Cursed To Death escrita por anearlywitch


Capítulo 3
Contato


Notas iniciais do capítulo

Então, eu decidi que iria continuar escrevendo essa fanfic porque eu posso (e uma amiga implorou). Essa história vai ficar menor do que eu tinha em mente, mas eu pretendo terminar e wee ok
ps: eu não editei muito, tava no meu celular, então desculpem qualquer coisa.



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4!

"Eu não estou louco! Abaixa o telefone, pelo o amor de deus!" eu grito da cadeira de couro. 

"Ryan," ela diz, colocando o telefone na base novamente, "você sabe que fantasmas não existem, eu assumo". 

"Eu vi. Ele estava com aquele moletom lavanda e os óculos vermelhos! Era ele, eu tenho certeza"

Ela suspira e solta o coque, começando a o arrumar novamente. "Você anda bebendo?"

Eu olho para ela e para seu coque malfeito. "Não... Muito. Ontem eu não tinha bebido nada, só uma taça de vinho"

"Bem, pode ser da sua imaginação. Talvez você o queira tanto aqui novamente que sua mente está o recriando. Mas ele se foi, querido"

Eu olho para a rua, as crianças brincando com um cachorro vira-lata. "Eu sei". 

"Então você precisa parar com essa coisa fantasmagórica" ela coloca um sorriso e mostra o dedão para mim. "Bola pra frente! Yey!" Eu encontrei a pior psicóloga de Los Angeles, definitivamente. "Te vejo segunda! Nada de fantasmas, ou álcool, senhor Ross"

"Claro" eu digo antes de sair do consultório e dirigir até o mercado para comprar mais bebida. 

***

Você está sendo assombrado?

Sua casa está segura?

Morte: hora de partir, ou a solidão eterna?

Fantasmas são a sua imaginação

Dance a macarena com o seu amigo de outro mundo!

Internet, eu penso para mim mesmo enquanto fecho o notebook e volto a olhar para a televisão. 

***

"Mas eu quero skittleeeees Ryan"

"Não dá tempo, Bren. A gente já vai entrar no ônibus" 

"Por favor. Estou pedindo com todo o carinho possível" ele olha pra mim, os grandes olhos implorando. 

Eu suspiro. "Tá, mas se o Zack ficar sabendo-"

Ele já estava em disparada na frente, o cabelo preto balançando com o vento. Ele vira para trás e sorri. 

Eu começo a correr. 

***

"Você precisa parar de beber"

"Por que todo mundo acha que eu estou bebendo demais? Spencer! Volta aqui! Eu estou sóbrio e eu vi um fantasma! Ajuda!"

Seus olhos azuis pousam em mim, julgando, analisando. "Eu sei que você se sente culpado, mas... Ele se foi. Eu sei como é. Dói" ele olha para suas mãos no colo, depois para o braço do meu sofá. "Mas eu sei que ele não ia gostar de te ver miserável desse jeito"

"Miserável?" eu exclamo. 

"Você já olhou o seu cabelo, Ry? Faz quanto tempo que você não se barbeia? Ou," ele me fita por alguns segundos, "não para de beber?".

Eu levanto do sofá e cruzo os braços. "Eu não estou miserável. Eu estou completamente bem"

"Completamente bem do tipo 'vejo fantasmas'" ele sorri para mim. Fazia tempo que ele não sorria. 

"Completamente bem" eu digo com um olhar desafiador. 

Ele se levanta e fica de frente para mim. "Eu quero ver, você sabe, o Brendon. Dá pra chamar ele?"

"Spencer..."

"Ryan..."

Ele permanece me olhando, esperando. "Não é assim. Ele simplesmente apareceu"

"Então tá. Eu vou esperar"

"Spence..."

"Eu quero garantir que meu amigo não ficou louco, pode ser? Tem cama pra mim?". Ele sorri. 

***

"Aquele era o Pete Wentz! Eu não acredito que ele nos assinou. Ele é uma lenda. Eu vou ficar famoso? Ryan, você sabe o que isso tudo significa? Turnês e shows lotados e fãs gritando nossos nomes e jogando sutiãs no palco e CDs assinados e dinheiro e amigos famosos mas ai meu Deus era o Pete e ele gostou da gente e ele me ouviu e gostou eu vou desmaiar bem aqui-"

"Brendon!" eu digo depois de perceber que ele estava ficando sem ar. Ele sorri. "Calma. É cedo ainda,-"

"Ah, Ryan, admite que você está feliz por trás dessa carcaça de pedra! Você não aguenta mais!"

