Estava quase no fim do inverno.

Apertei mais meus braços ao redor dos meus joelhos e passei os olhos pelas grandes árvores da floresta na paisagem a minha frente, abrindo um meio sorriso quando notei que a neve estava bem reduzida, deixando os galhos das árvores mais expostos e seguros de pousar. Arrepiei quando um vento gelado passou pelo meu rosto, balançando meus cabelos agitadamente para trás.

- Oque pensa que está fazendo sentada ai? – Virei meu rosto bruscamente para o lado, respirando de alivio quando vejo apenas os olhos violeta claro me observando irritados.

- Oque é? Não posso mais dar um tempo? – Voltei a olhar as árvores sem me importar com a ruiva irritada.

Ela se aproximou de mim e virou o rosto na direção que eu olhava.

- Não que não possa, mas eu não esperava que você pensasse em dar um tempo numa situação como essa – Falou com a voz mais serena, mas não deixava de parecer uma garota teimosa falando.

Soltei o ar pelo nariz e encostei o queixo no joelho.

- É por isso mesmo que eu tenho que dar um tempo e... Colocar as coisas no lugar. Minha cabeça está uma desordem.

Ela voltou a olhar para mim e franziu o cenho. Olhei para ela de soslaio e dei um sorriso ao ver que ela não parecia me entender completamente.

Dei uma risada baixa e falei tranquilamente:

- Vai ficar em pé com essa expressão estranha no rosto ou vai se sentar de uma vez? – Perguntei, divertida.

Ela colocou as mãos na cintura e me encarou com a expressão pior que antes.

- Eu não sei qual é a graça em sentar num telhado para olhar as árvores secas cobertas por aquela neve inútil! – Ergui uma sobrancelha para ela. Então ela também odiava a neve... Acho que podemos nos entender no fim das contas.

- Você precisa melhorar seu ponto de vista Arisu. Ela pode parecer inútil observando assim, mas ela tem sua importância – Estreitei levemente o olhar para a paisagem e completei – Até mesmo eu tenho a minha importância agora. Então qual é o mal em apenas observar?

Arisu desfez a cara feia pela primeira vez em dias e pareceu pensar um pouco no assunto. Os olhos grandes dela pousaram nas árvores com neve e depois de alguns momentos de silêncio, ela se sentou no telhado em que estávamos e fitou a paisagem seca e gelada.

- Humpf – Resmungou baixinho, olhando para mim com os olhos estreitados – Não que agora eu ache graça em me sentar no telhado com uma pessoa idiota como você, mas é que eu não tenho escolha a não ser ficar de olho em você – Ela virou o rosto novamente para frente – Yuuto ficaria irritado se algo acontecesse a você para estragar o plano dele. Sabe, ele é um cara muito orgulhoso de seus planos, então... – Deu de ombros.

- Sei... – Concordei baixinho – Não precisa se preocupar comigo, não faria nada para estragar esse plano.

- Claro que não! Aliás, foi você a causa de toda essa confusão com o Kakashi, não é?

Apertei os braços mais ainda nos meus joelhos, e abaixei a cabeça até meus olhos ficarem na altura dos meus joelhos.

- Sim, mas graças ao Yuuto eu vou poder salva-lo amanhã e vocês não vão precisar se preocupar tanto comigo – Me calei e um silêncio tomou de conta do espaço. Arisu olhou para mim calada e com a impressão que a frase não havia terminado, então eu completei em voz baixa – Aliás, depois de tudo eu já terei morrido amanhã.

Os olhos violeta claros dela cresceram pelo choque ao notar a neutralidade com que as palavras haviam saído de minha boca.

- Mas... Como pode agir tão naturalmente! – Ela tocou meus ombros, obrigando-me a olhar para ela – Não tem medo de nunca mais ver o Naruto, o Ryo ou até mesmo o Kakashi depois de tantos dias treinando por causa dele?!

Estranhei o rosto urgente dela e fechei a boca que se abrira pela surpresa.

- Arisu... Pensei que na ANBU esse tipo de coisa fosse normal para vocês – Disse com surpresa.

Arisu afrouxou o aperto nos meus ombros.

- Foi por isso que sai de lá a anos atrás – Murmurou com uma voz um pouco triste – Eu não acho certo que pessoas percam suas vidas apenas para que outras se sintam satisfeitas com isso, então sai.

Comprimi os lábios e afastei as mãos dela dos meus ombros, ainda segurando-as quando consegui afasta-las.

