Chegaram na pizzaria tia Kelly, Kitty, Shawn, Tico, Lígia, Renato, Daron, Dawson, Rafael e Rennan. Kitty não conseguia comer direito. Renato estava com um sorriso de orelha a orelha. Eles estavam comendo a pizza, mas entre uma garfada e outra, começavam a cantar uma música dos Defloid’s. Quando os pedaços da primeira pizza já estavam no fim, Renato sobrepôs-se à bagunça:
- Promessa é dívida Kittyzinha – começa Renato – como já disse uma vez, o primeiro cd que a gente gravar é seu!
- Opa, aí é comigo – respondeu Kitty – Rê, você já tem uma idéia de qual vai ser o nome do cd?
- É claro – respondeu Rê, e vendo os olhos assustados de seus amigos, continua – é o primeiro nome da nossa banda, que mamãe não deixou a gente colocar porque era muito sombrio! Sabe qual é, né mãe?
- Claro que sei – respondeu tia Kelly – lembro-me direitinho do dia em que disse: “Mãe, já sei o nome da nossa banda”, quando você disse o nome, o que eu respondi?
- “Ai, que coisa sombria, você não vai por esse nome não, escolha outro” – repetiu Renato – Aí a gente escolheu Defloid’s!
- Que representa o único som que o tio Boris conseguia produzir depois que recuperou a fala, e o nome de cada pessoa que gosta de Defloid’s, pois tio Boris virava pra gente e ficava falando: “Defloid, Defloid”. – disse Kitty, lembrando-se do pai de Renato, que já tinha morrido a uns seis anos!
- E que só depois de quatro meses nós fomos descobrir que ele queria ouvir o cd do Pink Floyd! – disse tia Kelly, lembrando-se com um sorriso no rosto.
- Mas, afinal, qual o nome original da banda? – perguntou Shawn completamente perdido nesse mundo de informações.
- “Death In The Dawn” – responderam Renato, Kitty, tia Kelly, Dawson, Daron, Rennan, Rafael, Tico e Lígia ao mesmo tempo.
- E... o que significa? – perguntou Shawn, na mesma.
- “Morte Ao Amanhecer” – respondeu tia Kelly rapidamente.
- Mas, mãe, por que agora você não faz objeção a esse nome? – perguntou Renato.
- Hum... ah, é um bom nome pra um cd – respondeu ela, encolhendo os ombros.
A risada ecoou por toda a pizzaria. Depois de muito tempo, todas as pizzas acabaram, e tia Kelly levantou-se e disse:
- Garotos, vamos pra casa, vocês precisam dormir bastante para amanhã fazerem um bom ensaio, afinal, todos nós queremos que vocês gravem um cd.
Pipi, pipi, pipi, pipi – toca o despertador...
- Ah, pipi? – acordou Kitty, com sono – que horas são? Putz, tenho que correr.
Afinal, era hoje, o dia em que Jeff Tonkilon, o “grande empresário” da cidade iria ver o ensaio dos Defloid’s. Kitty se arrumou rapidamente e desceu à escada correndo, gritando “tchau, mãe”, antes de sair e gritar:
- Ah, não, já são nove e quarenta... eu nunca vou chegar até a casa do Renato até as dez horas, tenho que correr...
Kitty atravessou a rua correndo, sem perceber que o farol estava fechado pra ela. Na correria, quase foi atropelada. O carro buzinou e freou bem na hora. Ela caiu no chão, xingando o motorista de tudo quanto é nome. Levantou-se, e já ia começar a andar quando o carro recomeçou a buzinar. Reconheceu aquela buzina. Que outro carro no mundo teria uma buzina de caminhão? Olhou para o lado de onde vinha a buzina e viu, dentro de um carro preto com flamas desenhadas em toda sua volta, seu primo, Renato.
Kitty correu para a porta do carro, entrou e disse:
- O que você tá fazendo aqui? – no lugar de dizer “oi”.
- Ué, eu vim te buscar, ou você acha que a gente iria começar sem você? – respondeu o garoto, animado – o empresário já chegou faz uns dez minutos, ele nos pegou de surpresa, mas mamãe está atrasando ele. A essa altura ele já deve ter tomado uns vinte cafés.
- Desculpa Rê, eu não queria te atrasar, eu coloquei o meu celular pra despertar, mas acho que acabou a bateria, mas graças aos céus, o despertador estava colocado pra despertar às nove e meia, aí eu saí correndo.
- Chegamos, vai Kitty, agiliza e abre o portão – e a garota correu a abrir o portão, para Renato poder estacionar. Fechou o portão, e os dois correram para a cozinha.
- Voltamos. Senhor Tonkilon, nós já podemos começar – disse Renato, apertando a mão do empresário – vamos pra garagem.
Quando chegaram na garagem, Dawson, Daron, Rafael, Rennan, Tico Lígia e Shawn já estavam esperando. Kitty cumprimentou todos e sentou-se ao lado de Shawn, que a abraçou. Os instrumentos já estavam nos lugares. Renato e Tia Kelly haviam preparado uma mesa comprida, e Tico e Shawn arrastaram o banco em que estavam sentados para poder sentar à mesa, com todos. Tia Kelly desceu, trazendo uma travessa com sanduíches de peru, e colocou na mesa. Jeff Tonkilon começou:
- Bom, quem são os integrantes da banda?
- Renato Hatsukara, 19 anos, vocalista e guitarrista – adiantou-se Renato.
- Dawson Talyot, 19 anos, baixista.
- Daron Talyot, 21 anos, baterista.
- Rafael Reich, 18 anos, guitarrista base.
- Rennan Trevisan, 19 anos, sou o Tecladista.
