Durante a aula de matemática o professor estava a explicar uma matéria nova e todos os alunos estavam bastante atentos pois com aquele professor algum deslise podia ser bastante preocupante. No fundo todos tinham medo dele e por isso e não pelo interesse da matéria, estavam todos com os olhos fixos no quadro. Enquanto a aula decorria, na cabeça
de Denise corria um mundo completamente aparte, e quando o professor notou a sua distracção fez logo um escândalo daqueles!

– A menina está aqui a fazer o quê?!- Disse o professor com uma voz grosseira e arrogante.

– Eu estou a ouvir a aula.

– Não venha com histórias que você não está a prestar atenção a nada do que eu digo. Eu que a apanhe mais uma vez distraída e corre daqui pra direcção! Está a ouvir!?

– Desculpe, não volta a acontecer…- disse Denise com o rosto corado e o coração a bater muito fortemente-.

– Espero bem que sim, já viu o tempo que perdemos só com isto?! Tudo culpa sua!- disse o Professor voltando-se novamente para o quadro e continuando a aula com cara de poucos amigos-.

Se Denise já estava irritada o suficiente agora é que ficou. Mesmo que se esforçasse não entendia nada de matemática e chegou a um ponto que já nem tentava. Sinceramente as coisas não lhe estavam a correr nada bem. E os seus amigos nem reparavam no que se passava, o que mais uma vez agravava a situação. Se ela precisava de ajuda mais do que nunca era agora, mas todos pareciam não perceber que algo se passava, talvez pensassem que era só mais uma crise de mau humor ou
uma coisa assim do género. Quando tocou para fora Denise estava com uma cara que metia medo. Foi ter com os seus amigos e durante aqueles vinte minutos mal se ouviu a voz dela apenas se via um sorriso forçado de vez em quando sempre que alguém dizia uma piada ou recordavam uma situação divertida. Antes era tudo bem diferente, costumava ser ela a dizer as piadas ou a contar histórias que nem ao diabo lembravam.

No último intervalo antes do fim daquele longo dia, quando Denise pensava que as coisas já não podiam piorar, bem que chega um motivo para uma discussão entre raparigas. Denise e Celina, que até se davam muito bem, começaram uma discussão por uma coisa tão insignificante como uma ida ao cinema. Uma queria ir num dia ver um filme e outra queria ir noutro dia ver outro filme.

– Já te disse que nesse dia não dá jeito pra ninguém! Se não podes ir no sábado problema teu, não vamos alterar tudo por causa de ti. – Disse Denise já bastante irritada.

– Custa-vos muito fazer isso! É só um capricho teu Denise, para de ser assim!- resmungou Celina.

– Olha já te disse que não vamos alterar tudo por tua causa! Para tu poderes ir outras duas pessoas não vão, logo é mais justo ir no sábado.

– Tu ultimamente deves andar com a mania não?!Quem não devia ir és tu, não fazes falta a ninguém!

– Calma gente!- disse Robert- vocês não se vão zangar só por uma ida ao cinema! E estão a dizer coisas que depois se vão arrepender, por isso é melhor acalmarem-se, pode ser!?

– Já estou farta desta conversa, adeusinho! – Disse Denise indo-se embora e quase seespetando contra Aaron que também estava lá-.

Definitivamente aquele era um dia que mais valia ter ficado na cama a dormir.

Denise chegou cansada a casa. Atirou a sua mala para o meio do chão e deitou-se brutamente no sofá de cabeça para baixo. “Isto ainda pode piorar?!” disse ela em voz alta.

– É claro que pode, e vai ficar pior! Para o próximo fim de semana é o casamento da tia Alicen. – disse Joe-.

Joe era o membro mais novo da família, tinha apenas 12 anos. Costumava defender a irmã nas suas imensas discussões e encobria muitas das suas rebeldias. Desde pequenos que se davam muito bem, antes faziam imensos projectos juntos e inventavam coisas muito divertidas. Denise sempre o defendera pois além de ser mais novo também aparentava muito frágil e tímido. Mas ultimamente a sua relação tinha enfraquecido, tinham-se afastado bastante.