- Eu não vou fazer isso para deixar ninguém satisfeito Arisu – Apertei suas mãos vendo seus olhos se tornarem maiores que o normal – Eu vou fazer isso porque eu simplesmente... Amo aquele idiota o bastante para isso – Sorri para ela – Eu não me incomodarei se isso acontecer.

A jovem continuou me observando em quanto eu continuava com meu sorriso no rosto, até que eu me lembrei de mais algo.

- Ah, e o Naruto, eu já resolvi isso – Soltei as mãos dela e me levantei – Eu vou deixa-lo ao cuidado do Ryo e do Kakashi, já que quando ele melhorar ele vai possuir o chakra do meu clã e isso será o suficiente para que ele consiga cuidar do garoto.

A ruiva se levantou com a expressão melhor, mas ainda expressava o espanto
à minha tranquilidade.

Seus punhos foram cerrados e ela virou a cabeça mordendo o lábio inferior.

- Isso não está mais certo... Eu não posso a deixar tomar essa decisão sem contar a ela! – Pensou com raiva e virou o rosto para mim – Me desculpe por adiantar as coisas Yuuto, mas isso é o mais justo a fazer.

- Mitsue! – Me chamou com a voz estranhamente dura e suave ao mesmo tempo, atraindo meu olhar para ela – Eu preciso que me escute atentamente.

- Hun? Como assim? – Perguntei achando estranho o olhar que ela me lançava.

Ela apertou mais os punhos e abriu a boca algumas vezes antes de começar a falar realmente.

- É que... Tem uma coisa sobre o Yuuto que você precisa saber – Soltou a garota.

- Yuuto? – Perguntei lentamente, e me aproximei da Arisu com as sobrancelhas curvadas – O que é que tem ele?

Ela ficou parada por um momento num conflito interno sobre se aquilo era o correto ou não a fazer, mas por fim decidiu que deveria falar já que havia começado.

Seus olhos violeta claros colaram nos meus olhos acinzentados, e respirou fundo para falar:

- O Yuuto...

- O que é que tenho eu?

Nós duas demos um pulo ao ver o moreno na nossa frente com um sorriso ameaçando se formar no canto dos lábios.

Arisu voltou a ficar irritada como antes e avançou no Yuuto:

- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO APARECENDO ASSIM DO NADA?! – Gritou com ele, fazendo que o ANBU se afastasse  - dela.

- Calma! Eu só vim atrás de vocês duas já que desapareceram da floresta sem avisar – Yuuto desviou o olhar dela para me olhar – O que vocês estavam fazendo aqui?

 Dei de ombros.

- Eu estava apenas descansando um pouco até ela chegar aqui.

Yuuto voltou a olhar para a Arisu.

- Hm, então parece que está tudo bem aqui. Estou correto Ari?

A ruiva abaixou a cabeça com o rosto realmente irritado, mas então assentiu devagar com a cabeça.

- Yoshi! – Yuuto abriu um sorriso e começou a andar – Então vamos voltar, precisamos preparar tudo para a amanhã se quisermos ter sucesso – Ele virou a cabeça para o lado em quanto caminhava – É melhor se apressar Mitsue, o Ryo está inquieto com sua ausência.

- Ok – Concordei, andando até ele.

Nós três caminhamos até a ponta do telhado, na direção da floresta que a pouco eu observava e saltamos para os telhados seguintes a caminho dela.

Olhei disfarçadamente para a Arisu em quanto saltávamos, e aumentei minhas suspeitas ao ver sua expressão nervosa. Passei os olhos para o Yuuto e apertei os lábios.

- Isso está esquisito. Porque chegou de repente, nos interrompendo logo naquela hora? Ou melhor... – Estreitei mais os olhos – Quem você realmente é, Yuuto?

Ele olhou para mim, percebendo que era observado e sorriu suavemente, com bastante tranquilidade. Mas por um momento que me deixou assustada, os olhos amendoados dele pareceram escurecer mais, então desviei o olhar perturbada com aquela mudança.

O que... ?

Será que estão escondendo alguma outra coisa de mim? É algo ruim? É mais algum detalhe que eu não estou sabendo da missão? Algo mais pode dar errado?!

O que é que está acontecendo?!                                    

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Naruto estava sentado de frente para a mesa de centro da sala, com a lareira acesa soltado pequenos estalos na madeira flamejante. O garoto loiro havia acabado de afiar as armas ninja e agora as lustrava cuidadosamente com um pano embebido com um líquido especial para a tarefa.