- E vocês? – perguntou Jeff Tonkilon a Kitty.
- Kitty Molliew, sou prima do Renato. Esses são meus amigos, Shawn Finnith, Tico e Lígia Evans.
- Vocês são da banda?
- Não – respondeu Kitty – mas...
- Então podem ir embora – disse Jeff Tonkilon, dispensando-os.
- Eles não vão embora – contradisse Renato – Kitty é minha prima, sempre nos deu a maior força, ajudou a escolher o nome da banda, o nome do cd. Ela é mais do que uma integrante da banda. E eu já a contratei pra fazer o encarte do cd.
- Contratou? – perguntou Kitty.
- Estou contratando agora. Portanto, ela fica – terminou colocando um ponto final na conversa.
- Mas os amigos dela... – começou Jeff.
- Estão como meus convidados – terminou Renato – bom, vamos começar?
- Hump, vamos – disse Jeff Tonkilon, pouco a vontade – certo, primeiro, eu gostaria de saber se vocês já têm um cd ou uma fita demo?
- Temos, gravamos um cd hoje especialmente para o senhor levar – respondeu Dawson – Mas nós vamos tocar todas as nossas músicas hoje pra você.
- Vocês têm material suficiente para um disco? – perguntou o empresário.
- Temos treze músicas prontas, dezenove letras apenas no papel e algumas melodias e solos de guitarra – respondeu Renato prontamente – pretendemos gravar o cd com essas treze músicas, e deixar essas dezenove para os próximos, que eu creio que, se depender de mim, existirão com certeza.
- Então você é o líder da banda? – perguntou Jeff Tonkilon.
- Nós somos um grupo – respondeu Renato - quando queremos decidir alguma coisa, nós nos reunimos e sentamos pra conversar.
- Interessante – falou Jeff Tonkilon, mas para si mesmo do que pra qualquer um – quem iniciou a banda?
- Na verdade, eu e meus primos, Dawson e Daron sempre tivemos o sonho de montar uma banda – disse Renato – Nós juntamos uma grana e compramos uma guitarra e um baixo, mas faltava a bateria. Deixamos pra depois. Ainda precisávamos de um outro guitarrista e um tecladista. Então lembrei de dois amigos que estudaram comigo quando eu tinha quinze anos, o Rafael e o Rennan. O Rafael sempre dizia que iria ser tecladista em uma banda de rock, e que tinha comprado um teclado, mas nunca dei muita atenção. Na verdade, eu acho que nunca cheguei a captar direito o que ele dizia. O Rafael estava na minha sala, o pai dele tinha comprado uma guitarra pra ele, e ele dizia que iria aprender, mas naquele ano eu me mudei de escola. Lembrei deles e liguei. Eles estavam dispostos a entrar pra banda. Com eles na banda, só faltava a bateria, que conseguimos logo em seguida. Ganhamos numa promoção de uma rádio.
- Então, resumindo, a idéia de montar a banda surgiu de você e seus primos, certo – anotou Jeff – voltando ao cd, vocês já tem idéia do nome do cd?
- “Death In The Dawn”, significa “morte ao amanhecer” – respondeu Kitty – era o nome original da banda, mas tivemos que mudar pra Defloid’s.
- Certo. Vamos começar o ensaio? – disse Jeff – quero que façam um ensaio como se estivessem no show.
- Nós sempre procuramos fazer isso – disse Renato, ofendido, mas se dirigindo ao seu lugar e colocando a guitarra sobre o ombro – Bom, vamos começar com uma cover de “Time Of The Shadows” do Creatures Of The Night.
- Vocês pretendem colocar essa música no cd? – interrompeu Jeff.
- Nós sempre começamos nossos ensaios com essa música. É como se fosse um aquecimento. Qualquer show que fazemos, tocamos essa música. Sei que não podemos coloca-la no cd, mas eu e minha banda nunca deixaremos de toca-la – declarou Renato. Jeff Tonkilon se arruma na cadeira desconfortavelmente e escreve alguma coisa na prancheta.
- Vamos nessa gente – começou Renato, e inicia o solo de guitarra. Jeff percebeu rapidamente que a cover estava perfeita, com todas as letras. Após essa, começaram a tocar as outras músicas, e terminaram com “This Word”.
- Senhor Tonkilon, o que achou? – perguntou Renato, depois de tomar um pouco de água.
- Sim, sim, sim – respondeu o empresário – sim, semana que vem vocês assinarão o contrato com a gravadora.
Renato abriu um sorriso de orelha a orelha. Jeff Tonkilon marcou hora com a banda na gravadora, e foi embora. Quando ele saiu, Kitty falou na mesma hora:
- Ignorante esse sujeito, não gostei dele não.
- Também não gostei dele – disse Dawson – realmente, concordo com você Kitty, ele é muito ignorante.
- Também não gostei dele – disse Renato – mas não fizemos tudo o que fizemos para ser a banda que somos hoje para morrer na praia.
- Ué, vamos cancelar o contrato e arranjar outra gravadora – disse Daron – garanto que qualquer outro empresário seria muito melhor que esse.
- Boa idéia – concordou Kitty - vamos gravar outros três cds e procurar o endereço de gravadoras aqui em São Paulo, e mandamos os cds.
- É o jeito, vamos.
Então, todos foram até o quarto de Renato e gravaram alguns cds demo. Depois pesquisaram o endereço de gravadoras em São Paulo, anotaram e escreveram cartas. Rafael e Rennan precisaram ir embora, então Renato, Kitty Shawn, Lígia, Tico, Daw e Daron foram até o correio e mandaram.
- Agora é só esperar – disse Renato – vamos almoçar lá em casa?
- Vamos.