"Eu só estou sendo realista..."

Ele me fita, o olhar exagerado e a boca formando uma fina linha. "Diz...". 

Eu olho para seus olhos desafiadores e subitamente começo a rir. "Tá. Eu estou feliz e eu não vejo a hora de tudo isso se tornar verdade"

"Então grita!" ele diz, alto, as mãos erguidas. 

"Nós vamos ser um sucesso!" eu grito, o peso caindo dos meus ombros. 

***

Eu acordo com um barulho no corredor, e começo a balançar o Spencer, adormecido no meu lado no sofá. A TV estava fora do ar, o barulho irritante martelando meus ouvidos. Parece que mesmo com toda a minha força, o Spencer ia continuar dormindo. 

Eu levanto em direção à cozinha, procurando alguma coisa para comer. Eu abro a geladeira, encontrando uma maçã duvidosa, geleia de morango e um suco de laranja pela metade. Nada parecia muito apetitoso, então eu começo a juntar os ingredientes para fazer um café. 

Na hora de ligar a cafeteira, ela simplesmente não funcionou. O problema não era a tomada, e também não era com o fio. Eu continuo procurando o defeito; até que ela liga sozinha.

Ela não só liga sozinha como começa a passar o café muito rápido, saindo uma meleca feita de pó, preta e áspera. Eu tiro o fio da tomada, mas ela não desiste. O líquido começa a sair da jarra, escorrendo pelo balcão. Eu me afasto, procurando um pano ou algo que pudesse eliminar o estrago, mas a proporção da meleca preta já era muito grande. 

"Spencer! Me ajuda!" eu grito, o líquido escorrendo pelo balcão e quase chegando nos meus pés. A jarra explodia pequenas porções do líquido, que voavam em todas as direções. 

"Socorro!" eu escutava, por mais que baixo, de alguma direção. Eu começo a correr para a sala, mas o Spencer estava parado na porta. 

"O que acon- meu deus" ele exclama para a cozinha inundada de preto. 

A cafeteira já havia parado de fabricar o que quer que aquilo fosse, e eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Spencer encarava as paredes cheias de respingos com os olhos arregalados. "Foi você?", ele diz sem tirar os olhos da parede. 

"Não tava nem ligado na tomada". O chão estava sujo e quase formando formas irregulares, quase letras. Eu me aproximo do limite do balcão, lentamente, e fico apavorado quando leio. Eu consegui sentir o Spencer suspirar de terror atrás de mim, e eu sei que não é minha imaginação. 

***

"Você está certo sobre isso? O Jon pode ter achado que era brincadeira" Spencer diz, olhando para o duplex antigo. As paredes verde militar descascavam e possuíam manchas por todo o seu comprimento, a porta entreaberta. 

"Eu acho que o tom dele não era de brincadeiras. Você sabe que ele sempre acreditou nessas coisas. Ele quer vir pra cá," eu digo, olhando novamente o papel com o endereço rabiscado às pressas, "eu disse pra ele ficar".

"Ryan, tá na hora de entrar" o menor diz, apertando meu ombro e me puxando levemente para o velho prédio. 

O interior era escuro, as paredes púrpuras e as janelas tapadas, impedindo os raios solares de entrar. Pilhas de livros e discos estavam em um canto, e no outro eu observo uma mesa de xadrez rachada. No canto mais distante, estava uma mulher atrás de um balcão, concentrada em um livro com a capa lisa e preta. Seu rosto estava tapado por sua franja preta, e o cabelo lhe caía até a altura do queixo. A roupa que era mais impressionante: um vestido preto com vermelho que tampava seus pés. Ela não tira os olhos do livro. 

"Com licença? Moça?" Spencer diz, se aproximando da bancada. A mulher ainda não olha. "Olá?" ele insiste, e ela lentamente levanta seu olhar. 

Seus olhos eram grandes e azuis, e se focaram em mim instantaneamente. "Eu estou ocupada", ela diz e volta seu olhar para o livro novamente. 

"Por favor, é urgente" Spencer diz, os grandes olhos azuis implorando. 

Ela não responde. 

"Vamos, o Jon não deve ter entendido a situação" eu digo e me viro para a porta. 

"Jon? Qual Jon?" ela diz atrás de mim. 

Eu viro rapidamente. "Walker". 

