CAPITULO 01

Nadeshiko já estava habituada a receber inúmeras cartas de amor, de vários garotos que desejavam ter alguma chance com a bela dama. Naquele dia não foi diferente. Quando abriu seu armário encontrou outra carta, mas se surpreendeu ao ver a letra tão caprichada. Não era uma letra estranha, Nadeshiko tinha a certeza de já tê-la visto em algum lugar, mas não conseguia saber aonde.

- Algo errado Nadeshiko? – indagou Temari, vendo que ela havia ficado parada, olhando para a carta por muito mais tempo do que era necessário.

- Não, apenas tenho a impressão de que conheço essa caligrafia – respondeu Nadeshiko, sorrindo para a pequena caráter.

- Você vai encontra-lo? – indagou Temari, olhando Nadeshiko com atenção.

- Não tenho outra escolha, não é mesmo? – respondeu, soltando um suspiro e sorrindo levemente. – Me pergunto quem seja dessa vez.

Temari sorriu e acompanhou a dona em silêncio até o local do encontro. Era sempre assim, pelo menos três vezes por semana alguém enviava uma carta para Nadeshiko, que tinha de recusar os sentimentos que lhe eram oferecidos. Não havia outro jeito, afinal de contas. Ninguém seria capaz de aceita-la completamente, pois isso Nadeshiko simplesmente recusava os sentimentos que lhe eram oferecidos. Era assim há tanto tempo, que ela até mesmo já havia se acostumado.

As duas chegaram ao lugar marcado para o encontro. Diferente de muitos dos pedidos anteriores, o lugar que havia sido marcado era bem afastado do prédio principal da escola, na verdade, era próximo ao antigo planetário desativado. Era estranho alguém conhecer aquele lugar, sendo que nem mesmo era mais usado.

Abriu a porta e se espantou ao ver que o planetário estava ativado, exibindo um lindo pôr-do-sol. Nadeshiko sorriu e olhou a sua volta, encantada com as cores que pintava o céu ilusório. Parou de admirar o céu, apenas quando sentiu um movimento atrás de si. Virou-se, tendo a certeza de que encararia seu dito admirador, mas sua surpresa foi grande demais ao ver quem estava parado a sua frente.

Afastado pela distância de apenas três passos, se encontrava aquele que deveria ser considerado seu melhor amigo. Viu os olhos vermelhos lhe olharem de forma fixa. Podia ver o leve corar das bochechas do ocupante do trone de rei.

- Hotori… kun… - murmurou Nadeshiko, completamente surpresa ao ver o loiro ali.

- Fico feliz de você ter vindo, Fujisaki-san – declarou Tadase, sorrindo de um jeito gentil, que era comum para ele.

- Hotori-kun… foi você que me chamou aqui? – indagou Nadeshiko, sem conseguir deixar de se mostrar surpresa ao perceber aquilo.

- Sim, acho que você não esperava que fosse eu, não é mesmo? – falou ele, parecendo ficar um pouco constrangido por aquilo.

- Er… sim, eu não esperava que fosse você – admitiu, ainda um pouco chocada. – Mas, por que me chamou aqui, Hotori-kun?

- Bem… acho que você já deve fazer alguma ideia, não é mesmo? – indagou sorrindo um pouco envergonhado.

Nadeshiko o olhou sem acreditar. Não podia ser o que imaginava que era, afinal, Tadase sabia da verdade. Ele conhecia seu maior segredo. Ele era diferente de todos aqueles garotos, que a viam como a bela rainha. Se era assim então, não podia ser o que imaginava, não é mesmo?

- Eu realmente gosto de você, Fujisaki-san – declarou em um tom firme, apesar do rosto corado, Tadase não exibia qualquer sinal de estar indeciso, ou com medo do que suas palavras significavam. – Eu sempre fico te observando. Eu não sei quando eu realmente comecei a gostar de você assim, mas eu realmente gosto de você, Fujisaki-san.

Pasma era a palavra certa para descrever o estado em que Nadeshiko se encontrava naquele momento. Seus olhos castanhos estavam arregalados e sua boca levemente aberta. Aquilo era algo que ela jamais esperava escutar de Tadase, ainda mais por ele saber da verdade.

- Hotori-kun… etto… você se lembra de que eu… não sou exatamente uma garota, não é mesmo? – indagou ela, olhando fixamente para os olhos vermelhos, apenas para ter a certeza de que Tadase não havia esquecido daquele fato.

- Hai, eu sei disso. Talvez fosse por isso que eu estivesse com um pouco de medo e duvidas sobre isso – afirmou ele, sorrindo um pouco envergonhado. – Mas… cada dia que passava, esse sentimento crescia. Eu sempre ficava com raiva e ciúme, quando via você receber alguma carta, ou presente de outro garoto. É ilógico, eu sei, mas é como eu me sinto. Agora, para mim não importa mais se você não é uma garota de verdade, Fujisaki-san. Não importa, porque eu realmente gosto de você. Eu não posso pedir para que você aceite os meus sentimentos, mas… eu gostaria muito que você os compreendesse.

Nadeshiko não sabia o dizer. Estava completamente surpresa com aquela atitude inesperada. Sempre que alguém se confessava para si, eram pessoas desavisadas que não conheciam sua real condição. Mas Tadase não era uma dessas pessoas, mesmo assim ele estava ali se confessando. Com um pouco de medo do que poderia encontrar, Nadeshiko ergueu os olhos, fitando os olhos carmim do rei. Queria encontrar algum resquício de brincadeira, ou algo assim, mas não havia nada nos olhos de Tadase que lhe dissesse que era uma brincadeira.

