-Bom dia, Mori-senpai.,,

 Depois do incidente pela madrugada, Kaoru não conseguiu mais dormir. Estava com olheiras e extremamente ansioso para ligar para Hikaru. Mas... Mas...

—NÃO CONSIGO MORI-SENPAI, ME AJUDE POR FAVOR! EU ESTOU MUITO NERVOSO!

 Kaoru não estava conseguindo ligar para seu irmão. Não sabia o que falar para Hikaru depois do sonho(?) que teve. E estava com um medo tremendo de atrapalhar o casal. O que fazer quando a insegurança e o medo falam ao mesmo tempo? A indecisão estava o consumindo tanto que nem um chá ou medicamento o fez dormir. E para piorar, aquela revista adolescente que o Honey-senpai o emprestou não dizia nada coerente. Ele fez os três testes que garotas fazem para descobrirem se “está afim do boy” e suas respostas deram “100% afim do boy”. O QUE AQUILO SIGNIFICA?? Decidiu que iria na casa de Takashi, para se inspirar no anfitrião disciplinado.

—Mori-senpai, você parece não se abalar com nada, está sempre com a melhor postura diante de qualquer situação, por favor, me ajude! – A essa altura, Kaoru já estava aos prantos, buscando qualquer salvação sobre a dúvida de ligar ou não para o irmão.

Já Mori, não estava entendendo nada.

—Kaoru, calma.

Kaoru parou de chorar no mesmo instante.

—Primeiro, entre. Você parece estressado e cansado.

—E-É... Desculpe Mori-senpai...

—Tudo bem. Vamos até a ala de meditação.

 Kaoru se lembra da ala de meditação. Ah, se lembra muito bem... Foi ali que fez as pazes com seu irmão depois de se “declarar” para Haruhi. Nunca se esquecerá desse dia, ele provou para si mesmo que cada esforço por Hikaru valia a pena.

“Eu gosto de você, Haruhi. Mas, uma coisa eu tenho que admitir... gosto muito mais do Hikaru! ”

 Não tinha jeito. Kaoru sempre depositou todo o seu sentimento no irmão. Sempre o colocou em primeiro lugar, o respeitou, o admirou, o... Amou. Mesmo depois de saber que Hikaru não aceita ser colocado como prioridade acima das necessidades de Kaoru, não consegue deixar de amar o irmão. O problema é... Até onde esse amor chega? Como pode querer tão bem Hikaru? E o que esse sonho está tentando lhe dizer? Ao mesmo tempo que sente essas dúvidas, a saudade por Hikaru só cresce. Ele não consegue definir o que está sentindo.

 Ao chegar na ala de meditação, Mori sentou-se em um dos tatames e fez um gesto para que Kaoru se sentasse no tatame a frente.

—Mori-senpai...

—Kaoru, pode me dizer o que houve?

—Er... – “DEFINITIVAMETE, NÃO” – Bem, nessa madrugada recebi uma ligação do Hikaru, na verdade, cinco ligações, mas eu estava sem meu celular no momento. Eu gostaria de retornar para ele, mas estou com receio de ligar e atrapalhar alguma coisa...

—Mas se foi ele quem ligou primeiro, porque você estaria atrapalhando?

—A-Ah, é que... bem... ótima pergunta! Ha ha... – “Essa foi na lata”.

—Talvez ele queira saber se você está bem.

—Ah, com certeza ele gostaria de saber disso! Mas eu não... eu não consigo... porque...

—Se não quiser dizer outra circunstância, não tem problema.

—É melhor não...

 Kaoru estava extremamente constrangido de ter ido pedir socorro para Takashi sem poder dizer o verdadeiro motivo de não conseguir ligar para o irmão. Mas afinal, o que ele poderia fazer? Precisava de uma orientação.

—Kaoru, do que você mais tem medo?

—Medo?

 Até onde sabe, Kaoru não tem medo de nada. Insetos? Não. Filmes de terror? Não. Palhaços? Não. Pensou em diversas coisas no qual pessoas comuns tem medo. Até que pensou em Hikaru. Ele... teme por perder Hikaru. Teme tanto que está tentando mudar por ele. E é por isso que fez aquela lista idiota. Lista. A lista de Qualidades da Haruhi. Lembrou-se de que precisava não temer nada como a Haruhi. Como vai ser valente como Haruhi, se tem medo de perder o irmão para ela?