"Ah, amigos do Jon! Sentem-se, aqui, por favor!" ela aponta para as poltronas com estofado preto na sua frente. 

Spencer olha para mim preocupado, e eu dou de ombros, indo sentar aonde ela indicou. 

"Qual o problema de vocês?"

Spencer permanece olhando para ela desconfiadamente. "É meio que-"

"Não diga mais nada. Eu sinto... Ele" ela fecha os olhos e curva sua coluna. 

Eu encontro o olhar do meu amigo, assustado e nervoso. Eu não sabia bem o que estava fazendo ali; eu não acreditava em videntes/consultoras/qualquer coisa do gênero, mas eu também não acreditava em fantasmas antes, então...

"Ele está com medo. Oh sim, medo. Venham, vamos para a sala de contato" ela levanta, o vestido arrastando levemente pelo chão, indo rápido até a outra sala. 

Nós levantamos, a seguindo até o vão da porta. Ela se vira subitamente, um sorriso no rosto. "A propósito, meu nome é Sarah".

"Isso não vai dar certo" eu digo, olhando para a tábua ouija. Ela estava consideravelmente arranhada, as bordas descascando. Eu não estou em uma filmagem de filme de terror, obrigado, eu pensava repetidamente. Tudo era uma farsa. Eu só quero acordar desse pesadelo no tempo em que eu não sabia que era feliz. Não, eu não queria estar com uma mulher olhuda e o Spencer brincando de copinho com o fantasma do Brendon. Pelo o amor de Deus. 

"Vai sim. Se concentrem" ela coloca pequenas velas em volta da tábua. 

"Como vamos saber se você não vai mexer o copo e fingir que é o fantasma?" Spencer diz enquanto olha para o fogo que se formava em uma vela. 

"Vocês vão saber. Você, magrelo, dedo aqui. Você também. Concentração" ela fecha os olhos e coloca os dedos com unhas pretas e descascadas no copo. 

Eu coloco, desconfiado, dois dedos no copo transparente. Spencer faz o mesmo, e eu consigo senti-lo tremer. A mulher, Sarah, começa a falar palavras que eu não conhecia - latim, talvez - e o copo começa a tremer. Ele desliza bruscamente de um ponto no meio da estrela para o sol desenhado no topo. 

"Sim. Conte-nos o que você quer" ela diz com um sorriso maligno na face. 

O copo treme, mas desliza até uma letra. R. R era a letra. 

"R é a primeira letra?" ela pergunta, e o copo desliza para o 'sim' gravado na parte de baixo, e depois para o X. Não, o Y. 

Eu sabia a palavra. 

O copo continua deslizando pela tábua, confirmando minha certeza. 

"Ryan" Sarah sussurra. "O que você quer?" 

O copo treme e subitamente vai para o 'ADEUS' gravado na parte inferior da tábua. Ele treme muito, e acaba explodindo por baixo de nossos dedos, os cacos se espalhando pela mesa. Eu olhava incrédulo para a tábua. 

"Ryan. Vocês conhecem alguém com esse nome?" ela diz, a respiração ofegante. 

Eu levanto e saio do quarto, depois do prédio, indo em direção ao carro.

Meu nome. 

Ele disse meu nome. 

O que eu devia pensar?

Era muita coisa para assimilar; Brendon tinha morrido, e agora era um fantasma. Ele estava, possivelmente, me assombrando. Ele queria entrar em contato comigo, e não com o Spencer, ou com a sua mãe, ou com qualquer outra pessoa que pudesse ter mais consideração com ele do que eu. Eu sempre agi friamente, depois da separação. Eu fui o idiota egoísta, e, mesmo assim, ele ainda queria falar comigo. 

Minha cabeça começa latejar. 

Eu entro no carro e fecho a porta, me jogando no banco de modo a ficar confortável. Eu nunca estive mais confuso. 

Um pensamento estranho passa pela a minha mente, mas não, ia ser constrangedor para mim. Seria?

"Uh... Brendon? Você está ai?" eu pergunto para o carro vazio, um fio de esperança pendendo. O silêncio me faz sentir um idiota. Eu rio para mim mesmo, como você é ridículo, Ryan. Seu idiota. 

Finalmente Spencer chega e se senta do meu lado, em silêncio. Ele olha para frente, para a rua cheia de árvores. "Ryan..."

"Eu não entendo, eu simplesmente... Não entendo" eu digo, olhando para o volante. 