– Tens mesmo a certeza?

– Claro que tenho! A mãe não fala noutra coisa, o pai já levou o carro á lavagem e a Claire anda histérica porque o vestido não combina com os sapatos que comprou. SERÁ QUE NÃO VIVES NESTA CASA!

– Ás vezes preferia… Não posso mesmo faltar a esta estupida e enfadonha manifestação familiar de afecto!? Afinal já é o sétimo ou oitavo casamento nos últimos 6 anos, este vai durar quê?! Dois meses…

– Sinceramente acho que vais ter de ir… e não quero ouvir mais nenhuma discussão tua com os pais! Já não vos aturo…- disse o pequeno rapaz revirando os olhos e ligando a televisão.

Naquela noite o céu estava escuro e aproximava-se uma daquelas tempestades. Ouvia-se o som dos trovões á noite, mas cada vez se estavam a aproximar mais. Pouco tempo depois a casa de Denise estava completamente às escuras.

Ouviram-se os gritinhos de Claire por toda a casa e Denise já estava a ficar completamente passada.

– Podes calar-te por favor!? Já não te posso ouvir!- resmungou Denise-.

– Não consigo ver nada! Papá vai ligar a luz…ai!- choramingou Claire-.

Apesar de ser a irmã mais velha, Claire era muito imatura e mimada. Os seus irmãos chamavam-lhe de “bonequinha” quando queria gozar com ela, pois era daquele tipo de miúdas que só pensa em compras e sair com as amigas que, como ela, têm um ego demasiado elevado para
tanto cabelo loiro. Além disso se quem entrasse no quarto dela corria o risco de contrair algum género de doença nas vistas de ver tanta coisa cor-de-rosa e brilhante! Os três irmãos eram bastantes diferentes, ninguém tinha dúvida disso!

– Infelizmente o quadro eléctrico queimou-se.- Lamentou o seu pai. – Vamos ter de esperar o técnico chegar, o que certamente só vai acontecer amanha…Querida podes trazer as lanternas e algumas
velas que estão mesmo na gaveta ao teu lado por favor?!

– E agora o que fazemos?- perguntou Joe-.

– Agora vamos todos aproveitar para ir dormir mais cedo! Peguem numa lanterna e vão para os vossos quartos, mas cuidado ao subir as escadas! Não quero nenhum ferido grave! – Alertou a sua mãe-.

E lá foram todos, apenas com umas miseras bolachas no estomago aventurar-se na escuridão da casa até chegarem cada um aos seus quartos. Denise não conseguia adormecer tão cedo mesmo estando bastante cansada. Então foi-se sentar no sofá por debaixo da janela e ficou ali quieta vendo a tempestade e ouvindo musica. Enquanto isso lembrava-se das noites que passava falando com Aaron. Ficavam acordados até altas horas da madrugada conversando sobre os assuntos mais estúpidos que podiam existir, e quando dava por isso estava com um sorriso parvo a olhar para o telemóvel, lendo e relendo a mesma mensagem vezes sem conta. Como ela tinha saudades daquele tempo, agora já não falavam á semanas ou quando falavam era para discutir e no telemóvel de Denise nem sinais dele. Drasticamente as coisas
tinham mudado.

Chegou o dia do casamento e o cheiro a perfume e sapatos engraxados inundava os corredores de toda a casa. Estavam todos prontos para a cerimónia, todos menos Denise!

Estava constipada e por isso não podia sair de casa. A pobre rapariga nunca ficou tão contente por estar doente! Era apenas uma leve constipação mas dramatizou o suficiente para convencer a mãe a deixa-la faltar.

– Filha tens aqui a medicação para tomar de três em três horas e tens canja fresca no frigorífico só precisas de aquecer no microondas. Faz o maior esforço para não sair da cama, vai vendo se tens ou não febre e se piorares liga-me!- disse a sua mãe muito preocupada-.

–Eu sei mãe, eu fico bem! Agora vai lá embora senão chegas atrasada!

– Fica bem meu amor- disse a sua mãe dando-lhe um beijo na testa e aconchegando os cobertores.