"

~ End?


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Notas finais do capítulo

Bom, pessoal... eu escrevo e eu reviso minhas fics, e sei que nem sempre faço um bom trabalho... uma ou outra coisinha sempre acaba escapando.
Por favor, me informem de quaisquer eventuais erros, e sintam-se livres para comentar o texto. Reviews me fazem feliz. ♥
Beijos & abraços xD