"A Sarah disse que você pode voltar e conversar com ela quando você quiser"

"Eu não quero. Eu só quero que isso acabe, Spence. Não bastava eu ter perdido ele?".

Spencer suspira e se projeta para o meu lado, me convidando para um abraço. Seus braços eram como eu me lembrava, ainda aquele abraço que não dá vontade de soltar. "Vai dar tudo certo," ele diz baixinho no meu ouvido, "nós vamos consertar isso".

***

"Uh, Brendon, você está ai?" ele pergunta, um olhar inseguro para o carro vazio. Sua barba malfeita moldava perfeitamente o seu rosto, e o cabelo bagunçado parecia feito de propósito. O seu pomo de adão sobe e desce à medida que ele engole saliva. 

"Sim! Ryan, eu estou aqui!" eu grito do banco do passageiro. "Você consegue me ouvir? Ry!" eu grito. 

Ele sorri para si mesmo e olha para seus pulsos. 

Se eu não fosse um fantasma, se meu corpo não estivesse apodrecendo em algum canto qualquer, e se eu ainda tivesse um sistema neurológico funcionando, eu já estaria chorando. 

Até aquele sorriso era lindo. Eu não sei se passei a apreciar mais os humanos depois da minha morte, mas eu o achava deslumbrante.

"Seu idiota" eu suspiro e saio do carro, atravessando a porta - eu ainda achava isso muito legal, considerando todos os contras - e vou para dentro do prédio antigo. 

Novamente, se eu estivesse vivo e se meu corpo não estivesse sendo devorado por bactérias decompositoras, eu iria ficar com medo. 

Na porta, Spencer está parado, conversando com a mulher de olhos azuis. 

"Spencer... Por favor" eu digo, derrotado, para ele. 

Ele olha na minha direção durante dois segundos e depois vira para dar a mão para a mulher, se despedindo e indo em direção ao carro. 

Se alguém tinha a capacidade de me ver, deveria ser aquela mulher estranha. Ela não era feia, eu penso comigo mesmo. O conjunto geral que me assustava um pouco. 

Ela estava de pé, perto da tábua ouija, as mãos incertas, o vestido arrastando pelo chão. Parecia hesitar, não sabendo o que fazer com todos os cacos de vidro espalhados pela madeira. 

Eu me aproximo, me concentrando para mover um caco. Não era fácil mover coisas - eu precisava me concentrar muito e estar muito calmo, ou muito nervoso. Naquele momento, eu não conseguia. 

E quanto mais eu tentava mover o pedaço patético de vidro, mais frustrado eu ficava. 

É um simples pedaço de matéria que qualquer um poderia erguer. Eu estava, porém, sem um corpo e sem esperanças, observando todos que eu amava sentirem minha falta. 

Ser um fantasma é maravilhoso. 

Se eu estivesse vivo, com um sistema sanguíneo atuante, talvez eu já estivesse vermelho de raiva. 

Eu tento novamente, com um movimento brusco, a raiva irradiando por meus poros. O caco se mexe e cai no chão, e Sarah pula com o susto. 

"O que você quer?" ela diz, olhando para o nada na direção contrária. 

Eu, irritadamente, tento mover os cacos na tábua. 

***

"Só mais uma entrevista, Ryan" Brendon diz para mim e coloca sua mão em cima da minha rapidamente. O banco do táxi era espaçoso, mas ele preferiu ficar bem perto, e eu não vejo um problema. 

"Por que a retirada da exclamação?" eu digo com a melhor personificação feminina que consigo encontrar, e Brendon começa a rir alto do meu lado.

"O álbum é influenciado pelos Beatles, não é? O que houve com as citações dos livros do Chuck Palahniuk? Vocês são um casal?" eu continuo, e, impressionantemente, ele consegue rir mais ainda, batendo palmas.

Ele fazia isso. Ele ria tanto que batia palmas.

"Para, Ryan. Já tá começando a doer".

Eu rio da cara dele, dos olhos que já lacrimejavam de rir. 

Ele olha nos meus olhos, o castanho penetrando dentro de mim. Ele tinha um sorriso enorme no rosto. 

"Obrigado" ele diz e olha para seu colo. "Por tudo". 

"Cala a boca, Brendon".

"Vem calar"

Eu olho para sua face novamente, e ele tinha um olhar desafiador. Meu sorriso desaparece, e eu não sei se compreendi mal o que ele disse. 

"Eu estou brincando, idiota" ele diz e olha para fora da janela. "Chegamos"

Eu o observo enquanto ele sai do táxi, as mãos se protegendo do frio dentro dos bolsos da sua jaqueta. 

