Me sentei na cama ofegante.

Olhei em volta reconhecendo as paredes azuis do meu quarto no duplex de Jordan e coloquei uma mão no peito, aliviada.

Havia sido tudo um sonho.

Um péssimo sonho, diga-se de passagem, mas um sonho.

Minhas mãos ainda estavam meio trêmulas. Meu cabelo, molhado de suor, colava no rosto. Tentei acertar minha respiração e diminuir os tremores antes de me levantar direito da cama.

Andei com passos vacilantes até o banheiro, parando para mirar a minha imagem no espelho.

Cabelos bagunçados caindo sobre os ombros, pele branca, olhos castanhos com olheiras embaixo. Camiseta larga com uma estampa qualquer batendo nas coxas. Pés descalços.

Eu não estava em meu melhor estado. Na verdade, desde que Jordan aparecera em minha vida, há mais ou menos um mês, eu havia mudado.

Estava um pouco mais magra. Mais sóbria talvez.

E isso tendia a piorar, agora que eu ficaria longe de Madison e da minha vida.

E tudo isso por causa de um capricho daquele que se dizia meu pai.

Apertei os punhos e respirei fundo, me segurando para não socar algo próximo de mim.

Balancei a cabeça, tirando esse pensamento da minha mente e me despi, entrando sob o chuveiro para um banho rápido.

Me sequei e vesti uma camiseta e um par de shorts jeans.

Toc, toc, toc.

As batidas de Maise foram ouvidas enquanto eu penteava os cabelos.

– Entre! – Gritei do banheiro e fui até o quarto.

– Bom dia, Victoria. – Ela disse cordial como sempre.

– Bom dia, Maise. – Esforcei-me para dar um sorriso verdadeiro pra ela.

– Jordan pediu que eu viesse aqui para te ajudar a arrumar as malas. – Ela disse e eu estremeci. – E me despedir, também.

– J-já? – Gaguejei. – Nós vamos hoje?

– Bem, eu não sei direito, Victoria. Mas eu vou.

– Como assim?! – Perguntei alarmada.

– Jordan me demitiu. Vocês vão se mudar, esse apartamento será vendido, eu não tenho mais o que fazer... – Ela deu de ombros.

Engoli em seco, tentando reprimir algumas lágrimas.

– E-eu vou sentir sua falta. – Respondi. Olhos baixos, mirando o chão.

– Eu também, Victoria. Você é uma garota muito boa. – Ela colocou uma mão em meu ombro e eu a abracei.

– Bom, temos de arrumar as malas, não? – Perguntei e ela assentiu.

Troquei rapidamente de roupa no closet e nós duas começamos a encher duas malas com todas as roupas, sapatos e objetos que me pertenciam ali.

Senti um deja vú enquanto fazia aquilo, e junto com ele uma sensação péssima de aperto no peito. O sorriso de Madison dançou novamente na minha mente e fez meu corpo tremer.

E a verdade veio como um soco no estômago.

Eu não aguentaria viver sem ela.

Minha respiração falhou quando a conclusão finalmente se impregnou em minha consciência. Minhas mãos tremeram e eu só percebi que tinha deixado uma pilha de roupas cair no chão quando Maise perguntou se estava tudo bem comigo.

Não. Nem um pouco. De jeito nenhum.

Ou pelo menos foi essa a resposta da minha mente. Meu corpo se limitou a assentir lentamente com a cabeça enquanto eu fixava o chão. Engoli em seco e respirei fundo, pescando uma camiseta azul com o símbolo do Capitão América, dobrando-a e colocando sobre a cama.

Em pouco mais de meia hora, já havíamos esvaziado prateleiras e cabides, e enchido as duas malas e uma mochila para os itens mais necessários, deixando apenas a escova e pasta de dentes e algumas peças de roupa para a viagem.

Eu e Maise conversamos mais um pouco e descemos logo depois. Jordan estava sentado no sofá – o mesmo de três dias atrás, quando aconteceu a discussão – e assim que me viu, abriu um sorrisinho meio sarcástico.

Devolvi outro cheio de ironia, e ele pareceu perceber a pequena briga de expressões travada ali, pois soltou um riso baixo e rápido antes de se levantar e vir até mim.

– Bom dia, Victoria! Espero que Maise tenha lhe falado. – Ele disse naquele conhecido tom insuportável.

– Sim, ela falou. – Respondi seca. Estava ficando melhor nisso.

– O voo é hoje as 19 horas. Vou lhe dar até as 18 para que você se despeça de seu tio, de seus amigos e daquela sua... – Ele se interrompeu com um ruído de nojo.