- Amu-chan gosta de você, Hotori-kun – declarou ela de forma repentina, surpreendendo o loiro, que não esperava por aquilo. – Ela é uma boa garota. É bonita e cheia de energia, o tipo de garota que você gosta. E… acima de tudo, ela é uma garota de verdade. Sendo assim, por que você não se declara para ela? Tenho certeza de que ela ficará muito feliz e…

- Você está certa – concordou o rei, interrompendo a frase da falsa menina. – Hinamori-san é tudo isso que você disse, mas ela não é a pessoa que eu gosto. Não seria injusto com ela e comigo se eu fizesse algo assim? Eu gosto da Hinamori-san, mas como uma boa amiga, e esse é um gostar diferente do que eu sinto por você, Fujisaki-san.

- Demo… um dia, quando a minha dança estiver completa, vou deixar de uma menina e voltarei a ser um menino… - falou, abaixando um pouco a cabeça com aquela verdade. – E quando isso acontecer, você não vai querer dizer essas coisas para mim, Hotori-kun. Isso porque você não conhece o meu lado menino. O único lado que você conhece é o lado Nadeshiko. A menina delicada e gentil que ocupa o lugar da rainha nos Guardiões.

- Então me deixe conhecer – pediu Tadase, não recuando em nenhum momento, mesmo com as frases de protesto que a falsa menina estava dizendo. – Eu sei que não te conheço completamente, mas quero conhecer. Deixe-me conhecer todos os seus lados, Fujisaki-san. Cada um deles. Por favor.

Nadeshiko sentiu seu próprio coração disparar ao escutar aquele pedido. Mesmo que a razão lhe dissesse que deveria recusar e fazer com que Tadase entendesse a realidade, ela já não conseguia encontrar nada que pudesse desencorajar o rei. Imaginava de onde Tadase havia conseguido tanta coragem e certeza. Ele que sempre fora tímido e inseguro para tantas coisas, mostrava uma segurança que ela jamais havia visto.

- Bem… acho que… deixar você conhecer um pouco mais sobre mim, não será algo ruim – decidiu por fim, vendo um sorriso se abrir no rosto do rei.

- Arigato Fujisaki-san – falou, se aproximando e segurando a mão da rainha. – A partir de hoje, vou trabalhar duro cada dia, para que você também goste de mim, da mesma forma como eu gosto de você.

Nadeshiko não soube o que falar naquele momento. Sentiu seu rosto corar um pouco, olhando de relance para sua mão sendo segurada pela do rei.

- Er… Temari sumiu… onde será que ela está? – indagou, sabendo que aquela era a pior desculpa do mundo para mudar de assunto.

- Deve estar com o Kiseki – respondeu Tadase, dando uma risada baixa. – Eu pedi para ele, que quando vocês chegassem, ele a levasse para outro lugar, para que pudéssemos conversar sem sermos interrompidos.

- Entendo, você realmente pensou em tudo, não é mesmo Hotori-kun? – indagou, tendo de se conter para não rir.

- Bem… essa foi a primeira vez que eu me declarei para alguém, precisava ter certeza de que nada atrapalharia – respondeu rindo, um pouco envergonhado.

Nadeshiko sorriu ao vê-lo daquele jeito. Tadase deveria ter pensado naquilo por muito tempo, para estar tão seguro quando havia aparentado na hora que se declarou.

- Er… acho que devemos ir, afinal, temos trabalho no Royal Garden – comentou Nadeshiko, puxando levemente sua mão que ainda era segurava pela do rei.

- Verdade, não podemos nos atrasar muito – concordou Tadase, só agora lembrando que ainda tinha o trabalhado como guardiões para fazer.

Os dois saíram do planetário e assim eles que cruzaram a porta, Nadeshiko se surpreendeu ao ver que na frente do planetário estava o valete, junto com seus Shugo Charas. Kukai olhou para os dois e deu um amplo sorriso, de um jeito malandro, como se soubesse exatamente o que os dois estavam fazendo dentro do planetário.

- Souma-kun, o que faz aqui? – indagou Nadeshiko, olhando para o valete um pouco surpresa.

- Souma-kun sabia que eu iria me declarar para você hoje, Fujisaki-san – respondeu Tadase, sorrindo um pouco sem graça.

- Ele… sabia? – indagou ela, não sabendo se ficava envergonhada, ou irritada.

- Isso mesmo, e eu já estava pronto para consolar o nosso rei de coração partido – declarou Kukai, estufando o peito de forma orgulhosa. – Afinal, nossa bela rainha tem o maior recorde de rejeições da Academia Seiyo. Mas pela expressão do nosso rei, não foi isso que aconteceu, não é mesmo?

Nadeshiko corou ao escutar aquilo, olhando para baixo. Temari sorriu e se aproximou da dona, que ergueu os olhos ao ver a pequena caráter de quimono lhe sorrindo.

- Acho que apareceu um menino que eu não consegui rejeitar – falou, fazendo com que Temari risse, escondendo a boquinha com a manga do quimono.

- Como se fosse novidade. Nenhuma plebeia tem o direito de rejeitar um rei! – afirmou Kiseki, em um tom arrogante e firme. – Por isso eu disse pra o Tadase que não precisava de toda essa frescura. Sinceramente, ficar três semanas fazendo preparativos e ensaiando de frente para o espelho. Foi um desperdício de tempo, em que poderíamos estar planejando a dominação do mundo!

Tadase sentiu seu rosto pegar fogo ao estar aquilo e sua situação piorou ao ver os olhos castanhos dourados de Nadeshiko lhe fitarem.

- Kiseki! – gritou, repreendendo o caráter.

Nadeshiko trocou um olhar com Temari e as duas acabaram rindo, sendo acompanhada por Kukai e Daichi, atitude que deixou o rei ainda mais envergonhado.