***

Eu não me reconheço, a princípio. Eu jurava que aquela figura magra refletida no espelho do mercado era qualquer outra pessoa. 

Eu estava pálido, sem vida no reflexo. Uma carcaça segurando uma cesta e um tomate. Inútil. 

Essa história de fantasma estava, bem, me tornando um fantasma. Estava sugando minha vida, e não era uma boa sensação, saber como tudo na sua volta está se transformando tão subitamente. 

Eu coloco o tomate no saquinho transparente e viro para procurar o Spencer, mas ele já não está mais no meu campo de visão. Eu suspiro e passo para a seção de higiene. 

Pelo menos alguma coisa boa estava brotando dessa situação, eu penso enquanto pego uma pasta de dentes azul. Se não fosse essa história de fantasma, talvez ele estivesse, agora, longe do seu melhor amigo. Eu não queria admitir, mas eu não me esforcei nada desde a separação da banda para continuar me comunicando com ele - ou com o Brendon. Eu fui egoísta e ressentido, e eu sei disso agora. Só agora. 

Meu telefone vibra, a foto de um gato aparecendo na tela. 

"Jon!"

Era o único contato que tinha uma foto, e ele mesmo tinha colocado há um longo tempo. A foto era do seu próprio gato, o Dylan, bocejando. Aquela foto estava ali por mais tempo do que eu me lembro, e eu não conseguia não sorrir ao olhar para ela e lembrar das imitações do meu amigo que, agora, estava bem longe. 

"Peguei cerveja" Spencer aparece atrás de mim com um engradado de garrafas e salgadinhos nas mãos. 

"O Jon ligou," eu digo e transfiro os salgadinhos da mão do Spencer para a minha cesta. "Ele chega amanhã de tarde". 

Um sorriso brota na face do meu amigo, um brilho se forma nos seus olhos. "Sério? Uau, eu-" ele sorri para si mesmo e olha para baixo. "Então temos que reforçar seu estoque de comida, Ryan".

"Eu acabei de pensar nisso" eu sorrio e passo para o outro corredor. Eu pego um pacote de macarrão, o observando com uma pergunta na garganta. "Spence..."

"Uh?" ele joga um pacote de bolachas na cesta. 

"Eu estava pensando," eu pauso enquanto outro pacote aterrissa dentro da cesta, "o que você acha que o fant-, o Brendon quer comigo? Quer dizer, será que ele sente ódio de mim?" eu olho para o pacote sendo depositado, agora mais lentamente. 

Spencer reflete um pouco e olha nos meus olhos, preocupado. "Ryan, eu duvido que seja isso".

"É que eu fui um idiota"

O menor suspira e vira para a estante. "É, você foi um idiota," ele diz e vasculha entre salgadinhos, "e sim, ele ficou com muita raiva" ele vira para mim e coloca mais comida na cesta, que começava a ficar pesada para meus braços sedentários. "Mas," ele diz e pega a cesta dos meus braços, "ele nunca deixou de sentir sua falta".

Aquilo não deveria ter sido uma surpresa para mim, mas no fundo, foi. Ele sentia minha falta. Meu ego não havia me deixado perceber, porém por trás de toda aquela mágoa e rancor, eu sentia muito a falta daquele homem correndo pelos bastidores dos shows, cantando e sendo a alegria da banda. Eu sentia falta do Brendon, e não queria admitir para poupar a mim mesmo do sofrimento. 

Eu me amava demais para perceber que eu amava outra pessoa. 

"Ry?" Spencer me cutuca. "Compras. Comida. Filmes".

"Ah, tá. Compras".

***

"Jon"

"Então eu disse 'não, preciso ver vocês!' e eles disseram 'não precisa' mas eu vou!" ele colocava coisas na mala preta. 

"Jon"

"Sabe, vai ser bom sair de Chicago um pouco, arejar a mente".

"Jon"

"Se a Cassie não fosse tão teimosa, eu acho que me mudaria para Los Angeles. Não sei. O que eu devo fazer?"

É claro que ele não esperava uma resposta, já que ele não conseguia me ver e estava falando com o seu gato. 

Jon, eu penso comigo mesmo. 

Eu não sabia como eu tinha vindo para Chicago. Eu só pensei em visitar o Jon - já que ele é todo apegado a fantasmas e incensos e rituais - e acabei aparecendo na sua casa. Eu estava começando a ficar irritado com todos me ignorando, por mais que eu soubesse que fantasmas devem ser invisíveis pelo equilíbrio da natureza, blá, blá, blá. 