Quando terminou de lustrar a primeira shuriken, a ergueu para o alto e observou seu trabalho usando a luz vinda da lareira.

- Ahnn... Está perfeita ttebayo! A Mitsue-senpai vai ficar tão orgulhosa quando notar meu trabalho dattebayo! – Concordou com a cabeça para si mesmo e pegou a próxima arma – Agora é só esperar ela chegar para receber meus parabéns... – O garoto parou de lustrar a Kunai em suas mãos e deixou a frase se perder no ar com uma expressão menos feliz no rosto.

O loiro abaixou a arma em suas mãos e olhou o fogo na lareira soltando algumas labaredas brilhantes.

- Eu não sei se é apenas minha impressão... Mas ela sempre tem chegado estranha em casa desde quando o Sensei se machucou – Refletiu em voz baixa, e sua mão foi até a blusa de frio laranja, apertando-a no local onde se encontrava o coração – Meu peito tem se apertado desde o momento em que ela deixou o hospital naquele dia... E nesses últimos dias o aperto tem aumentado como se algo ruim fosse acontecer ttebayo... – Baixou a cabeça com o rosto sério pensativo.

Notando o próprio tom de voz, o loiro se recompôs e voltou a lustrar a Kunai.

- Ahh do que eu estou falando dattebayo! A Mitsue-senpai estava tão alegre no hospital, deve ser apenas impressão minha! – Voltou a sorrir como antes e colocou a arma pronta do seu lado – É melhor eu terminar logo isso para eu receber uma recompensa da Mitsue-senpai ttebayo – O loiro começou a rir sozinho com a ideia de ganhar uma recompensa minha e esqueceu aquele pensamento em instantes.

Em quanto isso, um pouco distante da minha casa o grisalho permanecia deitado em sua cama, encostado num grande travesseiro em quanto lia “O paraíso do flerte”, escrito pelo Jiraya.

Seu único olho aberto passava pelas letras no livro com uma velocidade impressionante e quanto mais longe ele ia, mais seu rosto corava.

Estava a tanto tempo naquela mesma posição lendo que nem notara que seu corpo havia ficado rígido, só percebeu quando resolveu mudar a posição e sentiu a pontada de dor nos músculos das costas, fazendo que ele desviasse a atenção do livro para o seu corpo.

- Ai, droga... – Reclamou, se movendo lentamente a fim de ajeitar seu corpo que doía todo a qualquer movimento brusco. Ele agradeceu mentalmente a enfermeira de agora a pouco por aplicar um remédio esquisito para que seus músculos não doessem tanto, mas de qualquer maneira eles ainda doíam.

Depois de se arrumar, com todo o cuidado, ele arrumou o livro no seu colo para que os músculos dos braços não protestassem de dor e voltou a dar atenção à ele.

- Hm, onde eu parei mesmo... Ah! Foi bem aqui! – Murmurou para si mesmo e começou a ler em voz baixa – “Souto mesmo gravemente doente, se aproximou da mulher esbelta a sua frente e tocou o seu rosto, se deliciando ao notar suas maças do rosto corar com o movimento gentil, prestes a fazer uma pergunta á ela.”

Kakashi voltou a corar, fantasiando na sua cabeça aquela mesma cena no livro acontecendo com nós dois, e por um momento a cena se materializou na frente dele com as palavras no livro saindo de nossas bocas imaginárias:

“- Mitsue... Se eu estivesse prestes a morrer amanhã, oque você faria? – Perguntou em voz baixa para mim, notando que minha expressão se tornou decidida do que iria responder.”

- “Eu morreria em seu lugar.”

A fantasia evaporou diante dos seus olhos assim que leu a fala da mulher. Afastou-se do livro notando que ele começou a suar, e se sentiu subitamente aliviado ao notar que foi a personagem do livro e não eu a dizer aquilo.

Kakashi poderia ter sorrido e voltado a ler, mas por algum motivo àquelas palavras o deixou abalado, lembrando o meu rosto tão decidido nitidamente, antes de falar:

“Eu morreria em seu lugar”.

- Meu Deus... – Kakashi passou a mão pelo rosto suado – Porque eu estou com essa sensação ruim... ? – Seus olhos foram para a janela iluminada pela luz do sol lá fora – Porque eu sinto que isso foi realmente foi dito? – Ele parou de falar por um instante sentindo a febre invadir seu corpo.

Mitsue... – Kakashi pensou meu nome e fez uma pergunta dentro de si – Porque eu estou sentindo tanto medo disso ser verdade?