—E então?

—Eu... tenho medo de... perder o Hikaru.

 Silêncio.

 Silêncio.

 O silêncio estava começando a sufocar.

—Mori-senpai... não precisa me responder, sério. Eu sei que tenho que enfrentar esse meu medo, que na realidade é bem infantil, mas entenda que-

—Entendo perfeitamente.

—Hã?

—Kaoru, não há como enfrentar o medo de perder alguém que ama. Todos temos medos, e todos temos algo ou alguém muito especial.

—Sim... -Sim. A própria Haruhi tem medo de trovões. Mas, esse medo de perder o Hikaru está consumindo Kaoru a cada dia que passa dessa maldita viagem que não acaba nunca. O que fazer para, ao menos, aliviar a dor? Ou para fingir que consegue suportar o irmão se aproximando mais de Haruhi?

—Kaoru.

 Mori coloca a mão no ombro de Kaoru para confortá-lo, vendo que o ruivo estava pensando demais. Kaoru se assusta, e cora um pouco.

—Kaoru, na última vez que você entrou nessa sala, você se mostrou ligado demais ao Hikaru. Mostrou como se preocupa com seu irmão, e como o protege.

—É... Eu me preocupo muito com o Hikaru. Tanto que... não sei mais o que é isso.

—É uma dúvida comum quando se ama alguém. Não deixe que esse medo tire sua maior qualidade.

—Maior qualidade? -Qualidade? Mori disse mesmo qualidade? – Mas Mori-senpai, eu estou tentando me tornar melhor para o Hik-

—Você já disse isso. Mas porque você não tenta encaixar novas qualidades com suas próprias, ao invés de se tornar algo que você não é?

—Mas o Hikaru não-

—Sim, Kaoru. Ele gosta sim de você, assim como você gosta dele. Basta você ter coragem o suficiente para ver isso.

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 Era fim da tarde. Kaoru voltou para casa extremamente pensativo. O que tem naquela sala de meditação afinal?? Está mudando tanto por Hikaru, mas agora está se questionando se vai valer a pena... será que Hikaru se sente da mesma forma? Caso Kaoru diga o que sente, Hikaru simplesmente continuaria com a Haruhi? E se não compreender os sentimentos de Kaoru? E se... souber do sonho de Kaoru? No fim, o medo de perder Hikaru, só aumentou.

 Ele senta na cama, com o celular na mão. Se tem algo que Kaoru quer, é ouvir a voz de Hikaru. Mas ainda não sabe o que dizer. “Oi Hika, sonhei que você me masturbava, tudo bem? Ah, oi Hikaru, eu estou com extrema saudade, larga a Haruhi e vem me ver”, “Hikaru, te amo e me preocupo com você de uma maneira que nem eu sei explicar, e você? ”

NÃO TEM COMO.

Bem no alto ou bem lá embaixo,

Quando você está muito apaixonado para esquecer,

Mas se você nunca tentar, você nunca saberá,

O quanto você vale.

 O coração de Kaoru estava acelerado. O que fazer? Foi então, que uma pequena ideia (não tão impressionante assim) surgiu. Aquela revista serviu ao menos para isso. Em uma das respostas do “100% afim do boy”, dizia “interaja mais com o garoto, e se você se sentir tímida, um oi é o primeiro passo! ”

...

“Posso pelo menos dizer oi e desligar... certo? ”

É agora.

Ele abre o celular, acessa a lista de contatos, e quando ia selecionar o nome do Hikaru...

Alguém liga.

Na tela: Hikaru.

Meu Deus. Meu Deus. MEU DEUS

—WAAAH O QUE EU FAÇO? O QUE EU FAÇO?? – Kaoru entrou em pânico, e o celular cai no chão.

“Calma Kaoru. Respira. Atenda”

...

...

“NÃO CONSIGO. CONSIGO. NÃO CONSIGO. ”

“Não se desespere! O boy vai super te entender se estiver tímida, mas sempre dê o seu passo da vez! “

Ta la li laaa~ ta la li laaa~

—AAHHH TUDO BEM! É AGORA!

 Ele pega o telefone e atende.

 Está mudo.

“Se você se sentir nervosa, acalme-se! O importante é ser você, e mostrar o que você realmente sente. ”

...

—Alô?