O Jon estava sorrindo e murmurando uma música que eu não conhecia, colocando um chinelo na mala de mão preta. Eu sentia falta dele, e era uma saudade boa. Não doía ficar perseguindo ele, ao contrário da minha família, do Spencer, do Ryan. Ele parecia feliz, no final das contas. 

"Jon" eu tento novamente. 

Ele olha para a parede por um instante. "Nossa, tá frio, Dylan. Vamos colocar um casaco" ele pega um abrigo e o coloca, não se esquecendo de colocar uma manta perto do gato na cama. 

Talvez o que aquela mulher, Sarah, disse para o Spencer estava errado. Ela disse que tinha alguma coisa me prendendo aqui, um assunto inacabado. Foda-se o assunto inacabado, eu quero sair daqui. 

Eu olho para a rua e vejo um homem de preto, parado me observando. Eu me assusto, já que fazia um bom tempo que ninguém olhava diretamente para mim. 

Eu atravesso a parede e fico frente a frente com o homem. "Você pode me ver?" eu falo, baixo. 

"Claro. Brendon... Urie, certo? Venha, vamos dar uma volta" ele começa a andar no meio da rua deserta, e eu não tenho certeza se deveria o seguir ou não. Dane-se, é alguém que pode me ver. 

"Como você sabe o meu nome?" eu digo quando finalmente chego ao lado do homem com o sobretudo preto, mantendo seu passo. 

"Isso não importa," ele diz, "o que importa é que você não pode ficar pairando por aí".

"O que eu deveria fazer, então?".

O homem suspira. "Se decidir".

"Decidir o quê?".

"Você tem uma escolha a fazer, Brendon" ele para e me fita. "É melhor ser rápido".

Tudo que era visível era um vulto preto, degradamente desaparecendo no meio da rua. 

***

"Ele não para de tocar, Spencer".

"Eu não vou atender! Eu nem conheço o número!".

"Eu vou atender, então" Jon pega o telefone e o aproxima do ouvido. "Telefone do Spencer". 

Spencer revira os olhos e volta a olhar o jogo na televisão, e Ryan retorna com mais uma cerveja nas mãos. 

"Quem tá ganhando?" ele diz e afunda no sofá. 

"Os Kings!" Spencer diz, desanimado. 

"Vai, Kings!" Ryan grita. 

"Sh, calem a boca" Jon diz e volta a conversar no telefone. 

Spencer olha para o amigo, desconfiado, mas retorna o olhar para a televisão. 

"Aquele não é o seu celular?" Ryan sussurra, e o menor só dá de ombros. 

"Você tem certeza, não é?" Jon dizia no fundo do cômodo da casa do Ryan, o olhar preocupado fitando uma parede. 

"Esse merda de jogador! Idiota!" Ryan diz e toma um gole da cerveja. 

Spencer continuava olhando para as costas do amigo que estava no telefone, tentando ouvir a conversa. 

"Eu... Posso passar aí amanhã?" ele diz, depois solta uma risada abafada, "sim, eu preciso da sua permissão, se não for um incômodo! Ah, cala a boca. Até" ele desliga o telefone e o coloca na mesa de canto, pegando o controle e desligando a televisão. 

"Ei! O jogo! Jon, sai da frente!" Ryan grita, levantando para pegar o controle. 

"Cala a boca. Preciso da atenção de vocês" ele diz e se senta na poltrona vermelha que Ryan tinha perto da lareira, de frente para o sofá. "Quem estava ligando era a Sarah, e ela estava desesperada"

"Sarah... a macumbeira?" Ryan diz. 

"É, claro. Macumbeira, Ry" Spencer diz. "Eu esqueci que ela poderia estar me ligando" ele olha para baixo. "O que ela queria?"

Jon se arruma melhor na cadeira. "Depois que vocês saíram... Ele estava lá".

Os dois se Arrumam no sofá, a postura ereta. "O fantasma? Quer dizer, o Brendon?" Ryan diz. 

"Sim" Jon diz como se fosse óbvio. "Ele meio que deixou uma mensagem para ela".


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Notas finais do capítulo

O capítulo ficou enorme, mas eu realmente não me importo, eu realmente gosto dessa história! Enfim, espero terminar o próximo e postar o mais breve possível! Até!



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