– Victoria!

Hector levantou levemente o corpo e se virou para ver quem entrava no quarto. Ao fazer isso ele liberou o campo de visão de Victoria, e ela pôde ver a fisionomia chocada de Jordan, que refletia a sua própria.

Sem que ela ao menos percebesse, Jordan agarrou a gola da camiseta do garoto e puxou-o para longe da garota.

Ela pegou uma almofada que estava sobre a cama e cobriu a parte nua de seu corpo, ficando congelada daquele jeito enquanto observava Jordan desferir soco atrás de soco no rosto de Hector.

– Quem você acha que é para fazer isso com a minha filha, seu idiota? – Ele gritava.

– Eu sei que você odeia essa garota, Jordan. E ela é uma lésbica nojenta. Precisa de alguém que a ensine a ser mulher de verdade.

Quando Hector disse isso, o sangue subiu à cabeça de Jordan.

– Nunca, nunca fale de uma garota assim. Principalmente na frente do pai dela. – Ele falou de forma baixa e ameaçadora e partiu novamente para cima do garoto, levando-o até a porta da casa. Ali o empurrou para fora.

– Some daqui.

Jordan fechou a porta com certa força e correu até o quarto de Victoria, que parecia em choque: mirava um ponto fixamente enquanto as lágrimas corriam livres pelo rosto. As mãos seguravam vacilantes uma almofada contra o corpo.

Ele cobriu-a com uma camisa xadrez que encontrou por ali e se sentou ao seu lado, ficando inteiramente surpreendido quando ela o abraçou.

Victoria estava assustada, com medo; precisava de alguém ao seu lado, e quando o pai chegou perto, ela não se importou se o odiava ou não. Apenas o abraçou e chorou um pouco mais ali, entre murmúrios que Jordan procurava acalmar.

Ela se recuperou depois de algum tempo. Nenhuma palavra foi trocada e Jordan saiu dali, deixando-a sozinha.

Os pensamentos da garota ainda estavam confusos. Ela se levantou da cama e andou até o banheiro, para tomar um banho e tentar limpar de si o acontecido de momento antes, tamanho o nojo que sentia.

Jordan estava em seu quarto. Sentado na ponta da cama, com o rosto nas mãos, ele pensava. Sentia-se triste. Desde a última discussão com Victoria, seus conceitos haviam mudado. A culpa o fustigava, e ainda mais depois do que vira.

Aos quarenta e seis anos, sentia vontade de chorar.

Ele simplesmente não mais se admirava pelo ódio de Victoria. Na verdade, lhe dava razão. Se nem ele próprio conseguia se ver na condição de pai diante daqueles atos, como podia esperar isso dela?

Mas aquilo não era o pior.

O arrependimento estava ali, mas como ele conseguiria refazer a sua imagem? Ter o perdão de Victoria?

...

Nojo, asco, horror. Era isso que Victoria sentia enquanto lavava seu corpo sob a água fria que caía do chuveiro.

Mas em meio a esses sentimentos direcionados a Hector, havia uma interrogação na cabeça dela: Jordan.

Ela o odiava, e acreditava que era recíproco. Então por que ele a defendera com tanta veemência e fizera o que fizera com Hector?

Isso lhe confundia a cabeça, e o corpo doía onde Hector segurara. Provavelmente apareceriam hematomas manchando sua pele alva.

O banho terminou e Victoria foi para o seu quarto. A colcha bagunçada lhe tava um mal estar, e ela viu jogados em um canto a blusa rasgada e o sutiã, que fora arrebentado.

Depois de se vestir e arrumar a cama, ela juntou os dois e colocou em uma sacola. Iriam para o lixo.

Antes de sair do quarto, deu uma rápida olhada no espelho. Haviam marcas roxas aparecendo nos dois braços e em uma das coxas, e ao levantar um pouco a blusa, as viu na cintura também.

Sem dizer nada, ela abaixou a blusa e saiu dali.

Jordan estava sentado no sofá da sala. Ele esperava Victoria, queria conversar com ela.

A garota logo chegou ali, depois de jogar a sacola com as roupas fora.

– Victoria, eu quero falar com você. – Ele disse e ela virou-se.

O chamado de Jordan fora livre de qualquer tom de ironia ou falsidade, e a resposta de Victoria também. Os dois queriam e precisavam conversar, cada um por um motivo.

– Eu também quero, Jordan. – Ela respondeu e sentou-se à sua frente.

– Bem, Victoria. Desde a nossa última discussão eu comecei a pensar sobre o que você me disse... eu sei que é meio improvável que você acredite, mas... eu queria te pedir desculpas... desculpas pelas minhas atitudes preconceituosas e hipócritas... pelo que eu fiz com você.

O homem falava com pausas, hesitando em suas palavras.

Victoria esperava qualquer coisa naquele momento, menos isso. Era algo tão impossível – até onde ela acreditava –, que a pegou de surpresa. Olhou para o rosto de Jordan e não viu nem ao menos um traço de falsidade.

Pela primeira vez desde que o conhecera, ela viu sua verdadeira expressão.

E aquilo deixou seus pensamentos mais confusos do que já estavam. Jordan a salvara de um estupro, a defendera diante de ofensas relacionadas à sua sexualidade e agora estava pedindo-lhe desculpas, sem ao menos arrogância na voz ou na expressão.

Em qualquer outra situação, talvez Victoria começasse a rir; respondesse Jordan com uma ironia e saísse com a certeza que era uma mentira.

Mas ela estava abalada. Muitas coisas pareciam diferentes do normal, e ela podia sentir em si a sinceridade naquelas palavras.

– Jordan... eu... eu não entendo. Por que você está fazendo isso? O que aconteceu? O que aconteceu com aquelas ofensas, insultos?

Ele passou as mãos no rosto.

– Eu sei que é muito difícil de acreditar. No seu lugar, eu também duvidaria. Por isso vou te dar uma prova da minha sinceridade... eu não posso voltar para Fort Lauderdale, mas vou lhe dar as passagens e qualquer outra coisa que você precisar.

Agora Victoria estava inteiramente surpresa; não podia acreditar no que ouvia. Jordan estava lhe dando a oportunidade de voltar para sua casa, para Madison! E também de sair da sua vida.

Mas isso não parecia tão bom quanto antes. Jordan estava diferente, e poderia ser legal conviver com ele desse jeito. E Victoria queria saber sobre ele. Como fora sua vida em Liverpool e Londres, por que ele abandonara Rosie, e por que só procurara saber dela quase dezesseis anos depois.

– Mas você ficará aqui? – A garota perguntou em um levíssimo tom de desespero e Jordan deu uma risada baixa.

– Sim, Victoria. Eu tenho coisas para resolver por agora. Mas acredito que você não vá querer a minha presença em Lauderdale com você, estou certo?

Ela deu um sorriso triste.

– Depende.

– De quê?

– Madison. – Disse. – Eu e Madison, na verdade. Você... nos aceitaria?

Jordan sorriu.

– Claro que sim, Victoria. Eu percebi que você gosta muito dessa garota. Seria um crime ficar contra isso.

A menina riu baixo.

– Como é que pode isso? – Perguntou.

– Isso o que?

– Essa diferença. Você nem parece a mesma pessoa, Jordan. O que sai da sua boca é tão diferente do que você falava antes... – Ela disse e o pai riu baixo.

– É verdade, Victoria. Eu estava muito errado. Sinto muito.