 É a voz do Hikaru. É o Hikaru, seu irmão. Quem ele tanto queria ouvir a voz. Precisou se acalmar um pouco para conseguir falar.

—Hi-Hikaru? – Não teve como manter o coração calmo.

—Kao! Como você está? Fiquei tão preocupado, não atendeu minha ligação ontem...

—A-Ah! Ha ha ha, é que me ocupei durante o dia e acabei perdendo o celular!

—Se ocupou? Com o quê? E ainda perdeu o celular?? O que houve??

—Bem, eu e Honey-senpai estávamos fazendo alguns... Experimentos.

—Oh... certo.

—E... Você?

—Eu? Ah, estou bem! Ha ha ha, estou ligando para saber se está tudo bem por aí!

—Ah aqui ótimo! E por aí?

—Tudo ótimo também!

—Ah! Que... bom.

 A ligação foi se tornando constrangedora, até ficar muda. Kaoru não sabia mais o que dizer. Ainda está chocado com tudo o que aconteceu, e não consegue pensar em mais nada para dizer. Tem tanto a dizer e nada sai para falar. Nunca pensou que ficaria nesse estado perante seu irmão, por pura saudade. Até que parou, respirou e pensou.

“Preciso vencer meus medos... preciso... ter coragem. ”

“E se você se sentir sem forças, tenha coragem! Vá em frente sem medo. ”

—Hikaru...

—Hã? Ah, achei que a ligação tinha caído!

—Ah, não! É que... Eu...

“Misturar suas qualidades com qualidades que você gostaria de ter”

“Eu... Gostaria de ter coragem de falar para o Hikaru toda a insegurança que estou sentindo. Toda essa confusão na minha cabeça, todo esse sentimento que eu não consigo entender... estou parecendo o Tono ou ele, que precisamos falar na cara o que sentem. Mas, tudo que quero agora... é que ele saiba que sinto muita a falta dele. Muita. Quero ter coragem para ser sincero com ele. ”

— Hikaru... Sei que sou um tremendo bebê chorão.

—Ah, Kaoru, por que diz isso agora? Ha ha!

—Espera.

 Ele sabe que Hikaru ficou tenso. Sentiu isso. Mas não era hora de fugir.

—Sei que você está muito feliz na sua viagem, mas...

“Você consegue Kaoru, basta dizer o que sente agora. Exatamente agora. ”

“Diga a ele o que sente! ”

—Estou com saudades Hika... muitas saudades. Gostaria que soubesse disso.

 Ele fez isso. Ele realmente fez isso. Não do jeito que esperava, mas fez. Que alívio maravilhoso.

—Kaoru...

—A-Ah é! Eu tenho que ir jantar agora! Ha ha ha! Então... divirta-se! Tchau!

 Desligou sem ouvir a resposta do Hikaru.

“O que... O QUE EU FIZ?? O meu plano inteiro vai por água a baixo depois dessa! WAAAAAAAAAAAAAH! Não. Calma Kaoru. Não entra em pânico. Você fez a coisa certa em falar para o seu irmão o que sente, você foi sincero. Pelo menos, em parte. Será que ele vai entender? E-Está tudo bem. Você vai mostrar a ele o que você se tornou, e ele vai ficar com você. É. Vai valer a pena. ”

—Ele vai me entender.

 Kaoru fechou o celular e resolveu descer para o jantar. Desceu as escadas com um ar de vitória, de quem foi valente o suficiente para ligar para o irmão.

“Hm, acho que vou levar aquela revista que o Honey-senpai me emprestou para o jantar. Assim, posso ler com calma. “

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—Hikaru? O que houve?

Hikaru estava sentado na cama enquanto Haruhi procurava alguma roupa para caminharem na praia como havia prometido. O problema é que Hikaru estava muito... corado?

—N-Não é nada, é só...

 Kaoru sente saudades. Kaoru realmente sente saudades dele. Isso o deixou tão feliz. Tão feliz e tão triste ao mesmo tempo. Por que ele não trouxe Kaoru? Ou por que não ficou em casa mesmo, já que a viagem foi infrutífera para melhorar o relacionamento? Ele estava tão confuso, e com uma tremenda vontade de ver o irmão. Estava com tanta saudade que... Ele pode até...

—Haruhi, arrume as coisas.

—Por quê?

—Vamos voltar para casa.