– Eu vou sim me despedir da minha namorada, muito obrigada! – Sorri ironicamente, empurrando garganta abaixo a raiva por suas palavras e a dor da falta, que voltava a incomodar.

Calcei um par de tênis slip on pretos e saí de casa, fazendo o exato mesmo trajeto do dia anterior.

Na casa de Robert, a despedida foi cheia de lágrimas e dor.

– Você vai... mudar o quarto? – Eu perguntara.

– Ele é seu, Victoria. Eu não tenho o direito. – Nós sorrimos.

– Bom, eu ainda tenho de me despedir de Madison, Amber e dos meninos. – u disse.

– Ah, claro, claro. – Ele assentiu, mas depois deu um pulo do sofá. – um minuto. Espere aqui! – Ele disse-me e subiu as escadas quase correndo.

Alguns minutos depois ele voltou trazendo algo pequeno nas mãos.

– Bem, Victoria. Quando sua mãe partiu, ela deixou uma jóia com uma assistente social, pedindo-a para entregar-lhe quando você fosse maior. Essa mulher me deu a jóia e contou o que Rosie havia lhe pedido. Acho que já está na hora de você tê-la... – Ele deu de ombros e abriu as mãos, exibindo uma fina corrente prateada com um pingente. Uma menininha prateada, com brilhantes na saia e nos olhos.

– Eu sei que não é bem seu estilo, mas... – Ele comentou meio sem-graça, diante da minha falta de reação.

– Não... ele é lindo! De verdade, tio, é perfeito! – Sorri e peguei a discreta jóia entre os dedos, vendo o pingente mais de perto e alisando o nome “Victoria” gravado na parte de trás.

Devolvi a Robert e virei-me de costas, afastando os cabelos e liberando meu pescoço para que ele colocasse o colar.

Andei até o espelho da sala e toquei a peça prateada, sentindo sua frieza sobre a minha pele.

– É realmente muito bonito. E lembra a minha mãe. Obrigada, tio! –Abracei-o e ele retribuiu.

– Ah, sim. Eu estava quase me esquecendo! – Ele exclamou e enfiou a mão no bolso, tirando algo de lá.

– Lembra-se daquele seu anel, que você colocava no polegar? – Perguntou e eu assenti. – Eu não achei aquele, mas... – Ele pegou minha mão esquerda e depositou ali um anel prateado largo.

Ele tinha escrito “Love is Love” em letra caprichada duas vezes, com um coração ao lado de cada uma das frases.

– É incrível, tio! Muito obrigada! – Sorri e abracei-o novamente.

– Não há de que, Victoria. – Ele hesitou. – Boa viagem.

Aquele era o seu modo de dizer “Adeus, sentirei a sua falta.”

– Obrigada. – E esse era o meu.

Despedimo-nos mais uma vez e eu saí da casa, andando distraída até a casa de Madison.

Enquanto eu o fazia, comecei a brincar com o novo anel, que escorregou dos meus dedos e foi ao chão.

Quando abaixei-me para pegá-lo, vi que ele havia divido-se em dois anéis mais finos, cada um com uma frase e um coração.

– Ah, Robert! – Eu ri, percebendo o que ele havia feito.

Uni o anel novamente e continuei caminhando.

Cheguei logo à casa de Madison, e lá houveram ainda mais lágrimas e tristeza, só que dessa vez abrangendo Eva e até Will, o irmão de Maddy.

Entre muitos “vou sentir a sua falta” e “eu voltarei”, eu e ela nos despedimos a sós.

– Ah, Madison. Eu tenho um presentinho para você. – Eu disse, tirando o anel do meu dedo e dividindo-o.

Apertei os lábios sobre a metade onde vi um pequeno “V” gravado e coloquei-a no dedo de Madison.

– Amor é amor, pequena. Independente de entre quem seja. – Sussurrei em seu ouvido enquanto abraçava – Eu te amo.

– Eu também te amo, Vick. – Ela sorriu e eu beijei sua testa e lábios, e sequei com os dedos suas lágrimas.

Depois disso, nós duas caminhamos até a praça do skate, como no dia anterior.

Encontramo-nos com Amber, Louie, Kori, Tom e Sean lá, e combinamos de almoçar em uma lanchonete.

Depois disso, eu me despedi de todos rapidamente, vendo que já eram cinco e meia.

Madison ainda insistiu um pouco para me acompanhar até o aeroporto, mas se isso acontecesse, Jordan poderia fazer coisas piores conosco. Dessa forma, apenas me despedi dela com um beijo demorado.

– Eu te amo, você sabe disso. – Sussurrei em seu ouvido e ela sorriu.

– Sim, eu sei. E te amo também.