Minha rotina continuava a mesma. Ir ao colégio, fingir um namoro perfeito com o Nicolas, ser alvo da Thalita, rir do Valtinho e ouvir a Bia reclamar. Tudo bem, ouvir a Bia reclamar era algo novo. Geralmente quando o Nicolas não estava por perto. A mesma coisa de sempre. Como o Valtinho e o Nicolas eram carinhosos com nós duas, e como eu sou fria com o meu namorado.

Hoje é aniversário do Nicolas. Estava na sua festa, com a família e os amigos. Os Fantasmas até pediram para vir, mas eu não deixei. O Daniel com o Nicolas no mesmo recinto chega a ser meio perigoso. Meio não. Muito perigoso. 

- Tá Tarde Nicolas, eu vou pra casa - Eram Vinte e três horas da noite. Eu sei que pra uma festa era cedo, mas eu precisava ir. Não aguentava mais sorrir pra todos os parentes do Nicolas e bancar a Amélia. O Valtinho e a Bia haviam saído não sei pra onde, e os nossos colegas estavam dançando Ai Se Eu Te Pego. Incluindo a Thalita e a Shizuko. Que aliais, estavam de conversinha com um primo do Nicolas.

- Vem aqui, Julie - Ele me convenceu com aquele sorriso inocente. Odeio sorrisos inocentes, me fazem parecer uma boba.

Ele pegou na minha mão, e subimos as escadas da casa. Eu reconheci o caminho do quarto dele (da vez que eu entrei pra recuperar o celular). Ele nunca havia me levado até lá, e eu acho que parecia a oportunidade perfeita. Todos dançando sertanejo universitário e Pablo do Arrocha.

Ele entrou, trancou a porta e sentou na cama, e eu sentei também.

- Olha, nós já estamos juntos há algum tempo e... - Algum tempo são dois meses? Eu comecei a pensar que ele iria me pedir em casamento, assim como o louco do Valtinho fez com a Bia. Mas as seguintes palavras e atitudes me fizeram mudar de ideia rápidamente - Eu acho que deveriamos avançar um pouco.

Ele me beijou e começou a tirar meu casaco. Eu estava de olhos abertos, incrédula. Como assim o Nicolas está querendo sexo? Ele nem me consultou. Eu mordi com força o lábio inferior do Nicolas, pra sangrar mesmo. E ele se afastou

- Ei! Isso doeu!

- Era pra doer! Você está pensando o que, Heim Nicolas? - Disse enquanto ajeitava o meu casaco

- Estou pensando que está na hora de eu ganhar um presente de aniversário - Ele disse olhando pra mim, com a mão na boca levemente inchada.

- Sem nem me consultar?

- Essas coisas não se consultam, Julie! Acontecem.

- Você está louco - Caminhei até a porta do quarto quando ele me puxou pelo braço, me agarrando. Eu não conseguia gritar. Quem era esse Nicolas que eu não conhecia? Eu não acredito que prefiro o Nicolas perfeito, que não me agradava em nada. Eu tentava me soltar, mas ele era mais forte. Na minha primeira oportunidade, dei uma rasteira no meu namorado, destranquei a porta e desci o mais rápido que eu pude. Passei pela sala e esbarrei na Thalita, que caiu em uma mesinha de refrigerante e manchou o vestido. Não queria ouvir os 'mimimis' dela. Me despedi de todos de uma forma muito rápida e sai pela rua.

- Como ele pode! - Eu só sabia repetir isso.

Para completar a minha noite maravilhosa, caiu uma chuva imensa. Havia alguém atrás de mim, mas eu não sabia quem. Ouvi os passos, e comecei a correr, sem olhar para trás. Fui atrávessar a rua, no pânico. Quando eu vejo a luz de um carro, e alguém me empurrando.

E esse alguém foi atropelado no meu lugar.

Esse alguém era a Thalita.

E agora eu me lembro. Ela aparecia no meu sonho. E tudo o que eu consegui fazer, foi gritar.